Quem sou eu

Minha foto
Alguém que ama a vida e odeia as injustiças

29 janeiro, 2021

. .Opinião Pública

Publica-se  despudoradamente um rol de cogitações criadas sob a pena dos ditos críticos de opinião, jactados como seres pensantes cujo objetivo é o  de veicular noticias informando  o homem comum, o qual  à partida será desprovido  de uma  qualquer apreciação seja científica,  jurídica, filosófica seja, inclusive ,económica.

O homem comum, o tal  cidadão que afinal até é possuidor de opinião pasma-se perante o debitar  profícuo de juízos  adornados sub-repticiamente de alarme, de especulação e de sensacionalismo. Não nos esqueçamos que o artigo é escrito por alguém  cujo mister é ganhar a vida com palavras, algo de normal numa sociedade em que se compra e vende serviços a fim de garantir a subsistência do individuo.

Mas não é a dita economia de mercado que está no meu pensamento. É sim o alarmismo fulgurante, o negativismo destrutivo e o quase derrotismo quotidiano em que vivemos.

É verdade que a situação neste janeiro de 2021 é horrível, é verdade que os números exatos, extrapolados, multiplicados e estatisticamente manipulados ou simplesmente estatísticos são a base do nosso descontentamento descontente, da nossa impotência, do nosso medo, da nossa ânsia e do nosso confinar. É verdade que como bons latinos, ainda com sangue dolente árabe  a correr-nos nas veias preterimos sempre as planificações para aquele exato momento do “desenrasca”. É verdade.

Não é a geração mais bem preparada que tem obliterado a situação, pois que compelida  na espiral horrível do caos , pese dar o que tem e quase o que não tem, também faz parte da força centrifuga dos acontecimentos sem poder esboçar ou praticar os conhecimentos científicos adquiridos ou mudar o rol dos acontecimentos como é mister da mudança.

Pasmo, pasmo, diariamente ao ouvir os noticiários, sejam televisivos ou radiofónicos ( sou muito antiga e gosto da rádio) perante a pressa quase gutural ou histriónica, as inflexões graves  cuspidas em tons graves e apressados como se a respiração já estivesse contaminada. Assim se ouvem as notícias. O alarde soa  constante, propalando-se a uma velocidade semelhante aos lançamentos  espaciais.

Embora sexagenária não vivi a última guerra mundial, a minha geração embora já antiga, ainda  está ,ligeiramente, distante dessa outra, a dos nossos pais, a qual viveu o conflito. Conta, quem o suportou, que não foi tão desgastante quanto este. É certo que o cenário era diferente, todos disso  estamos cientes. Havia o morticínio, o sangue, a morte e o cheiro dela. Não existia o lado assético que vivemos, nem muito menos a “pseudo civilidade” escrevo pseudo, pois que nos dias em que correm a elegância de saber estar já passou às calendas dando  lugar ao politicamente correto, que afinal não é, nem será jamais sinónimo, pese o esforço ortográfico de mudança. Mas enfim, dão desabafos. Era um mundo diferente que a nova geração , a do Millennium desconhece. Não era perfeito, não o era de todo. Aliás nenhum século o será, pois que é vivenciado  pelo homem  que descendendo do macaco, segundo Darwin, e não dos anjos , logo tornando  quase impossível qualquer perfeição.

 Não me afastando do tema, creio que se no seculo XX duas guerras dizimaram o mundo, houve, necessariamente, que existir um foco fortíssimo de esperança para  resistir, sobreviver  e o reconstruir. Ora, na minha fraca conceção a esperança não renasce  assim de um pé para a mão, das cinzas, qual Fénix, mas antes num mundo equilibrado de emoções e vontades fazendo o seu caminho para a frente em direção ao porvir. É essa esperança que , creio, gostaríamos todos de ouvir, não feita do nada, antes reconstruída alicerçada em pontos positivos, difundindo um pouco de confiança.  que também os há.

Não pretendo fazer análises política até porque não sou em absoluto politóloga, não tenciono, por outro lado ,fazer previsões porque também não sou astróloga, apenas e isso sei, gostaria de ver o meu próximo, aquele individuo  anónimo que tem que sair para ganhar o pão com ou sem pandemia, porque caso contrário põe em  risco “ o pão nosso de cada dia” da sua família., pouco mais seguro, ligeiramente mais confiante, de todo menos sobressaltado ( para além dos cuidados  sanitários) no dia a dia  que tem que vencer. Para todos esses um pouco menos de alarmismo e um bocadinho mais de equilíbrio seria vital.

