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Alguém que ama a vida e odeia as injustiças

01 dezembro, 2007







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Viúva rica, solteira não fica…


Dobrada, recolhida, arreada em meada de negro vestida, Sãozinha carpe a sua dor de viúva recente. O seu finado ainda há uma semana recolheu ao rectângulo de terra certa, ainda estão quentes as lembranças do homem, mais os trejeitos mastigados do marido, e as saudades já apertam no lembrar do cavalheiro obsequioso, gratificante e galante. O seu Orlando, entradote nos anos, mas de figura enxuta, palavreia fluente, presença marcante e carteira falante. Uma preciosidade!

Sãozinha Bastos, seu nome de menina, trabalhara muitos anos no seu aperfeiçoamento visual, físico e temperamental. A sua mente tão ocupada no seu aplainar de curvas, olhares, pestanejar e muitos mais ares, entrara em curto-circuito ainda em tenros anos, embotando-lhe os neurónios restantes. Porém nada visível, pois que o exterior por demais apelativo fazia esquecer quaisquer outros percalços.

Figura de encher o olho, a idade não vai para além dos trinta e picos, muito cuidados alinhados. Bem, talvez quase quarenta, mas tal pertence ao segredo dos deuses mais do cartão amarelo. A nossa viuvinha, enfiada numas calças justinhas que lhe delineiam todos os possíveis, mais um camisolão que faz sonhar pelo que está escondido, afunda-se no seu enorme leito redondo, lugar ainda à bem pouco, de brincadeiras loucas e excitantes. Agora sente-se murcha. Murcha mas não morta, o que sempre é bem diferente. Depois, o viço pode recuperar-se neste caso. Um pouco de chuva e tudo remoça, é a natureza, assim pensa Sãozinha Carpida. Afundada naquele desgosto, não dorido mas antes posto, a viuvinha começa a entediar-se da sua vidinha. Uma semana fechada na gaiola sem esvoaçar por outros beirais que não os seus, fazem-na piar qual cotovia abandonada. Levanta-se, vai até ao enorme espelho que preside ao quarto. Gosta do que vê. Não está mal, não, pensa com os seus botões, e depois sabe que o seu Orlando como zeloso que fora, deixara-a bem fadada de tostões e outros dobrões, pensa a nossa Sãozinha Forrada.

Senta-se de novo na borda da cama e mentalmente faz as contas. Ora o seu Orlando finou-se, vai para doze dias, abrindo a mão conta dedo a dedo, num esforço que a leva a enrugar a testa e a morder o lábio inferior. Bem já está. É isso, doze, será? É, é, responde-lhe a consciência. Mais uma semanita e, pensa ela, vai-se do buraco para fora. Está na altura de mudar de ares. Aqui não pode fazer grande coisa, pois que toda a gente a conhece. Meios pequenos são uma pasmaceira. A sua utilidade advém de se conhecer as pessoas e haver mesuras quando se pressente os bolsos forrados ou então se a gente vem daquelas famílias de nome comprido mas tesas que nem um carapau seco. O seu dinheirinho, bem morninho, espera-a, não que ela tenha falta de imaginação, não, nada disso, é apenas uma questão de ocasião.

Ao vigésimo dia Sãozinha Viajante, tira Mercedes preto da garagem, pensa mentalmente em trocá-lo por um descapotável, carrega-o de malas, maletas, necéssaires e toda ataviada que não de preto, lança-se à estrada. Como desculpa, uma mudança de ares e visitar o santuário de Lourdes como prometera ao seu Orlando. E palavra dada a moribundo é para se cumprir. Estão dadas as explicações, Clara a fiel e devota empregada, fará o favor de espalhar a notícia. Ela conhece o meio, se conhece.

Já longe da terrinha que lhe serviu de tecto, Sãozinha para o carro, suspira, solta uma gargalhada, esfrega as mãos, pega no estojo de maquilhagem, retoca-se e, entre dentes cantarola. Está livre, rica, apetecível, sensível e sobretudo disponível. Também ela é um achado! Mas, alto lá, vai escolher mas bem escolhido, porque dinheirinho tem ela, precisa agora de um rapazão bem folgazão e bonacheirão com muita submissão e nenhuma capitulação. Encontrá-lo vai ser obra, no entanto, tem tempo. É assim a Sãozinha Caçadora.

Já de arma em riste, isto é, de corpo dobrável, sorriso flexível e olhar maleável, Sãozinha Caçadora bate os lugares na busca da presa desejada e suspirada. Eis senão quando, ao cruzar da esquina depara com o espécime sonhado. Um macho alto, de músculos apurados, tisnado de sol, cabelos negros puxados para trás como se fora estrela de Hollywood. Não pensa mais, porque não está na sua natureza. E simplesmente vai de encontro à estátua em movimento. Zás, catrapus. A mala de mão cai obedientemente no chão e o seu recheio solta-se alegremente. Pobre alma! Que desolada fica a nossa Sãozinha. Um rubor, um ah, um ai, um ui, soltam-se ritmicamente da sua boca de lábios bem humedecidos. Submisso, estonteado, o jeitosão baixa-se murmurando um perdão e apanha as traquitanas espalhadas.

