Hoje ao ouvir o Secretário de
Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro sobre a
privatização da REFER tive, mais do que nunca, a noção exata de que o estado
social desapareceu, caducou, pereceu e jaz enterrado, algures no cemitério, não
dos Prazeres, mas sim da Solidariedade.
O cavalheiro, gestor de formação
académica, tornou claro que o lucro é a parte necessária e primordial na
existência de qualquer empresa, seja ela mesmo de interesse da coisa comum,
isto é do Estado. Presentemente vivemos no primado do lucro. Sejam hospitais,
escolas, transportes públicos e a fins. Tudo tem que ser lucrativo sob a pena
de ter que ser privatizado rapidamente, para que o Estado não seja onerado, e
assim o coletivo nacional usufrua de uma estabilidade económica que lhe
permitira viver qual Pais das Maravilhas sem Alice.
Ora e segundo a minha perspectiva
pessoal, existem vários bens perecíveis neste Estado, os quais continuam, sine
die, a delapidar o erário público sem quaisquer benefícios para o coletivo
português. Como exemplo aponto os preclaríssimos deputados da nação, que não só
estiolam tempo como muito do nosso dinheiro, em nome da democracia, ou então,
quando esta não é suficiente, em oratórias egocêntricas cujo conteúdo bajula as
mentes políticas dos seus pretores, que diga-se em abono da verdade, há já
muito estão desligados da justiça e seus critérios. Para estes não existe o
alerta vermelho do lucro ou da contenção, a razão ou não razão desta ausência
espanta-me.
Outras pequenas grandes picardias
económicas que os sucessivos governos têm feito, gasto, delapidado, vendilhado
mais do que vendido e doado é quase uma outra estória infantil. Dar-lhe-ia os títulos
de “Ali Babá e os quarenta Ladrões” , “O Lobo e o Cordeiro” e “Pinóquio”.
Abstenho-me do final moral das mesmas. Por demais óbvio.
Pois estes senhores que se sentam
em estofadas cadeiras na casa da democracia usurpam muito dos nossos míseros
euros, passeiam-se nos degraus do poder, saltam as escadas da importância e
sorriem descaradamente quando interpelados sobre as suas pluriatividades. Na
verdade escolhidos a dedo, os lugares de magistrados da nação não têm que dar
lucro e assim sendo, estes são não clientes da casada democracia em oposição ao
comum do cidadão que quando vai tratar a sua saúde é um cliente contributivo
obrigatório da casa da saúde.
Contrassensos de uma sociedade
per si antinómica, onde o pensamento e as palavras esvaziadas são passiveis de benesses
conquanto o bem-estar social se tornou-se um ação económica.
Mas todo este estado não é apenas
causativo de mal-estar lusitano. Espalha-se também por outros países e,
sobretudo, por alguns cidadãos da velha Europa cuja faixa etária é dita como
sénior. Nascidos nos idos de 50 e 60 têm ainda incrustado na pele a noção de
ser solidário, de bem comum. O Estado Social foi intuito que levou uns tantos
“visionários”, à luz do presente, a sonhar por uma Europa comum. Robert
Schumann certamente que deve revolver-se lá no sitio onde está, ao ver os
caminhos tortuosos da velha Europa. Naturalmente que ser solidário, não é, nem
será, dar subsídios a rodos sem sequer, na maioria das vezes, os mesmos serem fiscalizados
na sua consecução, nem muito menos viver em estado de parasitismo coletivo.
Porque os mais ricos têm que dar aos mais pobres. Isso não é ser solidário isso
é ser quase “Zé do Telhado” e a conjuntura socioeconómica, pese todos os quid
pro quota melhorou abissalmente, logo a solidariedade passa por um bem social
que seja extensível a todos dependendo naturalmente do grau das suas carências,
sejam económicas, sociais ou afetivas. Fala-se, hoje em dia, muito em
solidariedade mediática. O mediatismo parece ser a panaceia que limpa as
consciências. Tudo o que se viu, lavou-se. Sorri-se e fica-se feliz. O todo que
subsiste por detrás não é visível, logo não mediático, consequentemente
desconhecido é de relativa importância. Assim se faz, assim se vive.
Que a economia gere o mundo até o
mais incauto o sabe, mas daí a fazer do ser humano clientes da sua própria
sociedade, do seu bem-estar, dos seus afetos quiçá dos seus sonhos, isso
cavalheiros ainda não foi escrito e, penso que jamais o será, Robert Schumann
disse no dia nove de Maio de 1950 o seguinte: «A Europa não se fará de uma só
vez, nem de acordo com um plano único. Far-se-á através de realizações
concretas que criarão, antes de mais, uma solidariedade de facto.»
Meditemos, pois.
Maria Teresa Soares.
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