Ser
velho, idoso, gasto, depauperado, enfim já vivido!
Agostinho é vivo,
ardiloso, galante e quiçá quase, quase mulherengo. Agostinho ronda os setenta e
muitos. Quem o vê, nota um idoso enxuto, encarquilhado, vacilante, mas de olhar
saltitante. Ainda suspira quando passa perto de uma mulher jovem. A sua libido
ainda borbulha. Dizem, os malsabidos que os velhos não sentem, são inseguros e pranteiam.
Agostinho lacrimeja do pó dos anos, suspira nos dias da Primavera e abre o
coração nos dias dourados.
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Devagar porque a pressa é
para quem ainda não vivei e teme pelo tempo, chegou à praia. Espraiou-se na
esplanada de um café. Não esborrachou o rosto no ar porque não existia parede
de ansiedade. Semicerrou o olhar e apreciou o mulherio. Esbeltas, corças
jovens; redondas, leoas de família; as mais velhas de pé aqui, salto ali, uma torcer
mais um endireitar provocaram-lhe o sorriso nos lábios finos dos anos. Gostou.
Afinal, as mulheres mais despidas ou mais vestidos mantinham aquele jeito de
séculos, a sedução. Agostinho reclinou-se e voltou a razão para os jovens
desarticulados que se espremiam em olhares e trejeitos perto das corças como se
fossem olharapos em andança. Estava satisfeito. Beberricou a sua imperial,
recostando-se na cadeira de plástico verde.
Agostinho pensou então
como era feliz por ser velho, idoso, depauperado enfim vivido. Ele, o velho,
tinha no corpo e na razão o cofre dos anos vividos, o olhar das coisas belas,
ele não precisava de descobrir e experimentar, porque sabia. Afinal, concluía
Agostinho:
A vida era mesmo um
pêssego rosado e suculento. Abaixo a maçãs verdes é acidas. Que feliz estava
por ser velho!
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