tag:blogger.com,1999:blog-77998595325568840502024-03-19T07:51:42.485+00:00aArtmus"...És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
onde, com lucidez, te reconheças."
Miguel TorgaMatesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.comBlogger586125tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-18483337785226770422024-01-06T20:02:00.002+00:002024-01-06T20:35:11.380+00:00<div><br /></div>A CULPA <div><div style="text-align: center;"> <b>V</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"> Estica-se no sofá meio debotado, forrado de tecido acetinado às
listas azuis e amarelas com uns interlúdios dourados, que foram
e já não estão. O seu corpo curto e redondo esboroa-se. O calor
mais o peso que teima em cair para além da linha reta do sofá
ajeitam-se na procura do lugar fresco. Nada.
Anda pelos oitenta anos. Viúva. Na solidão dos dias que fez
iguais, procura criar afetos de pensamento, procura aleitar sobre o
vazio do tempo que fez seu.
Maria Salette de Mascarenhas. Misá para as amigas de café,
Misá para os primos chegados e pouco mais. Depois sempre foi
Salette de Mascarenhas, com dois tês à francesa, como costumava
corrigir a quem lho escrevia à boa maneira portuguesa.
Misá está naqueles dias de abandono. O calor impede-a de sair,
de dar a sua voltinha, do encontro com as suas amigas. O único convívio dos dias que fazem o ano. Os filhos, não lhe prestam a atenção
nem a companhia que almeja. A solidão cai-lhe em cima em cada
manhã que acorda desde que o marido partiu. Nunca pensou que
fosse tão difícil. Quantas vezes, mentalmente, cogitou que a sua viuvez lhe traria a liberdade que sempre desejou, que nunca alcançou
porque sempre teve medo de a requerer.
Misá já viveu os anos e pouco tragou da vida. Hoje, solitária,
tem mais amargura que vida.
Nascera na aldeia em casa grande de tempos abastados já idos.
Fora a quarta. Dos primeiros anos tem uma vaga ideia suficientemente esbatida para poder recriá-la em quadros mais vividos e de
acordo com as necessidades sociais. Fora uma criança infeliz, agarrada às saias da mãe, medrosa e desapercebida. Anos mais tarde,
sempre que sentia a amargura roer-lhe as entranhas, recordava sempre a imagem.
A infância e juventude foram vividas com os padrinhos-tios
A tia, mulher amarga de feitio e de casamento, o tio de melhor coração, mas de sentidos embotados. Fizeram dela o escape dos seus
equívocos. Cresceu entre o medo e a quimera do amanhã. Não foi
feliz. Nunca o foi. Se por culpa dela se por culpa da vida. Sempre
medrosa, sempre contraída, sempre à espera do encantamento.
Ele veio quando tinha dezassete anos. Encantou-se de tal forma
que acreditou que tinha a vida aos seus pés. Puro engano. O engano
que sofreu quase toda a vida, foi tremendo. Enganou-se no amor, na
vida, no tempo e até na forma dos afetos.
Misá, ainda hoje, vive dividida entre aquilo que teve que
fazer por imperativos da moral, o que queria, o que gostava, o que
sonhava e a realidade, que não conseguiu aceitar como sua. Tentou
sempre dobrá-la ao imaginário, todavia, esta, qual fio de arame forte,
nunca se vergou. Os anos deslizaram por entre dunas condenadas
de sonhos e desejos. A velhice chegou lado a lado com a solidão.
Foi tempo de ver os retratos esbatidos ou ainda vividos da sua vida.
A uns esbateu-os mais, a outros acrescentou-lhes a cor da imaginação.</div><div style="text-align: justify;"> Uma vez mais, a verdade ou realidade, não resultou igual, mas é
a sua. Uma vida perdida, irreconhecível de afetos e áspera de desejos.
Em cada manhã há um ato de sobrevivência. Levanta-se, come,
faz a sua higiene, veste-se, sai, conversa, regressa a casa, vai ao cabeleireiro, encontra-se com as amigas, vai às compras, regressa a casa,
come, deita-se, vê televisão, conversa muito ao telefone, e entre os
espaços da sua rotina faz da irrealidade a realidade dos seus dias. Sente-se particularmente útil quando tem os netos mais
novos por perto, porque tem um objetivo para passar o dia.
À noite quando se estende no sofá procurando afanosamente canais
que lhe encham o tempo, vai no entrementes recordando a sua vida.
Tem de si uma opinião superior. Foi uma boa mulher, uma boa mãe,
é uma boa criatura. Revolta-se por não ser apreciada de acordo com
a sua própria imagem, revolta-se, porque se gastou na vida por amor
dos outros, e nunca ninguém a soube querer. O marido que a trocou
por outras mulheres, que a fez passar por dificuldades, que a menosprezou intelectualmente, como se ele fosse alguém douto, que apenas viu nela a mãe dos filhos, para ter alguém que lhe cuidasse da
casa. Hoje, viúva apesar da solidão que a envolve, a sua vingançazinha consiste em destacar-lhe os defeitos, os grandes e os pequenos,
como se isso a consolasse. A verdade é que Maria Salette sempre foi
uma pessoa insatisfeita. Nunca amou o que teve, achando sempre o
que os outros tinham, era o que lhe faltava. Sempre se achou bonita
mais do que as outras mulheres. Na verdade, a sua beleza sempre
foi vulgar, bonitinha para o seu tempo, mas nada mais do que isso.
Não foi uma mulher que se destacasse por outros atributos senão
o de um rosto engraçado próprio de uma jovem senhora. Nunca
houve alegria nem espírito que perpassasse, dando-lhe vida. Viveu
e vive sempre contraída na defensiva. É sofrida e infeliz. A vida dos
filhos ocupa-lhe a mente. E provoca-lhe inquietação que se junta à
sua eterna instabilidade. Gosta de se rever neles, apesar de não concordar com os seus modos de vida. Se ela pudesse, eles continuariam
a obedecer-lhe, mas não pode, o que lhe causa um certo acre de boca.
Ama o seu cantinho, no entanto sempre que lhe pedem para tomar
conta dos netos mas novos, aí vai ela. Ao ser prestável faz o seu ato
de amor porque os gestos não sabem, as palavras ainda menos que
|se lhe tolhem na boca, as doces, porque as ásperas deita-as com força
sempre que a contrariam, assim vai a sua razão.
Dos filhos, três são seus, são a sua imagem, a outra é tão parecida ao pai, lembra-lhe sempre o azedume misturado de amor que
sentiu toda a vida, enquanto ele foi vivo e a revoltou sem ser capaz de
o enfrentar para além das palavras. As suas escolhas somente refloriram após a morte do marido, porque o medo dobrou-a sempre.
Habituou-se desde cedo a controlar na retaguarda, e à medida
que o marido foi envelhecendo foi tomando as rédeas, de manso, de
mansinho. Controlo. Adora controlar, adora ser o alvo das atenções.
Sempre adorou, e hoje, é patente que uma das suas desforras é poder
ser a única senhora das atenções, sem ser relegada para segundo
plano como em vida do marido. Quando pressente que a atenção
dos filhos diminui, o fator saúde e doença é imediatamente acionado. Mais vale um pouco de comiseração do que esquecimento.
O seu passatempo preferido é recordar.</div><div style="text-align: justify;"> Reviver o passado e,
por vezes, verificar, que a vida poderia ter tomado outra estrada se
as escolhas ou mesmo as palavras tivessem sido outras. Já é tarde.
Neste exercício de impossíveis passados estiola muito do seu tempo
que rouba à solidão dos dias. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><b>VI</b></div><div style="text-align: center;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"> Hoje tal como ontem os gritos originaram mais uma querela.
Tem sido assim ao longo dos anos.
Manuel, o marido, é um ser difícil. Um individuo cujo humor é
semelhante aos dias. Tem uns, em que se alaga, tem outros, em que
se confrange. Entre uns e outros fica aquele período difícil no qual
é quase impossível falar, pois que os gritos e o mau humor são uma
constante. Não aceita que o contradigam sobretudo quando se fala
sobre o meio rural e a sua dificuldade evolutiva social. A ancestra lidade rural põe-no sempre em defesa. É como um caracol que ao
toque se fecha na sua casca, assim é com a diferença que enquanto
as antenas do caracol continuam macias, Manuel sem as ter, exibe-as
virtuais, acutilantes, veementes e defensivas. Sempre que o seu mau
feitio se interpõe à clareza do raciocínio, Manuel torna-se compul sivo em má educação. A ancestralidade aflora-lhe o espírito e dele faz
capa de imediato. A bestialidade oral e gesto tornam-se a sua defesa.
Desconheceu-o durante muitos anos. Tomou-o como uma pessoa
de génio controlado com espasmos episódicos, a vida, no entanto,
encarregou-se de o mostrar tal como é. Evita falar da sua infância e
juventude, aliás esconde-a.
Manuel foi uma criança de medos.
A necessidade de afeto foi sempre marcante na sua vida.
Gostava que gostassem dele, que o rodeassem, chegava a dar os
brinquedos, os poucos que possuía, para ter meninos junto dele.
Em casa, a mãe silenciosa no ramerrão da lide caseira jamais lhe prestou a atenção que carecia, e nem tão pouco o carinho que
necessitava.
— Nelo vai tomar conta da tua irmã! Nelo, vai estudar, Nelo
vai depressa à mercearia do sr. Edgar buscar um quilo de arroz,
depressa, avia-te. Nelo vai… vai… vai. E o Nelo ia. Bem-mandado,
ordenado, calado e submisso. A escola foi o seu martírio. Detestava-a.
Na maioria das vezes não percebia do que se falava. Estava longe,
muito longe. Depois as más notas saltavam ao ritmo das cinturadas
do pai, quer pela omissão quer pela negação. Pela mentira que esco lhia para se esconder.
E a revolta nasceu por aquele tempo. Indistinta, casual, mas
crescendo mais do que o seu corpo. Estava lá, adormecida porque
não sabia ainda falar. Mas estava lá.
Os anos passaram. A vida esgueirou-se por entre os tempos.
Criou-se
— Ó Nelo, então pá, onde estás a trabalhar?
— Casaste? — Ah, ainda bem. — Eu? Oh estou bem. Tenho uma
fábrica, a minha mulher é artista plástica tem um estúdio em casa e
expõe. Filhos? Tenho um casal. Ele está nos Estados Unidos a tirar o
doutoramento, ela em Londres, a trabalhar em investigação. É assim
pá. E tu?
De forma resumida Manuel dá-lhe os parâmetros de vida.
Óscar, o colega, olha-o detalhadamente, incrédulo. Na sua mente
perpassa a imagem do jovem pobremente vestido, cujo aspeto suscitava as origens sempre a fazer parte de todas as associações de estudante para ter acesso ao que os outros tinham por inerência familiar.
Manuel detesta que conheçam os seus pontos fracos, e as suas
misérias. Vestir a pele de alguém emprestado pela mente, tornou-se
durante muitos anos o seu fato número um. O que dizer de uma
pessoa, com um carácter fraco e inúmeros defeitos e que, todavia, é
| boa pessoa. Uma contradição poderá pensar-se, no entanto, é esta a
verdade.
Manuel é emocionalmente instáve. A sua instabilidade levou-o
durante muitos anos a viver colado a figurinos. O dia-a-dia não se
faz de figurinos nem de cópias. Respirar cada dia é aprender a fazer
as escolhas, e na maioria das vezes elas, as escolhas, são puros atos
de humildade e esquecimento. Nada tem a ver com imagens retoca das de vidas que não existem, que são apenas relatadas na terceira
pessoa porque chegar à primeira é viver e elas, as personagens de
figurino, são fictícias. Não vivem, desenham-se. Naturalmente que
sempre foi e será mais fácil viver no faz de conta, no limbo entre a
verdade e a mentira. Um espaço opaco, porém, suficiente para resistirem. Manuel por ingenuidade ou por falta de caráter acomodou-se
na opacidade. Quem o visse nos seus quarenta anos, suporia tratar-
-se de uma figura, já que o seu aspeto físico sempre foi muito agradável. A loquacidade, que em breves momentos se munia, pressupunha
um indivíduo falador e bem-disposto. Nada disso. Em família, era
distante quiçá agressivo logo que contrariado, fechando-se mais e
mais em si. Um homem, duas pessoas, uma cara e várias solidões.
Ao volante do carro, no desfilar da estrada, com o vento a soprar-
-lhe no corpo, quente e suado, sente-se livre, sente que ali existe.
O quotidiano da vida, os problemas que não soube resolver, a vida
em si, pesa-lhe mais do que o seu próprio corpo e, quando só vê
correr o tempo à sua frente numa estrada algures, sente-se feliz. Não
tem capacidade de resolução, de firmeza, de decisão.
— Se pudesse… se pudesse… eu…
Se, talvez fosse a sua divisa. Se isto tivesse sido assim… se eu
tivesse tido mais sorte, se, se, se… infindavelmente tem participado
da sua vida justificando as situações criadas, muitas vezes por dis plicência, por ausência de lógica, ou e quase sempre por incapacidade de definição de prioridades. Depois as origens levam-no a ser
condescendente com os menos privilegiados em contraponto com
a intolerância para os favorecidos. Tem gerido o seu caminho entre
compromissos mentais e necessidades anímicas, que na maioria das
vezes prevaleceram, deixando ir as oportunidades pelo cano abaixo
ou simplesmente perdendo-as de vista por inação. O tempo não tem
horas sempre que resolve tomá-lo sem ponteiros. Amolece na própria indolência tornando-se irascível quando chamado a atenção.
Outras alturas, em que o dinamismo é tremendo querendo fazer
tudo, sem horas, de novo. Tem uma tremenda dificuldade em lidar
com o tempo e mais ainda com os relógios que não usa. Ama a sua
privacidade cuja partilha é um ato que desconhece. Não por mal,
mas porque é a sua natureza. O seu íntimo é uma sedimentação de
sensações, de ideais, de incapacidades, de vitórias, de atos vividos,
por viver, de coisas boas e más. A serenidade dos dias tem que ser o
seu caminho, caso contrário, perde rapidamente o prumo entrando
em negação. Lidar com obstáculos, não é de forma alguma um ato,
é antes de mais, uma violação.
Quando estável é doce, mas em tudo retraído. Não existe muita
espontaneidade nos seus atos. Refletem quase sempre o medo de
não ser bem-recebido, a timidez da insegurança emocional e social.
Mas Manuel é, sem sombra de dúvida, um homem interessante e
envolvente. O sorriso fácil, o olhar direto e analítico, avaliativo da
presa sempre que o género feminino está do outro lado, concedem-
-lhe o elogio que gosta. A bizarria do seu carácter advém da dupla
forma de estar na vida. Uma forma fechada, algo acre para casa,
outra cativante para os de fora.
Clara conhece-o bem, tão bem que na maioria das vezes até
consegue saber o que lhe vai no espírito por um simples olhar, por
um silêncio, por um trejeito. É um ser simples movido por impulsos mais do que pela mente, o que lhe acarreta muitos dissabores no
mundo atual. Embora passe por ponderado não o é, relativamente
às suas opções. A liberdade em espiral de movimentos, de escolhas
atrai-o de forma irresistível. Não sopesa as sequelas e estas, na maio ria das vezes, tornam-se avassaladoras.
O dia decorreu normal até ao suceder uma pequena pergunta
sobre um gasto. O dinheiro, algo que põe Manuel fora de si, particularmente quando se lhe pergunta sobre esta ou aquela despesa.
Manuel não gosta, aliás detesta prestar contas, mostrar contas. Tem
sempre o pressuposto que se desconfia dele. Não se percebe de onde
lhe advém semelhante conceção. Mas em mais de um quarto de
século de casamento, Clara, nunca soube como o marido geria o
seu dinheiro sobretudo nos tempos de abundância. A necessidade
compulsiva de esconder as contas tem causado dissabores e muito
afastamento. Manuel é incapaz de enfrentar a verdade. É incapaz.
Esconde, mente e nega. Foi sempre assim, quando está em falta é
patente a sua inaptidão em assumir-se, esconde-se, dribla-se a si pró prio. Mais tarde, quando a verdade vem ao de cima, embora óbvia, a
negação continua a ser uma defesa. Só depois é que assume, quando
as evidências são tão contundentes, que já não existe espaço de fuga.
O seu rosto, por esta altura, pinta-se de uma autocomiseração como
se fosse a grande vítima, como se a vida lhe fosse madrasta. Clara
tem a certeza, ou pelo menos assim o quer acreditar, para o bem de
ambos, que Manuel é um indivíduo algo, como diria, algo inconse quente. Não mede os efeitos dos seus atos, não avalia os resultados
dos seus disparates. Acredita que as coisas escondidas não vêm à
tona. Vive numa dualidade entre enfrentar aquilo de que tem a plena
consciência que fez mal e o dia-a-dia em que se passa pelo que não é.
Hoje, como ontem, o mau humor rebentou e os gestos mais do que
as palavras, pois que é bastante parco nelas, esmagam o ambiente. </div><div style="text-align: justify;">A violência rebenta-lhe nos poros. Clara deixa-o, e a resmungar a
meia-voz vai dizendo: que devia estar fora de si quando o conheceu
ou então que ele a ludibriou com falinhas mansas. Senta-se no seu
quarto e remói a vida, tantas vezes o fez, que chega à conclusão, de
que já não há muito para remoer. A tarde vai caindo, a escuridão
veste a casa. Depois, a inação toma conta de ambos. Um no quarto,
outro cá fora no jardim. Por fim, Clara, e sempre Clara, levanta-se e
procura-o.
Tenta falar-lhe. De início o silêncio, o eterno silêncio. Não quer
responder, não quer, não gosta.
Assim em silêncio enfrentam o resto do dia. Não vale a pena.
É igual a si mesmo. Amanhã o muro já terá brechas e a vida conti nuará. Naturalmente que poderá ser um dia feliz e alegre, como evenualmente poderá haver outra recaída. Os dias são assim. Manuel
é assim. Foi há tanto tempo</div></div><div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-91997920299405409982023-10-13T15:43:00.000+01:002023-10-13T15:43:12.560+01:00IV<div style="text-align: justify;"> Lança a pasta para o banco do carro enquanto se senta ao
volante. Agarra-o entre as mãos como se quisesse espremer as
últimas horas do dia. Não sorri. O olhar é duro. As mãos apertam
com força, com toda a sua força, o volante. A raiva estala, forte,
jactante. Toma conta dela. Treme. Inclina o dorso para a frente
num pequeno gesto de abandono.
— Que dia! E haverá mais alguma coisa?
Maria Ana abandona-se à raiva surda que rebenta dentro dela.
Toma-lhe o corpo que se retrai na medida exata da força interior
incontrolada, a mente lateja-lhe num pensamento único: Ódio.
— Não, não vou cair, não, não vou… isso é que era bom!
Devagar endireita-se, como se colocasse as peças no lugar
exacto. A figura está composta. Olha-se no retrovisor, acha que os
olhos a traem, que a boca está amarga. Exercita os músculos de
sorriso. Depois habilmente pinta os lábios, dá cor às faces e retoca
os olhos. As mãos descem pelo tronco alisando hipotéticas rugas.
Sobem de novo, entremeando-se nos cabelos castanhos risonhos de
cor. Suspira aliviada, mastiga as palavras e põe o carro a trabalhar.
— Não vou quebrar, não vou, não!
Um sorriso aflora-lhe os lábios, um misto de dor e de decisão
Maria Ana é assim, não dá tempo para se sentir infeliz. Não permite que
a vida a controle, ela é a controladora. Aquela sensação percorre-a
pela segunda vez nos seus quarenta anos. Quando se separou aquele outro dia, em que decidiu separar-se de António, após várias
humilhações que jamais pensara ser possível, ela que sempre fora
preservada a quase tudo e tão desejada. Mas acontecera. Nessa altura
como agora, não sentira que o desespero tomasse conta do seu ser,
não, sentia raiva, uma raiva pronta a estilhaçar-se sobre alguém que
tivesse a simples desgraça de se aproximar. Maria Ana não tolerava
que a colocassem no degrau debaixo. Maria Ana era competitiva
até ao osso. Estar na crista da onda, ser adulada e, sobretudo, ser
imprescindível. Precisava de tomar as rédeas das coisas desde as mais
comezinhas às pseudo-importantes, era assim que o seu ego se satisfazia, dando-lhe milímetros à sua estatura mediana. Estes quid pró
quods faziam parte, não na capacidade de entreajuda, mas antes, na
busca das luzes da ribalta. Necessitava da adulação.
Maria Ana, Ana, para os amigos, acaba de ser dispensada do seu
serviço. O termo eufemista para o desemprego. São quarenta anos,
doze de trabalho. Não vai baixar os braços. Tem que pensar. Recome çar parece-lhe desde já o óbvio. Recomeçar. Ontem como hoje. Já lá
vão dez anos desde aquele dia em que decidira separar-se. Algo que
precisava de ser feito, sobretudo por ela. O casamento fora a maior
asneira que cometera nos seus vinte e pico anos. Fizera várias, porém
não tão primárias quanto ter-se casado. Aquelas coisas que se fazem,
quando se pretende ter uma vidinha semelhante à da mãe ou da
avó, ou por aí adiante. Todavia, o tempo não é igual ao delas, nem
o sentir. Os conceitos tinham mudado muito e, muito mais ainda,
a capacidade de resiliência. Como suportar um homem que embora
encantador, não passava de um parasita, e ainda por cima que a traía
constantemente. O nome, a família e todo o respetivo devaneio de
genealogia foram insuficientes para a prender. Nem o atrativo físico,
nem a simpatia, nem a elegância, Tudo pontos positi|vos IV
memória as sensações que a tinham levado à decisão final. A satura ção, a raiva do tempo perdido. Recorda.
Ana era realista e despida de culpas. O motivo formal do divór cio fora o adultério, mas na verdade fora a saturação. Estava farta. Era
jovem, bonita, com sucesso. Os homens sempre se tinham rendido.
Era uma sedutora. Tudo simples e linear. A dificuldade vinha com a
mãe. Não ia aceitar. A mãe não vivia na realidade, mas antes, naquele
limbo onde os sonhos tomam o rosto da certeza, e esta por sua vez,
despe-se e tornando-se um quase sonho. Ela adorava o genro, pelo
seu encanto pessoal, pelo peso do nome e da sua condição social.
Ana era forte, sempre o fora. Decidira e pronto.
Agora experimentava a mesma sensação, o mesmo ímpeto que
a levava por diante sem medo, sem qualquer recuo, com aquela certeza quase obscena, que iria obter o que queria.
— Estou livre, livre. A minha vida profissional recomeça de
novo. Amanhã é outro dia, e vai ser meu como os restantes.
Põe o carro a trabalhar. Chega a casa, atira-se para os sofás
dando um piparote nos sapatos que lhe calçam os pés e deita-se ao
comprido. Maquinalmente prime o comando da televisão que imediatamente volta a desligar. Prefere estar em sossego, a escutar os
seus pensamentos. Faz a restrospetiva da sua carreira profissional.
Sente-se injustiçada. Dera tanto à empresa. A crise internacional,
aliada à conjuntura nacional, fizera com que esta fosse desaguar
para outras bandas. Sente de novo o amargo da injustiça. Julgara
que jamais voltaria a experimentar aquele travo acre de novo, contudo a vida fintara-a uma vez mais. Urge traçar um rumo. Tem a
noção exata que o nível de vida que estava habituada irá decrescer.
