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.A Safra dos homens
No rodar constante dos anos, as colheitas são ora boas, razoáveis, menos boas ou mesmo más, todavia lá vão produzindo, seja por meio de adubos, modificações genéticas, pesticidas, seja o que for, o certo é que a velha terra frutifica, pois que a população de boca desventrada assim o exige e, mesmo assim, as safras são muitas das vezes insuficientes para este mundo de gente. Mas isso são as safras da terra. E as safras humanas? As sementes continuam a ser lançadas, geradas, desenvolvidas e nascidas. Depois, são educadas, instruídas, crescem, engordam, desenvolvem-se e chegam ao poder. Aí esquecem o caminho. As safras, as últimas, de políticos ou simplesmente de homens e mulheres de poder são fracas. Tão fracas quanto aqueles frutos, que embora maduros e doirados estão podres, bichados no seu interior. Adquiriram o aspeto mas perderam o sabor, digo, os frutos, E nos homens? Bom. nos homens, o poder bichou-os. O poder, o político, o que faz reluzir a cadeia de interesses, o que demonstra a força, o que verga a verdade e colide com o carater. A nova e terrível versão de política dos tempos em que viveremos. Não é por ser portuguesa, mas por ser humana que pasmo perante o corredor tortuoso que a nova eleição para Secretário – Geral da ONU tem tomado. Na verdade, esta safra de homens que gere os destinos dos outros homens, que incauta ou deliberadamente os elegem, tem-se revelado mais do que bichada, simplesmente podre. O palco do poder revela artistas medíocres, não só não sabem o texto original como recorrem a constantes buchas de interesse, aciduladas na hipocrisia da sua safra. Na verdade, esta safra tem uma particularidade: alinha leis, que depois, desalinha rapidamente logo que uma voz áspera, quiçá gutural lhes aponta o caminho do círculo do poder. Assim aconteceu com a nova candidatura de ex-vice-presidente da UE, ex- não será exatamente o caso, uma vez que a senhora em questão tem o mandato suspenso, uma espécie de licença sem vencimento, a qual lhe permitirá manter os vínculos laborais, tanto mais que o Presidente Juncker decidiu transferir temporariamente a pasta do Orçamento e Recursos Humanos para o Comissário Oettinger. A situação em si, faz-me lembrar aquelas buchas mal coladas, que os atores quando não sabem o texto utilizam para salvar a peça, só que neste caso, nada há para salvar, ou será que há e, que nós os incautos votantes desconhecemos? Ou será que há figuras que incomodam não só pela sua estatura moral, intelectual e humana? Ou ainda, sendo um pouco irónica, que há países que apesar de geringonceiros podem mexer com o statu quo daqueloutros tidos como reatores a jato. Enfim, vá-se lá entender os homens. Mas continuando a falar de safras. A safra diletante do século passado que gerou Kohl, Palm, Churchill, De Gaulle, De Gasperi, Gandhi, Shimon Peres, Mandela e muitos outros, nada tem a ver com a cupidez da atual. Assim sendo, que comece a corrida do carrossel, mais uma volta, e mais uma volta que todos os passageiros já tomaram os lugares. Afinal o carrossel dá sempre o mesmo giro mesmo que tenha outra cor! Até amanhã e Boa Sorte!
Maria Teresa Soares