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.Os Erros do Ensino
É erro querer teorizar o que é da prática
Numa sala de aula em que professores e alunos constituem uma pequena comunidade de ensino-aprendizagem, é erro cabal, querer debitar e aplicar a teoria seja comportamental ou pedagógica quando as vivencias, melhor dito, os casos saltam para a vida nas suas múltiplas facetas sociais, em que o aluno é o produto de um caleidoscópio denominado por sociedade, em que muitos dos progenitores, pese a idade dos seus filhos, ainda estão a aprender o seu papel de pais dada a enormidade de mudanças e teorias subjacentes. É um erro de palmatória que conduz à desumanização. É um erro procurar aplicar teorias a situações resultantes de disfuncionalidades familiares sejam elas económicas. Afetivas ou inclusive sociais. A sala de aula deve ser o lugar de encontro e não de desfasamento. O professor tem formação científica pedagógica e não psicológica. Quando se constrói uma casa não basta ter o design do arquiteto, são necessários os cálculos do engenheiro civil, caso contrário, a casa alui nos seus alicerces. Assim é o ensino.
É um erro burocratizar o papel dos docentes
A velha máxima” A César o que é de César” e “ao Professor o que é do Professor” remete-nos para o seu papel de pedagogo e não de burocrata. Fazem-no estiolar o tempo, enfraquecer a vontade, cansar o espírito e engolir a revolta em nome de uma pseudo carreira vital à subsistência do docente. É erro diabólico estiolar horas e horas que somadas se tornam semanas e meses com papelada, reuniões redondas de soluções quadradas com a pretensão ilusória ou conveniente de gizar a formação do futuro. O futuro não será feito de bonecos de papel, será, antes esborratado em gente incompleta de espírito se o modelo se mantiver.
É erro minimizar o conhecimento dos professores
Assiste-se nos dias de hoje a uma contestação implícita dos progenitores, quanto ao modo em como o docente veicula os conhecimentos e aplica as pedagogias. Numa sociedade carente em cultura geral que se extravasa em especificidade não deixa de ser um espanto, o modo em como alguns pais ( alguns, diga-se em boa verdade)pretendem corrigir, minimizar os conhecimentos dos docentes apoiando-se sempre que lhes falta a sapiência nos conteúdos contestados, no apoio intrínseco dos explicadores, alegando incompetência e mau desempenho profissional. Naturalmente que atitudes deste jaez leva
É um erro o Ministério da" Educação desvalorizar os docentes e os seus problemas.
“Perdemos os professores, mas ganhamos o país" (Maria de Lurdes Rodrigues), quando há onze anos a então Ministra da Educação proferiu esta célebre frase em resultado das greves e manifestações ocorridas, visualizava-se já uma guerra mais do que institucional, se tornaria de vontades. O Ministério ganhou os pais, ou melhor, a conveniência ou conivência de alguns pais, porque ainda existem pais que almejam o melhor para os seus filhos, que confiam nos professores enquanto formadores de gerações. Há pais que partilham as suas angústias na condução do crescimento e aprendizagem dos seus educandos; há pais que confiam abertamente no bom senso e capacidade de quem ensina; há pais que são preciosos colaboradores do ensino, que começa em casa sob a orientação dos progenitores e expande-se na escola sob a capa de ensino aprendizagem veiculada pelos professores. A vida possui vários currículos. É no currículo oculto que permanece o “Eu” de cada aluno, o lugar onde se encontram os ensinamentos que não foram planeados ou prescritos, é, pois, a dimensão implícita de todo o processo educacional o qual transvaza das simples paredes da instituição ou ambiente escolar .De acordo com Perrenoud (1995) os ensinamentos transmitidos de maneira subliminar, ou seja, aqueles que não foram prescritos nem planeados segundo o currículo prescrito, mas que acontecem por meio de práticas e condutas influenciadas pela identidade dos agentes envolvidos no processo também fazem parte do currículo dito oculto.
É precisamente neste currículo, que o papel do professor é fundamental, perante os pressupostos em sala de aula implícitos e episódicos, resultantes do contexto aliado à dinâmica em que a aula se desenrola, uma vez que é detentor da capacidade e habilidade em permeio com a sensibilidade em saber utilizar um acontecimento ou questão em evidência naquele momento, que surge em consonância com temas importantes para formação do indivíduo. Fica clara, então, a ligação estreita entre o currículo real e o currículo oculto. Segundo Perrenoud (2005) a abordagem a partir do currículo real, ou seja, a partir da operacionalização do currículo prescrito, e da experiência de vida, tem impactos diretos no papel do professor, uma vez que, para ele, “se ensinamos o ‘que somos’, segundo uma fórmula que convém tanto à educação quanto à sociedade, o primeiro recurso da escola seria o grau de cidadania dos professores”. É assim, mister do professor utilizar, em meio pedagógico de sala de aula, situações e saberes que emergem de experiências de interação social e de significação ultrapassando o que foi estabelecido.