Tem a ideia exata que Ernesto a irá apoiar em tudo o que decidir,
pese o facto de a aconselhar com toda a sua ponderação, depois,
mais tarde, será o companheiro físico que ela necessita, será a presença quotidiana que lhe preencherá o tempo dos dias. Tem a perfeita noção, que os cordéis da vida são e serão sempre manipulados por si. Aliás, gosta de o fazer. Aquele sentido de domínio, de
gestão, de agenda, de compromisso a ser ou não, de uma palavra
aqui, outra ali, um sorriso, um sim e um não. O domínio, sentir-se
necessária, ser ouvida, aliás a necessidade em ser o holofotedas atenções, uma parte do seu património familiar.. Detestava papéis secundários,
sempre fora assim. Podia começar de mansinho, mas a verdade, é
que pé ante pé, se fazia pelos lugares principais, sobretudo aqueles
de visibilidade. Fora uma jogada mal pensada que a atirara para o
desemprego. Não contara com o imponderável, a pouco empatia do
chefe e, sabendo-se, no entanto, uma boa profissional, jogara. Nestas
coisas a empatia do chefe é muito oportuna e a falta dela, levara-a a
ser colocada no rol dos dispensados. Na boca, as papilas trazem-lhe
o travo amargo da ocasião, porém, no seu íntimo sabe que irá dar a
volta, seja ela qual for, mas irá. Conhece-se.
Sabe que o seu sorriso fácil, a loquacidade em que é fértil, o
humor fluido e ainda a gargalhada cheia granjeiam-lhe pontos,
a par, de muito esforço intelectual que procura disfarçar. Ana per tence àquele grupo de pessoas que, embora providas de capacidades,
gosta de fazer crer que a facilidade na obtenção das suas vitórias
é algo que lhe está predestinado pelo nascimento, e jamais o resul tado de um grande trabalho, o seu, e uma maior estratégia. Ana é
uma oportunista esforçada.
Já em casa, esticada no sofá, espreguiça-se olhando em redor.
O que a rodeia tem sido fruto do seu trabalho. O Pad já está entre as
mãos e num ápice as ideias começam a tomar forma. Ter algo de seu.
É isso, isso que se vai lançar. A área? Bom… tem que fazer prospeção
de mercado, um mercado depauperado, é verdade, contudo, haverá
algo que valha a pena, está quase certa, que conseguirá. Vai ser algo
| simples, nada de complicado, sabe por natureza que na simplicidade
é que reside sempre o segredo do sucesso empresarial. Nada de coisas
estereotipadas. Algo de subtil, necessário e sobretudo muito comercial.
São seis da manhã, tem que se levantar, arranjar e partir. O aeroporto tornou-se a sua sala de visitas. Aqui e ali, pelos quatro cantos
do globo vai fazendo o seu negócio. A Investments and Purchasing Ltd
tem-lhe devorado os dias na proporção direta do desafogo familiar.
A sociedade de que faz parte conjuntamente com mais dois colaboradores é, de alguma forma, a sua mais recente e desvelada filha.
Quere-lhe não só por ser, isso mesmo, uma criação, mas também,
porque apesar do tempo conturbado de crise, tem, aliás têm con seguido capitalizar lucros viáveis, permitindo-lhe catapultar-se a
negócios mais audazes. A firma, que começa a ser referida no meio,
e neste pequeno recétaculo de credulidade, há que investir sempre,
mais e melhor. Ela desdobra-se pelos cinco continentes na busca,
na agenda de investimento, na compra de imóveis. Tornou-se uma
saltimbanca de vendas e uma coletora de compras. Mais uma visita
de observação de mercado. É esta a sua vida. Hoje aqui, amanhã ali,
um corre, corre fisicamente poderoso, mas que lhe permite distender
a ânsia que a possui, que lhe permite percorrer caminhos, conhecer
gentes, experimentar emoções. Ser ela na sua verdadeira essência de
mulher, na sua criatividade humana, no arquétipo profissional. Ana
é assim, sempre foi assim. Nunca se prendeu pelo comezinho, pelo
vulgar, pelo menor. Acha que a vida é o que dela se faz. Longe de
grandes laços que a sufoquem. Tudo deve estar em plano não conver gente, assim jamais haverá o perigo de coincidir algures e em tempo.
Recomeçara a sua vida desde que em oitenta e cinco assinara
o seu divórcio. A sua família passara a ser Afonso e Ernesto, o com panheiro. Faz agora parte da sua vida, e sempre que regressa a casa,
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MARIA TERESA NOBRE
em breves hiatos de tempo, ele é o ombro amigo onde repousa a sua
cabeça cansada. É diferente dos irmãos, muito diferente, especial mente das irmãs mais velhas, quase suas mães. É impetuosa, trinca
com prazer cada tempo e saboreia-o, seja acre ou doce. Frue-o. Não
compreende as irmãs mais velhas, tão mediazinhas nas suas vidi nhas, com ar meio cansado, sem terem experimentado o pico da
vida, no entanto, uma já na casa dos sessenta, a outra no cinquenta,
assim sossegadas como se o mundo tivesse parado à porta das suas
vidinhas, meio perfeitinhas. Maria Ana odeia tudo isso. Já era uma
condescendência enorme, os almoços de família que pouco lhe
dizem, não fora a companhia de Vasco, o irmão.
Para muitos, o seu trabalho reveste-se de glamour, contudo
possui de tudo, exceto, isso mesmo. Aprendeu a colher o melhor de
cada situação como uma tábua de sobrevivência no mar, nem sem pre calmo, das suas vivências profissionais. É um trabalho cansativo,
manipulativo. A carreira fora o seu grande objetivo. Afinal ela, Maria
Ana, não era uma mulherzinha de tachos, maridinho e filhos com
uma profissãozinha regular. Não. Nada disso. A sua capacidade, o seu
jogo de cintura, o seu sorriso e gargalhada fácil, a par de um empe nho profundo no que fazia, e espírito analítico tinham-na elevado ao
lugar que exercia. Maria Ana era uma mulher inteligente. Ela sabia-o
tornando-a displicente junto daqueles que achava menos dotados,
ou seja, aos que por uma razão ou outra classificava de “simplinhos”.
Maria Ana tem ainda uma figura gentil. Hoje nos seus quarenta embora, embora o rosto se mantenha expressivo, os traços
arredondaram-se em consonância com os anos adquiridos. Não pos sui a elegância física de uma mulher bem-feita, no entanto é apelativa. Talvez mais pela expressão e riso do que pelo feitio, talvez pela
sedução física que sabe espargir no momento certo. Maria Ana é,
sem dúvida alguma, uma vencedora. Sempre soube tirar partido de si. Não tem complexos, sorri e ri da vida. É uma mulher em busca,
quando as conceções ou emoções rebentam, agarra-as e usa-as, deleitando-se. Não há pruridos na sua mente. Giza o “Ter” e o “Haver”
com a destreza do pai. Coisa simples, a vida. Quando deseja vai em
busca, quando tem, sacia-se, depois apazigua-se. Então, tranquila,
dirige-se para o trabalho que a consome até ao outro momento exato
em que o corpo volta a arquejar. Orgástica no seu intelecto e no seu
sentir, Maria Ana percorre o mundo com a mesmíssima decisão que
um dia caminhara para o escritório de advogados e iniciara o seu
processo de divórcio sem quaisquer pruridos de ordem emocional.
Levanta-se, agarra no robe que veste. Já na casa de banho despe-se e
enfia-se no chuveiro. Depois é a rotina matinal. Vestir-se, maquilhar-
-se, tomar o pequeno-almoço. À noite quando aqui voltar, será para
fazer a mala, tomar um bom banho, aperaltar-se e descobrir a cidade.
Maria Ana, a mais nova dos quatro, sempre fora decidida. A sua
afirmação fora-lhe permitida, quer por motivos de idade quer, de proteção. Mimada pela mãe e pelos irmãos, soubera, desde bem cedo,
levar a sua avante. O pai condescendera com a sua mais recente obra
de arte. Ser pai aos quase cinquenta anos, quarenta e oito mais corretamente, tornara-o vaidoso. Não só pela sua virilidade, como também
pelo aumento da sua prole, algo que o orgulhava. Naturalmente que
este rebento fora sempre motivo de muita condescendência, e até porque a garota era cativante e sossegada. Muito risonha e depois fizera
com que ele, Henrique Gonçalves de Mascarenhas, desempenhasse
pela primeira vez pequenos papéis de paternidade, coisa que com os
outros sempre descartara, uma vez que Maria Salette estava lá para isso.
Nesse tempo costumava dizer: — Ó Maria Salette, olha o miúdo,
trata dele! Entre dentes verbalizava bem baixinho: “os miúdos não têm
piada nenhuma só depois de mais crescidinhos!” Rapidamente levanta va-se e saía ou sentava-se placidamente no seu sofá vermelho ouvindo um trecho de ópera ou mais prosaicamente a rádio Moscovo, proibida
naqueles dias. Punha-se um copo de água em cima do aparelho para,
segundo os peritos caseiros, interferir nas ondas hertzianas, assim chamadas naqueles dias. Mas a mais nova sempre fora muita senhora do
seu nariz, quiçá algo rebelde. Desde que se lembra, nunca nenhum dos
outros lhe batera o pé e respondera de queixo erguido e olhos nos olhos.
Seria coisa de avô? Talvez. Ela cresceu com um rostinho macio e sereno
servindo de capa a um caráter por demais voluntarioso. O rosto doce e
a vontade permitiam-lhe que levasse sempre a sua avante. A mãe deno minava-a a “menina dos seus olhos” talvez pelas parecenças físicas, talvez pelo tardio da maternidade, talvez por uma pseudo quietude na sua
relação que foi isso mesmo, esporádica. Maria Ana cresceu e casou-se.
O genro era um tipo engraçado. Nunca lhe caíra muito no goto. Porém,
não se meteu, até porque a mulher adorou-o, mais que não fosse pelo beija-mão, pelos gestos cavalheirescos de filme mudo em trejeito de Valentino, bah estava a ser bera, o tipo até era elegante e cavalheiro. Mas não era
o seu género e para cúmulo tinha mais dezasseis anos que a sua menina.,
ou seja, quando ela casou com vinte e seis, António tinha quarenta. Era
bom de ver que a coisa não iria dar muito certo, mas ela quis, assim se fez.
Do outro lado do mundo, Clara resmunga, como é seu hábito,
sobre a pouca vergonha da política e dos políticos, de toda a desumanidade que parece ter assolado o país nestes últimos anos, já
para não falar nestes últimos meses. Parece ter tudo enlouquecido.
A situação económica parece ter partido, não sabe bem como, a
espinha dorsal do povo. Há tristeza nas faces, há fome nas casas e
sabe-se lá que mais. Clara resmunga, na mente, porque nas palavras,
não vale a pena. As pessoas não gostam de ouvir a verdade nua e
crua. Não gostam pelo gostar, mas antes pelo medo. Têm medo de
proferir a verdade, pelo simples facto de poderem ser prejudicadas, de não chegarem ao lugarzinho que desejam, por mais mesquinho
que seja, mas será sempre um lugarzinho, têm medo porque podem
ser conotadas com alguém crítico que os possa impedir de chegar
ao tal lugarzinho, têm medo porque são amigos do amigo que tem
um amigo que é importante e pode proporcionar o lugarzinho, têm
medo porque a simpatia ou filiação política a isso os impede, de
criticar, têm medo ainda, porque são fundamentalmente medrosos
de viver. Suspira. O medo e a culpa.
Pega na faca e começa a cortar a cebola. Coisa chata, isto de
picar cebola, mas lá tem que ser feito. Não há guisado sem refogado, tal como não há resultados sem trabalho. São coisas básicas.
A base tem que lá estar sempre, por mais voltas que se deem, por
mais premissas que se procurem criar ou recriar, o silogismo final é
inevitavelmente lógico. A vida é uma lógica, pena é, que as pessoas
não pensem assim, e andem atoleimadas com atributos sem acessó rios que as volvem tão frágeis de ilógicas.
Lá estou eu a divagar, Santo Deus, que cabeça a minha! — Diz
a meia voz Clara.
— Bom, vamos lá ao que importa que ninguém está interessado nestes pensamentos, se os pudessem ouvir até me comiam viva. Oh, eu sei…
Clara é assim mesmo. Poucos, muito poucos ou talvez nin guém a conheçam. Há alguém que quase a conhece. Quase. Sabe que
é diferente. Sempre o soube desde que começou a dialogar consigo
ainda bem pequenina. Os anos passaram E o jeito aumentou, um
jeito calado, interior. Clara sempre gostou de conversar com o seu
pensamento. Cedo, aprendeu que ninguém estava interessado nas
suas palavras, e, muito habilmente voltou-se para dentro. Quem a
conhece, e conhecem-na quase todos superficialmente, dizem que
é uma mulher muito extrovertida. Tal como costuma afirmar: —
“Falo muito, mas só aquilo que quero dizer, ou acho por bem dizer.”
| O que lhe vai na alma, isso é seu. Não tem interlocutor. O seu traba lho é pensar e analisar. A sua profissão é ensinar.
O refogado está pronto, junta-lhe a carne, depois o vinho, coloca
a tampa no tacho, baixa o lume e deixa a cozinha. Maquinalmente
olha o relógio de parede da cozinha. Tem tempo. Volta para a varanda
e senta-se na cadeira. Olha em redor e retoma o fio das suas memórias.
Agosto, quinze. Não se vai esquecer da data por muitos anos que
viva. Quando aterrou na Portela, o dia pespontava forte de sol. Vira
a Ponta de Sagres bem nítida da janela, depois a aridez de um Alentejo em dia de feriado, e finalmente o Tejo mais a ponte, que estava
em construção quando saíra de Portugal. A manhã estava soberba.
A viagem fora tremenda. Um avião superlotado. Uma paragem de
horas no Gabão num aeroporto abrasivo. Meia-noite e quarenta e
dois graus. O suor empapava o corpo, melava os cabelos e aturdia
ainda mais a mente já de si anestesiada pelos acontecimentos em
catadupa. Mas a manhã estava mesmo soberba, vista do interior do
avião. Não havia medo. Somente cansaço e uma esperança expec tante. Urgia esticar as pernas, receber o dia no corpo. Lavar as feridas
do ontem ainda presente. Caminhar para este presente. Caminhar.
Quando pôs o pé nas escadas sentiu uma brisa gelada, dife rente do calor morno que estava habituada. Um arrepio percorreu-
-lhe o corpo jovem. Os cabelos longos esvoaçaram pelos ombros,
qual cortina, ajeitando a intimidade. Olhou em frente, sempre gos tou de olhar em frente. Mas não viu nada. Nada. A paisagem era
fria, como o arrepio que a possuía. Estava de regresso. Percecionou
naquele momento exato, tristeza. Rápida sacudiu-se, descendo os
degraus dobrada ao peso dos sacos.
Nos dias que se seguiram andou um pouco aérea. Rever velhos
lugares, ver a família. Sorrisos. Palavras e palavras formais em forma
areada. Jeitos de abraços sem calor, sorrisos enviesados. O momento
| A não permitia grandes efusões e depois, depois o atavismo dos afe tos vestido da eterna inveja nacional porventura trapos de vingança
secular.
O pai e a mãe conversavam entre si à noite, ela a mais velha,
ficava sozinha no seu mundo. Tinha expectativas, mas ao mesmo
tempo uma força que não sabia explicar, tolhia-lhe o peito. Sabia
que o seu mundo se fora, que este que pisava já não era o da infância,
muito menos do da adolescência e definitivamente o da juventude
desaparecera. Jovem, mas nua de futuro. Foram dias tremendos. Dias
de verão com o frio do inverno na alma e o calor do sol no corpo.
E os dias seguintes vieram. Nas madrugadas arrefecidas de setembro,
acordava. Deixava-se ficar deitada de lado com os olhos fechados
como se estivesse a dormir. Mas não estava. Recordava os tempos do
antes. Esmiuçava-os. As imagens eram, por essa altura, ainda fortes.
Deleitava-se nelas. Apertava com mais força os olhos para não as dei xar fugir. Viu-se pela primeira vez a crescer de menina a mulher sem
tempo e sem espelho. Viu-se, sozinha, mas acompanhada, sofrida e
todavia abraçada, ver-se enfim, no futuro áspero que seria o seu percurso. Os primeiros meses foram esquisitos. O apartamento euro peu com móveis africanos. Esquisito. Algo estava dissonante. Lá era
tão bonita a sua casa. Tão viva, tão alegre. Aqui parecia uma feira
de tons. A sensibilidade europeia coaduna-se com os dias pardos.
Os tons recolhem-se numa paleta suave. Lá tudo rebentava com o
calor e o brilho do tempo. As cores eram fortes, a luz era quente.
A vida coloria-se no exterior e nos interiores. O Outono chegou.
O tempo da mudança veio com a queda das primeiras folhas. O pai
começou a trabalhar devagarinho, a mãe dedicou-se à casa e aos
filhos, a mais nova começou a crescer, o do meio a viver sozinho em
casa e ela, a mais velha, partiu. Foi trabalhar e foi assim que com prou a sua independência. Anos depois, muitos, compreendeu então
|porque não se conseguia entrosar no conceito da sua família. A sua
diferença residia na sua maturidade dorida.
Os anos submergem no túnel do tempo. As recordações pulsam.
Clara pega no comando da televisão. Prime o botão, o canal
abre-se. Outra imagem, outra mesa redonda, mais política. Volta a
premir. E outra vez, mais outra, até que apaga o aparelho. Recosta-se
no sofá. Semicerra os olhos. Está cansada de ver, ouvir, sentir. Mais
um dia. A dolência das horas embala-a nas memórias. Velhas e frescas.
O silêncio da casa envolve-a. As imagens passeiam-se entre os
objetos quietos. Cada um olha-a quando passa. Têm tempos, tem pos de ontem, de hoje, de agora. Lá fora a tarde rola na estrada do
dia. O morno da tarde é igual à sonolência da vontade. Clara espre guiça-se mais no gesto do que na mente. Essa mantém-se obscura mente, presa ao molhe de imagens que a perseguem. Que vale viver
cada dia num esguicho de sonambulismo físico quando a mente
se revolta para lá da moldura? Os anos submergem no túnel do
tempo. As recordações pulsam. Foi apenas ontem que teve a cer teza que o marida a traia. Descobriu tudo. Ele confessou. Depois
do choro, depois da dor, depois de recolher na alma a ferida aberta
ainda achou força para perdoar, para o receber de volta. Sente-se
perdida, muito. Sente que o seu mundo uma vez mais desabou tal
como em 61, depois em 74 e agora mais de meio século, tudo se
repete. Os círculos da vida. Ergue os punhos ao alto num gesto de
raiva e dor. Raiva por ter perdido uma vez mais, e dor por sentir que
a sua dádiva de amor fora malbaratada. Dar sem receber é doloroso.
Perder, dando, é cruel. Viver no engano é vil. Clara não é mulher de
derrotas. Pode perder fisicamente, pode envelhecer, mas na cave do
seu ser, a sua vontade é intrépida e embora soe dor em cada poro,
não vai entregar os pontos, vai lutar, vai lutar e vai vencer. Ela sabe
que vai fazê-lo. O resto? Quem sabe? </div><div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-75068807701223258862023-09-07T19:26:00.000+01:002023-09-07T19:26:03.340+01:00<h1 style="text-align: left;">III</h1><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><div><div style="text-align: left;"> <span style="font-size: medium;">Recostada nas almofadas, Isa, fecha o livro. Puxa o edredão ajei tando a barra do lençol. O calor da cama aquece-lhe o corpo e
deixa-a dolente. As recordações tornam-na sonolenta. O passado
é longo… o frio gela o ar. Lá fora cai a neve, fria e branca. Dentro
suspira-se o tempo. O calor do aquecimento aquece-lhe as memó rias naquela modorra, entre os lençóis coloridos, Isa semicerra
os olhos negros e as imagens continuam a povoar-lhe a mente.
Os cabelos já se vestiram de cinzento, a pele morena é agora pálida
do frio, do tempo, da doença. As mãos fortes e doces poisam na
barra do lençol. Ainda há dias tremia na incógnita da cirurgia e
hoje, está ali, tranquila na sua doença, mas pronta para agarrar a
vida, como sempre. Na mente livre afluem-lhe imagens dos dias.
Preocupa-a sobretudo a vida dos filhos e dos netos. A felicidade
de Isa chegou anos depois, muitos anos depois. Não é a que espe rou, mas foi a que recebeu. </span></div></div></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Tinham casado tão cedo, dois garotos ainda, mas a ânsia de
viver no afogadilho dos acontecimentos, fizera o casamento. Noi vara com o riso, o corpo, e a alegria da vida. Para trás ficara o altar
da convenção. Ainda hoje não percebe bem como tudo foi tão fácil.
Não houve drama. Os tempos de instabilidade ajudaram. O tempo
dourado acabara. Vivia-se, sobrevivendo, na voragem dos aconteci-
| mentos, no medo do desconhecido, na corrida para a fuga. Ainda se
vivia. De pequenos relâmpagos aqui e ali, mas na verdade, o tempo
acabara. Sem o saberem, ela e Luís tinham aberto as portas do outro
lado, do tempo a seguir. No tempo a seguir tudo tinha pressa. Pressa
de esquecer, de viver, de fugir. A Faculdade ficara para trás, o que
importava isso, nesse tempo de vida. Os anos eram longos, verdes e
cheios de promessas, eram os anos que viriam com espaço para tanta
coisa ser feita depois não precisavam de atavios. Eles eram os mais
belos acessórios de vida. E tanta coisa poderia e seria feita. Depois os
dois filhos tinham nascido com o ritmo do desejo jovem. O caracol
da vida começou aí a desenhar a sua espiral.
Lembra-se como se fosse hoje, o espanto da mãe quando assim
sem rodeios lhe disse que se queria casar. A criatura quase que reben tou. Recorda o mau estar e a pergunta sacramental: Estás grávida?
“O móbil para semelhante ideia. O pai ao saber, ficou vermelho
como se um ataque de apoplexia viesse a caminho, depois voltou-se
para a mãe e disse sentencioso.” Que bela educação deste às tuas
filhas, não há dúvida!” Claro que a mãe recalcitrou, gritou, disse-
-lhe o que lhe competia, e ainda o que não devia. Claro que foram
três dias chatos, pesados e só levemente vividos porque a irmã mais
velha lhe deu apoio, todavia sem ser muito óbvio, porque como Isa
recorda, Clara, a irmã teria sempre culpa de alguma coisa, desde que
não preenchesse os quesitos na mente ou no imaginário materno.
O irmão, um garoto de treze anos, mas mesmo garoto, com um feitio
esquisito, pois que não passava cartão à família que não à mãe, não
se manifestou, nem sim, nem não. Saber o que ele pensava, nunca a
preocupou, mas neste momento preciso, verifica que nunca soube,
nunca precisou o que Vasco pensava ou queria. Engraçado, sempre
esteve ausente com a sua presença calada. A semana acalmou, os
pais acabaram por receber os futuros compadres, que eram do seu
|círculo de amigos, o que de certa forma facilitou as coisas, e entre
dentes, lá aquiesceram. Contrafeitos, mas a grande derrocada avizi nhava-se a passos largos. Não havia nem houve muito tempo para
grandes ponderações. E casaram-se. Dois garotos!
E a derrocada veio. Um corre-corre de medos, de malas, de
tempo sem amanhã. Uma confusão na qual os mais velhos decidi ram. O importante era salvaguardar a família. O tempo fugia, os
imponderáveis nasciam. Assim casada de fresco, sem saber realmente
o significado de casar, para além de uma cama comum e sexo sem
culpas, Isa viu-se de mão dada com o marido e as malas. A memória
esbate-se nas recordações de então. São ténues, tudo passou a cor rer. O tempo de respirar foi entrecortado pelo momento seguinte.
Apenas salta veemente a lembrança das mãos fortes de Luís. Aquele
entrelaçar deu-lhe a confiança que a neblina da ocasião a impedia de
pensar.
A Madeira tinha sido o primeiro sossego depois da partida.
