Ainda estão por dizer as púdicas confidências do tempo em que era possível ouvir as hortênsias.
No quintal de incontinente o maracujá enlanguescia e pedra a pedra se reconstruía a casa infinitamente.
Teu rosto ainda não vagueava na noite fria do retrato. Em que desmemoriada candeia derramaste oh mãe o azeite intacto?
Dispunhas as jóias do inverno para a festa cálida do verão. Por certo alguma levaste passando-a ao fisco da morte para que uma pérola te assinalasse no caso que o vento espalhasse o pólen da tua mão.
Eis-te todavia sem ossos mas mais do que nunca infusa em teu ovular desvelo e eu carnalmente intrusa pressinto que para tocar-te enfermo de longos cabelos.
Natália Correia Poesia Completa O Vinho e a Lira, 1966 Publicações Dom Quixote 1999 |
3 comentários:
a deixar um beijo
nas palavras de Natália
uma belíssima combinação de palavras e música que tanto gostei de ler e ouvir. obrigada, mateso. um grande beijinho.
Um poema lindo, profundo, sentido... como Natália sabia 'dizer'!
Saudade desta mulher de garra e peito feito, contra as desventuras!
Como gostei de vir aqui 're'ler Natália!
Sensibilizada, 'mateso' pelo momento... e pelo olhar amistoso poisado em 'fragmentos'!
Um beijo
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