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Uma estrela e um rebuçado
Era uma vez…
Uma menina pequenina de olhos lindos ,e caracóis escuros ,de sorriso gaiato dançando nos lábios de uma boca sempre vermelha de alegria. Os olhos brilhantes de luz interior ora se abrem deslumbrados ora sedentos de vida. Um redemoinho de gente, uma ternura vestida de quatro anos. Chama-se Joana.
Joana espevitada de palavra bem silabada impondo regras, não se deixa ficar aquém, o seu dedito espetado, sorriso franco, caracóis dançando e cinco reis de gente, fazem dela o arauto da pequenada. Joana é traquina, ladina e menina. Menina de ideias saltitantes e gestos falantes. Tão depressa é um docinho de meiguice envolvente como um diabinho de saias troante. Joana cinco reis de gente, um quinhão de alegria e um alambique de meiguice.
Ora, num destes dias, o avô de Joana foi embora. Assim de repente. Ela bem viu o pai pôr a gravata preta, andar de cara triste e olhos aguados, ela viu a mãe também estar mais calada. Pressentiu mas fingiu não perceber. Criança tem destas coisas, sabe, mas faz de conta. Lá no fundo do coraçãozinho fica assim como que tivesse um arranhão, mas o faz de conta vem, e veste o arranhão de cores do sol e a gente esquece. Por isso é que se é criança.
Houve um dia que a avó chegou a casa sozinha com o pai e a mãe. O avô não veio. Então a mãe explicou que o avô já não estava cá que tinha partido para outro lugar também lindo e bom. Joana abriu os lindos olhos, entreabriu a boquita. Ouviu a sua irmã, Maria, já uma menina de sete anos que sabe ler, escrever e desenhar e percebe muita coisa, chorar, chorar muito. Joana teve vontade também, mas porque é alambique de meiguice, estendeu, não só o dedito, mas as mãozinhas para a Maria, que desconsolada soluçava, e disse naquela vozinha doce que estremece o coração dos grandes:
-Maria, não chores. O avô, agora é uma Estrelinha!
Naturalmente que a Maria soluçou, e a avó também, o pai pigarreou e a mãe ficou com os olhos marejados. Procurou-se estabelecer a normalidade, fez-se questão. O esforço nestas alturas é colaborante entre as vontades. Veio a noite e a hora da caminha para as meninas. A Maria e a Joana despediram-se da avó e foram para o quartinho, deitaram-se, disseram boa noite e então é que foram elas. A Joana chorou tanto, e tão desconsoladamente como se o arranhão do seu coração se tivesse aberto numa ferida muito grande, daqueles dói-dóis que precisam de ir ao doutor. Chorou, chorou como se cinco reis de gente fossem, não um alambique de meiguice mas antes de tristeza.
No dia seguinte já sarada e lavada do seu arranhão- dói-dói, Joana levou o dia mais ou menos serena, coisa invulgar naquele diabrete de saias. Era sábado ou domingo, não sei, mas também não importa. Que era dia de anos, isso era. Maria, menina crescida e já com amiguinhas lá foi, Joana também, porque ao diabrete toda gente se derriça. Certamente que pularam, riram, e cantaram. É a infância. Os corações, nestes verdes anos são tão limpos, que dá para tudo, rir, cantar e chorar, tudo num dia como se fora sol, chuva e depois o arco-íris de mundo.
De olhos vivos e sorrisos abertos entraram em casa. Contar as maravilhas da tarde foi relato detalhado, porém Joana que trazia na mão um saquito de rebuçados que não largou. Depois dos beijinhos, de se despir dos casaco e demais atavios, senta-se num cantinho, despeja o saquito e muito concentrada, escolhe, mexe, remexe, escolhe, pesa e sopesa. Decide-se finalmente.
Com aquele sorriso de olhos e lábios que iluminam o rostinho moreno e abanam os caracóis, diz junto da avó:
- Avozinha, olha, toma este rebuçado para o avozinho, para quando ele vier do céu, e dá-lhe também um beijinho meu.