Daí ao jantar, a dois, foi coisa de estalar de dedos. Seguiu-se um passeio, rapidamente uma noitada, e ao fim de três dias, pasme-se, estavam noivos. Um tiro certeiro de caçadora experiente!

Ora, esta coisa de noivar em quartos separados, é assunto do passado, e a nossa noivinha é pessoa moderna e gulosa, logo a um invólucro daqueles há que rapidamente tirar o laço, mais a fita-cola e ver bem, experimentar a peça, para se ter a certeza que está conforme e fica bem. E assim foi, assim se provou e serviu, e oh Deus meu, como serviu!

Sãozinha Noivinha ficou de tal modo deslumbrada, que aparvalhada nem deu que estava a ser burlada pelo Gastão, o tal jeitosão. O magano, que de parvo nada tinha, pelo contrário o interior em tudo fazia jus ao exterior, pensou rapidamente: estava ali o seu futuro, sem muito trabalho. E se pensou, melhor o fez. Carinhoso, atencioso, falacioso cercou a pequena a jeito, e com a mesma rapidez enfiou-lhe o anel redondo no dedo direito. Tudo isto, um mês depois do pobre Orlando ter recolhido o espírito, e subido ou descido ao tal Sítio conforme o Suplício.

De fresco casada Sãozinha Esposa esforça-se por satisfazer os caprichos do seu torrãozinho. Um derriço de homem que a sabe fazer feliz, satisfeita e saciada. Não precisa de inventar artes nem de ter cama redonda. O seu Gastão machão é um portento. Ela que o diga. Até já anda a ficar um pouco cansada, mas será talvez devido ao desuso dos últimos tempos. E depois o seu Gastão é um homem culto, ele até tem um curso de gestão, a herança nas suas mãos vai governar. Está encantada, deleitada, sente-se apetecida e estremecida. Uma sonhadora é Sãozinha!

Gastão já não usa gel no cabelo, nem calças de ganga, nada de coisas sem manga. Tudo do bom e do melhor. Elegante, casual e factual. Um homem de fazer o olho estremecer e, o coração derreter. O dinheirinho rebola que rola, que foge nas mãos de Gastão bonitão. Um garanhão de luxo, forte, desenvolto e solto. Diz ser perito em gestão e logo de supetão a fortuna tem na mão. É esperto, o bonitão sabe levar a água ao seu moinho e que bem que ele mói e leveda os sonhos, tão bem que Sãozinha Estonteada nada vê, nada percebe, que o figurão do seu Gastão lhe está comendo as papas, não na cabeça, mas no dinheirão. Pobre Sãozinha-Viuvinha-Carpida-Forrada-Viajante-Caçadora-Noivinha, o que esta alminha passou até chegar a Sãozinha-Casada-Enganada! Que trabalho, congeminações, traições e perdões teve que suportar, elaborar, granjear. Uma vida de verbo, mais de substantivo, de frase rimada, e ideia rodada em estribilho sopesado. Rodam os tempos, rodam as vidas. Gastão, figurão, conduz o seu Mercedes. Sãozinha, coitadinha, meia tontinha arrasta o cesto das compras…viúva rica, solteira não fica, mas a vida sacrifica…

E ainda dizem que há pessoas com sorte!

30 novembro, 2007

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Gi de "Os meus Pequenos Nadas" lembrou-se deste cantinho azul e de mim como "Uma Mulher que faz Pensar", passando -me a corrente. Ora, minhas queridas, não fazemos ,nós todas ,pensar? Claro, que sim... e porque é uma verdade indiscutível, solicito a todas que me visitam ,e não só ,que passem a mensagem, que passem...passem..
Obrigada, GI!
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."Os homens cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim e não encontram o que procuram. E, no entanto, o que eles buscam, poderia se encontrado numa só rosa"

Saint Exupéry

26 novembro, 2007

Sífiso

Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.


Miguel Torga

25 novembro, 2007

Prémio da Amizade.

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Este prémio da amizade que gentilmente me foi oferecido pela amigo: C Valente, que agradeço desde já ,e porque as estradas deste espaço virtual nos unem , em redes de amizade, a vós, que a minha rede vêm visitar, deixo-vos este pequeno laço, com um obrigada..

21 novembro, 2007


Os Novos Imigrantes (II)


-Márcinho vem cá, meu bem.