Também para quem trabalha denodadamente e não aqueles que na sua cátedra opinam ( somos campeões  nesta matéria), para os que lutam hora a hora para salvar não só vidas, mas também situações, para todos nós que também ainda acordamos todos os dias,  uma baforada de esperança ou talvez uma chuvada de positivismo, ajudasse um pouco mais.

É que nestas coisas de notícias gosto de poder parafrasear Churchill: “Não existe opinião pública, existe opinião publicada.”

Maria Teresa Soares

27 janeiro 2021

 



. .E o poema fez-se ano. Um Ano Novo. 2021. Menos redondo mais ainda quase perfeito na sequência numérica. Mais um ano, mais um poema.
É verdade que foi gerado contra a carne na latência do tempo. Contra a carne temerosa dos dias, do medo. Gerou-se na esquina do desejo do amanhã, gerou-se nas entranhas dos corpos e no interstícios límpidos da alma ,gerou-se nas vontades, nos desejos, nos almejos e no rolar de um ano putrefacto de suspiros , ais e temores.
Foi parido naquele átimo de segundo entre o último badalar de 31 e o estrebuchar de 1. O vagido soou temporal, concreto e carnal. A carne e o tempo do mundo que o poema fez surgir.
2021 é o novo poema. Um poema aberto sem rima. Para quê rimar quando o mundo se cruza e interpola em vagas de doença, em balões de oxigénio, em rostos de fome seja de alimento, seja de esperança. Deixá-lo aberto, livre e sonhador. Deixá-lo sorrir na madrugada desta amanhã que ainda se entreabre.
Há no vagido deste ano- poema o vento alísio que retempera a carne sob a folhagem fresca das palavras e dos atos. Há no poema de cada ano a esperança de cada dia, há neste ano-poema a força , o desejo e o alento da Humanidade.
Assim seja!
Chaves 3 de janeiro 2021

