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29 março, 2007

Tinha o tamanho da praia
O corpo que era de areia
E mais que corpo era indício
do mar que o continuava.
Destino de água salgada
principiado na veia.

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Natália Correia in Retrato da Menina Insular
Hoje, vejo o mundo correr...
Ontem, corri para o mundo...
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28 março, 2007

Aqui e agora


Ontem, corri para o mundo...
Hoje, vejo o mundo correr...

Aqui e agora
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Passei, transi ou fui? Transfui que trans?
Cis quê?refixo a que destino imoto?
Movido de que prós ou forças vãs,
Para que inércia ou paz de quid ignoto?

Eunte a que vindoiro alvo remoto?
Essente quê? nihil no adverso mas
Que oponho ao ser, se o espírito derroto
(Meu, que o divino é altas barbacãs).

Tudo é ca espaço em tempo pervertido:
Ontem que abre amanhã no instante ardente
E se fecha no nunca humano havido

Para sempre ficar como jamais
Agora e aqui eu mesmo,_ermos sinais
De que Deus me povoa e me consente.
a espaço em tempo pervertido:


Vitorino Nemésio




Ontem, corri para o mundo...
Hoje, vejo o mundo correr...
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"Coisas que em busca da sua ligação
Reúno.Absurda sensação
De as juntar e não ter coisa nenhuma. "


Natália Correia in Cãmara de Reflexão

27 março, 2007


Ontem, corri para o mundo...
Hoje, vejo o mundo correr...


Um certo nariz…de Pinóquio

Nariz há muitos…uns afilados, outros aduncos, arrebitados, gregos, direitos, poucos correctos e muitos que crescem como o … do Pinóquio.

Assim o mundo nasal de formas e tamanhos variadas é o apêndice marcante de alguns rostos quer em termos de beleza, expressão ou simplesmente, correcção.

Vejamos, o bom e velho Pinóquio, feito de madeira, saíra das mãos de um artista que o concebera magnificamente mas apenas com um pequeno óbice, o nariz, que não só era demasiado comprido como ainda, pasme-se, ironia do destino, crescia sempre que o Pinóquio mentia.

E o conto continua, crescia, crescia, mas o menino expiava as suas diatribes e o apêndice retomava o seu tamanho. O bom do menino prometia sempre emendar-se mas as tentações ultrapassavam-no.

Ora personagens infantis abundam não só no nosso imaginário mas também no nosso quotidiano, umas vezes temos o Lobo Mau, outras o Capuchinho Vermelho, outras o Rei Leão, o Capitão Nemo e finalmente o nosso velho Pinóquio que continua deliciosamente mentiroso.

Somos crianças por muitos e longos anos e assim aceitamos facilmente os nossos heróis e até quase os amamos. A não ser que os marotos comecem a enganar-nos continuamente e não mostrem sinais de arrependimento.

N a estória que leio vivendo, o personagem que sobressai é o Pinóquio. O azougado do boneco, não é que, não pára de mentir e ,não há maneira de admitir o seu erro, apesar do crescimento contínuo do seu apêndice. Mas não revela qualquer remorso, o magano. Ai, que os nossos heróis também já não são o que eram. O rebelde, não para de nos mentir e não se emenda, não querem lá ver.

Mente de perfil e o nariz torna-se algo semelhante a um cachimbo de retorta, mente de frente e as narinas sobretudo a esquerda palpita em espirro, mente sorrindo, tentando que a proeminência se dilua, mas o caso não resulta. Um apêndice revolto, diria eu. Um apêndice que não se coaduna com a falta de rigor.

Pois o Pinóquio do meu conto, um dia vai acordar de nariz tão esticado que não poderá alterar mais a verdade e, aí, meus amiguinhos, o meu Pinóquio tornar-se-á num bom menino, porque já passou o tempo dele, na estória, digo eu.


