Quem sou eu

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Alguém que ama a vida e odeia as injustiças

15 dezembro, 2010

12 dezembro, 2010

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É comum a ideia de que os velhos são os conservadores típicos e os jovens são os inovadores. Não é bem assim. Os conservadores mais típicos são os jovens, os que querem viver mas não pensam nem têm tempo para pensar como viver e que, por isso, optam pelo modelo de vida já existente. Tolstói em O Diabo e Outros Contos (1889-90)..

30 novembro, 2010

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Grandes mistérios habitam
O limiar do meu ser,
O limiar onde hesitam
Grandes pássaros que fitam
Meu transpor tardo de os ver.

São aves cheias de abismo,
Como nos sonhos as há.
Hesito se sondo e cismo,
E à minha alma é cataclismo
O limiar onde está.

Então desperto do sonho
E sou alegre da luz,
Inda que em dia tristonho;
Porque o limiar é medonho
E todo passo é uma cruz.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

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20 novembro, 2010




...Porque acho simplesmente lindo, partilho-o convosco.

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio…

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste…

Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade…
também

Ferreira Gullar

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17 novembro, 2010

Poças de Sentir

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Poças de sentir

-Hoje choveu.

A sua voz rouca tem a tristeza da tarde escura. Está para ali sentada, de olhos adormecidos e atulhada de imagens paradas.

-Hoje choveu.

Suspira tremendo. Um arrepio

Lá fora os pingos precisos e cinzentos descem na tarde triste. A monotonia do som provoca-lhe uma certa crispação. Humedece os lábios secos e olha para fora. Tudo igual.

Cinzento e triste. Fora e cá dentro.

Chega-se à janela e olha. As poças reluzem no asfalto escuro. Têm o brilho da luz cinzenta. Olha aquela ali mesmo defronte do portão. Move-se no redondo imperfeito da forma ao sabor dos pingos, que a alimentam. É escura. Tão escura como o olhar que a vê. A poça reflecte o olhar ou o sentir? Parvoíce pensa. A poça é um acaso.

A poça de chuva, a poça da alma, a poça do sentir. Tantas poças e todavia está seca. Como é possível, como?

-Hoje choveu, pensa.

Perscruta a neblina. Reforça o olhar. Nada. Nada. Não vê nada. Massa compacta de suspiros enredados em nuvens. Nuvens que se espremem em lágrimas. Tarde triste. Tarde sem alma.

O olhar poisa de novo naquela poça mesmo defronte. Atraia-a mais do que as outras. É tão escura todavia tem um brilho claro. Afasta a cortina branca. Cola o olhar, mais o rosto na vidraça borrifada.

A poça olha-a, ou ela, olha a poça? Encontram-se. Momento único de queda. Caem ambas. Revolvem-se breves num agitar imperceptível, todavia o toque repele-as. Acabou. Foi breve. Foi sentir.

A chuva partiu. A janela acendeu-se. O asfalto secou e a poça também. O sentir arrecadou-se.

- O tempo limpou. Vai estar sol. Amanhã é outro dia.


..
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11 novembro, 2010




Este bonito selo foi atribuído aqui ao Artmus pela Ana Paula Sena de o "Fio de Ariadne".

Agradeço-lhe a escolha e a menção mas valorizo sobretudo as suas visitas .Um obrigada, pois.
«O Prémio Dardos é o reconhecimento dos ideais que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc... que, em suma, demonstrem a sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre as suas letras e as suas palavras. Estes selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre blogueiros, uma forma de demonstrar o carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.»

O Dardos requer que algumas regras sejam respeitadas:

- Exibir a imagem do Selo no blogue;
- Revelar o link do blogue que me atribuiu o Prémio;
- Escolher 10, 15 ou 30 blogues para premiar.

Indicarei, assim, as minhas escolhas para este prémio, limitando-as a alguns espaços que vou acompanhando e que considero possuírem vocação literária. Com votos de que continuem a enriquecer a blogosfera e a presentearem-nos com a sua boa intervenção e companhia.

Escolho:
Aguarelas de Turner

Repensando

Árvore das Palavras

Fragmentos da Noite com Flores

As minhas Romãs

Voando por aí

Deserto do Mundo

Selma Couri Barcellos

Cantochão.


A estes blogues e respectivos bloggers agradeço os bons momentos de leitura e sensibilidade que me têm proporcionado. O que acharem por bem fazer, bem feito estará.





05 novembro, 2010

Vitória

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..

Vitória.

Está sentada no chão. As pernas escorrem ao longo do soalho. Esticadas, hirtas. O tronco dobra-se, quebrado, ao ritmo da dor. As mãos, ah as mãos, retorcem-se num arranhar de unhas e repuxar de dedos. Os solavancos do peito movimentam-na. A garganta asperge roucos. O ranho mistura-se húmido e pegajoso nas faces gastas. Os cabelos húmidos de suor e desespero alinhavam-se tortos. Os olhos vagueiam entre as paredes e a mente. Não reflectem nada, somente o vazio de que estão vestidos. E de novo o corpo a torcer-se numa convulsão desenhada no estômago que a percorre à medida que as palavras a fustigam. Chora seca convulsa, amarga e dorida.

Chora o tempo perdido, chora a raiva, chora o engano, chora a confiança, chora o sentir, chora os anos. Sente-se patética, demais. Sente-se inútil, sente-se coisa. E as mãos que se baralham num redondo desatinado. As pernas que se dobram para logo se esticarem. E o corpo queJá não dói anestesiado pela amargura que a percorre.

Crava as mãos na borda da cama, as unhas vergam-se ao peso do corpo. A dor alivia-lhe a amargura. Deita as mãos ao rosto e pergunta: Porquê? Porquê? Olha-se desalinhada, suja, grotesca ao espelho e sorri, sorri ao que vê e, mais ainda ao que a agonia. A imagem provoca-lhe o vómito. É ali mesmo que escancara a boca e vomita, mesmo em cima dos pés. Olha para baixo. As unhas vermelhas dos pés riem por entre a porcaria. Uma linha de vida.

Arrasta-se

Está alucinada. O mundo quebrou. Ela partiu-se.

Tão rápido.

Apenas seis palavras. Apenas uma confirmação.

Treme a cada movimento do corpo. Que lhe reflecte o sentir. Um sentir amargo, um sentir repudiado, um sentir devolvido qual carta sem número de porta. O engano ali mesmo ao lado na porta com número, a aventura vestida de engano, a voracidade do desejo, as horas trocadas, a espera calçada de mentira e o tempo a despir-se de sentir.

Foi assim que Vitória se recriou. O antes e o depois. Foi quando ela se apercebeu que a traição não era mais do que a cobardia do sentir. ,o medo da partilha, o temor à verdade, o irracional do homem. Vitória compôs-se. Rabiscou a máscara. Aperfeiçoou-a. Colou-se a ela. Viveu com ela. Tornou-a sua. Não mais uivou de dor nem desespero. Na sua mente recusou o hoje, analisou o ontem e partiu para o amanhã.

O depois estará algures, com ele ou sem ele, não importa assim tanto. O que realmente importa é ela saber que em cada dia ela é a sua Vitória.

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