09 julho, 2020


. .
2020 nasceu doente. Uma daquelas doenças em que os sintomas não são percetíveis de início, mas, passados poucos dias ou meses, eclodem virulentamente. Os sintomas da doença de 2020 já cá estavam. Não eram assintomáticos, não eram irrelevantes, não eram impercetíveis. nada disso. Estalavam todos os dias de uma forma ou outra. Claro que não eram eruptivas nem muito menos pandémicas. Mas estavam por todo o lado, nesta globalidade que tanto dizemos ser de nosso orgulho. Foi, pois, neste estado de catalepsia global que a pandemia se instalou.
Numa era de globalização em que estar vivo já é por si uma tarefa arriscada, e sendo o risco um requisito da excitação e da aventura que está, intrinsecamente, associada à modernidade. O risco pasme-se, é uma fonte de energia criadora de riqueza numa economia moderna, uma vez que é a dinâmica estimuladora de uma sociedade empenhada em determinar o seu próprio futuro. É num processo contínuo de ganhos e perdas que nos deslocamos em direção ao dia seguinte, ao mês, ao ano, quiçá ao porvir. Nesta plêiade de lances, deparamo-nos com dois tipos de risco, o que vem de fora, o exterior e enquadra as imposições da natureza ou da tradição e o outro, o interior, que não  é senão o resultado do choque que o nosso desenvolvimento tecnológico impõe ao meio ambiente. Foi este impacto da ciência da tecnologia, a par de um pensamento assaz racionalista que objetivamente nos permitiu viver um período histórico de transição, extensível a todo o globo. Chamamos-lhe globalização.
Uma era de mudanças sejam na economia, no clima, na ciência, na família, nas relações humanas que fizeram ruir o munda anterior tradicional e preconcebido originando diferentes formas de fundamentalismo, que necessariamente não se situam somente nos conceitos religiosos, políticos mas igualmente rácico, sociais, ideológicos esquecendo um vetor importantíssimo: afinal somos todos Seres Humanos pese as diferenças de credo, cor, género, ideias e crenças.
Fala-se e extrapola-se sobre a tolerância, um vocábulo usado em excesso, sem que a aceção do seu sentido, seja ,na maioria das vezes ,verdadeiro. Ser tolerante não é apenas aceitar o que socialmente se decretou por estar em voga aliado ao pretexto de estar correto, sem que algumas vezes o não seja. A tolerância é um ato de dádiva mais do que um ato de aceitação ou de exibicionismo. Pergunta-se onde está a tolerância económica no que respeita os benefícios do chamado estado keynesiano do bem-estar social? Onde reside a tolerância nos interesses financeiros dos mercados nesta nova economia eletrónica global em que os gestores de fundos, os bancos, os investidores e as grandes empresas transferem avultadas somas de capitais sob um clique de um dedo, destabilizando do outro lado do mundo economias sólidas, acarretando crises que as populações vivenciam em estados intermédios e finais de pobreza conducentes a  situações extremas de privação.
A privação de movimento, de afetos, de sermos os que éramos apresenta-se no nosso quotidiano como algo que nos foi decepado. Dizem, quem sofreu de amputação, que o membro é sentido por algum tempo, embora não esteja lá. Não sentimos o que não temos porque é algo exterior a nós, todavia as memórias esvoaçam pelo campo das nossas vidas, e ,é ainda a elas que nos apegamos com a ideia de um futuro não muito distante e semelhante a um passado próximo.
Somos cientes de todos os erros, estamos dispostos a mudar. É verdade. É humano. No entanto o caminho que recomeçamos rapidamente nos enfada e, indiferentemente recaímos no erro. É de a natureza humana errar. Sempre foi, sempre será. E assim fizemos da privação um país no qual entramos todos os dias não por uma porta, mas por uma condição. A condição de sobrevivência sanitária. Todos os dias quase desde os primeiros meses deste ano nascido doente.
2020 nasceu doente. Um vírus, uma pandemia. Um planeta em dois movimentos um centrifugo e outro centrípeto. A natureza gira centripetamente em direção à sua criação, porém a humanidade gira centrifugamente. Este afastar do centro, este rolar infindo tem  as suas causas na doença que o mundo gerou. Mais do que a pandemia que grassa nos nossos corpos, há uma outra pandemia profunda, irracional e desumana que globalmente assolou o mundo. Chama-se egoísmo.
Este senhor é um caleidoscópio de aberrações nos seus  múltiplos vidros de ganância, cupidez, mentira, traição e tantos outros. Neste caleidoscópio gira a pobreza e a riqueza do mundo, exatamente, do mesmo modo em o Covid- 19 dança nas vias respiratórias das suas vítimas. Há que aplicar os ventiladores a par de outros cuidados médicos a fim de salvar  vidas e para a outra pandemia, que ventiladores, distanciamentos, medicamentos, o Ser Humano  aplicou ou irá aplicar?
2020 nasceu doente e nos ficamos doentes. A osmose entre a natureza e o homem é um anel. Um casamento que o mundo abençoou. Quando  a natureza adoeceu porque o Homem decidiu que era hora de se divorciar, aparentemente, nada de relevante se fez sentir. Contudo, a natureza demorou, mas acordou e vingou-se, privando o Ser Humano de  um dos seus maiores e melhores bens: a liberdade de ser e estar.
A liberdade humana é a nossa forma de comunicação. Não percamos mais este dom!
Maria Teresa Soares
8-7-2020

10 junho, 2020

. .
Hoje apeteceu-me escrever. Não que tenha algo de importante a dizer, somente, apeteceu-me.
Nestes meses de interiorização, pequenas coisas têm deslizado pela mente. Devia anotá-las, porém o fluir das horas, o viver dos minutos na dolência perfeita dos dias tem sido algo pateticamente assintomático.
A mudança dos hábitos fez-se mais no pensamento do que nas atitudes, pois que estas tornaram-se adiadas. Um sine die para breve. Uma antítese concetual e temporal.
Os tempos de agora, vestidos de paradoxos, aceites e despidos de projetos de amanhã, cobrem a nossa esperança de porvir. Habituamo-nos. Vivemos em quartos de espaço, de horas, de afetos, emoções e, em suma de vida.
Somos sombras de nós porque um maldito vírus nos despojou da nossa iniciativa de Ser, de Estar e de Ficar. Uns Partem porque o tempo se despediu, outros afastam-se com medo da despedida, outros ainda ignoram-se, porque desconhecer protege a ignorância. Um tempo de dias desconhecidos.
São os dias do nosso tempo. Os novos dias deste tempo. Os dias da história de um vírus. Uma história na História dos Tempos. Dois milénios e vinte séculos. Conquistas, ciência, tecnologia, avanço, e o Homem sendo a medida de todas as coisas assim se pensa, assim se pensou. Pensou-se que tudo se podia, se fazia, se inventava, se destruía e se recriava. O homem. Era, então, medida de todas as coisas, fosse na sua criatividade, inteligência, emotividade, fosse na sua busca da inteligível da excelência; a medida quase perfeita do seu espelho. A vacuidade da assertividade, a precariedade da estabilidade, a incongruência do status quo providenciará um novo capítulo na História do Mundo.
O Mundo ainda não mudou contrariamente ao que os homens do mundo passado apregoam. O mundo irá mudar. Lentamente como é seu apanágio. Um novo capitulo no romance da Humanidade será, então, escrito ou pintado na página ou tela que pisamos e respiramos. A arte, a mestria, o ritmo, a cor, as palavras ou as imagens serão somente a inocência ou a hipocrisia da que a memória dos tempos da História do mundo nos atribuiu. Sejamos, pois os autores-atores deste estranho palco esperança com que a História nos brindou!
10 Junho 2020-06-10
Maria Teresa Nobre Soares

