Lágrimas Doces
Cachos loiros, redondos, pingados. Cachos que bebem o sol, mais a terra. Cachos doces de Setembro. Flores de uma terra acre seca, de socalcos redesenhados, bagos translúcidos de néctar. Cachos sombreados de ouro rubro, pétalas sôfregas nos bardos prenhes de doçura. Linhas de pó e xisto pontilhadas de malmequeres minúsculos no seu infindável bem-me-quer, mal-me-quer que o vento trás e leva e a chuva arrasta e semeia. Parras vestidas de sangue rubro e mel doce. Folhas riscadas em seiva quente, que tapam o tesouro ou o desventram, no tempo do colher. Terra embalada no leito macio das águas dolentes, saciando, nos seus requebros, as raízes que se estendem de socalco em socalco.
Berço de sonho e neblina do passado, alforge de riqueza e labuta dorida de corpos curvados pelo peso da esperança. Pão de cada dia trincado no vórtice do amanhã. Xisto erguido em socalcos de néctar. Bagos brancos, bagos vermelhos. Risos e lágrimas. Branco e tinto. Ouro velho, ouro novo. Doçura enrolada de beiços em danças rodadas de sons e cantares. Doce e amargo. Vinho e luta. Terra e pedra. Água e murmúrio. Poesia da manhã embalada nas asas do vento. Vento espargido pelo som ora das matinas, ora das vésperas. E o tempo esconde-se no monte vestindo o socalco de noite. E as uvas repousam. Adoçam-se na noite. Oferecem-se no dia. Pisam-se nas tardes. Maturam-se na noite e renascem em cada lágrima de tempo fecundo.
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13 comentários:
Lágrimas doces que aquecem e embalam a vida!
Embriaguei-me com as tuas músicas!
Gostei de passar por aqui!
Boa semana
Fa
http://ensaio12.blogspot.com
Cheira-me a vindimas, a outono, a estação ao qual chamo minha...
musica e palavras em perfeita harmonia.
:)
Todas as pessoas deviam pelo menos uma vez na vida vindimar!
um bjo
Parece que a crise está de saúde
belas e possíveis, as uvas,
como poemas...
beijo
~
uma belíssima
despedida de Verão
um abraçar o Outono
no retempero das recordações
de antanho
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um beijo
Que beleza! Lembrou-me as cores e os cheiros das vindimas da minha infância!
muito bonito.
um cacho de palavras com sabores e cores a condizer com o paladar de um vinho de lágrimas doces feito com o aroma de quem sabe escrever.
obrigado.
um dia BOM.
:)
Belissimas palavras que alimentam.
Cachos do verbo que douram tão bem este (nosso) Outono.
Um beijo Querida Mateso
Senti a doçura das uvas maduras e vi a sua cor dourada. Lindo! **
Tia Selma.com disse:
“Mateso, esta sua crônica é poesia em estado puro. Por isso, como escreveu Chico Buarque, ainda por muito tempo, “seguirei, como encantada, ao lado teu.”
Abraços da admiradora brasileira,
Selma Couri Barcellos
Sabe a Outono...
Beijinho*
I tried to read in portuguese this post and of course I understood only about half.
But I have to say I enjoyed very much the rithm.
There is something like a music in your text,beyond the lines.
So beautiful.
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