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28 novembro, 2014


. .As Uvas
 
Que me não fujam as rosas
murchando co'a Primavera:
gosto das uvas em cachos
maduros ao sol da encosta —
glória deste meu val',
pendendo em brilho de pérolas,
prazer do Outono dourado:
oblongas e transparentes
como dedos de donzela.


Pushkin

A Rosa de Hiroxima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida.
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
. Vinicius de Morais

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14 novembro, 2014



Uma névoa de Outono o ar raro vela, (5-11-1932)

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo.

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta [...]

Fernando Pessoa
. .Gerês (Terras de Bouro) Nov.2014

11 novembro, 2014

 
"Os governos são para fazer bem com o pão próprio, e não para acrescentar os bens com o pão alheio."  Vieira , António

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25 setembro, 2014

Outono-Estados de Alma




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Outono-Estados de Alma

Em Setembro, setembro-me. Em cada outono quando a brisa suspira de norte, quando os primeiros pingos redondos lacrimejam a terra, setembro-me. Há no ar, um não sei quê, um encanto seja de tons, seja de aragens que tornam a alma mais fluída de quereres. Então Setembro-me.
Há no outono as lágrimas primaveris, os doirados das espigas, os orvalhos húmidos de inverno, os vermelhos rosados das folhas, a nudez envergonhada do estio, do sol, da luz, do dia.A alma e o outono andam de mãos dadas, crianças em rodas dançadas, risos em cristais fragmentados, cores quentes de pinceladas cheias, águas em ,adágios sustenidos, flores em despedidas, suspiros vividos de amor e dor.
Em Setembro, setembro-me. Nos tons ocres e quentes do passado, nos amarelos do presente, e talvez nos dourados do futuro breve. Setembro-me nas recordações, na vida que vivi e ainda na que deixei deslizar aqui e ali, setembro-me nos desejos corpóreos do ser e do estar, setembro-me nas minhas ilusões quentes, mornas ou quiçá frias, setembro-me no gesto vivo ou exangue, setembro-me nas entranhas da terra, do mar e do ar, setembro-me na minha alma vivida. Setembro-me engolindo e rebolando a iris quente, profana, gulosa do mundo, setembro-me porque ainda vivo Setembro não é melodia interrompida, nem tão pouco prelúdio de estação. Setembro é concha rosada de sons puros, da natureza em reflexo, do Ser em paz.
Setembro é terra em remanso, é ar translúcido, é luz doce, é fruto maduro, é bago doce, é seiva, fruto e colheita.
Sonata de outono quente em tocata de alma.

14 setembro, 2014

22 agosto, 2014


. ."A natureza está constantemente a misturar-se com a arte."

13 agosto, 2014

Maresia

Atlântico
       Mar
Metade da minha alma é feita de maresia

(Sophia de Mello Breyner Andresen)








"Há quem diga que são os sonhos dos homens que sustentam o mundo na sua órbita." Carl Gustave Yung

06 julho, 2014

Fernão Capelo Gaivota



Foto di Anka Zhuravleva



"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e quebrarão as correntes do corpo. "

_____________________Richard Bach
In Fernão Capelo Gaivota -

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05 maio, 2014









Porque hoje é dia da Mãe pego num punhado de pequenas palavras redondas cortadas em ramos de Ser e  delicadamente afago-as no olhar de minha mãe.É e será fábula de vida  sentida em gestos imaginados de um coração por abrir.Minha mãe cálice da minha essência, tela da minha carne  croquis da minha vida. A ti, porque és Mulher e Mãe um simples Obrigada, neste dia que é teu ,meu e nosso .


17 abril, 2014

Degraus de Abril

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Degraus de Abril.