31 março, 2020


Um Vírus
Joana encolhe-se no sofá na exata medida em que o tropel das notícias vindas da televisão a envolve. Não são boas. Nestes dias, não o são. Joana é jovem, mas tem medo. Medo do que acontece. Medo do mundo que desconhece. Medo do hoje fechado no amanhã sem vidraças. Ainda não tem medo da morte. Joana é jovem. Luís sentado diante do computador procura trabalhar. Procura a concentração que foge. Sobre a superfície preta da mesa o androide não pára. Já lhe cortou o som, contudo de vez em quando não resiste e espreita. Espreita as mensagens que caem. Inequívocas, plangentes e numéricas. Luís até gosta de números, gosta muito, mas destes não. Não gosta dos números da doença e menos ainda dos da morte. Luís é novo, porém já espreitou nas vidraças do amanhã. Sonhou amando o amanhã. Fez planos quando a vidraça era limpa, quando o mundo ainda era igual. Hoje os vidros estão turvos e do outro lado há o vazio. Luís tem na mente a incerteza dos dias e na boca o gosto acre do medo. Luís tem medo.
Marta cai redonda sobre o banco. As pernas teimam em desobedecer-lhe. O corpo treme. O olhar perde-se e as mãos? As mãos caem perdidas sobre as pernas sentadas. Marta abana a cabeça. Tem dez minutos. Dez minutos de descanso. Como se dez minutos bastassem para apagar o caos. Como se o tempo parasse e o mundo voltasse ao antes. O estetoscópio desliza do pescoço, também ele quer espreitar o descanso. Marta já viu muita doença caminhar pelos corredores. Por mais terrível que fosse percebiam-lhe a fisionomia e os traços. Agora são enganadores, possuem uma dinâmica agressiva. Parecem o que não são, sendo o que são. E assim, sendo o que são, tornam-se parasitas da vida..Marta levanta-se, estica-se, compõe a máscara, calça luvas limpas e vai de novo à labuta. Quem a vê repara nos círculos negros, no arrastar de pés e nos gestos febris. Ainda não vai parar desta vez, há que continuar na intermitência do lugar e da vida durante estas doze horas de turno. Medo? Talvez, o medo de não vencer e de cair também.
 António encosta-se ao vidro da varanda, a ligação com o mundo de lá fora. António tem setenta e picos anos e está só. Não tem ninguém. Só mais o eco de si mesmo. Noutros dias tinha família, depois tudo foi embora. Ele ficou porque o tempo assim o quis. Agora o tempo muda o mundo Muda na rotina das vontades, nos paradigmas construídos em tempo de vertigem; na fiabilidade do paradigma económico; na prosopeia do dinheiro; na fragilidade do desígnio político; na desregulamentação dos mercados, na intensificação dos fluxos financeiros, na abertura das economias às trocas internacionais; no aparecimento de novos e complexos produtos financeiros, bem como a realização de operações financeiras cada vez mais intrincadas; na invencibilidade do poder; na mesquinhez dos círculos; na crença da frivolidade em contraponto à negação da valoração dos sentimentos humanos que não as pieguices ocasionais e bacocas numa valoração quase viral de afetos fáceis.
António murmura algo, algo inteligível, algo que vem de dentro num suspiro limpo. Algo que o faz mexer e olhar mais além. Não tem medo da doença, nem da morte. Gosta da vida apesar das suas linhas retorcidas. Tem a noção limpa que o tempo tem um princípio e um fim. Tem a experiência do tempo. De onde viemos, ficamos e iremos. Abana a cabeça e dirige-se para o seu pequeno-almoço.
Isabel já não tem idade. Foi invadida. A agressividade inunda-lhe o corpo. Sabe o que tem, sabe o que sente, sabe quase tudo. O antes e o depois. Isabel não pensa, luta. Quem luta não se pode estiolar em pensamento. Tudo se resume à luta da vida. Aqui e agora. Não há medo. O medo veio no inicio depois, mais medo e só fim a luta. Será inglória? Será? Na vida a força, a união, a entreajuda, a cumplicidade, a disponibilidade e o sentir mitigam, amparam e vencem barreiras, estabelecem laços e criam fronteiras de amor próximo. Na morte dão-se as mãos, varrem-se as dores e renasce-se. Hoje e ontem o mundo mudou. Joana, Luís, Marta, António e Isabel não são apenas personagens de um texto, mas antes heróis do nosso mundo em sofrimento. O mundo gritou e o Ser Humano tremeu. O respeito deve começar na casa onde o pai alberga e ama o filho. Aprendamos a lição que já vai sendo tempo. As epidemias grassaram ao longo dos milénios, e nos não somos senão o produto quase final dessa sobrevivência. Cumpramos as regras, sejamos atentos e ativos. Sejamos conscienciosos para que exista sempre um Amanhã Livre.
 Maria Teresa Soares
24-3-2020