Para trás, as vidas, de outro tempo. A família de Luís era madeirense,
nada mais natural, pois, do que o seguir. Acomodou-se perfeita mente ao ambiente e aos novos familiares, até porque tudo se vestia
de novidade e aos dezassete anos ainda era uma criança de corpo
esguio e formas de mulher, mas em tempo de crescer. A família era
diferente da sua, na expressão dos afetos. Beijavam-se e abraçavam-
-se. Não havia contenção de emoções. Como se a insularidade os
obrigasse a ser envolventes, a partilharem a vida no bom e no mau,
eram afetuosos no seu estar, naturalmente, demonstravam-no sem
pudores, maravilhou-se. Na sua casa os gestos de afeto eram desco nhecidos. O beijo matinal, o de boas noites ou de cumprimento fora
apenas o contacto físico que conhecera entre os pais e os irmãos.
Clara era, ainda assim, quem, de vez em quando, lhe apertava as
mãos colocando-as entre as suas, lhe dava umas palmadinhas no ombro ou lhe fazia um carinho breve na face tal como à irmã mais
nova, Maria Ana, bebé por então. Espantou-se, admirou-se, e lenta mente começou a retribuir, libertando o gesto, o sorriso e até o estar.
Soltou-se. Tornou-se ainda mais risonha, mais carinhosa, mais viva,
se possível fosse. Aquele embevecimento de afetos fê-la adormecer
por muito tempo. Ali entre a neblina macia com cheiro a sal e o
verde tinha sossegado uns tempos. Deu para os dois filhos nasce rem. Assim seguidos. Tudo se fazia num correr como se quisessem
apanhar o tempo que se escoara. O seu embevecimento de afetos,
a alegria espargida nos gestos, foi-se recolhendo na medida exata
em que as dificuldades se foram alimentando do tempo. Os cur sos iniciados antes e após, tinham ficado em permeio como tantas
outras coisas. Os filhos eram agora a prioridade. O futuro. Pensava-
-se, então, assim. E tinham emigrado. Para o Canadá. O cunhado já
andava pelas terras do bacalhau. Ela, Luís e os garotos partiram com
a alma cheia de futuro e o coração dorido de passado. Os primeiros
tempos. Os primeiros tempos. Como os lembra. Não tinham sido
nada do que sonhara. Fora tudo frio. Frio como a terra que os aco lhera. Aquela alegria quente da alma fora arrefecendo. Dera lugar ao
sorriso frio, às muitas palavras vazias porque os silêncios tinham-se
instalado na mente. Silêncio de vida, silêncio de gestos, silêncio de
afetos, silêncio de ser. O tempo tornara-a num autómato. Uma mão
aqui, outra ali. Um corre, corre, uma sobrevivência, um rosto que
procura o amanhã no presente cinzento e o tempo correr. Dias e dias
de esforço físico, mental. Dias de luta pelo pão, pela sobrevivência
entre outros. Luta dura, luta de quem quer viver o depois. Alvoradas
escuras onde o calor da cama se pegava ao corpo deixando a mente
numa zonzeira. Em cada manhã os gestos eram mecânicos e sem
expressão, pois o sono rondava. Autómatos. E bem cedinho como
todos os povos saxónicos gostam, lá estava ela, o marido e os garotos a fecharem a porta ainda sob a luz dos candeeiros. Regressavam à
tardinha mudos e estoirados sem vontade de falar, sem vontade para
muito mais que não fosse ter forças para o dia seguinte. Os garotos
aprenderam a ser independentes pelo lado menos bom. Mas cres ceram despegados de grandes objetivos. Mas quem os tem quando
desde bem cedo se vive numa espécie de linha de montagem? Pouco
se fala do vazio que os filhos dos emigrantes sentem enquanto
crescem. Os sonhos são fabricados muitos anos depois quando se
tomam adultos, e de tantas vezes pensados tomam-se por quase ver dades que jamais foram vividas. Relembra vagamente as promessas
que ela e Luís tinham feito. Tudo se fora. Depois os anos trouxeram
o conforto do dinheiro. A sua vida tornou-se estável, no entanto
nunca recuperou o tempo perdido dos afetos, dos seus afetos.
O filho mais velho sempre fora instável. Dentro de si carregava
a raiva. Logo que algo não lhe corria bem, ou que as regras eram
demasiado fortes, Nuno explodia em acessos tremendos. Os dispa rates na escola sucediam-se, as notas eram baixas, mesmo baixas.
Em casa Luís batia-lhe. Chegou a ter a polícia à porta. Teve medo.
Muito medo. Pelo filho, pelo pai, pela vida, por ela. Os anos foram
limando o caráter do mais velho enquanto o mais novo começava
na mesma senda. E Luís afastou-se. Mergulhou na sua carreira,
enfronhou-se. Ganhava bem, as férias eram boas, a vida corria.
Ela começou a sentir o vazio, um frio que lhe comia as entranhas.
De início o tempo era partilhado com os tachos e as receitas antigas,
mais as novas que batia nas tigelas da cozinha. Depois veio o abor recimento. As mãos ressentiram-se e os quilos aconchegaram-se-lhe
na carne. Desistiu. Os arranjos florais prenderam-lhe a atenção. Esse
jeitinho fê-la andar entusiasmada durante quase dois anos. Leu
muito, assistiu a workshops, tirou pequenos cursos mas… desistiu.
Em seguida retomou a velha paixão na qual já tinha alguma prática,
| O
guia turística na sua própria agência de viagens. O negócio esmore ceu como morre quem não nasce com muita saúde. Viu-se de novo
em casa, com um Nuno cada vez mais problemático. Chamada cons tantemente à escola devido ao comportamento insurreto, Isa teve
que parar com todas as suas atividades incipientes e consequentes
e dedicar-se de corpo e alma ao mais velho. Ainda recorda o dia em
que recebera um telefonema a meio da manhã do diretor para ir
urgentemente à escola. Vestiu-se apressada, temendo o pior. Rapida mente tirou o carro da garagem e excedendo um pouco a velocidade
que a neve aconselhava, lá se apresentou no gabinete de Mr. Immi lish, um canadiano de origem indiana. Ele foi breve e peremptório:
— O Nuno não só, terá que pedir desculpa ao colega e aos pais
publicamente, a senhora terá que pagar os estragos, e se até ao fim
deste trimestre, o Nuno não melhorar o seu comportamento e o seu
nível de aprendizagem empenhando-se, o conselho da escola expul sá-lo-á. Será a última oportunidade que lhe damos, atendendo às
vossas condições de emigrantes, nós almejamos que a futura gera ção possua o espírito canadiano. Todos que aqui nascem ou chegam
desde muito pequenos merecem o nosso esforço. Fazemos isto pelo
futuro, aproveite, aproveite Mrs. Silveira.
Regressara a casa dividida entre a vontade de lhe dar uma boa
tareia, de contar a Luís ou conversar calmamente com Nuno. Sentou-
-se na cozinha, bebeu um bom chá quente, estava a precisar e chorou.
Chorou não só pelo acontecido, mas por tudo, pela infelicidade que
sentia, pelo esboroar da sua vida, por ser mãe, por não ter desempe nhado o seu papel bem, julgava. Foi aí que pela primeira vez teve a
noção exata que cometera um tremendo erro ao casar-se tão jovem,
ao mergulhar numa vida para a qual não estava preparada, ao pensar
que o amor da juventude é duradouro, ao enganar-se a si mesma
durante tantos anos. Os filhos, o filho com os seus problemas não
|era senão o badalo da campainha da sua vida cujo som desconhe cera algures por entre o tempo e a corrida. Aquele som magoava-a.
Naquele entardecer, num céu de noite, teve talvez a conversa mais
dolorosa da sua vida. Teve-a com um adolescente de treze anos, que
rebentava de raiva e desamor por cada hormona do seu corpo, cuja
alma se trancara para lá da porta da ternura. Sentiu-se tão culpada.
No dia-a-dia nada previa que Nuno arrebatasse tais feridas. Naquele
entardecer, Isa, desempenhou, talvez, o seu maior e o principal papel
de mãe, amar Nuno. Soube fazê-lo. O rapaz olhou-a, avermelhou-se,
gritou, caiu em si, chorou, chorou convulsivamente e agarrou-se a
ela, dizendo entre ranho e lágrimas:
— Desculpa-me Mammy, desculpa-me, mas, mas, eu, eu, não
sei o que me passa pela cabeça, eu rebento de raiva, de vingança, de
nada.… Achei que não gostavam de mim, que cá em casa ninguém
gostava de ninguém, depois na escola sou sempre o de fora, o estra nho. Eles desprezam-me. Porque sou diferente, porque não sou des maiado nem cabeça de milho. Odeio este país, odeio-os!” </span></div></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">… … … … … … … … …</span></div></div></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div></div></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"> — Nuno, Nuno. Tem calma, filho. Respondem-te à tua forma
de agir. Tens que te tornar o melhor, deves isso a ti próprio, aos teus
pais e aos outros antes de ti, que são a nossa gente. Não estou a
ser meiga como tu desejarias. Não posso, porque não é tempo para
esquecermos o essencial. Tens que mudar, tens que lutar por ti, tens
que gostar de ti. Nós amamos-te. É verdade que não sabes quanto,
porque não temos tempo para to demonstrar, e se calhar, também
não temos forma ou jeito. Uma culpa nossa. A vida tem sido dura.
O carinho ficou nas Ilhas. Está errado. Mas prometo-te que hei-de
recuperar esse jeito perdido. A verdade, Nuno, é que todos estamos
|um pouco perdidos, não sabemos se de nós próprios, se da vida. A
miragem que um dia tivemos, teu pai e eu, de um futuro para vós,
de tanta coisa. Afinal, temos vindo a perder o pouco que tínhamos,
a paz e a harmonia na nossa família. Talvez um dia o consigamos
recuperar, mas por este caminho, não me parece. A verdade, meu
querido, é que toda, a família também está perdida. Não és só tu.
Mas temos, vamos recuperar o amor, temos que o conseguir, mas
antes de tudo eu vou mostrar-te como te amo, acompanhando-te
mais a ti e ao Tiago. Vamos recomeçar, meu filho. Promete-me que
episódios destes vão acabar... vai ser difícil, mas és capaz. És forte e
eu amo-te muito, muito mesmo. As pessoas novas ou velhas só res peitam quem é superior, e mesmo assim, sabe Deus, por isso Nuno,
tens que mudar, tens que começar a gostar mais de ti, sobretudo
a dar crédito às tuas capacidades porque és um rapaz inteligente.
O que tens feito até agora tem-te diminuído, tu tens-te diminuído
perante aqueles que acusas de te rejeitarem. Paciente e dolorosa mente, Isa, apertou-o entre os braços bem perto dos seios que um
dia, já tão atrás, o tinham alimentado com tanto amor e, carinho samente olhou-o de frente invadindo aqueles olhos cinzentos cujas
pestanas se arramelavam nas lágrimas, assim despiu-lhe o sentir,
vestindo-lhe o interior da ternura, de amor de mãe.
— Oh mammy, tu ainda gostas de mim? Mas e o Daddy, não
nos liga, não te liga, pois não?
— Nada disso, Nuno, todos gostamos uns dos outros, apenas
não sabemos demonstrá-lo, porque também não nos ensinaram. És
o nosso filho, o Tiago é nosso filho. Ambos sois o melhor pedaço de
mim e do vosso pai Nós amamos-te muito e ao teu irmão, é verdade
meu filho. Deita fora essa infelicidade, apoia-te em mim sempre que
algo não correr bem, porque eu também vou aprender a mostrar-te
o meu amor, meu querido. Nuno e Tiago, eram os seus rapazes, meigos, truculentos, enva sados em turfa. Eram a terra negra, fecunda e imensa de um povo
sentido. Ali estavam perdidos entre canteiros perfeitos de vontades
e disciplina. Eles eram a liberdade de ser, em contraponto à ordem
calculada e vigente. Dois vulcões adormecidos à espera do dia.
Do bem ou do mal. Da vida, em suma. Cresceram. Tornaram-se
homens. Razoáveis, bom, melhor do que isso. Boas pessoas. Carre gam em si os elos do afeto já semiabertos, pois que o pudor embru lhado de gerações, abriu-se. Os afetos não deveriam ser são tão ocul tos quanto o respirar, pelo contrário, deveriam possuir a visibilidade
do rir e do chorar, dado que não foram castrados. Nasceu ou recriou-
-se, então, a primeira geração que não caiu no erro do desamor. Hoje
Nuno já é pai. Duas cerejas doces do seu ramo já dobrado. Tiago e
a mulher tiveram outros filhos, as carreiras, que criam desvelada mente. Isa suspira, os seus filhos caminham no futuro. O tempo de
crescer, o seu de recordar para viver.
África fora a meninice, a adolescência, hoje e ainda ontem a
emigração foi a solução. As teias da vida. Primeiro a Madeira, a famí lia de Luís tornara-se a dela. Lá e cá. A sua, só muitos anos depois,
a voltou a aceitar, porque aquele casamento fora em tudo contrá rio aos ditames que a mãe e o pai ambicionaram. Era verdade, não
tinha senão dezassete anos; era verdade que Luís tinha quase vinte,
tudo isso era verdade, mas como explica urgência de estabilidade,
de sonho, quando tudo à nossa volta, o caos se reflete e as hormo nas falam mais alto. Foi no espaço de um mês a aliança amarela e
redonda brilhava-lhes no anelar. Se fizera bem, claro que não. Pas sados tantos anos apercebera-se que perdera muito mais do que
ganhara, apercebera-se que a sua vida ficara suspensa para se partir,
depois. O destino, que também lhe pertence, foi traçado por ambos,
inexoravelmente. Em Março de setenta e cinco casaram-se. Trinta e cinco anos. São muitos anos. Nuno, o mais velho já vai nos trinta e
quatro e o Tiago nos trinta e dois Ela nos quase cinquenta e seis e
Luís nos cinquenta e nove. Meia-idade.
Luísa, Isa para todos, sempre foi diferente da sua irmã Clara.
Uma criatura nada complicada, extrovertida, muito faladora, uma
excelente contadora de histórias, de rosto sempre sorridente mesmo
que o mundo desabasse aos pés. A sua voz detém o carrilhão do
riso. As frases são terminadas com uma breve risada, mesmo que,
da boca tenha saído a mais grave acusação, o que é raro, porque
Isa tem sempre uma desculpa para os outros e para si. Não é uma
mulher feliz mas é uma feliz mulher. A felicidade que detém, não a
que almejou, veio-lhe em pequenas coisas, triviais, maternais e mate riais. Os sonhos da juventude, o sentir, desmaiaram, adormeceram
como o resto do seu corpo. De segunda filha quiçá protegida, quiçá
amada, quiçá mimada fez-se uma mulher não amarga, porque a sua
natureza a isso é contrária, mas uma Isa acomodada, mais prosaica
do que fora, mais dorida e sobretudo muito solitária. As suas recor dações são a sua história, como partiu e como chegou. Não existe
transcendência no seu olhar nem muita crítica, somente o desenro lar dos factos, o caminhar das vidas, e aquela dolência tão africana
de outros tempos de meninice acompanhou-a sempre. Isa é a mais
internacional dos irmãos, não pelos países que conheceu, mas sim
pela sua própria maneira de ser. Espírito africano, compleição euro peia, gostos de lusitanos e modus vivendi americano. Isa é descom plicada por natureza. Nada a altera, nem sequer a grave doença do
marido há mais de três anos nem a sua, agora. Tudo na sua cabeça
se solucionará. Acredita na sorte, acredita que alguém velará por ela,
acredita sempre que o bom virá mais do que o mau. Não é pessoa
de grandes confabulações. Ela e o marido no cimo, na base, em cada
ponta, um dos dois filhos, as noras e netos. Entre a base e a altura do seu triângulo desenrolam-se os dias, uns melhores, outros piores,
outros assim-assim, mas sempre dias e anos que têm esculpido a sua
passagem. A vida, não é mais que um percurso e, como tal deve ser
percorrido sejam quais forem as estações, seja qual for o transporte.
As inquietações metafísicas pouco ou nada lhe dizem. Depois a sua
vida, assim que teve, respaldo material, limitou-se ao prosaico papel
de mãe e dona de casa. Fez uma rápida incursão pela faculdade
quando pensou em dedicar-se à escrita a fim de adquirir a técnica,
porém outros afazeres mais importantes como o nascimento do seu
segundo neto, neste caso, uma neta e o cuidar do primeiro, relega ram as suas intenções e desejos para um outro plano que um dia
há-de ser. Não se sentiu roubada, muito pelo contrário, achou esta
nova tarefa como algo pleno de sentido.
Está deitada. O edredão aquece-lhe o corpo. Não fez ainda um
mês e já está quase boa. Um carcinoma na tiróide. Está ciente da
doença. Deita as mãos para fora. Puxa os dedos como se puxasse os
sonhos também. Sacode a cabeça e os cabelos cinzentos agitam-se.
Vai ser Natal. Vai ser Natal. Isa pensa que vai ser um grande Natal.
Tem tantos planos. Tantos. Olha o relógio na mesa-de-cabeceira e
suspira de novo. Duas da tarde. Só daqui a três horas é que a casa
começará a viver. Primeiro Hugo, depois Tiago, o filho, e a nora que
agora quase vivem por cá, e sobretudo os netos, Joshua e Emma, sete
e quase dois anos, os laços da sua vida.
Naquele hiato entre as memórias passadas, o presente magoado
e o futuro incerto, Isa engole uma lágrima rebelde da alma. Um sor riso macio abre-lhe os lábios enquanto os olhos molhados, não de
esperanças, pestanejam lentos. O tempo e a vida tinham-lhe pregado
uma tremenda partida. Questiona-se amiúde, sempre que sozinha
debita as suas inseguranças: “Será que vou conseguir, será que vou ser
vencida?” Vencer, é uma vontade, mas para além de tudo o incerto, o
| amanhã…. Sacode o corpo dorido e fraco. Compõe-no num trejeito
de mulher madura. Suave desliza os dedos pela pele. Com a outra
mão puxa o edredão e lesta nas suas possibilidades, salta da cama.
Vai para a casa de banho. Mesmo na doença é tempo de recuperar o
seu papel. Os cinquenta e seis anos ainda são magníficos na sua tez
morena e olhos negros. Alta, esbelta na sua compleição de mulher
madura. O sorriso é a sua grande jóia. O gargalhar em surdina um
atrativo. O encantamento pela vida toma-a, ativa, ligeira e dona de si.
Uma verdade que não sabe explicar, o seu encantamento pela vida.
Tantas e tantas vezes, quando algo corria mal, desde as discussões
com Luís à instabilidade dos filhos, a doença de Luís, o volte face
das suas vidas e agora mais esta, no entanto, o seu sorriso, aquela
sedução no rosto que a envolve. Ainda hoje, agora, ao olhar-se ao
espelho da casa de banho, vê a nudez da sua alma, porém o fascínio
na incerteza do futuro, permanece.</span></div></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"> É a sua natureza. Um mistério.
A culpa não lhe bateu à porta.
— Isa, I'm home!
— I'm coming Luis, I'm coming, dea</span>r!</div></div></blockquote></blockquote></blockquote><div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-90497643861694004292023-07-02T21:18:00.001+01:002023-07-02T21:18:39.382+01:00<p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #545454; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 8.5pt;">—</span> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 36.0pt;">A</span></b> culpa foi do meu pai! A culpa foi dele!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Henrique detém-se, por breves instantes, diante da filha
mais velha. Está amarrotado no olhar e no gesto nervoso, transpira o segredo do
passado. Logo, retoma o seu vai e vem inquieto na carpete vermelha. Senta-se à
sua mesa de vidro e num sinal de desalento, quiçá arrependimento, coloca as
mãos entre a cabeça debruçando-se mais sobre si mesmo, abana a cabeça, enquanto
com o polegar a coça no lado direito. Um gesto que lhe ficou do tempo em que a
brilhantina lhe empapava os cabelos. Assim fica durante uns minutos. Depois
ergue os olhos já mortiços. Os anos não perdoam. A vida há já muito que corre
por ali.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Mais um dia de desencontro. Mais um, entre todos os outros,
dos seus dias. Henrique vive duas vidas. A de casa e a das fantasias. A sua
instabilidade afetiva, o seu saltitar emocional, o seu desejo por algo
inatingível sempre o perseguiu. Vê -se transido de medo por detrás da saia da
mãe, enquanto o pai, podre de bêbado, gritava que nem um possesso. Vê-se trémulo
esfregando o pé no outro, sentado no banco de madeira à espera do prato da sopa
na mesa quase vazia. O pai reformado, jogador, bêbado e outras coisas mais,
olhava pela família. Lembra a figura doce e sofredora da mãe, abrindo os braços
para o acolher como se a paz estivesse ali, naquele abraço. Revê os olhos
negros na face cheia podres de amargura, a boca quase sempre fechada entreabrindo-se
num esgar sorriso de conforto. Lembra-se de um lar desfeito nas mãos de um
homem que fora seu pai. O riso feito lágrimas, os gritos feitos palavras, o
choro feito dor, a fome feita alimento. Cresceu assim. Tornou-se belicoso,
doce, triste, alegre, pecaminoso, amigo, pai, marido e homem. A raiva engoliu-a
em digestão difícil. Levedou para sempre e, ao mínimo aquecimento, rebenta num
chorrilho de impropérios sentidos no momento. É incontrolável, é a fúria, é a
pena de si. Sente profundamente o que pensa, e numa rapidez única verbaliza
essa corrente num esgar provocatório de fúria que não controla. Depois
esvai-se, esquece-se, apaga-se, mas jamais pronuncia a desculpa. É a força que
lhe estrangula a garganta, o orgulho de si que o impede, é a sua revolta que o
perturba mais e mais. E o tempo passa sobre cada ira, o tempo das horas, dos
dias, dos meses e dos anos. Tempo. Reconheceu sempre os erros, mas não deu
nunca o braço a torcer. Outro, dos seus muitos predicados, era dizer o que sentia
diretamente olhos nos olhos às pessoas. Não gostavam, e nas suas costas
comentavam, com aquele ar revestido do tom depreciativo: “Quem julga que é? Um
pé rapado, um pobretanas, sem eira nem beira que se arvora em grande personagem”!
Que tipo irascível!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Porém, no dia-a-dia sentavam-se à mesma mesa de café,
sorriam em semidecúbito e afagavam-lhe as costas com as palmadinhas melífluas
que a sociedade procriou. A sua vida fora feita de nós que ele próprio causara.
