Um
conto de natal?
Passava,
inertes os dedos, pela barba grisalha de muitos anos já paridos na miséria da
vida. Gretados e secos esticavam-se os lábios na secura de uma boca vazia.
Ralos e engordurados pingavam os cabelos numa cabeça já moribunda de querer.
Retorcido de tormenta, quebrado de sentir e amassado de sofrimento, o corpo
arrastava-se pendurado numas pernas roídas de vagueio. Os pés grandes e escuros,
quase labregos de caminhar, trauteavam ainda os passeios na busca mirabolante
do amanhã. Um homem de 2013. Um homem português. Um homem roto de anseios cujo
olhar parecia vazio como se fora cego de futuro.
O
ar da noite, de um inverno gélido, triste e esfomeado, lava-lhe o rosto. As
narinas abriam-se num respirar exangue de ritmo. Longe, muito longe chegara-lhe
um leve cheiro a Natal. Seria? Talvez! Bah que importava!
Mais
uma promessa, mais uma mentira, mais um litania, mais e mais de muito menos.
Recolheu o nariz no rosto. Afiou o rosto na garganta, retorceu ainda mais o
corpo, emaranhou-se nas pernas trôpegas de linfa e cambaleando desandou em
direção ao mundo.
Natal,
dizem é quando um homem quer, será?
. .
Um dia seremos de novo crianças
ResponderExcluire o natal será o que nós quisermos
Nos tempos em que vivemos, infelizmente o que descreveste é a realidade tão pesada.
ResponderExcluirSim,sim,concordo que natal é quando uma pessoa quiser. É sempre bom trocar miminhos e presentes,mesmo que não seja na epoca do natal. Muitos beijinhos e um lindo mês de dezembro para ti,fica com deus e bom fim-de-semana!!
ResponderExcluir