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À prostituta mais nova,
do bairro mais velho e escuro,
deixo os meus brincos lavrados
em cristal, límpido e puro…
E àquela virgem esquecida
rapariga sem ternura,
sonhando algures uma lenda,
deixo o meu vestido branco,
o meu vestido de noiva,
todo tecido de renda…
Este meu rosário antigo,
ofereço-o àquele amigo
que não acredita em Deus…
E os livros, rosários meus
das contas de outro sofrer,
são para os homens humildes,
que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
esses, que são de dor
sincera e desordenada…
esses, que são de esperança,
desesperada mas firme,
deixo-os a ti, meu Amor…
Para que, na paz da hora,
em que a minha alma venha
beijar de longe os teus olhos,
vás por essa noite fora…
com passos feitos de lua,
oferecê-los às crianças
que encontrares em cada rua…
Lisboa, 1950
Alda Lara (Poemas – Obra Completa de Alda Lara, Editora Capricórnio, Lobito 1973)