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A B R I L
Mãe conta-me, o que é Abril?
Abril, meu filho…É
Um cravo vermelho, um sorriso, um olhar,
Um estar sem estar e um desejar sem ter.
Abril é mulher, afecto, desígnio a madurar,
É fome e sede, é raiva e sonho de um querer.
É Abril assim.
Mãe conta-me…
Abril foi sémen esculpido no ventre esgotado
De um povo chorado, faminto, agoniado.
Abril foi sátira, sinestesia, personificação,
Melopeia, música, ária de uma canção.
E foi Abril.
Mãe conta-me…
Abril de ontem, Abril sonhado,
Abril de hoje, Abril humilhado.
Cantado em serões imputrescíveis,
Conúbios avaros, pútridos, insaciáveis.
Qual frustro parido,
De um ventre em promessas fruído
Tornado exangue, lasso, possuído.
Abril hoje,
É o vazio de um ontem prometido
Em brisa ondulante de gente que sente,
Que clama, que ri, que chora, que geme e grita
Gente assim parida de sonho em Abril.
Filho, meu filho, meu ventre,
Abril é ele, e tu, e eu…somos Nós!