Mulata quente, de formas redondas e firmes, sorriso de sol amarelo no rosto de trigo maduro, Josira balanceia a sua bundinha no compasso dos passos apressados. Há que levar Márcinho à escolinha e depois ir numa corridinha tomar o cafezinho da manhã. Hoje tem muitos pés e mãos para fazer. Lesta veste o rapazinho. Três anos de sorrisos num rostinho redondo de olhos negros cheios de estrelas. Já pronto puxa-o a si e aperta-o. Sente aquela quentura suave de criança, o morno do corpito ainda lhe escorre nos dedos. Suspira. Márcinho, o seu homem, a sua vida.

Josira fecha a porta do pequeno apartamento. Chama o elevador. As mãos estão cheias, de bibe, casaco, mochilinha. Tudo do seu menino. São horas de o entregar no jardim-escola. Tem ainda que andar um bocadinho, a manhã acordou fria de nevoeiro, o ar gela as narinas, enruga os dedos e corta o bafo quente. Veste o anoraque ao pequeno, põe-lhe o capuz na cabeça, aperta o seu casaco, sente um tremor pelo corpo nem as formas cheias a aquecem, tem que comprar um casacão, mas Márcinho precisa de botas e calças. Terá que esperar. Talvez com um pouco mais de gorjeta, o Natal vem aí, e as clientes são mais mãos largas. Talvez, mas o tempo está preto. Ela que o diga. Pagar a apartamento, a escolinha do seu menino, vestir calçar e comer. Uma doidura. Sempre a fazer conta, sempre. Tem dias que dá vontade mesmo é de chorar, sente-se sozinha quando o seu menino não está. Ter sempre que lutar pelo amanhã, que é cinzento e frio. Tem memória ainda quente do seu Brasil nordestino, da mornura que enche o ar e alaga a pessoa. Aqui é diferente. O português é mais formal, mais frio. É boa pessoa, mas não ajeita o calor que tem, nas gentes em redor, é como tempo. Ora quente de brasio, ora de chuvadas ora gelado de cacimbo e cinzentão, sempre cortado em si, não estende a mão no calor ou no frio dos dias, porém tem coração mole quando se lhe toca a alma. Gente diferente da sua gente. Mas gente do futuro do seu Márcinho.

Está cá já vai para cinco anos, ainda lembra dos primeiros tempos, muito duros, muito magoados, muito cheios de engano. Não conseguira trabalho como sonhara, tivera que deitar mão ao que aparecera. Márcio, o seu marido não arranjara nada. Ele tinha sempre um jeitinho calado, descansado quase molengão. Gostava mesmo era dormir, pegar uma cerveja mais o violão e sentar no cadeirão cantando as modinhas. Um dia partira sem nada dizer e Josira esperara, esperara, em vão, ele não dera mais notícia. Fora cruel, mas Márcinho vinha a caminho tivera que ser forte. Seu menino já era gente, ía dar-lhe futuro, mais do que um violão e feijão, como outros meninos, que ela sabia. Josira chega à escolinha, troca os bons dias com a educadora e entrega-lhe o pequeno.

-Dá um beijão em Mãmãe, dá, meu bem.

-Sim, Mamãe.

O pequeno ergue-se na ponta dos pés beija-a e corre para junto dos seus amiguinhos. O bibe azul balança no corpito à medida dos passitos em corrida. Voa para a sua salinha e entra feliz, com aquele sorriso gaiato que lhe pinta os olhos e arrenha as bochechas. Cá fora, Josira enfrenta o frio que desce do alto para o corpo. Sorri, vai enfrentar mais um dia, rápida dirige-se para o gabinete de estética. É ali o seu trabalho, depois, nas horas mortas ainda vai a casa das senhoras fazer umas mãos, pés ou simplesmente uma maquilhagem. Ela sabe da sua arte, gosta do que faz. Tem dois trabalhos mas dá para sobreviver, e depois sempre foi muito poupada. O seu sonho é abrir uma academia, mas até lá… se acaso algum dia acontecer, tem que labutar o dia-a-dia. Não é fácil mas é melhor do que no seu nordeste onde o desemprego rondava como bicho na toca, a fome era quase um estado e o futuro, o que era isso? Emigrar foi a solução. Deixou a família para trás, e eles são tantos. A sua gente tem filhos como as sementes do maracujá. Muitos e gostosos. O pior mesmo é quando as sementes começam a brotar, aí, não dá ,para o maracujá ficar quietinho na árvore, não dá, não. E depois o fruto cai no chão, fica bichado de podre. É assim a vida, lá na sua terra. Gente que nasce e cai sem nunca se levantar, doente e pobre. O seu Brasil, oh como a saudade rói ,abana a cabeça como que a despedir os pensamentos.

-Bom dia, Dona Isabel, tudo bem?

-Bom dia, Josira, está frio, hem?

-Oi meninas, tudo numa boa?

-Oi, Josira!

