A semente e o silencio e a soidão
Sofia, a semente, caiu enrolada no chão. Recolheu-se na
escuridão escura e húmida da terra abrigo. Queda, respirou, aspirou e
alimentou-se. Germinou. Lenta e metodicamente lançou -se em busca da luz.
Quando espreitou, achou-a.
Sofia, a semente, estava no mundo, mas estava só. A solidão
abraçava-a.
Sofia ganhou força, expandiu a
sua vontade, tornou o caule mais ereto ainda, alargou e multiplicou as folhas e
cresceu. Pã, a solidão vagueou intermitente em seu redor na exata medida dos
dias do calendário a primeira vintena do novo milénio. Vagueando entre muros
vazios e luzes apagadas, Pã entrelaçou-se com o silêncio, com Lala.
Sofias a semente, Lala o silêncio
e Pã a solidão. Três nomes, três sentires, um hiato do mundo.
Porém a semente germinada
tornou-se planta, de planta em arbusto e finalmente árvore. Floriu qual
jacarandá tardio, mas floriu. Floriu a esperança e coragem de um amanhã. Sofia
fez-se grande
E Sofia saltou para o tempo.
Um tempo de vazios, de contrições,
de medos, de distanciamento, um tempo sem alma. O tempo que nos rodeia.
Sofia a árvore de ramos
brilhantes e folhas verdes. Sofia a semente, arbusto, arvore, a esperança. A semente
da esperança. A esperança que corre nas veias de outras sementes germinadas,
redondas, quadradas, esguias, fortes, fracas, voláteis e duradouras. As sementes
humanas que tremem, que adormecem sob as
franjas de Pã e lutam contra Lala. Lala é a bruxa que engole os sentires, Pã a
força que quebra o porvir. Três lutas. Três
hiatos, três esgares.
Amanhã, talvez, as sementes do
mundo voltem a viver.
Amanhã será de novo madrugada.
Chaves, 2 de agosto de 2021
Maria Teresa Soares