Visto-me de Setembro em cada ano. Visto-me da neblina encaracolada na luz do dia, e nos orvalhos da noite. Visto-me da liquidez do tempo e da convulsão das cores. Visto-me antes de o Inverno chegar...Sim visto-me frágil, trémula, nas manhãs sonoras de adeus, quando a alma, suspira no corpo descansado, de repoiso. Visto-me, não de casacos ou outras peças comezinhas, visto-me de vida, da que palpita lá fora, qual capa ondulando ao vento do desejo. Visto-me de ânsia, porque o meu corpo estremece. Nicho de cada estação, onde o cálice frutifica em ondas plangentes de sentir. Freme a pele, soluça o vento, sorri o tempo porque me Setembro.
Setembro-me, porque estou nua de tempo e cores. Quero para mim os rosas quentes, os dourados eternos, os térreos flamejantes e o verde que me adoça e beija os pés. Quero o azul por cabelo, já que as nuvens são os meus caracóis, soltos em tufos de algodão macio. Quero a brisa por carícia, afagando-me o pescoço em látegos de deleite incandescente. Quero rebolar na terra húmida, sentir o húmus, o cheiro, a voz, a essência do mundo. Quero beber na fonte o orvalho do dia e da noite, trincar os bagos dourados, deixar escorrer pelo corpo o líquido doce e morno, lambuzar-me de néctar, saciar-me de vida, calcar as cores e cobrir-me de grinaldas purpúreas de desejo e correr, correr pelas encostas engalanadas de cores, e quentes de luz. Quero colher o tempo, a luz, a vida em Setembro.
Respiro saciada. O vento partiu, a brisa beijou-me.