"...És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura onde, com lucidez, te reconheças." Miguel Torga
21 junho, 2007
Despair
E diz ainda que não se agarrará.......não te comprometerá, não terás que carregar um fardo e ficarás mais leve para chegar à Montanha da Alma , ou ao inferno. "
Gao Xingjian in Montanha da Alma
19 junho, 2007
my secret garden ( Adagio, Albinoni)
O Jardim
Onde fica?
Lá no ermo ou aqui perto?
Segredo secreto segredado
Em secretismos banais,
Irrisórios, pueris e senis.
O nosso jardim, é aqui…
No segredo vivo e quente,
Do labutar, do morrer, do nascer,
E, sobretudo do viver.
18 junho, 2007
15 junho, 2007
A Máscara II
Olho por entre espaços…
Revejo, vejo, sinto e pulso…
A vida em redor gira,
Ergo-me lenta, mas lentamente,
Procurando as memórias do outro
Eu,
Fechadas entre o nascer e o ocaso,
Algures no caminho já percorrido
De uma vida sentida ,chorada e partida
De mim,
A bruma esvai-se no raiar do dia,
Espreito por entre as colunas,
Além,
Soprando mansamente o vento
Sussurra-me, e depois gorjeia:
_És tu!
A Máscara
Cheguei…e não sei se sou…
Máscara constante de gente perdida,
Forma esguia de vontade arrancada
À vida,
Cheguei, assim despida de sentido,
Ausente de matéria .
Presente em labirinto de luz,
Em riso de cor.
Cheguei por entre um frémito,
Um adejar de vento e sombra.
Não sei onde estou e se sou…
Apenas Eu….
12 junho, 2007
Árvores do Alentejo
Árvores do Alentejo
A planície é um brasido? e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro e giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
pedindo a Deus a minha gota de água.
Florbela Espanca
11 junho, 2007
Casa Vazia
Casa Vazia….
Quando partem levam no olhar a ilusão de um amanhã… São muito jovens ainda “meninos de sua mãe”… mas partem, deixando para trás um vazio de frio. Um buraco roto de ternura perdida. Partem, porque têm que crescer, como se fosse obrigatório crescer fora. Foi dito quase imposto por alguém, algures num dia frio onde era necessário criar um artifício de forma, qual norma de verdade plangente.
E partem…são jovens, não sabem ainda que o amanhã não é parte do ninho quente onde despertaram. Não sabem e, não lhes foi contado que lá fora, o abrupto vive lado a lado com o plano, sucedendo em formas de emoções ignoradas. Não foi dito. Não podia ser dito a experiência de vida é pessoal, é mito, na fala dos outros.
E partem, na conquista do eu., no vislumbre do amor físico, na alternância da adolescência e maturidade quase entrelaçadas porque não sabem onde acabar e começar. Há confusão, lutas e por vezes caos pessoais. Mas vão crescendo, os meninos que partem. Há perdas e ganhos, há choros e risos, há lutas e devaneios. Há tanta coisa por contar que jamais será contada…
E depois, os meninos cresceram, ficaram iguais aos outros que o mundo já tinha, mas ficou sempre vazio o regaço de ternura, o quente do estar e o espaço da infância.
É a vida vazia de … uma casa.