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24 março, 2007


Ontem, corri para o mundo...
Hoje, vejo o mundo correr...
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"Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando coisas percebidas..."


António Gedeãi in 6 Poemas
Ontem, corri para o mundo...
Hoje, vejo o mundo correr...



Imagem:Zepovinho.jpg

Ser Português

Ser Português é uma arte.

Não uma qualquer criação artística. Não é, a peça pensada, burilada e finalmente criada., não é apelativa, mas é sólida, esculpida pelo bater das águas verdes da costa ou no granito duro da montanha., ou ainda no calcário das serras brancas de ventres rendilhados e vítreos.

Ser português é uma arte.

Na pele tisnada de sulcos cavados, nos olhos profundos de brilho difuso, na garganta cansada ou nas costas vergadas dos anos inquietos de labuta.

É arte do pouco, do fazer muito, do esticar, do sorrir, do ir em frente, do ter sempre esperança para além de qualquer lógica. Mas é intrínseco ao português, dir-se-ia fazer parte da sua corrente sanguínea impelindo-o continuar sempre, a acreditar, … ter esperança em dias melhores. Só um verdadeiro artista tem tal plasticidade.

Falando de artistas… é um povo que os possui em quantidades esmagadoras… uns são cubistas outros dadaístas e outros ainda surrealistas. Com tamanha diversidade de correntes artísticas é natural que por vezes, os artistas lutem entre si por um lugar ao sol É aí que as verdadeiras obras de arte surgem., nem sempre as melhores ou mais dignas, mas sim, a mais mediáticas, porque isto de mediatismo tem que se lhe diga, começando sobretudo por assessorar a imagem e posteriormente saber vendê-la muito bem, sobretudo usando palavras e chavões fáceis, dignos de um ouvido aberto como o do nosso Zé-povinho.

Mas, continuando no mundo das artes, os dadaístas têm proliferado no nosso rectângulo à beira mar plantado, como se as águas do Atlântico que nos banham fossem as geradores de tão ínclitos personagens, nascendo das águas quais tágides camonianas. Mas os dadaístas estão por cá, são visíveis no imediato do nosso quotidiano, mais que não seja pelo seu amor elas novas versões da incoerência e da desordem, que transportadas para o léxico luso serão capazes de significar ordem e lógica, pelo menos como tal são apregoadas. E como dignos representantes desta arte, de um objecto pardo tentam transformá-lo num imagem de marca, tal como Duchamp logrou fazer.

Nós, povo de artistas sorrimos, doridos é certo, mas sorrimos, pensamos que se calhar nos estão a levar à certa, mas de da próxima será melhor, e, entre abanos de cabeça, umas revoltearias, uns apertos de cinto uns tostões esticados, umas dores de cabeça permanentes e, pasmem um olhar límpido de menino expectante, desejoso do prémio de bom comportamento, E pronto, lá vamos esperando pelo dia de voto, para depositarmos a nossa vingança na urna com um pequena cruz noutro sítio. De repente estamos paz connosco, seráficos e conscientes da nossa arte. Porque a seguir virão os surrealistas, coisa sábia e que já deu prova da sua arte….pois é a arte é algo que não se explica sente-se e nós portugueses sentimos muito a arte dos nossos mestres… que inexplicavelmente não conseguem realizar obras primas, apenas e somente por puro acaso de má sorte porque a verdade terá que ser dita, artistas são eles!

Ser português é ou não é uma obra de arte?!

20 março, 2007


Ontem, corri para o mundo...
Hoje, vejo o mundo correr...
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08 março, 2007

Serra da Leba. Huíla, Angola

Espaço aberto, alma lavada lá onde o céu embala a terra quente e forte....
Posted by Picasa

06 março, 2007


Ontem, corri para o mundo...
Hoje, vejo o mundo correr...
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"Ah o grande cais donde partimos em Navios-Nações!
O grande Cais Anterior, eterno e Divino!"


Fernando Pessoa, Ode Marítima