Canção na plenitude
"Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou. Há rugas onde
havia sedas, sou uma estrutura agrandada pelos anos
e o peso dos fardos bons ou ruins. (Carreguei muitos com gosto e alguns com
rebeldia.) O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus
ganhos. A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria, busca te
agradar quando antigamente quereria apenas ser amada. Posso dar-te muito mais
do que beleza e juventude agora: esses dourados anos me ensinaram a amar
melhor, com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, a
aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e sobretudo
força — que vem do aprendizado. Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam, cujas correntes ocultas não levam
destroços mas o sonho interminável das sereias." O texto acima foi
extraído do livro "Secreta Mirada", Editora Mandarim - São Paulo, 1998
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