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Outono-Estados de
Alma
Em
Setembro, setembro-me. Em cada outono quando a brisa suspira de norte, quando
os primeiros pingos redondos lacrimejam a terra, setembro-me. Há no ar, um não
sei quê, um encanto seja de tons, seja de aragens que tornam a alma mais fluída
de quereres. Então Setembro-me.
Há no outono as lágrimas primaveris,
os doirados das espigas, os orvalhos húmidos de inverno, os vermelhos rosados
das folhas, a nudez envergonhada do estio, do sol, da luz, do dia.A alma e o
outono andam de mãos dadas, crianças em rodas dançadas, risos em cristais
fragmentados, cores quentes de pinceladas cheias, águas em ,adágios sustenidos,
flores em despedidas, suspiros vividos de amor e dor.
Em Setembro, setembro-me. Nos
tons ocres e quentes do passado, nos amarelos do presente, e talvez nos dourados
do futuro breve. Setembro-me nas recordações, na vida que vivi e ainda na que
deixei deslizar aqui e ali, setembro-me nos desejos corpóreos do ser e do
estar, setembro-me nas minhas ilusões quentes, mornas ou quiçá frias,
setembro-me no gesto vivo ou exangue, setembro-me nas entranhas da terra, do
mar e do ar, setembro-me na minha alma vivida. Setembro-me engolindo e
rebolando a iris quente, profana, gulosa do mundo, setembro-me porque ainda
vivo Setembro não é melodia interrompida, nem tão pouco prelúdio de estação.
Setembro é concha rosada de sons puros, da natureza em reflexo, do Ser em paz.
Setembro é terra em remanso, é ar
translúcido, é luz doce, é fruto maduro, é bago doce, é seiva, fruto e
colheita.
Sonata de outono quente em tocata
de alma.
2 comentários:
Uma ponte para os doces relâmpagos
Setembro é o prenúncio de mais um ciclo cumprido. É feita a vindima e celebrada com vinho novo, o armazenamento. Será no seu último dia em que os Dois Mundos se encontram e serão feitas profecias. Assim está inscrito no nosso sangue.
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