Não era mau tipo, só tinha um feitio lixado, como diziam os amigos e a mulher e
os filhos, bem quase todos. Havia a mais velha que o aceitava. Não o temia,
acatava as suas iras, julgando-o silenciosamente. Agora, mulher madura
conversava com ele dizendo-lhe claramente que não estava correto, que não era
assim que se fazia. Não partilhava o desassossego que o resto da família
sentia. Não, porque o percebia. Ele apercebia-o. Não que a amasse de modo
diferente, apenas e somente a respeitava, talvez, um pouco mais. Naquele serão,
uma vez mais, ela retorquiu-lhe, após a explosão de culpa solta.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">-Os mortos não são culpados. Os vivos é que fazem os disparates,
não é justo, culpar quem já cá não está, pai!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Olhou-a de olhos vazios e recolheu-se de novo falando para
si. Ela, a filha deixou passar o tempo, deixou-o sossegar. O ar pesado
diluiu-se, passado um tempo a conversa retomou o seu curso de sempre. Não era
um homem fácil, mas era encantador. Um sedutor enviesado. Conversador nato, com
uma fluência de palavra própria de quem gosta e sabe cativar assenhorando-se do
tempo. A sua voz não era metálica, nem troante, porém, o seu tom era claro e
alto. Sempre houve quem não gostasse do tom de voz, e pensando ser uma forma de
subjugação. Puro disparate. Gostava, sobretudo, de ser ouvido mesmo quando o
assunto era fastidioso. Nesses momentos, era preciso olhar sorrindo, e mesmo
ausente, ir respondendo por monossílabos. Noutras alturas era bom ouvi-lo dissertar
sobre coisas passadas e aprender. A ironia rendilhada era percetível para os
atentos, esquiva para quem não o entendia. Não podia ser definido por um homem
colérico porque a par das suas raivas, das suas tempestades, das suas verdades
doridas em tempo de cólera, havia depois um quebranto, que o levava a ser uma
espécie de menino arrependido, mas teimoso. Era, então, que se revoltava contra
o pai.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Naquele serão, como em tantos outros ao longo dos seus setenta
e cinco anos de vida e cinquenta de casado houvera mais um desaguisado entre
ele e a mulher. Pontos de vista, palavras ditas aqui e ali, conceções
diferentes e acima de tudo traições, pequenas ou grandes que ela nunca lhe
perdoara, embora continuassem a viver lado a lado, a pôr-lhe a roupa, a cozinhar-lhe
os almoços e os jantares, a gerir-lhe o dinheiro, em suma, a pontificar o seu
quotidiano o que para ele, aliás, até era um alívio, uma vez que o trivial
sempre o aborrecera. As chamadas minudências do lar eram-lhe fastidiosas como
era fastidioso, quase desesperante ter que fazer o seu trabalho repetitivo,
desprovido de criação, sem palavras, feita de números que nada lhe diziam,
porque para além de serem números, que nem sequer seus eram. Bah, o que lhe
interessava a ele, se o estabelecimento A, B, ou C tinha lucro, se o comércio
ia de vento em popa, ou se pelo contrário, estavam com as vendas fracas. Somente
no primeiro caso ser-lhe-ia mais difícil esconder os lucros para que o cliente
pagasse menos impostos. Tudo isso estava intrinsecamente ligado à sua
profissão. Sonegar e enganar. Com a ironia própria da sua maneira de ser,
muitas vezes pensava que ao fazê-lo profissionalmente era uma atitude aceite e
quase sacrossanta por parte da sua Suzette, que achava que assim ele era um bom
profissional na medida exata em que receberia mais umas “recompensas”,
traduzidas, claro está, num chequezito que, iria providenciar mais algum
conforto ou até descanso. Porém, quando na sua vida de homem escondia,
enganava, ao ser descoberto era arrasado, jamais perdoado apenas desculpado
momentaneamente. Logo a seguir, os epítetos apareciam, sobretudo em ocasiões
como a daquele serão. O pomo de discórdia fora banal como sempre. A família de
Suzette. O muito que tinham granjeado com suor e lágrimas, a vida simples e
desprovida de laivos de vaidade, a seriedade nata dos irmãos que os levavam a
ter uma só mulher e a viver dependente dela e dos filhos numa harmonia frugal e
quimérica. Enfim um corolário que ouvia, sabe-se lá há quantos anos, talvez
desde que tivera aquele malfadado caso com a empregada, em que pusera quase
tudo a perder. Depois disso, fora um eterno calvário de críticas e quase
desprezo. Sabia muito bem, sabia, que a sua Suzette tinha alturas que o aturava
não porque o amasse, antes porque era a sua subsistência, porque era o seu hábito,
e principalmente porque lhe era penoso, a ela, ter que mudar. Não pelos filhos,
que esses estavam criados e mais que criados, mas por ela. Apesar da sua quase
auto convicção de liberdade pessoal era uma mulher muito dependente. Nunca
saberia ser autossuficiente. Não possuía estrutura para tal. Não tinha
interesses pessoais para além da vida de casa, da dos filhos, e acima de tudo,
da deles. Naquele serão como em tantos outros, o desprezo chicoteou-lhe o
coração. E, como tantos anos antes, tantos que se perdiam na bruma, reagiu. Não
se encolheu nas saias da mãe nem no canto vazio da casa, não, ripostou de forma
desabrida, de palavras tortas e tom altaneiro. Jogou à defesa para encobrir as
suas misérias humanas, os seus erros, as suas paixões perdidas, o seu amor por
ser. Especificamente para se proteger. Quem diria que ele, Henrique Gonçalves
conhecido pelas explosões verbais, pela crítica demolidora do socialmente correto,
ele, que fazia lembrar o homem bomba do canhão do circo, não era senão uma alma
que jogara toda a vida à defesa. <span style="background: white; color: #545454; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 8.5pt;">—</span> A culpa… a culpa… <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">A culpa instalara-se na família. Culpa das palavras e dos
atos. Culpa das ideias e dos percursos ou não percursos. Culpa dos objetivos,
de ter ou não ter, culpa do aspeto físico, culpa da inteligência ou não inteligência.
Enfim, culpa de Ser.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 20.0pt;">II<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">Clara recolhe as memórias com o olhar num suspiro de ar vivido.
Como o tempo passou, medita. Está sentada no alpendre da sua varanda. O jardim
em redor dormita na quentura da tarde. O Verão respira ali, ao lado, no bafo do
seu alento. Poisa o olhar dentro do tempo e sorri de olhos húmidos. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #545454; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 8.5pt;">—</span> Como o tempo passou! Aqui mesmo ao
lado correu apressado, como correu apressado, nem deu tempo para saborear a
vida. Como correu depressa, ontem ainda queria o amanhã, ontem, ainda era hoje.
Assim, num ápice, voaram os anos. Remexe-se na cadeira. Levanta-se. Um passo,
dois. Desce os degraus da varanda e estende as pernas pelo jardim, puxando uma
erva aqui, revolvendo uma pedrita ali, arredondando uma folha acolá, uma forma
como outra qualquer de afastar os pensamentos. Junto da sebe das hidrângeas
inclina-se, colhe duas para a jarra do hall, pensa. Dá volta ao jardim da casa
mastigando o verde das sebes, mais o das árvores. As rosas, parcas este ano,
dão o tom macio ao verde do jardim. Suspira quando se senta de novo no banco. A
sua casa. O porto dos seus sonhos e das suas angústias. Tanta vida entre as
paredes brancas de uma casa. Em cada espaço existe um pouco de si e da sua
vida. Entra. A cozinha fervilha no sossego dos cheiros. Inspira. A serenidade
entra-lhe pelas narinas abertas. Tudo descansa naquela hora. Transpõe a tijoleira
vermelha, e logo o estalar seco da madeira palpita sob seus pés. Já está na
saleta. Atira-se no sofá verde, estende as pernas e semicerra os olhos. A
sonolência apossa-se dela. O calor dolente e o peso das memórias fazem-na ficar
assim quebrada. Puxa a almofada de ramagens verdes e pretas e estende-se. Cruza
os braços sobre o peito e abandona-se ao sono de imagens vividas. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">………………<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Naquela tarde enquanto dava a segunda aula sentiu-se oprimida.
Olhou para fora, pela janela mesmo quase ao lado da secretária, as serras
respiravam a tormenta. Estavam escuras e poderosas. O céu pintara-se de
cinzento pesado e mal se mexia, agrilhoado. Clara entreabriu a janela, porém o
ar não limpou o seu sentir. A borrasca pressentia-se. Iria estalar a qualquer
momento. O suor pespontava-lhe a testa. Sentia no corpo aquele tempo sem ar.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Caminhou pela ala entre as primeiras carteiras enquanto
debitava a matéria. Uma pergunta aqui e outra ali. E o ritmo da aula girava.
Mas aquela opressão continuava. Despiu o casaquito de algodão. Resolveu fazer
uma pausa na explicação. Os cinco minutos de descanso que dava aos alunos
sempre que havia matéria nova. Conversa daqui, conversa dali e, ei-los relaxados.
Podia recomeçar. Recomeçou. Cansada olhou de soslaio para o pulso onde os
ponteiros pareciam colados. Não se mexiam. Alguma coisa ia acontecer.
Conhecia-se por demais para desprezar os sintomas. Aquela opressão causava-lhe
um certo atordoamento mental. Bom, o melhor era mesmo continuar a aula. Não
valia a pena antecipar-se. A ansiedade não lhe daria descanso. Continuou no seu
deambular explicativo, enquanto os alunos se entretinham entre o conteúdo que
escorregava por entre os ouvidos, noutros casos era bebido pelas mentes, e
noutros ainda era devolvido intacto ao ar pesado da sala.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">E o tempo decorreu. E a campainha tocou. O tropel habitual
aconteceu. Apanhou as suas coisas, atirou o olhar habitual à sala, fechou a
porta e caminhou. Na sala do primeiro andar, onde todos os colegas se reuniam,
pairava o calor abafado casado com o som das vozes. Os professores falam alto.
Muito. As vozes têm tendência a tornarem-se estrídulas. Clara sentia-se zonza,
cada vez mais. Agora era uma agonia vinda não do estômago, mas de algures, que
não sabia bem definir. Sentou-se.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #545454; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 8.5pt;">—</span> Clara, estás bem? <span style="background: white; color: #545454; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 8.5pt;">—</span> Ouviu muito longe, a voz.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Quis dizer algo, mas a língua estava presa, o rosto também.
Havia como que uma força a agarrá-la, roubando-lhe a luz do dia, embaciando-lhe
o cérebro.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Sentiu-se mole. Terrivelmente mole.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Estava num sítio diferente, estranho, quase diria,
esquisito. Estava separada. Ela aqui e a outra, ela também, mais além. Duas
pessoas e uma só. Conseguia sentir que a outra lhe pertencia, porém era
diferente. Cansou-se e fechou os olhos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">À medida que o tempo passava, a outra vinha-se aproximando.
Tão devagar que nem dava por isso. E o cansaço desvanecia-se. Parecia que o
torpor a ia deixando. Que o calor e a vibração começavam a tomá-la.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Abriu os olhos três dias depois. Disseram-lhe que tinha
estado mais para lá do que para cá. Qual quê! Simplesmente adormecera e deixara
que o seu corpo flutuasse. Tão simplesmente. Estava debilitada, sentia-o, contudo
o seu cérebro funcionava. Foi retomando a posse dos seus sentidos. Sentia-se quase
normal. A vista não. Qualquer coisa não batia certo. Mas não se ia preocupar
agora que tinha acordado, e via o mundo à sua volta com outras formas.
Esquisito. Mas as pessoas pareciam-lhe diferentes mais pequenas e sumidas.
Aquele ar de conquista, aquele brilho de vontade, o frenesim do ser ouvido,
tinha-se evaporado. Afinal eram comuns. Tal como ela.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Clara suspirou por entre os lençóis de barra verde. Com a
ponta dos dedos puxou-os para si. Tapou a boca. Os olhos orlados de macerado
sobressaiam no rosto amarelado de doença, contudo a vida continuava a
espreitar.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Recuperou-se. O AVC deixara-lhe lapsos. Lapso de memória, de
espaço e até de paciência. Os lapsos de Clara. Lapso que, sub-repticiamente,
aprendera a disfarçar com arte e estilo. Uma sobrevivente. Diziam-lhe, uma
mulher com sorte! <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Talvez sim, talvez não. Já depois, muito depois quando
pensava no caso, Clara murmurava para si. “Talvez sim, talvez não”. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O mundo mudara. Ou fora antes ela que mudara? Os pequenos
muitos nadas que tanta importância dava nos dias antes, agora ao remirá-los,
causavam-lhe bocejos. Como as ninharias deixam de ter peso quando a vida esteve
em jogo. Um lugar-comum, aliás um pensamento banal, mas não somos nós todos
banais? Encolheu os ombros, era algo intrinsecamente seu, pertencia-lhe. Não,
não era displicência, nem tão pouco um deixa andar, somente o seu trejeito, que
dizia: “Já lá vai, mas voltará.” A inevitabilidade que sempre a coabitara. E
fora com um encolher de ombros que também se relançara na luta de cada dia. Lá
no seu íntimo, sabia que levaria a melhor, e assim de um mansinho exterior, mas
com a força interior, atirou-se e conseguiu. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Clara venceu a batalha, agora a guerra? Isso, não sabia, mas
o que importava, e depois quem o sabia? Certamente outras batalhas cairiam por
perto ou mesmo em cima, a sua vida era feita de lutas. Na tela da sua vida os
tons sempre se tinham misturado entre os muito fortes e os pastéis, deixando
pequenas réstias de azul sonho.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">E os pensamentos, quais gotículas de cacimbo, deslizam pelo
vestíbulo da noite. Não se sente velha como o reflexo teima em apregoar. Aliás,
a sua cabeça é um baloiço de agilidade onde o pensamento se entrecruza com a
maturidade do raciocínio. Gosta dos seus cinquentas e sete anos e do amanhã de
todos os dias.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Uma mulher sem história ou uma história de mulher? Abana
ligeiramente o pescoço afastando as divagações que a visitam em cada segundo.
Não quer divagar, apenas pensar. Tem que delinear objetivamente o seu trajeto. As
horas deslizam velozmente. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">……………………<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Eram quase oito da noite quando o filho nasceu. Sentiu
alívio. Moveu a cabeça para o lado e viu-o no berço. Viu-o de olhos oblíquos e
papudos, cabelos quase alaranjados, de punhos cerrados e tão pequenino. Destapou-o
e olhou-o como se visse tudo pela primeira vez. E era a primeira vez. Tocou
levemente nas perninhas, no corpo. Percorreu o polegar pela linha do rostinho
num toque infinito. Sentiu-lhe a macieza da carne e uma força que a fez parar.
Ora, impressão sua. Retomou o toque e parou nas mãozinhas que teimavam em
permanecer bem cerradas. Abriu-as e meticulosamente estendeu-lhe os dedinhos.
Perfeitos. As unhas arranhavam. E naquela intimidade sem sons, ele suspirou.
Era seu. Viera dela. A sua criação. Tapou-o. Pensou. Pensou na incerteza.
Pensou em tudo. Sentiu-se dorida, mas feliz. Levantou-se e sorriu. A vida
estava mesmo ali ao lado a desafiá-la. E ela aceitou o desafio.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Chamou-lhe Henrique, como o avô.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O tempo voou. Ele cresceu, ela amadureceu. Ele ficou homem, ela
mais velha. O tempo sem tranca que varre a vida.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">………………<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Recorda os tempos de juventude. Enormes, quentes e cheios de
promessas. Eram felizes na crença do amor, da ilusão, dos grandes cultos, dos
enormes altruísmos, do derrear os dogmas sociais, na construção dos ideais. A
sua geração fora assim. Ela fizera parte, tivera as suas lutazinhas, quebrara
alguns tabus geracionais, sabe-se lá, à custa de muita lágrima, zanga e tantos
outros dramazinhos familiares. A peça que fora cartaz no palco da sua geração chamava-se
“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Flower Power</i>” e o seu mote era <i style="mso-bidi-font-style: normal;">make love not war. </i>Vivia-se entre duas
grandes dicotomias, ontem como hoje, o campo e a cidade. A única diferença dos
dias de hoje é que a pobreza era mesmo ruim, aviltante, redutora da condição
humana. Pobreza material ao extremo nos mais desfavorecidos, na classe rural,
ladeada de um pseudo certo bem-estar, um relativo bem-estar e ainda um efetivo <span style="color: red;">bem-estar</span> ou mesmo bem-estar de uma classe média bem
instalada. Quem conhece a nossa realidade, sabe bem que a classe média bem
instalada foi sempre a que, de uma maneira ou outra, governou o país ou se foi
governando, de acordo com o degrau onde o pé era assente. A pobreza era
terrível, não só a do campo capeada também da pobreza de pensamento, a par da
vivida na cidade onde as pessoas pululavam na robótica do ganha-pão, onde a
miséria dos dias se fazia, muitas vezes, de fome vestida de uma aparência
arranjadinha e um olhar envergonhado. Lutava-se, não pelos ideais, antes sim
pela sobrevivência do corpo. O desejo maior era ver os filhos estudarem, terem
um ofício na mão, uma mais-valia de futuro, um casamento sólido sinónimo de porta-moedas
remediado. Somente para os mais audazes, os mais inteligentes havia o curso na
universidade, ser doutor ou engenheiro era uma ascensão social pratica corrente.
<span style="color: red;">No</span> mundo ativo Todo este quadro originava muitos
atavismos morais, uma tacanhez de conceitos baseados em padrões pseudomorais
que conduziam a um conforto hipócrita de moralidade. Cabia à mulher o papel de
sofredora, pese todas as diatribes, traições e outras quejanices que o marido
achasse por bem fazer. Ela, ela segundo a tradição judaico-cristã, era o pilar
do lar, o esteio moral da família. Claro, que este postulado passou durante
gerações de mães para filhas tal como passava a peça do bragal. Esquecia-se que
havia um ser humano debaixo de toda essa carga e que ele palpitava. Que ao
negar-lhe a sua verdadeira existência se construíam seres insatisfeitos,
incapazes de darem amor porque também o não recebiam. Alucinadas pelas leituras
cor-de-rosa, não tendo a capacidade para discernir entre o real e o imaginário,
desconhecendo muito da vida nua e crua no que respeitava aos verdadeiros
desejos humanos. Partiam para as relações, diga-se casamento, mais nuas que a
própria nudez. Sempre que o corpo falava mais do que o espírito, logo o
sentimento de culpa aflorava. Uma geração de mulheres mestras na arte do
disfarce. A culpabilidade e a insatisfação pariram brechas nas relações
humanas. Gerações perdidas de si. Ontem como hoje, a sociedade portuguesa
girava em torno dos seus extremos. E assim, do atavismo moral mergulhou-se no laxismo
experimental. Na sociedade do século vinte um, a moral quase cedeu lugar ao
prazer. “Eu desejo, eu quero, tenho que ser feliz, feliz, feliz…eu fui feliz no
momento”. Assim num ápice, numa pressa sem delimitações. Tudo se passa num
repente. O tempo de maturação, de análise, de construção, desapareceu. Não
existe. Meramente um corre-corre de desejo, de posse, de saciedade e finalmente
de tédio. Nesta reviravolta de conceitos, o caricato, é que ainda se continua à
procura de querer ser feliz, apesar da pesada propaganda. Esconjuram-se os
laivos de culpa, qual anátema de civilização primitiva. A bendita que tem
ditado tantas e tantas felonias neste nosso século. A culpa, o legado nacional
mais poderoso, porque a coitada tem morrido sempre solteira pese, o facto, de
ter destruído relações, posições e tantas outras ações.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Hoje, ao olhar para esses dias, um sorriso irónico tem que
forçosamente mascarar-lhe os lábios. Tão ridículo! No entanto, na altura
geraram-se conflitos familiares, zangas e humilhações. Depois veio o vinte e
cinco e, rapidamente os costumes mudaram. Tomou-se como natural, o que até
então era proibido. As massas ululam ao sabor do vento, melhor, as mentes mudam,
tal como o vento sopra. E se sopra com força, então a mente parece um
cata-vento. Neste caso, bendito cata-vento, diga-se. Houve muita mudança. Os
cenários foram-se transmutando à medida que a peça se plasmava aos costumes.
Neste entretém teatral, os rostos adquiriram rugas, o espírito aquietou-se e
alguns bolsos aviltaram-se. O idealismo virou capitalismo, o amor comprou-se,
vendeu-se e emporcalhou-se. E a geração dos ideais metamorfoseou-se em
peralvilhos com sebosas contas bancárias Os charros passaram, praticamente, a
ser um quase apanágio de uma pseudoelite intelectual que os usa diz, como fonte
de inspiração. Uma geração que sonhava sempre que respirava. Respira, hoje,
entrecortada entre a ambição dos cifrões e do bem colocado. Não somos senão
pavões eternamente voltados para um jardim que já não existe. As penas já são
tão toscas que até faz dó, pese o brilho da projeção. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Houve um desbragar de convenções, o caos, diziam os mais
velhos, então. E nós ríamos, ríamos porque o sentir era impune, porque éramos
jovens e heróis. Havia o cheiro tremendo de sexo, mas também o cheiro da vida.
Era diferente. Era a libertação, a nudez da carne e da alma. O despir total, o
arrebatamento de comungar o corpo, o vento e a terra. Os primeiros ecologistas
não asséticos. Clara sorri abertamente. Tem orgulho de pertencer ao grupo das
cotas. É tão maravilhoso ser-se cota quando se tem um mundo de cristais nas
traves do espírito. Pertencer a uma geração de descoberta, de aquisições, de
luta. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Hoje torna-se doloroso verificar que os Senhores do Mundo
são, os que, então, foram seus parceiros de aventura naqueles anos dourados.
Como o poder corrói. Tudo é bem pior que o ácido, porque é mais lento e
persistente.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Levanta-se, alisa a saia, puxa a o cós do jersey, ajeita o
cabelo e sente-se de novo jovem e atraente. Uma hippy repleta de alquimia do
tempo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Está mais segura. Não olha nem para a esquerda nem para a direita.
As memórias povoam-lhe o ecrã da mente. A noite pisca-lhe matreira por entre
uma meia-lua sentada por cima da janela da saleta.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">…… ……………………………….<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Clara olha-se no espelho do seu quarto de rapariga.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Gosta do que vê. O vestido comprido cor de champanhe, corte
simples, todavia elegante. O saiote faz-lhe o redondo das ancas. O cabelo no
seu brilho dourado suporta aquele véu de renda enorme. Na mão as suas eternas
rosas amarelas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Casa-se hoje. Um dia especial. Percorre-a um frenesim. Não é
ansiedade, somente a antecipação do acontecimento.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Olha-se fixa e demoradamente no espelho oval, a imagem não
reflecte os pensamentos. Interiormente sorri. E interroga-se: Afinal é este o
dia tão especial, o dia que desde garotinha ouviu falar? Uma névoa breve
tolda-lhe o olhar. Recompõe-se. Há que estar serena. Uma noiva quer-se nimbada
de luz. Os eternos clichés da sociedade. Mas enfim, encolhe os ombros. Assim
seja.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Debruça-se sobre a cómoda perscrutando a imagem no espelho
oval. Aqueles momentos a sós são preciosos. Em breve terá que mergulhar na
alegria do dia. Urge.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Deseja que termine. Sempre foi diferente. Sabe que mastigar
os momentos não os faz perdurar no arco-íris do relógio. Depois, também sabe
antecipadamente o que se passará. Sempre um pouco à frente do hoje. Clara
apressada. Não, ela não é apressada, apenas o hoje, foi o ontem dela, o amanhã,
é o seu hoje. Naquela divisão de tempo o seu corpo senta-se, porém, o espírito
inquieto flui. Nunca ninguém a percebeu. Habituou-se a viver assim. E hoje,
pese os seus anos ainda verdes, coabita lindamente com a dicotomia. Chamam-lhe
insatisfeita, nervosa. Nada disso. No entanto, nem sequer perde tempo a
explicar-se porque, sabe, não a compreenderiam, se calhar até diriam que tinha
alguma pancada…não fora em vão que caíra de um escadote bem alto ainda
pequeninita. Talvez fosse daí, que lhe adviera esse desassossego de tempo. Não
era em vão que lhe diziam ser parecida ao pai…<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Mas hoje era o seu dia. Clara casava-se. Apesar da liberdade
que aqueles tempos continham, essa mesma liberdade acabava por exigir um
invólucro. Há vinte e muitos anos casar-se era uma quase obrigação, pelo menos
no meio de onde provinha. Meio arreigado de preconceitos e normas. Aquela
necessidade do certinho que sempre a baralhou. A vida é um remoinho de folhas
de muitos tamanhos e cores, pelo menos para ela.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Desse dia tem sobretudo a memória das pessoas, da condescendência,
do barulho, da norma, dos rostos felizes como se todos se tivessem casado na
mesma hora e com eles. Achava tudo um pouco excessivo. Aliás as festas são
excessivas mesmo que contidas. Porem é nelas que o ser humano abre a torneira
da satisfação. A necessidade grupal do divertimento sempre a espantou. Mas
naquele dia, tão especial, Clara sorriu tão beatificamente que todos a acharam
uma noiva feliz, tão feliz que até estava linda. Outro dos seus grandes
problemas foi perceber como o valor das palavras se alteram de acordo com o
estado de espírito do interlocutor, e sobretudo, se este for coletivo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Clara cumpriu a sua parte com muita elegância e serenidade. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Manuel. Bem, Manuel estava irreconhecível. Elegantíssimo,
todo a preceito no seu mais ínfimo detalhe. Também perfez o seu papel. Mais
tarde quando já estavam longe daquele reboliço, ele dissera-lhe:” Pronto, já me
sinto legal”.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Ainda hoje se interroga sobre o que ele quis dizer
conhecendo-lhe todas as reticências que tinha em relação ao casamento religioso,
a festas sociais. Ostentação, dizia.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Porém, naquele dia foi gloriosamente simpático. Disseram
dele: <span style="background: white; color: #545454; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 8.5pt;">—</span> “Uma jóia de rapaz!” <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Um prenúncio de outros dias. Como o tempo se foi!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">………………………<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Permanece deitada no sofá a espreitar a noite. O livro continua
a olhá-la. Prefere embrenhar-se nos seus pensamentos. Clara gosta desta intimidade
que tem com as memórias, dão-lhe o conteúdo da vida. Hoje em que tudo passa
numa corrida, empurrando tudo e todos, qual efeito de dominó em queda, hoje, em
que parar, é sinónimo de desaparecer, hoje, é aquele tempo em que não mais se
escutam as memórias, porque elas são feitas de nós vazios. Hoje, pensa Clara,
erguendo o queixo acima da linha do horizonte, é o meu tempo de recordar. As
suas memórias vestem o tempo. Ei-las ali mesmo defronte, sentadas, à espera de
serem catalogadas no armário do pensamento.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Quando pensa em si, Clara, vê-se como alguém cujo caminho de
vida tem sido difícil. Para lá das aparências, para lá daquilo que os outros
gostam e são capazes de ver, tem existido uma pessoa complexa, por demais.
