"...És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura onde, com lucidez, te reconheças." Miguel Torga
27 novembro, 2016
10 novembro, 2016
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.Hillary versus
Clinton…
Ainda as urnas americanas não tinham arrefecido já os
vaticínios, extrapolações e congeminações cruzavam os ares, fossem das bandas
do ocidente, fossem do oriente.
O pesadelo tinha virado realidade!
Será mesmo pesadelo? Será que não se antevia a passos largos
a vitória de Trump? Os dados estavam lançados desde há muito tempo, todavia não
os queriam ver, porque a análise politica dirigida era primordial numa quase
certeza de purgatório comprado ou de uma cegueira intermitente…
Hillary ou Trump? A lei da
escolha do mal menor. Ambos representam a Terra que foi do” Leite e Mel” só que
em diferentes fotografias. Hillary já experimentara os corredores da Casa Branca
representando de certo modo o dejà vue,
uma vez que o povo americano, diga-se de um modo geral, é bastante arredio dos
galicismos europeus, pois que da França só sabe vagamente que a Liberty Enlightening the World, que por sinal já flete no seu
simbolismo, lhes foi oferecida por eles, porem
uma Hillary de percurso e comportamento quase modelar causou-lhes uma
certa gastrite, coisa estranha dada habituação a doses maciças de hamburgers e
litros de coke, mas há coisas que não se
explicam , pressentem-se.
Hillary, impecável na sua
aparência, bem-falante, clara e concisa, sem populismos exacerbados, com o
distanciamento certo, mas não desejado entre ela e o alvo votante, girou numa
América do seu pequeno circulo social, evitando ou não chegando à grande esfera
da iliteracia política capeada de valores pátrios tão distantes dos
transnacionais que o poder gere, a América profunda. Contudo o óbice de Hillary
não é ser Hillary ou Hill, mas, sim, porque é Clinton. E os americanos por mais
viagens que se orgulhem de fazer pelo espaço, no fundo da sua iliteracia
política não lhe perdoam a representação imaculada no caso da Lewinski. A velha
máxima de “preso por ter cão e por não ter” resulta sempre quando a perda foi o
que foi. Depois a sexismo estúpido que ainda subsiste e que contraria
Declaração Americana do Direitos e Deveres do Homem no seu artigo XX. Acresce,
ainda, que os Clinton dominam os media e, isso foi patente ao quase
“fabricar-se” nos últimos dias, semanas talvez, as ligeiras diferenças de
votos. A América ou os americanos por mais que sofram de iliteracia ainda não
sofrem de amnésia. Mas…
A escolha de Trump obedece a um
código muito americano, o tal da lógica ilógica.
O discurso tronante do
personagem, as ameaças perentórias aos emigrantes hispanos, as conceções
ultraliberais de um mundo em mutação, as promessas, as quais serão na sua
maioria inviáveis porque simplesmente são impossíveis de cumprir dada a
globalização económica que se vai sentido de lés a lés do planeta., fizeram uma
América cansada, recôndita e vetusta quase sonhar…e como dizia o poeta o “sonho
comanda a vida” …
Resta, pois, a parte valorativa,
a emocional, aquela que por ora se pensava não ser vendável. Os valores, ou
antes o equilíbrio de valores em Trump são uma cesta de laranjas azedas. Não
porque o personagem seja azedo, não, são azedas porque foram sempre colhidas
antes da época., por outras palavras apressadamente, sem sentido.
Mas a política nunca é o que
parece e, num dia destes estamos a ouvir um Donald Trump já bem-comportado,
assertivo, porém comedido conforme é necessário a um Senhor do Mundo, até
porque no desfiar do feixe de forças ninguém vai querer ser o primeiro a abrir
a maldita caixa de Pandora
Sentimo-nos descontentes, mas
esperançosos com é apanágio do ser Humano.
Boa noite e bons sonhos.
