Maio
Senta-se diante da tília que se agita suavemente na noite doce de Maio. No ar vibra aquele odor suave das rosas a desenrolarem-se em saias novas. Maio. Um suspiro.
João velho respira o Maio novo. Tremor e brisa. João e Maio. Gente e Tempo. João respira devagar deglutindo o ar doce que a Tília lhe oferece. Sorri fechando os olhos já cansados. O tempo desprende-se. A Tília envolve-o no seu odor. João deixa-se embalar. Suave, suavemente. Chamam-no. É o tempo. O seu que terminou. O de Maio que vibra. João entreabre os lábios e engole o perfume. Olha em frente, para além da Tília, na curva do tempo onde o mundo nasce de um lado, e morre do outro. É ali que tudo acaba. Sem alarde, embrulhado na doçura de Maio, João parte. Assim serenamente.
Alguém que passou reparou numa tília que chorava ao lado de um velho que olhava sem ver.
Achou estranho mas não parou.
Amanhã era Junho.
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