Talvez a sua personalidade tenha sido forjada não em ferro derretido, mas sim,
em pedaços de vida amassados. Vivera e tivera a noção exata do desfasamento emocional
da vida dos pais. Analisara, desde relativamente cedo o que era a felicidade
conjugal em desencontro. Vivera as cenas teatrais de desfalecimentos, choros,
acusações e mutismos, Tivera que subsistir animicamente, crescer, diriam, no
meio de muitas incongruências. Este passado não foi uma mais valência para ela,
pelo contrário, foi algo que a tornou incrédula, fria e dorida. O pior defeito
de Clara é não acreditar. Pura e simplesmente não crê. Não é má pessoa, no
entanto para quem não a conhece, deixa sempre a ideia de altivez ou muita
simpatia. Tudo isso depende do meio em que se encontra. Para os mais simples,
para quem a vida é um simples corolário de sucessão de dias sem inquietações
metafísicas, oh Dona Clara é tão boazinha, tão simpática, faladora, dada e de
uma simplicidade e veja-se, vê-se que tem muita educação. Para os outros,
aqueles mesmos que coabitam o seu meio, aos pseudointelectuais, aos alpinistas
sociais e aos nouveaux riche não passa de uma criatura intragável com a mania
que sabe tudo, e com a aspereza de dizer as coisas na cara, pois que pensa ser
a sua verdade. Uma coitada.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O pior defeito de Clara é a sua intolerância com a
ignorância. Não concebe que no seu meio, as pessoas digam disparates sobre
coisas de senso comum, apenas por desconhecimento, apenas porque são incapazes
de recolherem um pouco de informação, antes de debitarem, publicamente, um
molhe de anedotas e ainda por cima, convictas na sua santa ignorância. Outra
das coisas que lhe põe os nervos em franja é ouvir as pessoas repetirem o que
outras disseram, apropriando-se dos conceitos ou simplesmente de frases banais.
O ser humano é terrível, vive em atos junto a um palco que na maioria das vezes
nem sequer é o seu, e outras ainda é o ator de uma peça para o qual não foi convidado.
Comédias em dramas e dramas que nem a sátiras chegam.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Clara viveu uma infância e juventude processada entre dois seres
muito diferentes que coabitaram o mesmo teto. Tão diferentes eram que nunca se
conseguiram misturar. Água e azeite. Assim os define. Dessa não mistura
resultaram quatro filhos. Ela, a mais velha, outra rapariga, um rapaz e mais
uma rapariga. A diferença de idade dita-lhes as divergências não só físicas,
mas sobretudo de caráter.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-37918064994374659432022-06-04T18:38:00.001+01:002022-06-04T18:38:59.864+01:00.
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camurça.<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sendo
um animal solitário percorre os dias numa tarefa sincopada e objetiva. Recolhe-se
na sua casca e com ela parte para os lugares onde pode encontrar alimento. O
caracol porque é um molusco terrestre tem nas costas a sua concha, a qual
carrega <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>diligentemente ao longo da vida,
não fosse ela o seu esqueleto<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Pois
bem, há quem ao longo da vida, de igual forma, carregue, não tão
diligentemente, mas por contingência, não a sua casa, mas as suas malas.
Caracóis denominados professores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As
malas são a sua casa, o caminho é feito de percursos vários, todos aqueles que
lhe possam facultar o pão nosso de cada dia<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>e ainda apregoam aos quatro ventos que ensinar, é uma paixão. Bons
caracóis sincopados ou antes, professores crédulos, apaixonados e traídos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">José
é professor, tem trinta e seis anos. Possui aquele ar tão peculiar dos homens,
um misto de independência dependente. Aparentemente sabe bem o seu caminho, porém
transversa aqui e ali. Recompõe-se rapidamente e sem muita complicação,
continua. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">José
casou-se há relativamente pouco tempo. Coisa de dois anos. Não tem filhos
porque a situação instável ainda não o permite, Laura, a mulher, também não
está para aí voltada, tem que palmilhar na profissão, tal como ele. Não é
professora, trabalha num laboratório.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em
dois anos de idas e vindas numa distância razoável, a relação sorriu sempre, no
limbo do encantamento mútuo. Este ano, porém ,José foi mandado para mais longe.
Uma mala, um quartinho, duas refeições diárias, mais umas imposturices e um
comboio semanal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">José
não está infeliz, feliz também não, amoldurou-se. A mala, a sua casa, leva-o no
comboio de volta e regresso. E isso quase lhe basta. A inquietação não faz
parte do seu código genético. Filosoficamente a felicidade veste-lhe a
filigrana da mente como o seu belo par de sapatos de camurça lhe calça elegantemente
os pés que passeia nos seu calcorrear de professor e impõem-se na descida do
degrau do comboio. Um cartão, não de visitas, mas de presença.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Hoje
é sexta. Mais uma semana que se fecha entre o debitar de conteúdos, o exercício
da compreensão, o esgotar da explicação, a aplicação da pedagogia, a síntese do
conhecimento e a avaliação das capacidades. O trabalho semanal que nidifica o
ensino. Entre o tempo gasto na construção do saber e a imagem, qual reflexo do
seu desempenho humano, há lugar a um o espaço tão pequeno onde não cabe o
perpassar da inquietação.. Mas afinal, não nos sentamos no decúbito do descanso
após o ímpeto da conquista? assim não é de estranhar a complacência quase intermitente
do professor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">José
possui as imagens e não as inquietações. Revê, a companheira sorridente de
olhar alvoraçado e anseia pela viagem de volta. O espaço perdido dos seus dias
sacia-se na garganta húmida, no olhar terno , no sorriso fresco e nos braços
quentes da sua Laura. Não existem peças caídas, quiçá perdidas de um tempo que
foi ontem, somente as imagens, meras memórias. Um tempo esgotado e que crê
continuado. Crédulo, <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ah,
o tempo tem horas cheias e outras vazias. Tem os ângulos próprios da geometria
de cada dia, José descuidou-se na classificação do ângulo da sua vida. Nada é
imutável e os ângulos nascem, crescem e apagam-se na sua forma de acordo com as
divisões que a circunferência da vida toma. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Longe,
na distância da viagem de um comboio, Laura cansa-se da solidão. Recorda com
algum enternecimento a biqueira dos sapatos. Sim, o estremeço que lhe dava até há
bem pouco quando via aquela biqueira de camurça romper no vazio do degrau do
comboio. Hoje, deseja que a biqueira, os sapatos e o dono fiquem longe, onde
estão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As
reações nos seus tubos de ensaio são mais precisas, temporais e falíveis. Não
existem hiatos. O hiato mata. O hiato não é companheiro do entusiasmo, porém
quando o último soluça começa-se a morrer. Laura sabe que o estremecimento se
calou. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como
sucedeu?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não
sabe quando a rotina da solidão a fez perder a noção de encantamento. Respirar
sem viver foi coisa que lhe revolveu-as entranhas numa agonia de meses e, a
facilidade como partiu para novos desafios, encontros e companhias, fá-la
rodopiar numa espiral de contentamento. Foi sentir o estremeço do<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>riso e do alagamento que a cordou para este
presente. Não espera pelo comboio e muito menos pelos sapatos de camurça que um
dito José, antes mote da sua vida, hoje pretérito imperfeito dos seus dias,
cheguem.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E
ele?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Inexorável
na sua paixão passiva de pedagogo viu a sua vida perder o lastro do estável,
para ser mais um entre tantos mil, sem rumo afetivo. Um homem desvaria nos
primeiros dias, mergulha nos subsequentes e vem à tona nos outros que chegam.
Assim foi.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
ensino absorveu-o mais do que nunca, a solidão que de início o enrolou, no seu
fato já gasto de tempo e hábito, essa solidão, que para o mais incauto é sinal
de maturidade, despojo e até placidez, tornou-se a sua insegurança
insatisfeita. José é um tipo como muitos outros, um inseguro escondido na sua
casca de caracol, tornando-a o seu habitat, aí dormitando, nela congeminando e
dela saindo para as contracenas que o palco lhe estende. Mais um outro
personagem no teatro dos sentires. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E
o José-caracol-professor vai deslizar lenta inexoravelmente por entre as
escolas, essas as musas da sua paixão, ao mesmo tempo que os sapatos de camurça
castanha ficam velhos e<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a sua bela casca
fica dura até, num dia qualquer ficar vazia… <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Chaves,
3 de junho 2022<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Maria
Teresa Soares<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p><div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-7435397404264455392022-05-25T16:08:00.005+01:002022-05-26T13:39:03.757+01:00.<div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4npco6TOlYqrHCtcwiDHrAjAWjaO8InsIaCyBPUS4EApVcHItn8m3oV0_ya4OB-W5E-en6ZJAEloKCssr7YI2E7WSo9QGK3AFwTZTavEYp80R14P8V3iovmKbiR42XDeW5xSE1Ll_5yd2k0sSl2AbfhdLmu1F98SdoFMSOR5ZaZitBs5Xi3uMbvDylQ/s4000/20220521_161439.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3000" data-original-width="4000" height="449" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4npco6TOlYqrHCtcwiDHrAjAWjaO8InsIaCyBPUS4EApVcHItn8m3oV0_ya4OB-W5E-en6ZJAEloKCssr7YI2E7WSo9QGK3AFwTZTavEYp80R14P8V3iovmKbiR42XDeW5xSE1Ll_5yd2k0sSl2AbfhdLmu1F98SdoFMSOR5ZaZitBs5Xi3uMbvDylQ/w599-h449/20220521_161439.jpg" width="599" /></a></div><br /> .As coisas dos dias …<div> Há dias que são cinzentos. Há dias que são pesados. Não
pelo tempo, mas pelas coisas. São as coisas que vêm, ficam e caem. E os dias
afundam</div><div> Há dias pesados. Aqueles que acordam com sol, crescem ventosos,
entardecem cinzentos e adormecem húmidos. São os dias da vida.</div><div> Há gentes como os
dias. Nascem cinzentos, porém abrem os olhos ao sol, fechando-os de imediato
porque a luz desventra-os, permanecendo na letargia das horas pela vida fora.
Gente cinzenta, gente pesada, gente dos tempos. Depois os dias cinzentos de
gente cinzenta, quais sonâmbulos giram na lentidão dos anos, com meios sorrisos
aqui e ali num deslizar de tempo sem alma. Percorrem caminhos sem olhar em redor
numa inércia metabólica orlada solavancos e quando chegam, se chegam ao sítio,
olham num misto de cansaço e desdém e acomodam-se. Gente cinzenta … </div><div>Há outra
gente, leve e móvel que desliza nos dias claros, que sorri e sabe caminhar, que
calcorreia os caminhos em passos seguros, em passos de busca</div><div> A natureza das
coisas porque é caprichosa tem por devaneio estender atritos que fazem a gente
de luz tropeçar, cair, esfolar-se, levantar-se e continuar. Nada lhes é fácil.
Nasceram em dias claros, os dias quentes da razão e do porvir. Gente de
sorrisos.</div><div> Há dias de chuva. Miúda e semítica. Gotas por ser. Há gente como os
dias. Gente pequena do tamanho do nada com a altura do ser. Passam e perpassam
entre as gotas semíticas. Alimentam-se delas. Hidratam-se. Húmidos e semíticos
partem para a vida. Vivem na humidade do receber e secos no dar, aconchegando-se
no bolor húmido de ter. São gotas.</div><div> Há dias de vento soprado, forte, arrepanhado
e zangado. Há ventos que quebram, há ventos que fustigam, que marcam que enrolam
e varrem. Há dias assim. Assim há gente. </div><div>Gente do vento. Gente impetuosa,
agreste, forte. Gente que assobia, ulula e depois serena. Gente apressada qual
porta sem tranca que bate de supetão para depois deslizar de mansinho e
quedar-se. Gente em azáfama de horas para não se se perder na espiral do tempo.
Gente em contraponto.</div><div>Há dias falsos. Aqueles que pespontam com luz e se cobrem
de sombras numa máscara desbotada de Carnaval cansado. Há gente de máscaras.
Tapam os rostos disfarçam-se de arlequins, palhaços, damas, cavaleiros e animais
do mundo </div><div>Há dias de tudo, dias num rodopio de faz-de-conta. Passa o tempo, passa
o engano, passa o riso de época e a máscara cai. Ah, mas há sempre uma em cada
tempo do ano! </div><div>Há dias felizes, dias da terra, dias da gente. Dias em que é
natural sonhar, rir e crescer. Há tempos de amanhã com horas de presente. Há
gente de presente com alma de amanhã e há amanhã sem presente. A gente faz, a
gente desfaz. Há dias de tudo. Dias de agora e dias que vão ser. Há gente que
vai ser e de agora. </div><div>Há coisas que são dos dias, há dias que são da gente. Gente
dos dias e dias que faz gente. São tão simplesmente as coisas dos dias. </div><div>Chaves
25-05-2022
</div><div>Maria Teresa Soares<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /></div></div><div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-79897479168084965422022-03-09T12:36:00.003+00:002022-03-09T12:36:38.839+00:00Às mulheres ucranianas.
Corre serena na rua vazia de gente e troada de projeteis. Suspira na esquina do fumo entre golfadas de alento. Semicerra os dentes na força do não querer partir e na razão do despedir. No braço leva um saco, nas costas a mochila vazia de tudo, mas cheia de necessidades. Na outra mão, a mão quente, entrelaça os dedos numa mão redonda da criança.
É Natalya. É ucraniana. É mulher.
Março, oito, 2022. Diz-se Dia Internacional da Mulher, diz-se dia de Direitos. Diz-se dia de Amor. Diz-se…
São passos rápidos, fortes e fustigados que a conduzem. São ventos soprados de este que chegam embriagados em vómitos de fogo e raiva. São espasmos bélicos de louco. São labaredas que varram a pele e derretam a alma de um povo.
Mas Natalya continua…
Tem na mão o futuro, pequeno e macio, trôpego de força, lesto de Amor, cordão umbilical da família. Andriy…
Natalya e Andriy sozinhos no gelo defecado de fogo sob um céu cinzento agoniado de dor, caminham…
Longe, muito longe estão as mãos que aconchegam, que embalam, que perpassam na alma ferida e suturam, que olham nos olhos partidos de lágrimas e sorriem de esperança. Lá é o lugar. Há que chegar. Há que andar. Há que deixar o caos, a dor, o ódio, a ganância e a loucura.
Natalya é mulher, possui a força da árvore, a leveza do ar e a força do caudal. Tem na alma a mater do mundo, e na vontade o sacrifício dos milénios. Caminha nos passos da fuga, caminha porque a vida de mulher é feita de caminhar.
Hoje, é o dia, o dia de todas as Natalyas!
Coragem!
8 de março 2022
<div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-77129398353539722352021-12-05T19:54:00.005+00:002021-12-05T19:54:55.245+00:00<div><span style="color: var(--primary-text); font-family: inherit; font-size: 0.875rem; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><span style="color: var(--primary-text); font-family: inherit; font-size: 0.875rem; white-space: pre-wrap;"><div><span style="color: var(--primary-text); font-family: inherit; font-size: 0.875rem; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div><span style="color: var(--primary-text); font-family: inherit; font-size: 0.875rem; white-space: pre-wrap;">O tempo....</span></div>Tenho ouvido, nestes últimos tempos, falar muito de tempo, de bolha de tempo, do que foi e já não volta, do tempo perdido, enfim do passado.</span><div style="font-family: inherit;"><div class="" dir="auto" style="font-family: inherit;"><div class="ecm0bbzt hv4rvrfc e5nlhep0 dati1w0a" data-ad-comet-preview="message" data-ad-preview="message" id="jsc_c_1c3" style="font-family: inherit; padding: 4px 16px;"><div class="j83agx80 cbu4d94t ew0dbk1b irj2b8pg" style="display: flex; flex-direction: column; font-family: inherit; margin-bottom: -5px; margin-top: -5px;"><div class="qzhwtbm6 knvmm38d" style="font-family: inherit; margin-bottom: 5px; margin-top: 5px;"><span class="d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql lr9zc1uh a8c37x1j keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d3f4x2em fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb iv3no6db gfeo3gy3 a3bd9o3v b1v8xokw oo9gr5id hzawbc8m" dir="auto" style="color: var(--primary-text); display: block; font-family: inherit; font-size: 0.875rem; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;"><div class="kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="font-family: inherit; margin: 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O passado é aquele muro a que subimos, onde nos sentamos e que depois descemos ora titubeando, ora graciosamente ou ainda de supetão. Assim, não se me afigura tão memorável, saudosa ou ainda percetível tantos suspiros de memória, pois que não sendo mais do que o caminho dos nossos dias torna-se o resultado dos nossos passos. Há quem se lave de memória e na memória, quem se vista dela e há aqueloutros que se adornam da mesma. Gostos.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Não acredito em bolhas. Só as de espuma cuja duração é de átimos de segundo. Não acredito no passado revivido ou por viver. Tudo tem o seu peso e a sua conta nesta vida. O que foi, foi, o que era, era, os tempos verbais atestam o concreto.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Bolhas de tempo? Metáfora ou sinestesia? Comparação ou sensação? Na verdade …</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Agostinho rijo de tempo e vida nos seus setenta anos ainda abre as portas da sua loja. Lê-se nos vidros pintados em tons de outono” Tino Gourmet”. Quem entra depara-se com prateleiras onde se alinham meticulosamente boiões vestidos de cores quentes da vida que fazem crescer a saliva. E o cheiro? Ui, o cheiro é esfomeante. De um lado, cestas de vime velho repletas de frutas e do outro um balcão de ar sério onde espreita o pão.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"> O “Gourmet do Tino” é moderno na sua conceção e velho nos seus sabores e odores. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Agostinho Roxo, nascido e criado na velha Lisboa dos anos vinte, viu mais mudanças na sua vida que de peúgas mudou até agora. Senão vejamos: apanhou com o rescaldo da IGM, a gripe espanhola, a IIGM, a Guerra Fria, a Guerra colonial, e outras pelo mundo fora, o explodir dos interesses do médio oriente, as guerras civis, as crises monetárias, as financeiras, as mudanças concetuais da diferença fosse de etnia, género e outras, tanta, tanta coisa, que o pobre homem muitas das vezes é a olhar para a imutabilidade dos seus frascos que consegue apanhar o fio à meada aos dias. Contudo, nunca foi homem de bolhas de tempo, rompeu-as sempre e foi à luta. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Da velha mercearia de bairro, por sinal bem situada, transformou-a numa loja gourmet de acordo com os novos preceitos de mercado. Ouviu falar na Web Summit e pôs-se a caminho, apesar do preço do bilhete não ser para gente pobre. Mas lá foi. Ouviu, ouviu, percebeu pouco de início. Uma linguagem truncada, onde os mais jovens debitavam projetos à velocidade do trânsito lisboeta em sexta-feira à tarde. O pobre Agostinho saiu tonto. Foi para casa e meditou, pesou, telefonou ao filho, à neta e ao contabilista , concluindo que tinha que mudar o rumo do negócio, senão estava acabado.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"> Se bem o pensou, melhor o fez. Depois meteu mãos à obra. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Fez a sua candidatura pedindo o empréstimo a fundo perdido de acordo com os novos cânones, subordinando-se ao subtítulo em questão de dinamização empresarial. Um projeto cheio de papelada, para” Endogeneizar dinâmicas de inovação proativa em articulação com o mercado, geradora de novos produtos e serviços”.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O funcionário abriu os olhos da monotonia habitual e bom do Agostinho continuou o seu discurso: pretendia</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">reforçar a sua responsabilidade individual de empresário enquanto agente socialmente responsável pela criação de riqueza; tornando-se um empreendedor ativo e consciente do seu papel positivo na organização, desejava, por outro lado, fazer da "empresa" um espaço permanente de procura da criatividade e do valor transacionável nos mercados internacionais consolidando uma cultura de cooperação ativa entre empresas pequena se grandes, nacionais e hipoteticamente internacionais</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O discurso estava bem decorado. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Pois entre papeis, arranques, demoras, desesperos e aceitação, chegou, enfim, o dia em que o empréstimo lhe foi concedido.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Imediatamente as obras na loja começaram. Arrastaram-se mais do que o previsto, mas também é quase bíblia no cantinho em vivemos. Daí somente um pequeno desespero.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="font-family: inherit; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Os meses voaram. Finalmente chegou o dia em que o “Gourmet do Tino” abriu portas.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">De início os clientes espreitavam receosos, não da qualidade, mas da quantidade de euros. As bolsas da nossa casa são, invariavelmente, modestas. Perante uma clientela arredia, Agostinho começou a ver os seus dias enovoados, cinzentões , a pavimentarem o caminho de mais uma malfadada crise.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Na verdade, o que lhe importava era fazer negócio, fosse ele gourmet ou prosaico. A caixa registadora não tilintava como lhe fora impingido pelas jovens mentes, nemo negócio nada tinha a ver com os gráficos projetados.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"> Havia um vazio entre o prometido e o vivido. Algo não batia certo. Havia que mudar o estilo, sem mudar o rumo, pois que estava financeiramente atolado.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Não dormia o bom do nosso amigo. A enrascada era demasiado grande e a idade não lhe permitia grande descanso. Conversou com a sua Rita, companheira de muitos altos e baixos nos quase cinquenta anos que levavam juntos. A perceção feminina pura e simples, nua de conceitos e calçada de experiência sugeriu-lhe que mantivesse tudo por fora igual, mas que fizesse uma espécie de promoção semanal dos legumes mais antigos e das outras coisas mais baratas que não tinham tido muita saída ao longo da semana. Assim não só escoavam os bens perecíveis , seriam um chamariz e arrecadariam algum dinheirito.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">-Sabes Tino, a gente do nosso bairro, os nossos, ainda não se importam se as coisas vieram ontem da horta ou não, o que eles querem é ter comida para encher a barriga, comer muitos legumes, alguma fruta tal como nos impingem agora, comer saudável como é modo e dizem fazer bem à saúde. Tudo isso desde que não seja caro. O caro, é que é o Diabo, por isso é que desconfiam e arredam.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">É verdade, Rita. Mas não posso fazê-lo assim como antigamente. Tenho que lhe dar um ar, tudo tem que ter um Ar novo. É quase lei. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">-Ó Agostinho. Há tantas caixas que vêm por aí, é só começar a forrá-las de folhas dando-lhe um ar de cabazes bonitos e saudáveis, com um preço apetecível e ao fim de , digamos , seis cabazes têm direito a um miminho, uma compota, um docinho qualquer e vais ver… claro que nunca te esqueças de ser simpático, muito simpático, ser quase feliz. O cliente espera isso de nós.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">-És capaz de ter alguma razão. Não há como experimentar.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Passei no sábado por aquela loja de bairro de nome sonante e não era que estava cheia. Na porta, uma mãe dava a mão à filha e na outra carregava uma bela caixa de legumes que quase parecia uma floreira. </div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="font-family: inherit; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">As bolhas do tempo também se abrem …</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Chaves out.2021</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Maria Teresa Soares</div></div></span></div></div></div></div></div><div style="font-family: inherit;"><div class="stjgntxs ni8dbmo4 l82x9zwi uo3d90p7 h905i5nu monazrh9" data-visualcompletion="ignore-dynamic" style="border-radius: 0px 0px 8px 8px; font-family: inherit; overflow: hidden;"><div style="font-family: inherit;"><div style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px;"><div style="font-family: inherit;"><div class="l9j0dhe7" style="font-family: inherit; position: relative;"><div class="bp9cbjyn m9osqain j83agx80 jq4qci2q bkfpd7mw a3bd9o3v kvgmc6g5 wkznzc2l oygrvhab dhix69tm jktsbyx5 rz4wbd8a osnr6wyh a8nywdso s1tcr66n" style="align-items: center; border-bottom: 1px solid var(--divider); color: var(--secondary-text); display: flex; font-family: inherit; font-size: 0.9375rem; justify-content: flex-end; line-height: 1.3333; margin: 0px 16px; padding: 10px 0px;"><div class="bp9cbjyn j83agx80 buofh1pr ni8dbmo4 stjgntxs" style="align-items: center; display: flex; flex-grow: 1; font-family: inherit; overflow: hidden;"><span aria-label="Vê quem reagiu a isto" class="du4w35lb" role="toolbar" style="font-family: inherit; z-index: 0;"><span class="bp9cbjyn j83agx80 b3onmgus" id="jsc_c_1c6" style="align-items: center; display: flex; font-family: inherit; padding-left: 4px;"><span class="np69z8it et4y5ytx j7g94pet b74d5cxt qw6c0r16 kb8x4rkr ed597pkb omcyoz59 goun2846 ccm00jje s44p3ltw mk2mc5f4 qxh1up0x qtyiw8t4 tpcyxxvw k0bpgpbk hm271qws rl04r1d5 l9j0dhe7 ov9facns kavbgo14" style="border-bottom-color: var(--card-background); border-left-color: var(--card-background); border-radius: 11px; border-right-color: var(--card-background); border-style: solid; border-top-color: var(--card-background); border-width: 2px; font-family: inherit; height: 18px; margin-left: -4px; position: relative; width: 18px; z-index: 2;"><span class="t0qjyqq4 jos75b7i j6sty90h kv0toi1t q9uorilb hm271qws ov9facns" style="border-radius: 9px; display: inline-block; font-family: inherit; height: 18px; width: 18px;"><span class="tojvnm2t a6sixzi8 abs2jz4q a8s20v7p t1p8iaqh k5wvi7nf q3lfd5jv pk4s997a bipmatt0 cebpdrjk qowsmv63 owwhemhu dp1hu0rb dhp61c6y iyyx5f41" style="align-items: inherit; align-self: inherit; display: inherit; flex-direction: inherit; flex: inherit; font-family: inherit; height: inherit; max-height: inherit; max-width: inherit; min-height: inherit; min-width: inherit; 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1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;"><span style="font-family: inherit;">Gosto</span></span></div></div><div class="n00je7tq arfg74bv qs9ysxi8 k77z8yql i09qtzwb n7fi1qx3 b5wmifdl hzruof5a pmk7jnqg j9ispegn kr520xx4 c5ndavph art1omkt ot9fgl3s rnr61an3" data-visualcompletion="ignore" style="background-color: var(--hover-overlay); border-radius: 4px; font-family: inherit; inset: 0px; opacity: 0; pointer-events: none; position: absolute; transition-duration: var(--fds-duration-extra-extra-short-out); transition-property: opacity; transition-timing-function: var(--fds-animation-fade-out);"></div></div><div aria-label="Reagir" class="oajrlxb2 gs1a9yip g5ia77u1 mtkw9kbi tlpljxtp qensuy8j ppp5ayq2 goun2846 ccm00jje s44p3ltw mk2mc5f4 rt8b4zig n8ej3o3l agehan2d sk4xxmp2 rq0escxv nhd2j8a9 pq6dq46d mg4g778l btwxx1t3 pfnyh3mw p7hjln8o kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x tgvbjcpo hpfvmrgz b4ylihy8 rz4wbd8a b40mr0ww a8nywdso pmk7jnqg i1ao9s8h esuyzwwr gokke00a du4w35lb lzcic4wl n00je7tq arfg74bv qs9ysxi8 k77z8yql abiwlrkh p8dawk7l pphx12oy hmalg0qr q45zohi1 g0aa4cga" role="button" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; align-items: stretch; background-color: transparent; border-bottom-color: var(--always-dark-overlay); border-left-color: var(--always-dark-overlay); border-radius: inherit; border-right-color: var(--always-dark-overlay); border-style: solid; border-top-color: var(--always-dark-overlay); border-width: 0px; box-sizing: border-box; clip-path: polygon(0px 0px, 0px 0px, 0px 0px, 0px 0px); clip: rect(0px, 0px, 0px, 0px); cursor: pointer; display: inline-flex; flex-basis: auto; flex-direction: row; flex-shrink: 0; font-family: inherit; list-style: none; margin: 0px; min-height: 0px; min-width: 0px; outline: none; padding: 13px 0px; position: absolute; right: 6px; text-align: inherit; top: 1px; touch-action: none; user-select: none; z-index: 0;" tabindex="0"><i class="hu5pjgll m6k467ps" data-visualcompletion="css-img" style="background-image: url("https://static.xx.fbcdn.net/rsrc.php/v3/yk/r/JdRIWCi0FmY.png?_nc_eui2=AeGbqSZIMY3GiznGtJW7P5S_BB0sE4-7hLsEHSwTj7uEu_CKLb2gJ4hXg7QeIEWPdDw"); background-position: -36px -198px; background-repeat: no-repeat; background-size: 190px 216px; display: inline-block; filter: var(--filter-secondary-icon); height: 16px; vertical-align: -0.25em; width: 16px;"></i><div class="n00je7tq arfg74bv qs9ysxi8 k77z8yql i09qtzwb n7fi1qx3 b5wmifdl hzruof5a pmk7jnqg j9ispegn kr520xx4 c5ndavph art1omkt ot9fgl3s" data-visualcompletion="ignore" style="border-radius: inherit; font-family: inherit; inset: 0px; opacity: 0; pointer-events: none; position: absolute; transition-duration: var(--fds-duration-extra-extra-short-out); transition-property: opacity; transition-timing-function: var(--fds-animation-fade-out);"></div></div></div><div class="rq0escxv l9j0dhe7 du4w35lb j83agx80 cbu4d94t g5gj957u d2edcug0 hpfvmrgz rj1gh0hx buofh1pr n8tt0mok hyh9befq iuny7tx3 ipjc6fyt" style="box-sizing: border-box; display: flex; flex-direction: column; flex: 1 1 0px; font-family: inherit; max-width: 100%; min-width: 0px; padding: 6px 2px; position: relative; z-index: 0;"><div aria-label="Deixa um comentário" class="oajrlxb2 gs1a9yip g5ia77u1 mtkw9kbi tlpljxtp qensuy8j ppp5ayq2 goun2846 ccm00jje s44p3ltw mk2mc5f4 rt8b4zig n8ej3o3l agehan2d sk4xxmp2 rq0escxv nhd2j8a9 pq6dq46d mg4g778l btwxx1t3 pfnyh3mw p7hjln8o kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x tgvbjcpo hpfvmrgz jb3vyjys rz4wbd8a qt6c0cv9 a8nywdso l9j0dhe7 i1ao9s8h esuyzwwr f1sip0of du4w35lb lzcic4wl n00je7tq arfg74bv qs9ysxi8 k77z8yql abiwlrkh p8dawk7l" role="button" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; align-items: stretch; background-color: transparent; border-bottom-color: var(--always-dark-overlay); border-left-color: var(--always-dark-overlay); border-radius: inherit; border-right-color: var(--always-dark-overlay); border-style: solid; border-top-color: var(--always-dark-overlay); border-width: 0px; box-sizing: border-box; cursor: pointer; display: inline-flex; flex-basis: auto; flex-direction: row; flex-shrink: 0; font-family: inherit; list-style: none; margin: 0px; min-height: 0px; min-width: 0px; outline: none; padding: 0px; position: relative; text-align: inherit; touch-action: manipulation; user-select: none; z-index: 0;" tabindex="0"><div class="rq0escxv l9j0dhe7 du4w35lb j83agx80 g5gj957u rj1gh0hx buofh1pr hpfvmrgz taijpn5t bp9cbjyn owycx6da btwxx1t3 d1544ag0 tw6a2znq jb3vyjys dlv3wnog rl04r1d5 mysgfdmx hddg9phg qu8okrzs g0qnabr5" style="align-items: center; box-sizing: border-box; display: flex; flex-flow: row nowrap; flex: 1 1 0px; font-family: inherit; height: 44px; justify-content: center; margin: -6px -4px; min-width: 0px; padding-left: 12px; padding-right: 12px; padding-top: 0px; position: relative; white-space: nowrap; z-index: 0;"><div class="rq0escxv l9j0dhe7 du4w35lb j83agx80 cbu4d94t pfnyh3mw d2edcug0 hpfvmrgz ph5uu5jm b3onmgus iuny7tx3 ipjc6fyt" style="box-sizing: border-box; display: flex; flex-direction: column; flex-shrink: 0; font-family: inherit; max-width: 100%; min-width: 0px; padding: 6px 4px; position: relative; z-index: 0;"><i class="hu5pjgll m6k467ps" data-visualcompletion="css-img" style="background-image: url("https://static.xx.fbcdn.net/rsrc.php/v3/ya/r/qUUNFX0ovXZ.png?_nc_eui2=AeFQH7ISE7NgejeBZi-317BdtCOOLxeqvO-0I44vF6q870pyUaDXPtvzUutypx4CN6Y"); background-position: 0px -218px; background-repeat: no-repeat; background-size: 26px 588px; display: inline-block; filter: var(--filter-secondary-icon); height: 18px; vertical-align: -0.25em; width: 18px;"></i></div><div class="rq0escxv l9j0dhe7 du4w35lb j83agx80 cbu4d94t pfnyh3mw d2edcug0 hpfvmrgz ph5uu5jm b3onmgus iuny7tx3 ipjc6fyt" style="box-sizing: border-box; display: flex; flex-direction: column; flex-shrink: 0; font-family: inherit; max-width: 100%; min-width: 0px; padding: 6px 4px; position: relative; z-index: 0;"><span class="d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql lr9zc1uh a8c37x1j keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d3f4x2em fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb iv3no6db gfeo3gy3 a3bd9o3v lrazzd5p m9osqain" dir="auto" style="color: var(--secondary-text); display: block; font-family: inherit; font-size: 0.875rem; font-weight: 600; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;">Comentar</span></div></div><div class="n00je7tq arfg74bv qs9ysxi8 k77z8yql i09qtzwb n7fi1qx3 b5wmifdl hzruof5a pmk7jnqg j9ispegn kr520xx4 c5ndavph art1omkt ot9fgl3s rnr61an3" data-visualcompletion="ignore" style="background-color: var(--hover-overlay); border-radius: 4px; font-family: inherit; inset: 0px; opacity: 0; pointer-events: none; position: absolute; transition-duration: var(--fds-duration-extra-extra-short-out); transition-property: opacity; transition-timing-function: var(--fds-animation-fade-out);"></div></div></div><div class="rq0escxv l9j0dhe7 du4w35lb j83agx80 cbu4d94t g5gj957u d2edcug0 hpfvmrgz rj1gh0hx buofh1pr n8tt0mok hyh9befq iuny7tx3 ipjc6fyt" style="box-sizing: border-box; display: flex; flex-direction: column; flex: 1 1 0px; font-family: inherit; max-width: 100%; min-width: 0px; padding: 6px 2px; position: relative; z-index: 0;"><div aria-label="Envia isto para amigos ou publica na tua cronologia." class="oajrlxb2 gs1a9yip g5ia77u1 mtkw9kbi tlpljxtp qensuy8j ppp5ayq2 goun2846 ccm00jje s44p3ltw mk2mc5f4 rt8b4zig n8ej3o3l agehan2d sk4xxmp2 rq0escxv nhd2j8a9 pq6dq46d mg4g778l btwxx1t3 pfnyh3mw p7hjln8o kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x tgvbjcpo hpfvmrgz jb3vyjys rz4wbd8a qt6c0cv9 a8nywdso l9j0dhe7 i1ao9s8h esuyzwwr f1sip0of du4w35lb lzcic4wl n00je7tq arfg74bv qs9ysxi8 k77z8yql abiwlrkh p8dawk7l" role="button" style="-webkit-tap-highlight-color: transparent; align-items: stretch; background-color: transparent; border-bottom-color: var(--always-dark-overlay); border-left-color: var(--always-dark-overlay); border-radius: inherit; border-right-color: var(--always-dark-overlay); border-style: solid; border-top-color: var(--always-dark-overlay); border-width: 0px; box-sizing: border-box; cursor: pointer; display: inline-flex; flex-basis: auto; flex-direction: row; flex-shrink: 0; font-family: inherit; list-style: none; margin: 0px; min-height: 0px; min-width: 0px; outline: none; padding: 0px; position: relative; text-align: inherit; touch-action: manipulation; user-select: none; z-index: 0;" tabindex="0"><div class="rq0escxv l9j0dhe7 du4w35lb j83agx80 g5gj957u rj1gh0hx buofh1pr hpfvmrgz taijpn5t bp9cbjyn owycx6da btwxx1t3 d1544ag0 tw6a2znq jb3vyjys dlv3wnog rl04r1d5 mysgfdmx hddg9phg qu8okrzs g0qnabr5" style="align-items: center; box-sizing: border-box; display: flex; flex-flow: row nowrap; flex: 1 1 0px; font-family: inherit; height: 44px; justify-content: center; margin: -6px -4px; min-width: 0px; padding-left: 12px; padding-right: 12px; padding-top: 0px; position: relative; white-space: nowrap; z-index: 0;"><div class="rq0escxv l9j0dhe7 du4w35lb j83agx80 cbu4d94t pfnyh3mw d2edcug0 hpfvmrgz ph5uu5jm b3onmgus iuny7tx3 ipjc6fyt" style="box-sizing: border-box; display: flex; flex-direction: column; flex-shrink: 0; font-family: inherit; max-width: 100%; min-width: 0px; padding: 6px 4px; position: relative; z-index: 0;"><i class="hu5pjgll m6k467ps" data-visualcompletion="css-img" style="background-image: url("https://static.xx.fbcdn.net/rsrc.php/v3/ya/r/qUUNFX0ovXZ.png?_nc_eui2=AeFQH7ISE7NgejeBZi-317BdtCOOLxeqvO-0I44vF6q870pyUaDXPtvzUutypx4CN6Y"); background-position: 0px -278px; background-repeat: no-repeat; background-size: 26px 588px; display: inline-block; filter: var(--filter-secondary-icon); height: 18px; vertical-align: -0.25em; width: 18px;"></i></div><div class="rq0escxv l9j0dhe7 du4w35lb j83agx80 cbu4d94t pfnyh3mw d2edcug0 hpfvmrgz ph5uu5jm b3onmgus iuny7tx3 ipjc6fyt" style="box-sizing: border-box; display: flex; flex-direction: column; flex-shrink: 0; font-family: inherit; max-width: 100%; min-width: 0px; padding: 6px 4px; position: relative; z-index: 0;"><span class="d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql lr9zc1uh a8c37x1j keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d3f4x2em fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb iv3no6db gfeo3gy3 a3bd9o3v lrazzd5p m9osqain" dir="auto" style="color: var(--secondary-text); display: block; font-family: inherit; font-size: 0.875rem; font-weight: 600; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;">Partilhar</span></div></div><div class="n00je7tq arfg74bv qs9ysxi8 k77z8yql i09qtzwb n7fi1qx3 b5wmifdl hzruof5a pmk7jnqg j9ispegn kr520xx4 c5ndavph art1omkt ot9fgl3s rnr61an3" data-visualcompletion="ignore" style="background-color: var(--hover-overlay); border-radius: 4px; font-family: inherit; inset: 0px; opacity: 0; pointer-events: none; position: absolute; transition-duration: var(--fds-duration-extra-extra-short-out); transition-property: opacity; transition-timing-function: var(--fds-animation-fade-out);"></div></div></div></div></div></div></div><div class="cwj9ozl2 tvmbv18p" style="color: #1c1e21; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; margin-bottom: 4px;"></div></div></div></div><div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-36453871982112033102021-08-02T14:55:00.002+01:002021-08-02T14:55:55.155+01:00.
.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTNNmNGOnlWywxZgEOu3SrBBw47Y7ZkA-YqA6b1-T8SZYz1XANyDfJ0OGFhkUdr2T4qk5hsYNGHyLalR5PgGL7mL0ykVqVVyAPoibknXSFrLWQRSy-qpA73wMd_r0yIkG21oG8vB5iD1sZ/s2000/close-up-picture-of-the-sapling-of-the-plant-is-growing.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1333" data-original-width="2000" height="354" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTNNmNGOnlWywxZgEOu3SrBBw47Y7ZkA-YqA6b1-T8SZYz1XANyDfJ0OGFhkUdr2T4qk5hsYNGHyLalR5PgGL7mL0ykVqVVyAPoibknXSFrLWQRSy-qpA73wMd_r0yIkG21oG8vB5iD1sZ/w532-h354/close-up-picture-of-the-sapling-of-the-plant-is-growing.jpg" width="532" /></a></div><br /><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A semente e o silencio e a soidão<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">Sofia, a semente, caiu enrolada no chão. Recolheu-se na
escuridão escura e húmida da terra abrigo. Queda, respirou, aspirou e
alimentou-se. Germinou. Lenta e metodicamente lançou -se em busca da luz.
Quando espreitou, achou-a.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Sofia, a semente, estava no mundo, mas estava só. A solidão
abraçava-a.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sofia ganhou força, expandiu a
sua vontade, tornou o caule mais ereto ainda, alargou e multiplicou as folhas e
cresceu. Pã, a solidão vagueou intermitente em seu redor na exata medida dos
dias do calendário a primeira vintena do novo milénio. Vagueando entre muros
vazios e luzes apagadas, Pã entrelaçou-se com o silêncio, com Lala.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sofias a semente, Lala o silêncio
e Pã a solidão. Três nomes, três sentires, um hiato do mundo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Porém a semente germinada
tornou-se planta, de planta em arbusto e finalmente árvore. Floriu qual
jacarandá tardio, mas floriu. Floriu a esperança e coragem de um amanhã. Sofia
fez-se grande <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E Sofia saltou para o tempo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Um tempo de vazios, de contrições,
de medos, de distanciamento, um tempo sem alma. O tempo que nos rodeia. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sofia a árvore de ramos
brilhantes e folhas verdes. Sofia a semente, arbusto, arvore, a esperança. A semente
da esperança. A esperança que corre nas veias de outras sementes germinadas,
redondas, quadradas, esguias, fortes, fracas, voláteis e duradouras. As sementes
humanas que tremem, que adormecem sob<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>as
franjas de Pã e lutam contra Lala. Lala é a bruxa que engole os sentires, Pã a
força que quebra o porvir.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Três lutas. Três
hiatos, três esgares.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Amanhã, talvez, as sementes do
mundo voltem a viver.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Amanhã será de novo madrugada.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Chaves, 2 de agosto de 2021<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Maria Teresa Soares <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p><div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-25577356695467601172021-05-18T17:17:00.003+01:002021-05-18T17:17:51.600+01:00<blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><span style="text-align: justify;" wfd-id="138"> </span><b style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;" wfd-id="137">Admirável
Mundo Velho</span></b><br /><b style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;" wfd-id="136">2021
</span></b><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-align: justify;" wfd-id="135">parece
desembocar na era do inverosímil. Nada que não fosse expectável, claro que o
era.</span><br /><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;" wfd-id="134">O
Covid -19 teve destas coisas, fez esquecer as maleitas de carácter para se
focar exclusivamente nas doenças do corpo do nosso cantinho, da Europa e do Mundo.,
pois que, por ora ainda somos todos cidadãos desta aldeia global. Pasmamos com
a pandemia no Brasil, com a virulência que explode na Índia, com as mutações
sul-africanas, com a celeridade de inoculação nos States, com o controlo quase,
quase, conseguido em terras de Sua Majestade, (pena que a variante indiana
esteja a fazer das suas), ficamos felizes, e muito bem com as descidas do RT,
com a vacinação, com o de confinamento e a aceleração da economia, e mais do
que tudo isso, com a nossa intrínseca liberdade. Podermos circular, podermos ir
de Aa B e de B a A, algo que embora pequenino é muito nosso e ao qual
apelidamos de Ser Livre. Pois então, somos de novo livres. Com condicionantes,
com cuidados, com panaceias, mas somos. Este pequeno grande item já está
solucionado.</span></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;" wfd-id="133">Contudo,
no meio de tantos problemas de saúde publica, sociais, económico-financeiros (ainda
estão para eclodir, segundo dizem os experts), que parecem grassar de forma
atribulada por esta aldeia global, existe numa tal aldeia, por sinal muito
bonita, geoestrategicamente situada algures num cantinho da Europa e, segundo o
seu poeta maior, à beira-mar plantada, que como é pequena em território, acaba
sempre por meter-se em grandes sarilhos. Servindo-me do conceito de </span><i style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;">Principles
of Population</i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify;" wfd-id="132"> de Malthus, diria que arranjamos sarilhos em proporção
geométrica enquanto solucionamos problemas em proporção aritmética, o que de
acordo com a teoria implica um deficit de estabilidade constante.</span></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><span style="text-align: justify;" wfd-id="131">É, pois, esta instabilidade que
grassa no nosso quadrante seja do foro judicial, seja financeiro, seja
económico, seja social, cultural e até humano, que desatina, desalenta e irrita
o nosso Zé Povinho tão fustigado por decisões e falcatruas cujos epílogos
acabam sempre por ser redondos para quem as executou e quadradas para os
outros, que as têm que pagar. Na verdade, quer-me a mim parecer que o Estado
não produz riqueza que não seja a que lhe advém dos impostos ou dos subsídios </span><i style="text-align: justify;">sine
die</i><span style="text-align: justify;" wfd-id="130"> que a comunidade vai adiantando, ( não foi em vão que aderimos às dez
regras do Consenso de Washington e tendo em conta que seremos perenemente uma
economia em desenvolvimento, cá vamos usufruindo das verbas do FMI e do Banco
Mundial), porque assumimos a nossa economia como de</span><span style="text-align: justify;" wfd-id="129"> </span><span style="text-align: justify;" wfd-id="128">neoliberal o Estado não é detentor de
empresas de transporte, de correios, de águas, de eletricidade, e demais bens.</span><span style="text-align: justify;" wfd-id="127"> </span><b style="text-align: justify;">Assim seja se for por bem</b><span style="text-align: justify;" wfd-id="126">.</span><br /><span style="text-align: justify;" wfd-id="125">Todavia, o por bem desta nossa
pequenina aldeia parece não funcionar. Não será culpa dos governos e respetivas
ideologias políticas, as quais parecem não navegar, mas antes soçobrar no mar da
tempestade do nosso cantinho. Se ainda copiássemos o da Tranquilidade lunar,
talvez, embora lunáticos, avançássemos. Há uma degeneração genética de carater
que dá pelo nome de corrupção. É essa corrupção que perpassa lasciva entre os
cidadãos, tornando uns quantos passivos, outros indiferentes, outros encolhidos
e outros ainda revoltados. A revolta nasce da injustiça, ou antes, a justiça
deveria prevenir a revolta. pois ela obstrui que a falta de justiça que está na
base da sociedade, seja conhecida por todos. Vejamos então, se a justiça é
aquela que previne a revolta, as leis do Estado, visando a justiça, são
estabelecidas pela força, será incongruente que o povo obedeça às leis e
respeite os dominantes em virtude de uma imposição arbitrária da força. É nessa
força que se esconde, a ignominia da impunidade que alguns cidadãos nacionais usufruem,
pese sofrerem de degeneração vinculativa de carater. Não vale a pena mencionar nomes,
até porque seria deselegante e, por outro lado, os mesmos estão frescos na
memória de cada um de nós, não pelo bem que fizeram, mas antes pela caterva de
venalidades que alegadamente cometerem</span><br /><strong style="text-align: justify;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; border: 1pt none windowtext; color: #444444; padding: 0cm;" wfd-id="124">Não foi por bem, não foi bem.</span></strong><br /><span style="text-align: justify;" wfd-id="123">A vida é feita de episódios.