É tempo de ressurreição! Dizem, porque é Páscoa. Conta-se porque é tempo de liberdade.
Os dias têm sol e calor. Na terra brotam  os gomos, abrolha a vida. Renasce como em cada Abril. Em 2014 a Páscoa sentou-se num degrau do mês e cinco degraus mais abaixo curva-se o Vinte e Cinco.
Dizem que é tempo de ressurreição.
A cruz dos tempos aponta para o alto a mágoa dos dias. A esqualidez do estômago, a revolta do ser, a míngua do nada. O ter que foi e haver sem h fazem a paixão destes dias. Paixão desventrada não em corpos exangues mas em vidas sacrificadas. É tempo de paixão. Erguem-se os punhos em ato de súplica, erguem-se as vozes em ritos de revolta. É tempo de Paixão. É tempo do Homem.
-“Eloi, Eloi, Eloi, lemà sabactani?” Houve grito ou murmúrio? Houve revolta ou aceitação? Houve, sim, houve história no tempo das almas. Ontem foi tempo de Crucificação, hoje é de Ressurreição.
Quem nos abandonou? Dizem que foi o Pai. O Pai abandonou o Filho. E a nós quem nos perdeu? Tempo de Crucificação, Tempo de Ressurreição. Tempo de Paixão.
Paixão da nossa morte anunciada, paixão de um povo agrilhoado na fome da decadência Paixão qual látego sulcando o dorso da esperança. Ricochete de sonho vomitado em degraus de Abril, logo abaixo da Ressurreição.
Abril sem Renascer, apenas Abril de Memória. Quase vazio, quase impercetível.
Tempo prometido e abandonado. Tempo de nós. Hoje o tempo não é humano é do dinheiro qual Judas em trinta moedas. Eis a nossa Ressurreição.
-“Eloi, Eloi, Eloi, lemà sabactani? Perguntou ao Pai
E Abril, de ontem, de um dia, virá, respondeu o Povo

06 abril, 2014

É Impossível que o Tempo Actual não Seja o Amanhecer doutra Era 
Miguel Torga, in "Diário (1942)"

(...É impossível que o tempo actual não seja o amanhecer doutra era, onde os homens signifiquem apenas um instinto às ordens da primeira solicitação. Tudo quanto era coerência, dignidade, hombridade, respeito humano, foi-se. Os dois ou três casos pessoais que conheço do século passado, levam-me a concluir que era uma gente naturalmente cheia de limitações, mas digna, direita, capaz de repetir no fim da vida a palavra com que se comprometera no início dela. Além disso heróica nas suas dores, sofrendo-as ao mesmo tempo com a tristeza do animal e a grandeza da pessoa. Agora é esta ferocidade que se vê, esta coragem que não dá para deixar abrir um panarício ou parir um filho sem anestesia, esta tartufice, que a gente chega a perguntar que diferença haverá entre uma humanidade que é daqui, dali, de acolá, conforme a brisa, e uma colónia de bichos que sentem a humidade ou o cheiro do alimento de certo lado, e não têm mais nenhuma hesitação nem mais nenhum entrave...)
.Miguel Torga, in "Diário (1942)" .

19 março, 2014

Hoje é Dia do Pai










Hoje é dia do Pai.


Já lá vão seis anos. Redondos., quiçá nem tão redondos assim. Tem dias em que têm esquadria, imperfeita é certa, mas têm-na.
Hoje é um dia de esquadria imperfeita. Não é redondo porque o círculo é imperfeito. A imperfeição da ausência. Perceções que se ausentam. Pastel tornado aguarela que, se dilui- nas gotas do tempo.

Hoje é dia do pai.
Não é simples rotina, nem obrigatoriedade social na recordação e muito menos o assinalar conspícuo de uma data. Na verdade, Pai, é lembrara-a tua essência de ser, aquilo que ficou em mim, no melhor de mim. Não sei se será vaidade, arrogância, sei apenas que sou parte de ti em sentir. Ser filha é ser carne mas é também, ser rio de sentires, ser alegria ou lágrima. É a festa da vida gerada um dia, é a memória viva do passado em presente.

Hoje é dia do pai.
Não acredito na rotina das memórias nem nas frases perdidas aqui e ali, creio e sei, que as palavras quando sentidas, quando feridas de amor povoam a memória do coração. Creio, pai, que o meu coração possui a memória dos dias em que viveste, os claros, os cinzentos e os negros. No teu, no nosso caleidoscópio de vida.

Hoje é dio do pai e,
Lá onde te habita o espirito recebe simplesmente um beijo, o meu.
Sorrio e aceno-te.
Até outro dia, Pai.