Maria Teresa Soares
05 outubro, 2016
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.A Safra dos homens
No rodar constante dos anos, as colheitas são ora boas, razoáveis, menos boas ou mesmo más, todavia lá vão produzindo, seja por meio de adubos, modificações genéticas, pesticidas, seja o que for, o certo é que a velha terra frutifica, pois que a população de boca desventrada assim o exige e, mesmo assim, as safras são muitas das vezes insuficientes para este mundo de gente. Mas isso são as safras da terra. E as safras humanas? As sementes continuam a ser lançadas, geradas, desenvolvidas e nascidas. Depois, são educadas, instruídas, crescem, engordam, desenvolvem-se e chegam ao poder. Aí esquecem o caminho. As safras, as últimas, de políticos ou simplesmente de homens e mulheres de poder são fracas. Tão fracas quanto aqueles frutos, que embora maduros e doirados estão podres, bichados no seu interior. Adquiriram o aspeto mas perderam o sabor, digo, os frutos, E nos homens? Bom. nos homens, o poder bichou-os. O poder, o político, o que faz reluzir a cadeia de interesses, o que demonstra a força, o que verga a verdade e colide com o carater. A nova e terrível versão de política dos tempos em que viveremos. Não é por ser portuguesa, mas por ser humana que pasmo perante o corredor tortuoso que a nova eleição para Secretário – Geral da ONU tem tomado. Na verdade, esta safra de homens que gere os destinos dos outros homens, que incauta ou deliberadamente os elegem, tem-se revelado mais do que bichada, simplesmente podre. O palco do poder revela artistas medíocres, não só não sabem o texto original como recorrem a constantes buchas de interesse, aciduladas na hipocrisia da sua safra. Na verdade, esta safra tem uma particularidade: alinha leis, que depois, desalinha rapidamente logo que uma voz áspera, quiçá gutural lhes aponta o caminho do círculo do poder. Assim aconteceu com a nova candidatura de ex-vice-presidente da UE, ex- não será exatamente o caso, uma vez que a senhora em questão tem o mandato suspenso, uma espécie de licença sem vencimento, a qual lhe permitirá manter os vínculos laborais, tanto mais que o Presidente Juncker decidiu transferir temporariamente a pasta do Orçamento e Recursos Humanos para o Comissário Oettinger. A situação em si, faz-me lembrar aquelas buchas mal coladas, que os atores quando não sabem o texto utilizam para salvar a peça, só que neste caso, nada há para salvar, ou será que há e, que nós os incautos votantes desconhecemos? Ou será que há figuras que incomodam não só pela sua estatura moral, intelectual e humana? Ou ainda, sendo um pouco irónica, que há países que apesar de geringonceiros podem mexer com o statu quo daqueloutros tidos como reatores a jato. Enfim, vá-se lá entender os homens. Mas continuando a falar de safras. A safra diletante do século passado que gerou Kohl, Palm, Churchill, De Gaulle, De Gasperi, Gandhi, Shimon Peres, Mandela e muitos outros, nada tem a ver com a cupidez da atual. Assim sendo, que comece a corrida do carrossel, mais uma volta, e mais uma volta que todos os passageiros já tomaram os lugares. Afinal o carrossel dá sempre o mesmo giro mesmo que tenha outra cor! Até amanhã e Boa Sorte!
Maria Teresa Soares
25 setembro, 2016
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.Não
sei…
Não sei…
Se é a
vida, se é o tempo, que me traz assim…
Inquieta no
desassossego das horas,
Asfixiada na
brevidade dos passos,
Perdida nos
sentidos do corpo,
Não sei…
Se é a vida,
se o tempo que me dói assim…
Se é a
borrasca dos desenganos, se dos prantos possuídos
Se das mágoas
acantonadas, se dos sulcos cravados
Na
estatuária ainda quente de um corpo nu de utopias,
Não sei…
Se é o
vento enrolado que me varre assim,
Que me
crespa a alma, que me vidra os olhos, que me saliva o hálito
Escarrando-se
em ululos sibilantes de riso,
Perverso
andante!
Não sei…
Se é o que
de mim vem, vai ou foi,
Se sou
apenas eu, somente eu, que não sei
Respirar,
tragar, mastigar e amassar
O espirito
levedado dos anos,
Não sei…
Se vivo na
esquina das horas,
Essas que
são sombreadas de dias quentes
Ou se
respiro nas outras
Nas sombrias
de minutos ocultos.
Não
sei…Sei sim que vivo aqui, deste lado
Onde a
imaginação voa e a verdade vai nascer… um dia!
17 setembro, 2016
A Velha Senhora
.
A Velha Senhora está depressiva, convenhamos. A obsessiva agressividade que vem espalhando nos dias do calendário é revelador de que algo de muito profundo mexeu nos alicerces não psíquicos, mas antes valorativos, desta Velha Senhora.
