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02 agosto, 2021

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A semente e o silencio e a soidão

 

Sofia, a semente, caiu enrolada no chão. Recolheu-se na escuridão escura e húmida da terra abrigo. Queda, respirou, aspirou e alimentou-se. Germinou. Lenta e metodicamente lançou -se em busca da luz. Quando espreitou, achou-a.

Sofia, a semente, estava no mundo, mas estava só. A solidão abraçava-a.

Sofia ganhou força, expandiu a sua vontade, tornou o caule mais ereto ainda, alargou e multiplicou as folhas e cresceu. Pã, a solidão vagueou intermitente em seu redor na exata medida dos dias do calendário a primeira vintena do novo milénio. Vagueando entre muros vazios e luzes apagadas, Pã entrelaçou-se com o silêncio, com Lala.

Sofias a semente, Lala o silêncio e Pã a solidão. Três nomes, três sentires, um hiato do mundo.

Porém a semente germinada tornou-se planta, de planta em arbusto e finalmente árvore. Floriu qual jacarandá tardio, mas floriu. Floriu a esperança e coragem de um amanhã. Sofia fez-se grande

E Sofia saltou para o tempo.

Um tempo de vazios, de contrições, de medos, de distanciamento, um tempo sem alma. O tempo que nos rodeia.

Sofia a árvore de ramos brilhantes e folhas verdes. Sofia a semente, arbusto, arvore, a esperança. A semente da esperança. A esperança que corre nas veias de outras sementes germinadas, redondas, quadradas, esguias, fortes, fracas, voláteis e duradouras. As sementes humanas que tremem, que adormecem sob  as franjas de Pã e lutam contra Lala. Lala é a bruxa que engole os sentires, Pã a força que quebra o porvir.  Três lutas. Três hiatos, três esgares.

Amanhã, talvez, as sementes do mundo voltem a viver.

Amanhã será de novo madrugada.

Chaves, 2 de agosto de 2021

Maria Teresa Soares

 

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