Muitos. Tantos, que muitos são esquecidos. Ficam na memória da gente. Os bons,
vá lá saber a razão, desvanecem-se no tempo ao ritmo do apaziguamento da
serotonina, os menos bons corroem dando azo a um mal-estar generalizado, o qual
passa pela vulgarização da descrença seguida da maledicência irónica quiçá vingativa.
Porém, se o dichote, a ironia, a sátira são elementos constituintes da
verborreia lusa, já o alheamento, o descrédito, o afastamento generalizado dos
das mesas de voto, da participação </span><span style="text-align: justify;" wfd-id="122">em
atos públicos, o ser opinativo de modo construtivo, fazer saber e mostrar de
acordo com o</span><span style="text-align: justify;" wfd-id="121"> </span><span style="text-align: justify;" wfd-id="120">consignado em lei</span><span style="text-align: justify;" wfd-id="119"> </span><span style="text-align: justify;" wfd-id="118">sobre o que vi mal neste cantinho, parece
não</span><span style="text-align: justify;" wfd-id="117"> </span><span style="text-align: justify;" wfd-id="116">merecer aquiescência dos Tugas que,invariavelmente,
delegam nas mãos nem sempre impolutas ou hábeis dos políticos.</span><span style="text-align: justify;" wfd-id="115"> </span><span style="text-align: justify;" wfd-id="114">Depois do aligeirar das responsabilidades,
culpabilizam-se os atos daqueloutros cujo mister seria gerir a coisa publica e
parece que, ao invés, progadilizam em bolsos vá-se lá saber de quem.
Alvitram-se hipóteses, porém, o certo é que de acordo com as sentenças
judiciais, dessas hipotéticas conjeturas saem-se quase sempre impolutos como se
fossem puras virgens platónicas. E o povo arrelia-se, torna-se incrédulo,
encolhe os ombros e vai à sua vidinha.</span><br /><b style="text-align: justify;">Não é por mal. É por hábito.</b><br /><span style="text-align: justify;" wfd-id="113">É verdade que a democracia foi
corrompida. Sabemos que quando os indivíduos deixaram de “decidir” algures
entre a retoma burguesa dos séculos anteriores e o assenhoreamento da classe
política no que respeita ao bem comum, ai cessou o conceito de regime politico
em que todos os cidadãos elegíveis participavam de forma igual seja direta ,
seja indiretamente através dos seus legítimos porque eleitos representantes. Hoje
a coisa não é bem assim. A distorção consolidou-se entre políticas, banqueiros,
empresas e ideologias. Uma alquimia de não símbolos químicos incapazes de gerar
o “ouro” do bem-estar social, originando a refração do nosso caleidoscópio
racional em dúvidas, negações e equívocos. O sistema padece de doença, uma
verdade anquilosante que petrifica a capacidade humana dos governantes,
tornando-os, muitas das vezes, reféns de decisões, interesses, análises e
inclusive, pasme-se, de boas vontades.
</span><span style="text-align: justify;" wfd-id="112">Governar é difícil, muito difícil, extremamente difícil, sobretudo num
mundo em constante transmutação, em busca de si mesmo, esgotado em si, cujo
único crédito e descrédito em simultâneo é o de ser gerido pelo ser humano.
Creditamos políticas, atos, ideias, gestos e sentimentos., mas igualmente
usamos o descrédito com ações, conceções, produções, rendas, consumos e
acumulações de capital em atos económicos de limpeza duvidosa a tresandar a
vicio. São estes óbices as</span><strong style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;" wfd-id="111"> forças
centrifugas e centrípetas que transformam os indivíduos em meras espirais de
movimento. A nossa inarrável capacidade humana de sofrimento perpetua-nos tanto
na queda como na ascensão, porque somos mais do que carne e osso e menos do que
pura energia. Ficamos, talvez, no meio caminho, na busca do amanhã, vivendo o
presente, com a memória do passado e piscando ao futuro como quem não a quer a
coisa.</span></strong><br /><strong style="text-align: justify;">Assim fomos, assim somos.</strong><br /><strong style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;" wfd-id="110">Vivem-se tempos
de lavagem. Lavam-se os conceitos, o passado, a vontade, o dinheiro, o sentir. Há
no ar um desejo de pulcritude antagónico aos atos, um disfarce veneziano fora
de época. A história faz-se do bom e do mau, não se reinventa, não se destrói,
não se manipula. É fixa no seu passado mau e bom, por isso é história. No
entanto, talvez devido à letargia mecânica provocada pelo Covid-19, deu-se
inicio a uma verborreia de ideias, as quais necessitando de seriação,
irromperam descontroladas pelas urbes desta nossa aldeia global, crispando à
sua passagem a historia do mundo que, não é senão a do Ser Humano.</span></strong><br /><strong style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;" wfd-id="109">Porque então
pretender que este espécime de vinte e um seculos belicista, belicoso, rude, dominador,
mas também criativo, conciliador, sonhador, numa palavra humano seja réu da sua
própria história? A história dos pequenos e dos grandes, dos bons e dos maus é
que nos permitiu estar aqui e agora sentados num mundo que queremos que seja
melhor, que, no entanto, ainda continua firme nas suas incongruências e
desleixos para com o próximo. A
máxima <i>errare humanum est </i>assenta-nos como uma belíssima luva. Assim tem
sido no desenrolar dos séculos: de erro em erro construiu-se o que
prosaicamente achamos bem, construímos destruindo ali, erguendo aqui,
aplainando acolá, até chegarmos ao edifício final de hoje. O mundo, o admirável
velho mundo , qual feixe assimétrico foi a base deste que dizemos de forma
quase garota ( o mundo ainda cresce) ser um admirável Mundo Reinventado </span></strong><br /><strong style="text-align: justify;">Se assim for, que seja por bem.</strong><br /><strong style="text-align: justify;">Chaves,18 maio 2021</strong><br /><strong style="text-align: justify;">Maria Teresa Soares</strong><span style="text-align: justify;" wfd-id="108">.</span></blockquote></blockquote></blockquote>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: -1.0cm; margin-right: -1.0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 5.0pt; margin-left: -1.0cm; margin-right: -1.0cm; margin-top: 5.0pt; text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: 5.0pt; margin-left: -1.0cm; margin-right: -1.0cm; margin-top: 5.0pt; text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-68895945185226975002021-03-09T14:20:00.001+00:002021-03-09T14:20:05.527+00:00<div>A Todas as Mulheres</div><div>Duas mãos. Mãos em laço, mãos esguias, flutuantes, macias. Mãos.</div><div>Redondas, firmes, ásperas suaves, mãos de vida.</div><div>Tamborilantes, deslizantes, acariciadoras, persistentes, mãos de fêmea.</div><div>Discursivas, ágeis e modulares, mãos que procuram, que lutam pela verdade e pelo saber; .</div><div>E as mãos do mundo, as mãos que embalam, que acariciam, que lavam, que passam, que enxugam. Mãos vivas criam e recriam, que vivificam milagres. </div><div>Mãos de mãe.</div><div> Mãos belas, mãos de amor, mãos de riso, dor, mãos de mulher.</div><div>E as mãos sobem os degraus da vida, descem as encostas da dor, erguem-se no pináculo de cada dia, deitam-se em cada estrela da madrugada.</div><div>As mãos são os mais belos instrumentos da geografia mulher. Aquele mapa intersetado não de rios, mas de afluentes de dádiva e renuncia, com colinas de amor e sonho, com bosques latejantes de força onde o solo fecundo se torna o útero do mundo. </div><div>Mulher é mapa físico, político. Mulher é a mão de todos nós. É nas mãos, esguias, macias, fortes e redondas, discursivas, modulares, nas gretadas crivadas de ais, nas etéreas de risos, nas deslizantes de fêmea que o mundo chora, grita, gira e se ergue. </div><div>Cada laço de mãos beija o amanhã, seja em esperança, seja em tremor, beija-o com AMOR de MULHER: </div><div>Chaves 7 de março 2021</div><div><br /></div><div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-60538649864237230572021-01-29T14:08:00.001+00:002021-01-29T14:08:28.811+00:00.
.<b style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;">Opinião Pública</span></b><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;">Publica-se<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>despudoradamente um rol de cogitações criadas sob a pena dos ditos críticos de opinião, jactados como seres pensantes cujo objetivo é o <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de veicular noticias informando<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o homem comum, o qual<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>à partida será desprovido<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de uma<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>qualquer apreciação seja científica,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>jurídica, filosófica seja, inclusive ,económica.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;">O homem comum, o tal <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>cidadão que afinal até é possuidor de opinião pasma-se perante o debitar<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>profícuo de juízos<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>adornados sub-repticiamente de alarme, de especulação e de sensacionalismo. Não nos esqueçamos que o artigo é escrito por alguém<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>cujo mister é ganhar a vida com palavras, algo de normal numa sociedade em que se compra e vende serviços a fim de garantir a subsistência do individuo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;">Mas não é a dita economia de mercado que está no meu pensamento. É sim o alarmismo fulgurante, o negativismo destrutivo e o quase derrotismo quotidiano em que vivemos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;">É verdade que a situação neste janeiro de 2021 é horrível, é verdade que os números exatos, extrapolados, multiplicados e estatisticamente manipulados ou simplesmente estatísticos são a base do nosso descontentamento descontente, da nossa impotência, do nosso medo, da nossa ânsia e do nosso confinar. É verdade que como bons latinos, ainda com sangue dolente árabe <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a correr-nos nas veias preterimos sempre as planificações para aquele exato momento do “desenrasca”. É verdade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;">Não é a geração mais bem preparada que tem obliterado a situação, pois que compelida<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>na espiral horrível do caos , pese dar o que tem e quase o que não tem, também faz parte da força centrifuga dos acontecimentos sem poder esboçar ou praticar os conhecimentos científicos adquiridos ou mudar o rol dos acontecimentos como é mister da mudança.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;">Pasmo, pasmo, diariamente ao ouvir os noticiários, sejam televisivos ou radiofónicos ( sou muito antiga e gosto da rádio) perante a pressa quase gutural ou histriónica, as inflexões graves<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>cuspidas em tons graves e apressados como se a respiração já estivesse contaminada. Assim se ouvem as notícias. O alarde soa<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>constante, propalando-se a uma velocidade semelhante aos lançamentos<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>espaciais.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;">Embora sexagenária não vivi a última guerra mundial, a minha geração embora já antiga, ainda<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>está ,ligeiramente, distante dessa outra, a dos nossos pais, a qual viveu o conflito. Conta, quem o suportou, que não foi tão desgastante quanto este. É certo que o cenário era diferente, todos disso<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>estamos cientes. Havia o morticínio, o sangue, a morte e o cheiro dela. Não existia o lado assético que vivemos, nem muito menos a “pseudo civilidade” escrevo pseudo, pois que nos dias em que correm a elegância de saber estar já passou às calendas dando<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>lugar ao politicamente correto, que afinal não é, nem será jamais sinónimo, pese o esforço ortográfico de mudança. Mas enfim, dão desabafos. Era um mundo diferente que a nova geração , a do Millennium desconhece. Não era perfeito, não o era de todo. Aliás nenhum século o será, pois que é vivenciado<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pelo homem<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que descendendo do macaco, segundo Darwin, e não dos anjos , logo tornando<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>quase impossível qualquer perfeição.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não me afastando do tema, creio que se no seculo XX duas guerras dizimaram o mundo, houve, necessariamente, que existir um foco fortíssimo de esperança para<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>resistir, sobreviver<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e o reconstruir. Ora, na minha fraca conceção a esperança não renasce<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>assim de um pé para a mão, das cinzas, qual Fénix, mas antes num mundo equilibrado de emoções e vontades fazendo o seu caminho para a frente em direção ao porvir. É essa esperança que , creio, gostaríamos todos de ouvir, não feita do nada, antes reconstruída alicerçada em pontos positivos, difundindo um pouco de confiança. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que também os há.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;">Não pretendo fazer análises política até porque não sou em absoluto politóloga, não tenciono, por outro lado ,fazer previsões porque também não sou astróloga, apenas e isso sei, gostaria de ver o meu próximo, aquele individuo<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>anónimo que tem que sair para ganhar o pão com ou sem pandemia, porque caso contrário põe em<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>risco “ o pão nosso de cada dia” da sua família., pouco mais seguro, ligeiramente mais confiante, de todo menos sobressaltado ( para além dos cuidados<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>sanitários) no dia a dia<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que tem que vencer. Para todos esses um pouco menos de alarmismo e um bocadinho mais de equilíbrio seria vital.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;">Também para quem trabalha denodadamente e não aqueles que na sua cátedra opinam ( somos campeões<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>nesta matéria), para os que lutam hora a hora para salvar não só vidas, mas também situações, para todos nós que também ainda acordamos todos os dias,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>uma baforada de esperança ou talvez uma chuvada de positivismo, ajudasse um pouco mais.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;">É que nestas coisas de notícias gosto de poder parafrasear Churchill:<b> “Não existe opinião pública, existe opinião publicada.”<o:p></o:p></b></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;">Maria Teresa Soares<o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;">27 janeiro 2021</span></b><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuT7R8uYZZ-TEvXMGD7U8G6q6-97hJFZpA46WbVpgwMLOQdFptf8_xTvK85MwCXJMWOVFsvqhI_oUU2PBditfnZykgHYWyd3pNtrKxKGzO5Ne1fsJDv6gVZUuAl1c4wXa5F5FNjFCYG67j/s310/transferir.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="163" data-original-width="310" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuT7R8uYZZ-TEvXMGD7U8G6q6-97hJFZpA46WbVpgwMLOQdFptf8_xTvK85MwCXJMWOVFsvqhI_oUU2PBditfnZykgHYWyd3pNtrKxKGzO5Ne1fsJDv6gVZUuAl1c4wXa5F5FNjFCYG67j/s0/transferir.jpg" /></a></span></div><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM-o4FvDHCHZqo3frldDpbfy4nIUnw8UZApWOxbEKuHLJ3PkwaaTB-_k_TKsa9e7G6UWDe-HKWxdGf-KJ-jkgNI1u2HJmkYnWHKSJZaajfgt-mb-x8sD5Hj3C0w6934-3dpCkCugV9h9IS/s251/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="251" data-original-width="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM-o4FvDHCHZqo3frldDpbfy4nIUnw8UZApWOxbEKuHLJ3PkwaaTB-_k_TKsa9e7G6UWDe-HKWxdGf-KJ-jkgNI1u2HJmkYnWHKSJZaajfgt-mb-x8sD5Hj3C0w6934-3dpCkCugV9h9IS/s0/images.jpg" /></a></span></div><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Times New Roman",serif;"><br /></span><p></p><div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-29434835543191835712021-01-29T14:06:00.002+00:002021-01-29T14:06:23.418+00:00.
.<span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">E o poema fez-se ano. Um Ano Novo. 2021. Menos redondo mais ainda quase perfeito na sequência numérica. Mais um ano, mais um poema.</span><div dir="auto" style="animation-name: none; background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; transition-property: none; white-space: pre-wrap;">É verdade que foi gerado contra a carne na latência do tempo. Contra a carne temerosa dos dias, do medo. Gerou-se na esquina do desejo do amanhã, gerou-se nas entranhas dos corpos e no interstícios límpidos da alma ,gerou-se nas vontades, nos desejos, nos almejos e no rolar de um ano putrefacto de suspiros , ais e temores.</div><div dir="auto" style="animation-name: none; background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; transition-property: none; white-space: pre-wrap;">Foi parido naquele átimo de segundo entre o último badalar de 31 e o estrebuchar de 1. O vagido soou temporal, concreto e carnal. A carne e o tempo do mundo que o poema fez surgir.</div><div dir="auto" style="animation-name: none; background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; transition-property: none; white-space: pre-wrap;">2021 é o novo poema. Um poema aberto sem rima. Para quê rimar quando o mundo se cruza e interpola em vagas de doença, em balões de oxigénio, em rostos de fome seja de alimento, seja de esperança. Deixá-lo aberto, livre e sonhador. Deixá-lo sorrir na madrugada desta amanhã que ainda se entreabre.</div><div dir="auto" style="animation-name: none; background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; transition-property: none; white-space: pre-wrap;">Há no vagido deste ano- poema o vento alísio que retempera a carne sob a folhagem fresca das palavras e dos atos. Há no poema de cada ano a esperança de cada dia, há neste ano-poema a força , o desejo e o alento da Humanidade.</div><div dir="auto" style="animation-name: none; background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; transition-property: none; white-space: pre-wrap;">Assim seja!</div><div dir="auto" style="animation-name: none; background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; transition-property: none; white-space: pre-wrap;">Chaves 3 de janeiro 2021</div><div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-40260547808966310232020-07-09T01:18:00.004+01:002021-01-04T15:39:10.175+00:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghhOCINyXC7rLIJRz33SR9iQKGEs1ggr6GVdV0-flC4aVq9ie9EF2CmuCtqi4m7anRnitYUPuVm7pcEe18BLL6zXCekoN-0E38xhLe_ncqGsq2-BPFpkyvpP8rhE0L-2hFA5OmteajTNku/s3264/20200121_120750.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3264" data-original-width="1836" height="588" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghhOCINyXC7rLIJRz33SR9iQKGEs1ggr6GVdV0-flC4aVq9ie9EF2CmuCtqi4m7anRnitYUPuVm7pcEe18BLL6zXCekoN-0E38xhLe_ncqGsq2-BPFpkyvpP8rhE0L-2hFA5OmteajTNku/w331-h588/20200121_120750.jpg" width="331" /></a></div><br />.
.<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 24pt; line-height: 107%;">2020 </span><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">nasceu
doente. Uma daquelas doenças em que os sintomas não são percetíveis de início, mas,
passados poucos dias ou meses, eclodem virulentamente. Os sintomas da doença de
2020 já cá estavam. Não eram assintomáticos, não eram irrelevantes, não eram impercetíveis.
nada disso. Estalavam todos os dias de uma forma ou outra. Claro que não eram
eruptivas nem muito menos pandémicas. Mas estavam por todo o lado, nesta
globalidade que tanto dizemos ser de nosso orgulho. Foi, pois, neste estado de catalepsia
global que a pandemia se instalou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Numa era de globalização em que estar vivo já é por si uma
tarefa arriscada, e sendo o risco um requisito da excitação e da aventura que está,
intrinsecamente, associada à modernidade. O risco pasme-se, é uma fonte de
energia criadora de riqueza numa economia moderna, uma vez que é a dinâmica
estimuladora de uma sociedade empenhada em determinar o seu próprio futuro. É
num processo contínuo de ganhos e perdas que nos deslocamos em direção ao dia
seguinte, ao mês, ao ano, quiçá ao porvir. Nesta plêiade de lances,
deparamo-nos com dois tipos de risco, o que vem de fora, o exterior e enquadra
as imposições da natureza ou da tradição e o outro, o interior, que não <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>é senão o resultado do choque que o nosso
desenvolvimento tecnológico impõe ao meio ambiente. Foi este impacto da ciência
da tecnologia, a par de um pensamento assaz racionalista que objetivamente nos permitiu
viver um período histórico de transição, extensível a todo o globo.
Chamamos-lhe globalização.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Uma era de mudanças sejam na economia, no clima, na ciência,
na família, nas relações humanas que fizeram ruir o munda anterior tradicional
e preconcebido originando diferentes formas de fundamentalismo, que
necessariamente não se situam somente nos conceitos religiosos, políticos mas
igualmente rácico, sociais, ideológicos esquecendo um vetor importantíssimo: afinal
somos todos Seres Humanos pese as diferenças de credo, cor, género, ideias e
crenças.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Fala-se e extrapola-se sobre a tolerância, um vocábulo usado
em excesso, sem que a aceção do seu sentido, seja ,na maioria das vezes ,verdadeiro.
Ser tolerante não é apenas aceitar o que socialmente se decretou por estar em
voga aliado ao pretexto de estar correto, sem que algumas vezes o não seja. A
tolerância é um ato de dádiva mais do que um ato de aceitação ou de
exibicionismo. Pergunta-se onde está a tolerância económica no que respeita os
benefícios do chamado estado keynesiano do bem-estar social? Onde reside a
tolerância nos interesses financeiros dos mercados nesta nova economia
eletrónica global em que os gestores de fundos, os bancos, os investidores e as
grandes empresas transferem avultadas somas de capitais sob um clique de um
dedo, destabilizando do outro lado do mundo economias sólidas, acarretando
crises que as populações vivenciam em estados intermédios e finais de pobreza
conducentes a <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>situações extremas de
privação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">A privação de movimento, de afetos, de sermos os que éramos
apresenta-se no nosso quotidiano como algo que nos foi decepado. Dizem, quem
sofreu de amputação, que o membro é sentido por algum tempo, embora não esteja
lá. Não sentimos o que não temos porque é algo exterior a nós, todavia as
memórias esvoaçam pelo campo das nossas vidas, e ,é ainda a elas que nos
apegamos com a ideia de um futuro não muito distante e semelhante a um passado
próximo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Somos cientes de todos os erros, estamos dispostos a mudar. É
verdade. É humano. No entanto o caminho que recomeçamos rapidamente nos enfada
e, indiferentemente recaímos no erro. É de a natureza humana errar. Sempre foi,
sempre será. E assim fizemos da privação um país no qual entramos todos os dias
não por uma porta, mas por uma condição. A condição de sobrevivência sanitária.
Todos os dias quase desde os primeiros meses deste ano nascido doente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">2020 nasceu doente. Um vírus, uma pandemia. Um planeta em
dois movimentos um centrifugo e outro centrípeto. A natureza gira
centripetamente em direção à sua criação, porém a humanidade gira centrifugamente.
Este afastar do centro, este rolar infindo tem<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>as suas causas na doença que o mundo gerou. Mais do que a pandemia que
grassa nos nossos corpos, há uma outra pandemia profunda, irracional e desumana
que globalmente assolou o mundo. Chama-se egoísmo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Este senhor é um caleidoscópio de aberrações nos seus<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>múltiplos vidros de ganância, cupidez, mentira,
traição e tantos outros. Neste caleidoscópio gira a pobreza e a riqueza do mundo,
exatamente, do mesmo modo em o Covid- 19 dança nas vias respiratórias das suas vítimas.