Veste a bata, prende os cabelos, pega no cestinho de verga com os vernizes coloridos e respectiva parafernália, no banquinho e na tina de hidromassagem. A primeira senhora está à sua espera.

-Bom dia, Dona Maria Graça. O que vamos fazer hoje, pé ou mão?

-Bom dia Josira, os dois.

Coloca a toalha no cimo da perna quase junto à coxa, dobra com suavidade a perna de D. Maria da Graça, o pé assenta na toalha. Uma olhadela e vê o estado do pé e unhas, o que precisa de fazer. Não estão lá muito cuidados. No Brasil, dona que é dona cuida mais de si. A mulher portuguesa só começa agora, brasileira gosta mesmo de si, de estar gostosinha, de ser mais mulher e menos mãe. O instinto de fêmea prevalece, maternal é consequência. Um pé está pronto, rosado, fino, o outro segue-se-lhe. No final, a cor invade as unhas ,tornando-os apelativos. Não importa ficarem escondidos, haverá tempo de mostrarem assim de nus. Depois é tempo de mãos, Dona Graça tem dedos esguios e bem articulados, e o seu trabalho fica mais bonito, ainda. Vezes há, em que as donas têm mão áspera, de lida, de descuido ou de falta de carinho. Tem visto tanta mão e pé que quase podia contar vidas, mas só pode pensar para ela. Tem sempre que ser simpática, humilde, é o seu ganha-pão que está em jogo e Márcinho vale por todo o pé e mão gretado, inchado ou áspero. Se mamãe e papai tivessem labutado como ela, não teria precisado de emigrar. Mas mamãe e papai não sabiam ler, viviam na casinha que vôvô construíra, fazia tanto, lá no mangues junto à foz do Gurupi, no Maranhão. Eram cinco, ela e mais quatro, tiveram que fazer pela vida, se virar. Estudara o ginásio com bolsa, claro está. Depois trabalhara na Academia, e assim custeara o seu cursinho de esteticista. Voltar ao sítio, só no Natal, já não se acostumava aquela pobreza. Mamãe sem dentes toda descaída, e papai feito pau de goiabão de torcido e enrugado. Sobrava apenas a ternura arrastada das suas gentes, o cheiro de terra húmida quando chovia, o chinelo no pé, o pentear na soleira da casa, a conversa morna de mamãe, o cheirinho do bacuri, do jenipapo, do tamarindo e do jaca, frutas que ainda a fazem salivar de saudade. Lembra-se, quando se sentavam na mesa comprida de pau-d’óleo depois de uma juçara bem molhadinha. Sem se aperceber trinca os lábios cheios, a tez respira o mate, os olhos são castanhos ouro, vestidos de cílios longos que lhe sombreiam o olhar. É bonita, Josira. Mulata vistosa, redonda, gostosa. Ainda tem anos verdes pela frente, sabe-o. Chorou assim de poucochinho o seu Márcio, mas também encolheu logo o coração, e só abriu de mansinho ao seu pequenino. A manhã correu depressa, Josira arruma as coisas, conta as gorjetas e sorri para si. Mais uns dinheirinhos e já pode comprar as botas que viu para o seu menino. Tem duas horinhas e vai correndo para casa de duas clientes. Vai lá fazer-lhe as mãos. Pagam bem, precisa de tudo. O Natal vem aí e quer comprar uma coisa bonita para o filhote e se puder, para ela, também. Tem sido assim, sempre, desde que estão os dois. Márcinho fica tão feliz, as covinhas das suas bochechas riem sempre com a boquinha. É um regalo vê-lo assim. Só ela sabe a tremura quente que sente quando o vê rindo. As lágrimas aquecem-lhe os olhos e mergulham no coração aberto de mãe. Sabe que o amanhã é do seu menino e dela, mesmo com o amanhecer frio, gelado e cinzentão dos dias, mesmo com a luta do seu dia-a-dia, mesmo com a sua solidão de mulher, sabe que um dia vai vencer.

O entardecer vai vestindo o seu capote, no portão do jardim-escola, o sorriso mais lindo do mundo, abre-lhe os bracitos.

-Oi, mamãe querida!



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18 novembro, 2007


Nascer

Grito lançado em espanto

Punhos cerrados em luta,

Esticar e encolher de pernas,

Piscar de olhos inchados,

Pálpebras enrugadas e vermelhas,

Cabelos colados,

Nu em si mas vestido de vida,

Nascer.

Sémen frutificado de um momento,

Fruto macio a madurar,

Em matriz quente e doce de fêmea,

Suspiro prolongado de prazer contente,

Ai de ternura escapado,

Sorriso de gente a espreitar.

Ser.

Nascer e ser …

Maçã verde de labuta trincada,

Romã de bagas doces em beijo dado

Talismã de um amor sonhado

Fruto maduro no ramo já dobrado,

Meu filho, meu ventre, meu amor