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22 maio, 2007


Ontem, corri para o mundo...

ECCE HOMO

Da argila morna, surge,

A mão crispada,

Que se estende na procura

Do ar que flutua entre os dedos,

Depois o braço dobrado que se ergue

Na linha da vida,

A cabeça que se coloca erguida,

Por cima dos ombros,

Sustento de um corpo,

Ainda trémulo,

Mas já erecto,

As pernas vêm depois,

Fortes, ágeis,

Troncos robustos

De um percurso.

Ecce Homo….

E os olhos abrem-se

Num piscar gotejante,

A boca rasga-se,

Húmida e ávida.

A voz, gutural, ecoa

Dentro da alma

Desconhecida,

Mas latente.

O coração pulsa ritmado

Em jorros de sangue.

Ele move-se, conjuga gestos,

Trejeitos e pensamentos.

Num breve estender de mão.

Ecce homo…

Não sabe,

Não lhe foi dito,

Não lhe foi mostrado

Quão divina e mortal

É a sua criação,

Quão fugaz é o seu sopro

Nas teias por si tecidas,

Mas ignoradas.

Na violência, no desamor

De rios perdidos,

Na cupidez, no egoísmo

De altares vazios,

No correr, no perder

De almas cansadas.

Na vã glória dos actos

Grotescos e obscuros.

No riso, no esgar, no choro

Do seu ser de matéria, de pó,

De sémen, de vida.

Ecce Homo….

Pai da Razão e,

Filho da Alma …

Matriz da Humanidade

Que popula nos canteiros

Do Mundo…


Hoje, vejo o mundo correr...
.

2 comentários:

  1. Não sabe,
    Não lhe foi dito,
    Não lhe foi mostrado
    Quão divina e mortal
    É a sua criação

    ...e por isso nasce e renasce da imperfeição do primeiro barro...

    Bom,muito, mesmo...

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