07 março, 2020

. .
Para todas as mulheres no seu Dia
Mulher.Papoila,
Mulher papoila de pétalas rubras e estames breves. Mulher de coração quente que amassa o vento da vida em grutas pulsantes. Papoila vergada no vai e vem dos dias; papoila breve e leve de pólen esvoaçado na dádiva do amor. Mulher semente.
Mulher Rosa
Espinhosa, coquete, efémera e bela. Rosa- mulher -menina de jeito delicado e pestanas em asas de mariposa num entrechocar de zunzum coquete e delicioso; Pétalas de cetim em jeito de adorno;
Mulher rosa rubra de pétalas envolventes, frementes e luxuriantes, qual artista no trapézio do desejo. Olhos abertos, boca húmida e mãos que acariciam prenhes de Amor. Mulher -feiticeira das ilusões
Mulher Cravo
Firme e recortada. Múltiplo de pétalas coloridas em cálice de porvir. Cravos brancos, rosa, amarelos e rubros. Cravos que propalam o perfume forte e doce da força da vida. Mulher de vontade, de conceitos, de Ser em essência, de Estar para Ser.
Mulher Giesta.
Esculpida no vento, dançada no tempo. Mulher Giesta que brota por entre as fráguas de terra dura, singela e forte para mais tarde sorrir em lágrimas de amarelo e branco vestindo de luz e esperança os caminhos dos dias; Mulher Giesta que ondula e se empertiga ao vento  mas não esmorece na vontade de vencer.
Mulher Urze.
Espontânea no seu lidar, serena no seu tato. A Mulher -Urze de todos os dias, das noites em branco, dos dias chorosos, das dores sentidas, do mundo em redor; Mulher que sara, ampara, limpa e dá cor ao mundo.
Mulher-Mãos
Mulher que lava, cozinha, semeia, penteia, sova, tricota, desenha, pinta, escreve e acaricia. Mulher de duas mãos, de mil corações, de vontades sem fim e Alma rubra. Mulher.
Mulher-Mãe
Mulher flor, mulher matriz, mulher semeada em fruto gerado, mulher continuada no sémen do Amor. Mulher de gestos doces e carícias no olhar. Mulher máter
Ah, mas ser  tudo isso, papoila, rosa, cravo , giesta ou urze, mãos , mãe e tanto mais, é  ser a  força, é  ser a luta, é  ser  a lágrima rolada,   é ser  a alegria, é  ser  a razão  do mundo, é  ser  a dor ,  é  ser o quebrar, o erguer e o crescer é   ser  a renúncia e o crer, é  ser  o A mor e  o Porvir;   é tudo   e o nada do mundo porque ser Mulher é ser a Vida
Maria Teresa Soares
7-3-2020