O Companheiro
Olho-o de soslaio, companheiro de vida, parte redonda do meu ser…
Está meio adormecido. A labuta do dia foi forte, como sempre. E os anos já vão contando, pese a ligeireza física.
Dormita, naquele soer de névoa doce. Olho-o. De frente. Vejo os traços outrora mais leves, gravados pela vida … em linhas rectas inexplicáveis de cansaço.
Recordo-me, do dia, já longe, que o conheci. Tinha sorriso aberto perpassado de ingenuidade e alegria do amanhã. Era jovem. Era forte.
Demos as mãos, naquele dia, e fugimos mundo adentro, ignorantes da estrada que o destino nos reservava. Foi
dura. Mas, as mãos que muitas vezes se largaram, também outras se uniram, e fomos saltando os troços.
Vejo-o…
As cãs estão lá. Dão-lhe um ar de pessoa respeitável, de pessoa crescida, vivida e dorida. Alguém que cresceu alargando o coração. Que nunca foi pequeno.
O riso já não criva o ar, mas o sorriso é terno e enche o peito.
Olho-o. As imagens brotam. Ontem e hoje, passado e presente. Uma vida. A nossa vida.
Sorrimos … Sem palavras… É já o nosso mundo…Sereno mas vivo. De mãos breves e teias moldadas nas linhas vividas do amor..
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