Claro está que a avozinha lacrimejou, claro que guardou religiosamente no seu cofre pessoal o rebuçado, qual jóia viva, claro está que contou a todos esta preciosidade de um alambique de meiguice chamado Joana, claro está, que eu, sua tia, tive também que vos contar esta doçura.
E este foi o meu conto, de uma de uma princesa linda mais de uma estrela, um rebuçado e um alambique de meiguice!
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tia.menina.grande
ResponderExcluirternura.lágrima.encanto
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o coração fica mais quente
aperta
o sorriso
cúmplice
leva.nos a ler
a reler
e
a regressar
à
infância
onde
ninguém
magoa
e
há vontade
de
ficar
para sempre
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obrigada ,Mateso ,pela beleza das tuas palavras
sentidas
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um beijo
Querida amiga,
ResponderExcluirMais um excelente texto! Como aliás nos habituaste.
Aproveito, para agradecer as tuas palavras de amizade e partilha, nesta data que completei mais um anito...
Foi muito gratificante para mim a tua presença no meu cantinho, e comigo partilhares este momento, de mais um virar de página.
Espero estar aqui para o próximo ano, para comemorarmos com mais uma taça de champanhe, as 57 primaveras.
Um excelente semana!
Beijinho terno...
Mário
Tanta doçura Mateso! E que tia sortuda deves ser tu!!
ResponderExcluirÉ graças às "Joanas" que as estrelas ficam um bocadinho mais perto, não é? :)
(Fazes-me lembrar tanto o Jorge Amado!)
Beijinho grande!
Um conto estrelado!***
ResponderExcluirMateso:
ResponderExcluirvou expôr-me um pouco para que entendas como eu te entendi.
Cá em casa sou eu ( com uma dessas coisas crónicas que nos mutilam os peitos), e 2 "pais" na 4ª idade.
E a "Joana" da minha casa, tem 9...
Nós somos as "estrelinhas", e ela é o arco íris!
Todos os dias, com muitos rebuçados!
Adorei este contar da história, da candura, da doçura, da ternura.
Esse avô deixou memória de rebuçado...
Pintemos os nossos dias com as cores dos todos os arco-íris, e com sabores de todos os rebuçados!
ResponderExcluirO resto, amiga, "é folclore!"
Um rebuçado... E de mel, era mesmo o que me apetecia... e partilhava.
:) Obrigada, eu.
Um texto cheio de sentido e significado. Foi agradável de ler.
ResponderExcluirNos gestos mais simples
ResponderExcluiré possível
descobrir
um coração
de ave
Nos gestos mais simples
ResponderExcluiré possível
descobrir
um coração
de ave
Nos gestos mais simples
ResponderExcluiré possível
conquistar
um coração de ave
Nos gestos mais simples
ResponderExcluiré possível
conquistar
um coração de ave
eu acho.te uma estrela....
ResponderExcluirque brilha.
brilha.
embrulhada numa pétala de ternura.
Uma estrela e um rebuçado...
ResponderExcluirDelicioso o título!
Enquanto me fui deixando entranhar pelas sensações que este texto me provocou, eu própria soltei umas lágrimas. Tem coração de rebuçado, também, essa pequenina Joana. E a tia uma forma fabulosa de contar uma das suas histórias.
Um abraço.
Que texto doce, comovente, delicioso! Ai, as crianças que nos derretem o coração...
ResponderExcluirconstelação:
ResponderExcluirbela
terna
mágica
como diz andreia, a lembrar tanto jorge amado.
:) abraÇo.beijO
As estrelinhas da tua Joana são iguais às minhas . Hoje olho o céu e procuro uma muito especial que fazia hoje 76 anos. Guardo todos os rebuçados no coração. Pode ser que um dia lhos possa entregar.
ResponderExcluirLinda a Joana, a´tia dela e a história. Um beijo doce
Querida amiga,
ResponderExcluirPassei por aqui, para desejar-te um excelente fim de semana, um dar-te um grande beijinho!
Que ternura de conto.que aperto bom no coração.que tia babada :)
ResponderExcluirum beijo grande,querida mateso!
A Joaninha é o rebuçado, pois claro.
ResponderExcluirbj