Requiem para um Homem
Quando se tem noventa dois anos
férteis de memórias, um acrisolado amor pela vida, quando se é herói e anti-herói de um mundo ganho e
perdido, quando se respira o liquido da liberdade nos pulmões dos dias, quando se vive no carrossel da política
, quando aqueloutros vindos do império sul despojados do “EU “das suas vidas o
odiaram , quando outros regressados de
exílios sofridos o amaram, quando as consciências se apaziguaram, então o quase
herói pode finalmente ser ele próprio.
Mário Soares foi um Homem. Foi
grande e pequeno como todos os homens. Na sua grandeza lutou a deu-nos aquela
coisa que dá pelo nome de liberdade e que tantas vezes mal-usamos, mesmo na sua
morte e com a sua morte. Foi grande porque amou a vida mastigando-a com prazer
bebendo-a em sorvos redondos, soube amar o seu povo enaltecendo-o. Soube ser
mais pragmático do que teórico como cabe a um homem de coração. Foi pequeno,
por isso mesmo porque os erros nascem do instinto e são combatidos pela razão
política, o que desdenhou.
A memoria é uma haste vibrátil,
que ora verga ora ondula, porém, a memória do Homem ficará, nos dias de hoje,
nos de amanhã e nos dias elíticos da política. Ficará na História do tempo, mas
e a história da alma? Essa, simplesmente ficara inscrita no kyrie deste Requiem.