Comecemos pelo princípio. E como dizem os livros sagrados, da velha Senhora: no princípio era o Verbo, e o Verbo estava na Europa, e o Verbo era a Europa. Sem chauvinismos, xenofobismos, racismos e todos os ismos do politicamente correto, analise-se friamente o princípio. Na verdade, a Europa, a tal Velha Senhora, cuja matriz genética se perde entre as fronteiras asiáticas e as águas do Atlântico, os gelos dos fiordes do Norte e o doce mediterrâneo a sul, comporta uma tal mistura que a torna única em relação aos outros. Possui o porte frio do Norte, o derriço do Sul, a contenção insurreta do Atlântico e a lassidão belicosa dos Urais. Goste-se ou não, é uma Senhora! Gerou na sua matriz conceptual as mais belas noções de liberdade, de democracia, igualdade e de fraternidade. Vestiu-se de cultura, e como toda a mulher soube coquetear-se em arte. Tornou-se fabulosa, sem dúvida. Mas, como lá diz o velho ditado” não há bela sem senão “, na sua avidez de bem parecer, relegou o seu absolutismo iluminado pelo estado corrente e axípeto da União Europeia, arvorando-se em representar a razão e a racionalidade, o progresso e a modernização capeado de um crescimento económico estável conducentes ao correto desenvolvimento dos povos que a integram. A velha Senhora, tal como todos os seus descendentes, quis acreditar na identidade coletiva europeia, despida, finalmente, dos atávicos nacionalismos tão impeditivos, por vezes, da competição com outras organizações exteriores. Mas, se refletirmos, o modelo europeu não é senão a prática de um absolutismo iluminado, procurando aproximar-se do conceito democrático, digo aproximar, pois que o défice democrático é paradigmático numa União Europeia que se ousa afirmar pragmática e esclarecida como se na realidade, a resolução dos desafios que enfrenta tivesse, por parte dos familiares da Velha Senhora, o aprofundamento, o alargamento e a afirmação necessários à resolução eficaz dos problemas inerentes à sua construção. Um pragmatismo que deverá sempre levar à sua preservação e jamais à sua destruição.
A Velha Senhora está tolhida pelas ondas sucessivas de atentados, onde vidas perecem ao sabor de ideologias hipertérmicas socio-religiosas, fazendo da Velha Senhora, o palco do seu Éden esquizoide. Na verdade, ser Europeu nos dias que correm é quase como ser agente desprevenido de uma roleta russa. Só que a arma cospe em múltiplos canos causando a mortandade entre os mais inocentes dos inocentes. E a Velha Senhora?
Sentada na depauperada poltrona do tempo, vai-se estiolando entre os jogos de poder que a seduzem nos minguar dos anos, tornando-se num mero conceito cultural. Revela um mutismo cauteloso próprio de quem pensa convictamente, sem que, todavia, se decida a agir endogenamente. Mas a Velha Senhora na ausência do método, utiliza sempre o charme das palavras que, aqueloutros que a ouvem, vão retendo. Atacar os abusos é o refúgio natural de quem não quer, não sabe ou não deseja envolver-se profundamente nos princípios. Deixando de lado os problemas económicos da União, da dicotomia entre o Norte e o Sul, da utilização dos MREG´s numa dança única poder, utilizando a fria esgrima da luta, pensemos antes no interrelacionamento entre a religião e a sociedade, em como pessoas de crenças diferentes podem conviver umas com as outras num ambiente de concórdia. Não é nada de novo, nada profético, é somente herança histórica dada pelo Iluminismo, onde era manifesto que o ódio entre pessoas de crenças diferentes devia ser banido. Os séculos decorrem e Homem cresceu intelectualmente, sem que, todavia, os direitos humanos crescessem na proporção da tolerância, da liberdade de crença e de consciência. De modo generalista, parece que na Velha Senhora este tema está mais ou menos cinzelado na pedra rutilar dos Direitos Fundamentais, uma vez que a clara separação entre estado e religião é factual entre a maioria dos estados europeus e, quando não acontece na totalidade, surge, então parcialmente. Evidentemente, que nas sociedades islâmicas a liberdade religiosa também existe, contudo não serão os irchabs e xadors janelas de outros direitos culturais, antagónicos das liberdades humanas e totalmente afastadas dos valores religiosos? A valoração dos panos, do cobrir, não é religiosamente consensual dadas as várias interpretações do AL Corão. O fundamentalismo islâmico, reveste-se pois, de símbolos, os quais tona políticos. Não vale a pena descontextualizar o sentido dos acontecimentos mundiais, chamar-lhe guerra religiosa, terrorismo ou afim. É isto, somente, uma luta desconexa e podre sobre direitos, que vão desde os mais triviais, aos económicos, sociais, e, cuja cereja no topo do bolo, dá pelo nome de religião., que afinal não é, mais do que a luta pelo poder de direitos, ditos humanos com capa de desumanos. É óbvio, que as cabeças inteligentes, sorriem, abanam-se e melifluamente desviam o olhar para assuntos, menos humanos e mais substanciais. Há um todo de poder que gira em volta da mais ínfima posição neste xadrez mundial que é a humanidade. Uns são os cavalos, outros, as torres, a maioria os peões e somente há um rei e uma rainha. Quem serão? Talvez a Velha Senhora e o seu oposto.