É fatual, é consensual, que no seu dia a dia para além da obrigatoriedade da aplicação de um currículo real e formal, o professor aplica igualmente o oculto. Não o fará com a premência que os problemas sociais do quotidiano dos alunos necessitam, porém a extensão dos conteúdos programáticos que cada disciplina possui, não permitem muitas divagações nem sequer o quebrar de ritmo sob a pena do docente ser tido como um incompetente dado nem sequer a matéria toda ter lecionado. Por outro lado, se a matéria é toda lecionada há algo de errado com o docente porque não exercitou os conteúdos devidamente, porque não contextualizou ou humanizou outras situações dos seus alunos. Agradar a Gregos e a Troianos jamais teve ecos na História!
Se estamos doentes vamos ao médico de família. Todavia, se a maleita carece de outra especificidade que não a de clínica geral somos encaminhados para o especialista. Porque então numa sociedade em mutação em que as doenças são do foro social e psíquico, os casos não são encaminhados, analisados e tratados pelos psicólogos escolares? Porquê cabe ao docente o papel de pedagogo e psicólogo? Talvez por isso a guerra tenha sido aberta e se tenham perdido os professores e ganho os pais, talvez…
Depois, o professor é também um Ser Humano que necessita de subsistir, de ter condições necessárias ao seu bom desempenho dado possuir uma tarefa de muita responsabilidade. Não é a luta entre a vida e a morte, é “somente” o desenvolvimento equilibrado do ser humano. Hoje, pelo país fora presenciam-se aberrações, tais como a de professores tornados gastrópodes, especificamente caracóis, porque andam permanentemente de casa às costas, deixando para trás ora mulher, ora marido e filhos. É o sistema, diz-se. O único e exclusivo culpado desta situação é o Ministério da Educação mais o seu complexo e incongruente método programático de colocações.. Já se pensou, já pensou a sociedade, que amanhã teremos alguns milhares de jovens, filhos dos tais caracóis sapientes, jovens disfuncionais fruto de problemas emocionais e económicos cuja raiz reside nas ausências consecutivas de um ou outro progenitor. Uma espécie da abandono camuflado ano após ano, até que crescem e ei-los na ribalta da revolta constituindo, eventualmente constituir uma ala problemática da sociedade? É bem verdade, que o concidadão apenas sente o que vê, um apanágio muito nosso, porém há que pensar, repensar e cuidar.
Depois chegamos aos vencimentos. Um professor como toda a classe média portuguesa é mal pago. Somos um país economicamente em dicotomia. Somos quase, quase, quase uma colónia democrática e europeia da América do Sul. Alguém, na sua vida, dá continuamente o seu melhor sem nada em troca? Duvido. Madres Teresa só houve uma, Gente boa, altruísta mas não despegada, há muita, e entre eles estão os Professores.
Outros erros, muitos erros tem a sociedade debitado nas costas de quem ensina e forma. De erro em erro vai-se engrossando a revolta, o desencanto, a intermitência. Valorizar e fazer cada vez mais e melhor necessita de estabilidade e aceitação. A sociedade transmuta-se quotidianamente em rotações, quiçá translações vertiginosas, no entanto, há arquétipos da natureza que são imutáveis, há idiossincrasias conceituais que continuam intemporais.
Naturalmente e como em todas as profissões existem os medíocres, os médios, os bons e muitos bons. Porque não, também entre os professores? Claro que é assim, claro que a sociedade é assim, claro que os alunos são assim, claro que os pais também assim o são. É o carrossel da vida. Porquê, então imputar os malefícios a uma classe? Porquê degradá-la e agredi-la? É isto a sociedade portuguesa, é isto um Estado de Direito? É isto a plenitude dos direitos cívicos? É isto numa palavra a Democracia porque tanto se almejou? Algo vai muito mal neste retangulo à beira-mar plantado, algo de muito confuso, de muito inexplicável. Termino simplesmente com um velho provérbio nacional: “Quem não sabe o que quer, perde o que tem”
Chaves, 7 de Novembro 2019.
Maria Teresa Soares
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