Quem sou eu

Minha foto
Alguém que ama a vida e odeia as injustiças

19 março, 2014

Hoje é Dia do Pai










Hoje é dia do Pai.


Já lá vão seis anos. Redondos., quiçá nem tão redondos assim. Tem dias em que têm esquadria, imperfeita é certa, mas têm-na.
Hoje é um dia de esquadria imperfeita. Não é redondo porque o círculo é imperfeito. A imperfeição da ausência. Perceções que se ausentam. Pastel tornado aguarela que, se dilui- nas gotas do tempo.

Hoje é dia do pai.
Não é simples rotina, nem obrigatoriedade social na recordação e muito menos o assinalar conspícuo de uma data. Na verdade, Pai, é lembrara-a tua essência de ser, aquilo que ficou em mim, no melhor de mim. Não sei se será vaidade, arrogância, sei apenas que sou parte de ti em sentir. Ser filha é ser carne mas é também, ser rio de sentires, ser alegria ou lágrima. É a festa da vida gerada um dia, é a memória viva do passado em presente.

Hoje é dia do pai.
Não acredito na rotina das memórias nem nas frases perdidas aqui e ali, creio e sei, que as palavras quando sentidas, quando feridas de amor povoam a memória do coração. Creio, pai, que o meu coração possui a memória dos dias em que viveste, os claros, os cinzentos e os negros. No teu, no nosso caleidoscópio de vida.

Hoje é dio do pai e,
Lá onde te habita o espirito recebe simplesmente um beijo, o meu.
Sorrio e aceno-te.
Até outro dia, Pai.


































21 fevereiro, 2014

Mundo Melhor


Foto: :). .


Do outro lado da Europa ainda troavam os canhões, os corpos dos jovens frutificavam as terras como se fossem adubo lançado às sementeiras. A Europa, o mundo colhiam-se sobre si. Os olhares rotos de dor humedeciam, os rostos fechados onde os sorrisos borboletavam sem poisar. Era o mundo dos idos de 39-45.
Na plataforma, a criança, dez reis de gente, pegando na mala já vazia de presente mas cheia de futuro, pergunta numa vozinha meia engasgada.- “Senhor passa aqui o comboio para a Terra da Verdade?
O homem olha para baixo e num quase sorriso, num quase esgar, responde:- Claro, meu filho, a terra da verdade é do outro lado, junto ao pôr do sol, mesmo na rua em que a lua nasce.-
-E qual é o comboio? Posso esperar?
- Claro, meu rapaz. Senta-te no banco. O comboio está atrasado.
O rapazinho responde contente:- Obrigado, Senhor
- Mas, meu rapaz, não sei se deixam as crianças viajar sozinhas. O comboio é muito grande e tu ainda te podes perder.
-Não. Senhor, não pense nisso. Sou pequeno mas ando há muito tempo á procura da Terra da Verdade. E ainda não a encontrei. Fica sempre do outro lado. Quando estou quase a alcançar, a Terra da Verdade desaparece, perde-se.,
-Ah, meu filho. É uma terra de poucos homens, muito poucos.
- Eu sei. Por isso é que quero lá chegar para crescer, para ser diferente. Já é tempo de mudar.
-Vais ter que esperar, meu rapaz. Mudar é muito difícil.
-Eu espero. Um dia vou poder abrir a minha mala e enchê-la de futuro. Sabes? Roubaram-nos, roubaram tanto que a minha mala ficou vazia de presente ,e eu agora só posso esperar pelo comboio para a outra terra. Percebes?
-Sim percebo mas eu sou velho, já não subo ao comboio. Só o vejo passar apitando.Passa meio cheio, meio vazio. Ultimamente passa tão vazio...
-Eu sei. Olha, adeus, meu velho. Eu vou esperar. A minha mala vai-se encher.
 Adeus.
O velho, apertou o capote, levou os dedos ao boné e rapidamente desceu-a até aos olhos vidrados e opacos. Também ele estava vazio de esperança. O filho caíra na terra mãe. Não havia sonho, havia amargura na alma.
Hoje, o século dobrou. Não morrem de balas, hoje morre-se de não atos. O homem, já não a criança, continua à espera na estação pelo comboio para a Terra da Verdade.
Irá parar?

17 fevereiro, 2014

Vicente

As estórias vestem-se e despem-se de acordo com o vento da alma. Há dias em que a roupa pesa, outros, porém, em que a nudez brilha. Nesta veste que despe, Vicente vestiu o capote, calçou as galochas e fez-se  aos dias.
Na calçada varrida de lama não havia o palpitar das sentires, nem o correr dos passos vivos, nem o matraquear das vozes perdidas e muito menos o buzinar dos carros apressados. Havia sim, a imensa neblina da vida. Vicente de galochas e capote pardo carregou pesadamente os passos na lama, trilhou as ruas vazias, apertou os lábios num esgar perdido e, sem alma, correu nas margens do rio frio. Depois, perdida mas afincadamente despiu o capote, descalçou as galochas e mergulhou. Mergulhou na corrente.
Uns dizem que se afogou, outros dizem que nadou até à outra margem, conta-se ainda que nas redondezas, do outro lado do rio, vive um tal de Vicente, Homem-Novo e justo que cresce na medida dos dias ,será?
 Até hoje não foi encontrada a alma do capote nem das galochas de nome Vicente.

. .

09 fevereiro, 2014

Uma Casa na Escuridão


 


             Uma Casa na Escuridão
      
 «Então, fechei os olhos com força e fixei-me no que via. Esta era uma das coisas que fazia desde pequeno,    que tinha descoberto por acaso e que imaginava ser eu a única pessoa a fazer no mundo. Fechava os olhos e via. Via o que se vê com os olhos fechados (...) Isto é o que se vê quando fechados os olhos e continuamos a ver: a cor negra e os pequenos seres de luz que a habitam. E não se consegue olhar fixamente nem para o negro nem para a luz. Os pontos ou as linhas ou as figuras de luz fogem da atenção. O negro é tão absoluto, tão profundo, tão infinito que o olhar avança por ele sem encontrar um lugar onde possa deter-se. Mas, naquela noite, comecei a distinguir algo dentro desse negro.»