Assim, a Velha Senhora, “não jaz morta e arrefece” como diria o poeta, mas senta-se hirta e falaciosa na cupidez remanescente do poder, permitindo que o tabuleiro do seu jogo se torne num um caleidoscópio a preto e branco de movimento pendular., obliterando que a diversidade e a pluralidade ideológica e religiosa é a sua simbiose, mas…sempre vinculada a valores comuns.
07 maio, 2016
Um Direito de Escolha...
Um Direito de Escolha….
Bom... Vejamos: durante quase 39
anos leccionei, obviamente que na Escola Pública. Tive, como superiores
hierárquicos não sei quantos ministros correlativamente não sei quantas
alterações programáticas, um novo acordo ortográfico, acréscimo de disciplinas,
redução de tempos lectivos a certas disciplinas, entre elas a que sempre
leccionei, aumento da carga horária para os docentes, diminuição de conteúdos
programáticos, aumento de floreados, diminuição da substantivação e valorização
da adjectivação. Perdoem-me, porém é assim que defino o ensino nestes últimos
vinte anos. Melhorou substancialmente na sua matriz após o 25 de 74 para recair
numa confrangedora crise a antever a nacional com que vivemos. No entanto, devo
salientar que a par destas alterações de acordo com o sobe e desce das
respectivas facções políticas, a Escola Pública portuguesa, e é bom que se
diga, sempre viveu carenciada. Coube aos professores desde o 1º ciclo ao
secundário fazerem flores, muitas vezes, com as sementes já secas. Quantas
vezes paguei do meu bolso as fotocópias, comprei livros (sim comprei porque nem
sempre as editoras são beneméritas ai ponto de nos ofereceram exemplares
necessários a consulta), quantas vezes, nas manhãs de Inverno, devo dizer, que
vivo numa cidade mais próxima da Europa, (logo devíamos ter outras influencias,
mas tal não acontece) dei aulas sem aquecimento porque o estre acabara e não
havia verba; quantas vezes (sendo eu alérgica ao giz) e como sou da velhíssima
guarda, aquela "chata" que escrevia muito no quadro, fiquei com as
mãos feridas, quantas vezes os alunos mais carenciados não tinham os livros de
exercícios necessários, nem por vezes os manuais, se acaso não eram
beneficiários do 1º escalão, quantas vezes e sobretudo nestes últimos seis anos
vi adolescentes cheios de fome à segunda-feira, limpando literalmente os pratos
porque o fim-de-semana foi como se sabe. Quando as novas tecnologias invadiram
as escolas, coisa boa, houve uma melhoria a qual rapidamente caiu no marasmo.As
verbas destinadas à prossecução desses objectivos, perderam-se algures entre o
Terreiro do Paço e a Cinco de Outubro num trânsito caótico e apressado de
desejos mais ainda de que de vontades. Pois, digo e afirmo, o ensino público
sempre foi mais carenciado do que o próprio país. Coube a gerações e gerações
de professores a tarefa grata ou ingrata, de acordo com o ponto de vista, fazer
flores. A sociedade habituou-se a isso, os governantes habituaram-se a exigir
isso, e nós, tolos, sempre abanamos com as mãos (o resto não, ainda não
chegamos lá) porque ensinar era uma paixão, um dever, um Desidério.
Como sou sexagenária, ainda
frequentei o dito colégio por alguns anitos. Naturalmente que meu pai, homem
impulsivo e contestatário pagava religiosamente as mensalidades ( as quais não
eram tão baixas assim), e sendo um cidadão do “contra” nunca lhe passou pela
cabeça exigir um subsídio, pese o facto de sermos elementos de uma classe média,
desprovida de muitos "gadgets", o que hoje não acontece aos optam
pelo Privado. Tem este, toda a viabilidade em lugares onde o público não chega.
Faz parte da Constituição Portuguesa o direito ao ensino (Capítulo IV, art.º
73º,1.º, e 74º,1,3,alínea a) a g) e o 75º. 1.º , 2º. Seria bom, que os
governantes vertessem preto no branco os articulados mencionados, pois que
muito disparate seria evitado, penso eu. Em resumo, o dinheiro, o nosso
dinheiro de contribuintes deverá sempre ser útil nas Res Publica, porque assim
o determina o conceito de Estado, e não ser aplicado em segundas vias, isto é
em Res Privada Sejamos intelectualmente honestos e deixemo-nos de hipocrisias,
apenas porque é de bom-tom... Ou como se ousa dizer... " Um direito de
escolha".
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