"...És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura onde, com lucidez, te reconheças." Miguel Torga
14 novembro, 2008
13 novembro, 2008
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10 novembro, 2008
Novembro
NOVEMBRO
Novembro de neblina pingada em manhãs nascidas de azul entristecido. Capa orvalhada cobrindo o sorriso do sol, que em Novembro tremeluz entre os vermelhos esvoaçantes, os verdes secos e as pétalas murchas de seiva. Novembro, frio soprado dos montes despidos em coro silvado de vento.Novembro acenado em pétalas de um crisântemo dourado. Novembro doce de odores liquefeitos em cobres refulgentes. Em Novembro adormeço no berço do tempo frio. Lenta e soluçante a natureza despe-me.No movimento de cada ramo ,as lágrimas -folha caem-me na terra húmida. A vida recolhe-me, hiberno, escondo-me, remanso.
Em Novembro respiro as brumas das manhãs ,e ,suspiro nas tardes mornas, depois sento-me no frio das noites ainda estreladas. Em Novembro amasso a despedida da estação em simples pão de cada dia, branco, leve e macio,que logo parto em metades ainda túberes de calor.Metáfora redonda do saciar da vida.
Em Novembro dispo-me , porém prenhe de amor ,visto-me de Mãe.
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07 novembro, 2008
03 novembro, 2008
Bailarino Professor
O tango que danço no palco da sala de aula faz-me bailarina desajeitada. O meu par, desprovido de carnes e olhar, é apenas sensação consciente, que me impele no requebro do vai e vem. O esforço repetido na perfeição da dança torna-me marioneta do gesto e da palavra que, talvez por deficiente condição acústica da sala, se perde nos galanteios ruidosos que não prazenteiros dos clientes-alunos. A minha sala de baile é real. Sentados nas cadeiras de pau, os alunos, perdão antes clientes, olham-me críticos porque detêm o poder, não da sabedoria, mas antes da força. E sob a harmonia intrínseca do contexto, lá vou eu esvoaçando no meu tango. Roda que roda, rodopia, flecte, cruza, baixa, levanta, o compasso estimula-me. Deito a cabeça para trás, deixo que o corpo se plasme à sabedoria, sorrio, agito-me no voltear. Eis que os acordes finais estão prestes. Afogueada, depois de tamanho esforço, de olhos brilhantes encaro a minha plateia esperando que da sintonia de encanto, um breve galanteio, sorriso ou assentimento se esboçasse. Pobre dançarina. Triste professora! Somente a escuridão de olhares me acolhe. Perpasso de novo a coreografia, mental e rapidamente. Não encontro falhas. Talvez, quem sabe, apenas um momento falaz quando me deixei envolver. Talvez o meu erro. Os rostos hirtos, ocos de sentimento olham de soslaio para a bailarina-professora. Uma chata quase pré-histórica. Devia estar em queda. Ridícula com tanto baile. Professores bailarinos só de hip-hop A música é outra. Sem compromissos. O ano está quase passado. E apenas começou. Eles sabem tudo. Conhecem a mentira vestida de andrajos de liberdade
A música arranha o ar. O ruído tomou o corpo do palco. Pego nos meus sapatos de tango, rodeio a saia vermelha, ajeito o cabelo desfeito mais o trabalho inglório, e, olhando a luz que se vai filtrando na janela despida, sinto a revolta dos anos, a revolta do achincalhar, a revolta que preside à capitulação de todos os dias!
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27 outubro, 2008
22 Olhares Sobre 12 Palavras
_ Porto, Palacete dos Viscondes de Balsemão; à Praça Carlos Alberto, 22 Novembro, 2008, 16H - apresentação a cargo de Jorge Castro do Blog http://sete-mares.blogspot.com/
com prefácio de José António Brreiros _ ver blogues em http://joseantoniobarreiros.blogspot.com/
_ Lisboa: Livraria Barata, 05 de Dezembro 2008, 19H30
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26 outubro, 2008
Palhaço
Eu sou Palhaço. Palhaço-bailarino. Rio dos outros, rio do mundo e rio de mim. Ah!Como rio de mim. Ah! Como choro de mim. Ah, como rio e choro, choro e rio! Sou palhaço. Sou uma simples sintonia de vida. Corro, estatelo-me. Levanto-me. Dobro-me. Sou elástico. Sou elástico na luz e na escuridão da pista Cresço nas palmas e nos risos das crianças. Sou palhaço. Sou um pedaço de tecido colorido. Sou um nariz vermelho, uma cabeleira de palha, um laço azul. Sou o meu próprio motejo! Ninguém me percebe. Ninguém escuta a raiva de um palhaço. Oh não, um tal sentimento assim? Não! O palhaço é feliz. O palhaço ri. O palhaço rebola. O palhaço é alegria. É assim. Na harmonia das cores, no brilho dos risos, no calor falaz das palmas, a vida é um momento de liberdade. Sou palhaço homem que rebola, rebola na graça de uma pista Sou palhaço de sapatos grandes e pés dançantes. Sou Bailarino de risos e graças esvoaçantes. Esfusiante, rebolo que rebolo na gargalhada dobrada de um gesto de pilhéria. Zombo de mim porque rio dos outros. Choro de mim porque rio do mundo. Sou assim galante-palhaço em esforço. Esforço-me nos saltos, nos esgares, nas caretas, nos textos que decoro, nas falas que titubeio. Uma moedeira Sou palhaço e faço da momice galanteio que distribuo à gente. Gente triste. Gente que ri ao bilhete. Gente que ri de mim, o palhaço. Gente que chora da vida, como eu, o palhaço. Rolo e rebolo na pista. Tropeço nos pés. Caio, estatelo-me, e ,elástico levanto-me. Os meninos riem. Eu rio, choro e aceno. É a minha capitulação à verdade.
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