Publica-se despudoradamente um rol de cogitações criadas sob a pena dos ditos críticos de opinião, jactados como seres pensantes cujo objetivo é o de veicular noticias informando o homem comum, o qual à partida será desprovido de uma qualquer apreciação seja científica, jurídica, filosófica seja, inclusive ,económica.
O homem comum, o tal cidadão que afinal até é possuidor de opinião pasma-se perante o debitar profícuo de juízos adornados sub-repticiamente de alarme, de especulação e de sensacionalismo. Não nos esqueçamos que o artigo é escrito por alguém cujo mister é ganhar a vida com palavras, algo de normal numa sociedade em que se compra e vende serviços a fim de garantir a subsistência do individuo.
Mas não é a dita economia de mercado que está no meu pensamento. É sim o alarmismo fulgurante, o negativismo destrutivo e o quase derrotismo quotidiano em que vivemos.
É verdade que a situação neste janeiro de 2021 é horrível, é verdade que os números exatos, extrapolados, multiplicados e estatisticamente manipulados ou simplesmente estatísticos são a base do nosso descontentamento descontente, da nossa impotência, do nosso medo, da nossa ânsia e do nosso confinar. É verdade que como bons latinos, ainda com sangue dolente árabe a correr-nos nas veias preterimos sempre as planificações para aquele exato momento do “desenrasca”. É verdade.
Não é a geração mais bem preparada que tem obliterado a situação, pois que compelida na espiral horrível do caos , pese dar o que tem e quase o que não tem, também faz parte da força centrifuga dos acontecimentos sem poder esboçar ou praticar os conhecimentos científicos adquiridos ou mudar o rol dos acontecimentos como é mister da mudança.
Pasmo, pasmo, diariamente ao ouvir os noticiários, sejam televisivos ou radiofónicos ( sou muito antiga e gosto da rádio) perante a pressa quase gutural ou histriónica, as inflexões graves cuspidas em tons graves e apressados como se a respiração já estivesse contaminada. Assim se ouvem as notícias. O alarde soa constante, propalando-se a uma velocidade semelhante aos lançamentos espaciais.
Embora sexagenária não vivi a última guerra mundial, a minha geração embora já antiga, ainda está ,ligeiramente, distante dessa outra, a dos nossos pais, a qual viveu o conflito. Conta, quem o suportou, que não foi tão desgastante quanto este. É certo que o cenário era diferente, todos disso estamos cientes. Havia o morticínio, o sangue, a morte e o cheiro dela. Não existia o lado assético que vivemos, nem muito menos a “pseudo civilidade” escrevo pseudo, pois que nos dias em que correm a elegância de saber estar já passou às calendas dando lugar ao politicamente correto, que afinal não é, nem será jamais sinónimo, pese o esforço ortográfico de mudança. Mas enfim, dão desabafos. Era um mundo diferente que a nova geração , a do Millennium desconhece. Não era perfeito, não o era de todo. Aliás nenhum século o será, pois que é vivenciado pelo homem que descendendo do macaco, segundo Darwin, e não dos anjos , logo tornando quase impossível qualquer perfeição.
Não me afastando do tema, creio que se no seculo XX duas guerras dizimaram o mundo, houve, necessariamente, que existir um foco fortíssimo de esperança para resistir, sobreviver e o reconstruir. Ora, na minha fraca conceção a esperança não renasce assim de um pé para a mão, das cinzas, qual Fénix, mas antes num mundo equilibrado de emoções e vontades fazendo o seu caminho para a frente em direção ao porvir. É essa esperança que , creio, gostaríamos todos de ouvir, não feita do nada, antes reconstruída alicerçada em pontos positivos, difundindo um pouco de confiança. que também os há.
Não pretendo fazer análises política até porque não sou em absoluto politóloga, não tenciono, por outro lado ,fazer previsões porque também não sou astróloga, apenas e isso sei, gostaria de ver o meu próximo, aquele individuo anónimo que tem que sair para ganhar o pão com ou sem pandemia, porque caso contrário põe em risco “ o pão nosso de cada dia” da sua família., pouco mais seguro, ligeiramente mais confiante, de todo menos sobressaltado ( para além dos cuidados sanitários) no dia a dia que tem que vencer. Para todos esses um pouco menos de alarmismo e um bocadinho mais de equilíbrio seria vital.
Também para quem trabalha denodadamente e não aqueles que na sua cátedra opinam ( somos campeões nesta matéria), para os que lutam hora a hora para salvar não só vidas, mas também situações, para todos nós que também ainda acordamos todos os dias, uma baforada de esperança ou talvez uma chuvada de positivismo, ajudasse um pouco mais.
É que nestas coisas de notícias gosto de poder parafrasear Churchill: “Não existe opinião pública, existe opinião publicada.”
Maria Teresa Soares
27 janeiro 2021
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