Adeus Verão
Um bocejo. Um olhar.
É o tempo da luz que se recolhe.É o Verão que se encolhe.
Cabelos longos, soltos, emaranhados na brisa da tarde, pele doirada do sol e do mar, lábios rubros de adolescente, mãos doces de menina e olhar perdido de mulher. Isabel.
Sob o toldo branco que teima ainda em filtrar a luz macia de Agosto, olha em redor. Uma centelha. Um palpitar. Nada. O olhar desce de novo para a mesa redonda onde os dedos tamborilam o tampo verde de metal. Puxa a cadeira um pouco para trás. Cruza as pernas morenas, despidas. Uns calções curtos vestem-lhe as coxas. Assim leve. Assim solta. À espera.
Sacode a massa castanha que desce pelas costas. Naquele trejeito derrama o olhar em redor. Nada. Vê o pulso. Cinco horas. Atrasado.
Suspira.
Amanhã já é Setembro. Amanhã acaba o tempo. Amanhã é dia de adeus. Amanhã o tempo vai mudar.
E a luz a inundar a praça. A luz que a faz piscar. A luz que lhe rouba o tempo.
O pé direito baloiça nervoso no sincopar dos minutos. Dança na sandália despida. Move-se ao ritmo do palpitar do corpo. Eis que se solta e cai. O pé desliza e busca-a no chão. Enfia-se nela tal como na espera. Voluntariamente.
Chega. Desengonçado. Alto e magro. Com calças a mais e camisa de menos. Sorridente. Lança-lhe um beijo nos dedos que poisa nos lábios. Um trejeito.
Isabel sorri. Feliz. A luz do verão espalha-se nas faces e aninha-se nos olhos de veludo. Sorriem um no outro.
Isabel e João.
Sorriem e estreitam as mãos. Afagam-se no olhar. O tempo está ali. Parou. Amanhã já não é Setembro.
Levantam-se. Entrelaçam os dedos. Partem
O pôr-do-sol desceu na praça.
Fechou-se o último toldo.
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