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Alguém que ama a vida e odeia as injustiças

09 março, 2022

Às mulheres ucranianas

. Corre serena na rua vazia de gente e troada de projeteis. Suspira na esquina do fumo entre golfadas de alento. Semicerra os dentes na força do não querer partir e na razão do despedir. No braço leva um saco, nas costas a mochila vazia de tudo, mas cheia de necessidades. Na outra mão, a mão quente, entrelaça os dedos numa mão redonda da criança. É Natalya. É ucraniana. É mulher. Março, oito, 2022. Diz-se Dia Internacional da Mulher, diz-se dia de Direitos. Diz-se dia de Amor. Diz-se… São passos rápidos, fortes e fustigados que a conduzem. São ventos soprados de este que chegam embriagados em vómitos de fogo e raiva. São espasmos bélicos de louco. São labaredas que varram a pele e derretam a alma de um povo. Mas Natalya continua… Tem na mão o futuro, pequeno e macio, trôpego de força, lesto de Amor, cordão umbilical da família. Andriy… Natalya e Andriy sozinhos no gelo defecado de fogo sob um céu cinzento agoniado de dor, caminham… Longe, muito longe estão as mãos que aconchegam, que embalam, que perpassam na alma ferida e suturam, que olham nos olhos partidos de lágrimas e sorriem de esperança. Lá é o lugar. Há que chegar. Há que andar. Há que deixar o caos, a dor, o ódio, a ganância e a loucura. Natalya é mulher, possui a força da árvore, a leveza do ar e a força do caudal. Tem na alma a mater do mundo, e na vontade o sacrifício dos milénios. Caminha nos passos da fuga, caminha porque a vida de mulher é feita de caminhar. Hoje, é o dia, o dia de todas as Natalyas! Coragem! 8 de março 2022

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