Hoje apeteceu-me
escrever. Não que tenha algo de importante a dizer, somente, apeteceu-me.
Nestes meses de
interiorização, pequenas coisas têm deslizado pela mente. Devia anotá-las,
porém o fluir das horas, o viver dos minutos na dolência perfeita dos dias tem
sido algo pateticamente assintomático.
A mudança dos
hábitos fez-se mais no pensamento do que nas atitudes, pois que estas tornaram-se
adiadas. Um sine die para breve. Uma antítese
concetual e temporal.
Os tempos de agora,
vestidos de paradoxos, aceites e despidos de projetos de amanhã, cobrem a nossa
esperança de porvir. Habituamo-nos. Vivemos em quartos de espaço, de horas, de
afetos, emoções e, em suma de vida.
Somos sombras de
nós porque um maldito vírus nos despojou da nossa iniciativa de Ser, de Estar e
de Ficar. Uns Partem porque o tempo se despediu, outros afastam-se com medo da
despedida, outros ainda ignoram-se, porque desconhecer protege a ignorância. Um
tempo de dias desconhecidos.
São os dias do
nosso tempo. Os novos dias deste tempo. Os dias da história de um vírus. Uma
história na História dos Tempos. Dois milénios e vinte séculos. Conquistas,
ciência, tecnologia, avanço, e o Homem sendo a medida de todas as coisas assim se
pensa, assim se pensou. Pensou-se que tudo se podia, se fazia, se inventava, se
destruía e se recriava. O homem. Era, então, medida de todas as coisas, fosse
na sua criatividade, inteligência, emotividade, fosse na sua busca da inteligível
da excelência; a medida quase perfeita do seu espelho. A vacuidade da
assertividade, a precariedade da estabilidade, a incongruência do status quo providenciará um novo
capítulo na História do Mundo.
O Mundo ainda
não mudou contrariamente ao que os homens do mundo passado apregoam. O mundo
irá mudar. Lentamente como é seu apanágio. Um novo capitulo no romance da
Humanidade será, então, escrito ou pintado na página ou tela que pisamos e
respiramos. A arte, a mestria, o ritmo, a cor, as palavras ou as imagens serão
somente a inocência ou a hipocrisia da que a memória dos tempos da História do
mundo nos atribuiu. Sejamos, pois os autores-atores deste estranho palco
esperança com que a História nos brindou!
10 Junho 2020-06-10
Maria Teresa
Nobre Soares