Maio
Senta-se diante da tília que se agita suavemente na noite doce de Maio. No ar vibra aquele odor suave das rosas a desenrolarem-se em saias novas. Maio. Um suspiro.
João velho respira o Maio novo. Tremor e brisa. João e Maio. Gente e Tempo. João respira devagar deglutindo o ar doce que a Tília lhe oferece. Sorri fechando os olhos já cansados. O tempo desprende-se. A Tília envolve-o no seu odor. João deixa-se embalar. Suave, suavemente. Chamam-no. É o tempo. O seu que terminou. O de Maio que vibra. João entreabre os lábios e engole o perfume. Olha em frente, para além da Tília, na curva do tempo onde o mundo nasce de um lado, e morre do outro. É ali que tudo acaba. Sem alarde, embrulhado na doçura de Maio, João parte. Assim serenamente.
Alguém que passou reparou numa tília que chorava ao lado de um velho que olhava sem ver.
Achou estranho mas não parou.
Amanhã era Junho.
..
6 comentários:
Nesta sociedade onde a economia tomou conta do poder político
a indiferença é um sintoma
de abandono à vida
Belo texto
"Achou estranho mas não parou."
Definição do cotidiano.
Confesso que sentia falta dos seus textos, Mateso querida.
Bom que você ouviu meus soluços. E trouxe doçura a meu fim de maio...
gostei muito da tília a chorar ao lado do velho. também olhei sem ver... um beijinho.
"..Alguém que passou reparou numa tília que chorava ao lado de um velho que olhava sem ver.
Achou estranho mas não parou."
O sentimento de indiferença que tantos têm...
Adorei o teu texto. Tinha saudades de te ler.
Beijo e continuação de boa semana.
Espero que não te importes que tenha levado "emprestado" este belo e sensível texto para o CPV.
Algum problema e será de imediato retirado.
A entrada é livre, basta seguir o endereço.
Um abraço
Já pouca gente sabe olhar à sua volta. O achar estranho já nem é mau...
Excelente texto. GosBom fim-de-semana.
Beijo.tei imenso.
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