Há que aplicar os ventiladores a par de outros cuidados médicos a fim de
salvar<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>vidas e para a outra pandemia,
que ventiladores, distanciamentos, medicamentos, o Ser Humano<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>aplicou ou irá aplicar? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">2020 nasceu doente e nos ficamos doentes. A osmose entre a
natureza e o homem é um anel. Um casamento que o mundo abençoou. Quando<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a natureza adoeceu porque o Homem decidiu que
era hora de se divorciar, aparentemente, nada de relevante se fez sentir.
Contudo, a natureza demorou, mas acordou e vingou-se, privando o Ser Humano de<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>um dos seus maiores e melhores bens: a
liberdade de ser e estar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">A liberdade humana é a nossa forma de comunicação. Não
percamos mais este dom!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Maria Teresa Soares<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">8-7-2020<o:p></o:p></span></div>
<div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-64032410230307429662020-06-10T23:55:00.003+01:002020-06-10T23:55:50.047+01:00.
.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijAG7mU2WDqPvgzfuSfv4J7dyy7IQtR990ateXnsfVwwrKc-v2mWXRwHDrbA4xJnj18fD0azjDlneOkN1Uw46IWN2xcq8n6zgCPL-CTHZ8jzWyYudDz-ZpEBidbP3_I_IujNzOXAH3k2dw/s1600/IMG-20190522-WA0000.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="778" data-original-width="1600" height="193" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijAG7mU2WDqPvgzfuSfv4J7dyy7IQtR990ateXnsfVwwrKc-v2mWXRwHDrbA4xJnj18fD0azjDlneOkN1Uw46IWN2xcq8n6zgCPL-CTHZ8jzWyYudDz-ZpEBidbP3_I_IujNzOXAH3k2dw/s400/IMG-20190522-WA0000.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Hoje apeteceu-me
escrever. Não que tenha algo de importante a dizer, somente, apeteceu-me. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Nestes meses de
interiorização, pequenas coisas têm deslizado pela mente. Devia anotá-las,
porém o fluir das horas, o viver dos minutos na dolência perfeita dos dias tem
sido algo pateticamente assintomático.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
A mudança dos
hábitos fez-se mais no pensamento do que nas atitudes, pois que estas tornaram-se
adiadas. Um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sine die</i> para breve. Uma antítese
concetual e temporal.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Os tempos de agora,
vestidos de paradoxos, aceites e despidos de projetos de amanhã, cobrem a nossa
esperança de porvir. Habituamo-nos. Vivemos em quartos de espaço, de horas, de
afetos, emoções e, em suma de vida.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Somos sombras de
nós porque um maldito vírus nos despojou da nossa iniciativa de Ser, de Estar e
de Ficar. Uns Partem porque o tempo se despediu, outros afastam-se com medo da
despedida, outros ainda ignoram-se, porque desconhecer protege a ignorância. Um
tempo de dias desconhecidos.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
São os dias do
nosso tempo. Os novos dias deste tempo. Os dias da história de um vírus. Uma
história na História dos Tempos. Dois milénios e vinte séculos. Conquistas,
ciência, tecnologia, avanço, e o Homem sendo a medida de todas as coisas assim se
pensa, assim se pensou. Pensou-se que tudo se podia, se fazia, se inventava, se
destruía e se recriava. O homem. Era, então, medida de todas as coisas, fosse
na sua criatividade, inteligência, emotividade, fosse na sua busca da inteligível
da excelência; a medida quase perfeita do seu espelho. A vacuidade da
assertividade, a precariedade da estabilidade, a incongruência do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">status quo </i>providenciará um novo
capítulo na História do Mundo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
O Mundo ainda
não mudou contrariamente ao que os homens do mundo passado apregoam. O mundo
irá mudar. Lentamente como é seu apanágio. Um novo capitulo no romance da
Humanidade será, então, escrito ou pintado na página ou tela que pisamos e
respiramos. A arte, a mestria, o ritmo, a cor, as palavras ou as imagens serão
somente a inocência ou a hipocrisia da que a memória dos tempos da História do
mundo nos atribuiu. Sejamos, pois os autores-atores deste estranho palco
esperança com que a História nos brindou!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
10 Junho 2020-06-10</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Maria Teresa
Nobre Soares</div>
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<br />
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.<div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-67128737460503661312020-03-31T23:44:00.001+01:002020-06-10T23:57:12.977+01:00<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;">Um Vírus<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;">Joana encolhe-se no sofá na exata medida em que
o tropel das notícias vindas da televisão a envolve. Não são boas. Nestes dias,
não o são. Joana é jovem, mas tem medo. Medo do que acontece. Medo do mundo que
desconhece. Medo do hoje fechado no amanhã sem vidraças. Ainda não tem medo da
morte. Joana é jovem. Luís sentado diante do computador procura trabalhar.
Procura a concentração que foge. Sobre a superfície preta da mesa o androide
não pára. Já lhe cortou o som, contudo de vez em quando não resiste e espreita.
Espreita as mensagens que caem. Inequívocas, plangentes e numéricas. Luís até
gosta de números, gosta muito, mas destes não. Não gosta dos números da doença
e menos ainda dos da morte. Luís é novo, porém já espreitou nas vidraças do
amanhã. Sonhou amando o amanhã. Fez planos quando a vidraça era limpa, quando o
mundo ainda era igual. Hoje os vidros estão turvos e do outro lado há o vazio. Luís
tem na mente a incerteza dos dias e na boca o gosto acre do medo. Luís tem medo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;">Marta cai redonda sobre o banco. As pernas
teimam em desobedecer-lhe. O corpo treme. O olhar perde-se e as mãos? As mãos
caem perdidas sobre as pernas sentadas. Marta abana a cabeça. Tem dez minutos.
Dez minutos de descanso. Como se dez minutos bastassem para apagar o caos. Como
se o tempo parasse e o mundo voltasse ao antes. O estetoscópio desliza do
pescoço, também ele quer espreitar o descanso. Marta já viu muita doença
caminhar pelos corredores. Por mais terrível que fosse percebiam-lhe a
fisionomia e os traços. Agora são enganadores, possuem uma dinâmica agressiva.
Parecem o que não são, sendo o que são. E assim, sendo o que são, tornam-se
parasitas da vida..Marta levanta-se, estica-se, compõe a máscara, calça luvas
limpas e vai de novo à labuta. Quem a vê repara nos círculos negros, no
arrastar de pés e nos gestos febris. Ainda não vai parar desta vez, há que
continuar na intermitência do lugar e da vida durante estas doze horas de
turno. Medo? Talvez, o medo de não vencer e de cair também.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>António
encosta-se ao vidro da varanda, a ligação com o mundo de lá fora. António tem
setenta e picos anos e está só. Não tem ninguém. Só mais o eco de si mesmo.
Noutros dias tinha família, depois tudo foi embora. Ele ficou porque o tempo
assim o quis. Agora o tempo muda o mundo Muda na rotina das vontades, nos
paradigmas construídos em tempo de vertigem; na fiabilidade do paradigma
económico; na prosopeia do dinheiro; na fragilidade do desígnio político; na
desregulamentação dos mercados, na intensificação dos fluxos financeiros, na
abertura das economias às trocas internacionais; no aparecimento de novos e
complexos produtos financeiros, bem como a realização de operações financeiras
cada vez mais intrincadas; na invencibilidade do poder; na mesquinhez dos
círculos; na crença da frivolidade em contraponto à negação da valoração dos
sentimentos humanos que não as pieguices ocasionais e bacocas numa valoração
quase viral de afetos fáceis.</span><span style="color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;"><br />
<span style="background: white;">António murmura algo, algo inteligível, algo que
vem de dentro num suspiro limpo. Algo que o faz mexer e olhar mais além. Não
tem medo da doença, nem da morte. Gosta da vida apesar das suas linhas
retorcidas. Tem a noção limpa que o tempo tem um princípio e um fim. Tem a
experiência do tempo. De onde viemos, ficamos e iremos. Abana a cabeça e dirige-se
para o seu pequeno-almoço.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;">Isabel já não tem idade. Foi invadida. A
agressividade inunda-lhe o corpo. Sabe o que tem, sabe o que sente, sabe quase
tudo. O antes e o depois. Isabel não pensa, luta. Quem luta não se pode
estiolar em pensamento. Tudo se resume à luta da vida. Aqui e agora. Não há
medo. O medo veio no inicio depois, mais medo e só fim a luta. Será inglória?
Será? Na vida a força, a união, a entreajuda, a cumplicidade, a disponibilidade
e o sentir mitigam, amparam e vencem barreiras, estabelecem laços e criam
fronteiras de amor próximo. Na morte dão-se as mãos, varrem-se as dores e
renasce-se. Hoje e ontem o mundo mudou. Joana, Luís, Marta, António e Isabel
não são apenas personagens de um texto, mas antes heróis do nosso mundo em
sofrimento. O mundo gritou e o Ser Humano tremeu. O respeito deve começar na
casa onde o pai alberga e ama o filho. Aprendamos a lição que já vai sendo
tempo. As epidemias grassaram ao longo dos milénios, e nos não somos senão o
produto quase final dessa sobrevivência. Cumpramos as regras, sejamos atentos e
ativos. Sejamos conscienciosos para que exista sempre um Amanhã Livre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Maria
Teresa Soares<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "sans-serif"; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;">24-3-2020</span></div>
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.<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Para todas as mulheres no seu Dia<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Mulher.Papoila,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Mulher papoila de pétalas rubras
e estames breves. Mulher de coração quente que amassa o vento da vida em grutas
pulsantes. Papoila vergada no vai e vem dos dias; papoila breve e leve de pólen
esvoaçado na dádiva do amor. Mulher semente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Mulher Rosa<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Espinhosa, coquete, efémera e
bela. Rosa- mulher -menina de jeito delicado e pestanas em asas de mariposa num
entrechocar de zunzum coquete e delicioso; Pétalas de cetim em jeito de adorno;<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Mulher rosa rubra de pétalas
envolventes, frementes e luxuriantes, qual artista no trapézio do desejo. Olhos
abertos, boca húmida e mãos que acariciam prenhes de Amor. Mulher -feiticeira das
ilusões <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Mulher Cravo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Firme e recortada. Múltiplo de
pétalas coloridas em cálice de porvir. Cravos brancos, rosa, amarelos e rubros.
Cravos que propalam o perfume forte e doce da força da vida. Mulher de vontade,
de conceitos, de Ser em essência, de Estar para Ser.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Mulher Giesta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Esculpida no vento, dançada no
tempo. Mulher Giesta que brota por entre as fráguas de terra dura, singela e
forte para mais tarde sorrir em lágrimas de amarelo e branco vestindo de luz e esperança
os caminhos dos dias; Mulher Giesta que ondula e se empertiga ao vento <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>mas não esmorece na vontade de vencer.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Mulher Urze.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Espontânea no seu lidar, serena
no seu tato. A Mulher -Urze de todos os dias, das noites em branco, dos dias
chorosos, das dores sentidas, do mundo em redor; Mulher que sara, ampara, limpa
e dá cor ao mundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Mulher-Mãos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Mulher que lava, cozinha, semeia,
penteia, sova, tricota, desenha, pinta, escreve e acaricia. Mulher de duas mãos,
de mil corações, de vontades sem fim e Alma rubra. Mulher.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Mulher-Mãe <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Mulher flor, mulher matriz,
mulher semeada em fruto gerado, mulher continuada no sémen do Amor. Mulher de
gestos doces e carícias no olhar. Mulher máter<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Ah, mas ser <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>tudo isso, papoila, rosa, cravo , giesta ou
urze, mãos , mãe e tanto mais, é <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ser a <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>força, é <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ser a luta, é <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ser <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a
lágrima rolada, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>é ser <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a alegria, é <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ser <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a razão
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>do mundo, é <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ser<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a
dor , <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>é<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>ser o quebrar, o erguer e o crescer é <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ser <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a renúncia e o crer, é<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ser <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o A
mor e <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o Porvir; <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>é
tudo<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e o nada do mundo porque ser
Mulher é ser a Vida <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Maria Teresa Soares<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
7-3-2020<o:p></o:p></div>
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.<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>O Inexplicável Mundo Novo!</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sentada na cadeira dos meus
sessenta e seis anos, vejo com inegável espanto o decorrer das ações e alguns
pensamentos dos meus pares humanos que me deixam quiçá boquiaberta, quiçá
espantada.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Senão vejamos:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vive-se numa sociedade em que a
república de valores igualitários está posta de lado em prol de uma
aristocracia mediática. Os jovens, porque são os mais susceptíveis, lutam por
um lugar não ao sol, mas de likes no instagram e redes sociais a fins. A imagem
seja na vertical, na horizontal, seja de pernas para o ar, seja de cabelos ao
vento ou colados, olhos normais ou estrábicos, todas contam desde que chamem a
atenção e um dedo malandro e viciado coloque o tal <i style="mso-bidi-font-style: normal;">likezinho</i>. Supimpa de orgulho, o jovem, o adulto ou o quase idoso
(nestes o facebook é a página de eleição), e com o brilhozinho no olhar, o
sorriso em semi-decúbito a aflorar nos rostos lisos ou riscados do tempo, o
sentimento de afeição de ser querido impera no milhentos instangrianos,
facebookianos, e todos os outros que por ai pululam.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A exposição da vida pessoal não
só afetiva como comercial é mote de negocio de um corso de seguidores ávidos do
seu hipotético dia- que- há-de- vir- de- fama.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um modo idiossincrático de
felicidade ao jeito do novo milénio.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas falando em milénio, os
Milennials (geração Y), os reis e rainhas de toda esta rede de contactos
sociais virtuais, que colam os olhos ao ecrã dos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gadgets </i>mais diversos, aqueles cujos polegares possuem uns quantos
mm a mais de falangetas dado a adaptação às novas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">techs</i>, aqueles que desde o útero materno (sim, creio, que já lá
dentro se sentam e dedilham algo que lhes permite a incrível destreza polegariana),
pois que logo que eclodem neste inexplicável mundo novo são portadores da
síndrome <i style="mso-bidi-font-style: normal;">touchable.</i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Isto apenas em relação aos Gadgets.
Um Mundo diverso, descontinuo e algo paradoxal. Bem mais preocupante é a
inexplicável sociabilidade da virtualidade, o plágio dos sentimentos e o
inquestionável politicamente correto.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vamos por partes.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Neste Inexplicável Mundo Novo
despiram-se os fatos da tradição, pelo cheiro bolorento, antigo e retardado e
inovou-se. Inovou-se numa cama de plágio. Na culinária surgiu uma nova a
sinonímia: selamos e confitamos a carne, emulsionamos os ácidos, branqueamos os
legumes, reduzimos os ingredientes, clarificamos os caldos e por aí fora, pois
que continuar seria exaustivo e totalmente insípido. Nada tenho contra o
correto uso da terminologia culinária, é óbvio que a cozinha requer “ciência”
todavia, não exageremos, pois que fazer o que anteriormente se fez, utilizando quantidades
menores numa panóplia de apresentação excelente confecionado com menor grau de
polinsaturados, não significa reivindicar uma “Nouvelle Cuisine”. Perdoem-me o
galicismo, mas soube-me mesmo bem.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Inerente a esta multiplicidade
culinária vem o paradigma dietista. Nos dias de hoje ser forte que não obeso,
porque tal sempre foi considerado doentio, deselegante quiçá desleixado, ser
forte como dizia, significa não preencher os parâmetros de uma tipologia predeterminada.
Hipocritamente e porque é de bom-tom, ou melhor dito politicamente correto,
frontalmente utiliza-se uma verborreia de panaceia, argumentando que o que
interessa é o interior, que as pessoas não se medem pelo exterior. Contudo,
desde tenra idade, o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">bullying </i>motivado
pelo aspeto físico, em que o peso é um dos fatores, os tamanhos de vestuário e
toda a indústria adjacente, tornam bem claro que os estereótipos imperam e governam.
Comer saudável é praticamente uma obrigação, pois que mais não seja o comum dos
mortais é sujeito a um bombardeio de “comidas saudáveis” que circulam pelos
canais televisivos a par de edições livreiras prontamente alardeadas em escaparates
bem visíveis para quem passa e perpassa no correr da vida.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O ginásio e o corpo perfeito,
fazem-me relembrar o mito grego traduzido na plêiade mitológica. Os deuses do
Olimpo finalmente desceram à Terra no século XXI. Não foi em vão que Zeus
raptou a Europa. Os descendentes, dois milénios depois, ditam os seus
“fabulásticos” mitos. Sejamos, então, obsessivamente míticos neste cantinho à
beira-mar plantado.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em seguida vem o politicamente
correto.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tema enviesado por ser labirinto
de ideologias políticas Hoje dizem-se inverdades, denominam-se dignas
profissões com nomes bem dizentes, como se fosse vergonha chamar a um
digníssimo continuo, um trolha, uma empregada doméstica e tantos outros,
necessários à sociedade bem como parte integrante da mesma. Há sim incorrecção
mudar a denominação ao que se faz, desde que não se utilize o pejorativo, pelo
simples facto de um pedantismo vestido de pressuposta correção. Há orgulho em
ser trolha, carpinteiro ou sapateiro tal como há em ser médico, engenheiro,
farmacêutico, etc. Todos são necessários à sociedade. Porquê então mascarar, o
que não necessita de modo algum de disfarce, pela sua intrínseca dignidade? A
meu ver, criou-se uma falácia do tamanho do que se é e não daquilo que vive.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
De igual forma é politicamente
correto ser feliz como se a felicidade se multiplicasse à laia da giesta ou da
simples erva daninha. A felicidade, quando alcançada é o resultado muito
complexo de trabalho inexorável, de muita opção de muito tudo. Não é panaceia,
nem lágrima fácil. Tudo é bem difícil neste mundo e os anos ensinam-nos. Logo,
o pior dos erros é criar uma geração no mito de que tudo está sob o clique de
um dedo e que é tangível perseguir os sonhos. Os sonhos são tão fugazes que na
maioria das vezes, nem relembrados são na manhã seguinte. Porém, criar no
espírito dos Milennials que o futuro é o produto de fatores estrategicamente
trabalhados e que deste modo serão tangíveis, creio ser uma forma positiva e
honesta sem inverdade de abrir a vontade dos nossos filhos ou netos de acordo
com a precocidade que cada um dos mais velhos teve.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É politicamente correto não
mencionar as escolhas de género ou de raça. Neste tema, por demais sensível,
penso que cada um de nós deverá caber a escolha e a narrativa adequada, todavia
firme. Casais homossexuais, lésbicos ou heterossexuais devem ter exatamente o
mesmo tratamento desde que as três tipologias revelem comportamentos
socialmente adequados. Na mesma linha, penso que a denominação de negro não é
pejorativa. A raça negra existe, ao passo que a raça branca não existe, mas sim
a caucasiana. Logo o invés e revés do racismo nominal. Naturalmente que a
denominação da raça não cabe na essência humana que habita em cada um de nós.
Assim, antes de sermos diletantes no comportamento caucasiano versus negro ou
negro versus caucasiano, sejamos, antes de tudo Seres Humanos de qualidades e
defeitos. Tão revoltante é o caucasiano que bate no negro ,como o negro que
assalta o caucasiano. Ambos são paradigmas de uma sociedade cujos valores
morais se vêm perdendo enquanto se corre na busca do mítico politicamente
correto.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Finalmente e porque este corolário
de pensamento se vem já alongando demasiado. A incompreensível personificação
dos animais. Todo e qualquer animal é um ser vivo e como tal deve ser
qualitativamente tratado. Mas há uma diferença que ocorreu algures aquando da
evolução das espécies. O Ser Humano é um Ser Racional conquanto o animal é um
Ser Vivo Irracional è verdade que os animais são extremamente amigos e dóceis.
Que fazem companhia a quem está só que são um motivo de alegria. Tudo isso é verdade.
Não concebo que sejam maltratados, que não tenham os cuidados veterinários,
alimentares e de higiene. Que não lhes seja dispensado carinho e conforto.
Também não concebo que se chamem, no caso especifico dos cães, Dianas, Alices,
Marcos e Josés, entre tantos outros. Animal é animal, pessoa é pessoa. Se tanto
mitificamos o corpo, se tanto mediatizamos a imagem, para depois em termos de
personificação nos confundirmos com os nossos animais. Perguntar se um cão ou
cadela é menino ou menina, é incrível. Será macho ou fêmea. Se entramos neste túnel
de personagens trocadas. Será que devemos perguntar a um jovem casal de pais: “.Como
está o seu bebé - cria? É macho-menino ou fêmea-menina? Há que existir uma
certa contenção. O extrapolar, por vezes, trás em si consequência nefastas. As
gerações X e os Milennials têm que pensar que o mundo não será eternamente
deles, pois que um dia também se sentarão na cadeira ou num qualquer outro Gadget
decorativo aquando dos sessenta e seis e aí dedilharão uma reflexão bem mais
corrosiva do que esta” <i style="mso-bidi-font-style: normal;">baby boomer</i>”
efetuou sobre o Inexplicável Mundo Novo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
23 Fevereiro 2020</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Maria Teresa Soares</div>
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.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrTZxfY4_OCRDZTovjVOWEc62QLkplB4SKYWcmATGmCL0cXSspULmyc2M2YUnoby-UbBWCg39tWdfq67FV_DUPOM0g5dMKN_F9KWzjPzvQIwGp1fkaf3SPZlUEWMW9OCT9J_DWOila8wgw/s1600/istockphoto-135935370-612x612.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="612" data-original-width="408" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrTZxfY4_OCRDZTovjVOWEc62QLkplB4SKYWcmATGmCL0cXSspULmyc2M2YUnoby-UbBWCg39tWdfq67FV_DUPOM0g5dMKN_F9KWzjPzvQIwGp1fkaf3SPZlUEWMW9OCT9J_DWOila8wgw/s320/istockphoto-135935370-612x612.jpg" width="213" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">O quebra-nozes<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na dança feérica do Natal, o
quebra-nozes saltita de noz em noz. Entala, quebra, esmaga. Crac-crac-crac. As
nozes rolam nas suas conchas de madeira e o quebra-noz dança elegante na sua
posição de bailarino natalício.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tal como no conto e no ballet o
nosso quebra-noz também se transforma. Não é soldado impoluto no seu uniforme, nem
bailarino de um qualquer palco, o nosso quebra-noz é gente, é homem. Homem
quebra-noz, assim se chamou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E assim, era uma vez…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Leonardo de cabelo cinzento e
barba mais branca do que tinta, pernas ainda ágeis e olhar miúdo quebra os
passos nos degraus da ladeira. O crac-crac dos seus passos dilui-se no ar
porque o vento passa correndo na ladeira de degraus gastos. Leonardo ajeita a
gola do casaco e de rosto fechado continua imperturbável o crac dos seus passos.
Esmaga, não as nozes, mas os pensamentos. Aperta-os, crac, esmaga-os, crac,
quebra-os, crac. Assim quase entontecido, pisa o último degrau. Está quase.
Atira a cabeça para trás<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>bebendo a neblina da noite. Saciou o calor da
boca. Arrefeceu um pouco.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Com a força das tenazes toca a
campainha, estridente, dolente, leve. Espera. O ouvido apura-se ao tac-tac de
saltos que deslizam breve no mosaico interior. Um rosto leve que <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>espreita e olha deixando-o entrar. Balbucia algo
que a mulher percebe.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Deixa-o ali e de novo o tac-tac
dos saltos que se afastam…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Espera de olhos semicerrados.
Luta com os demónios imaginários. Vê-se no rosto, na tez, na pele retesada da
fronte e do pescoço. As veias grossas espiam. As tenazes da vontade apertam-no.
Leva a mão ao cabelo num gesto maquinal de despenteio ou de libertação?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Leonardo quebra-nozes espera.
Espera por algo que perdeu ou quebrou. Não se lembra bem. Não se lembra como
foi. Não se lembra onde a sua noz de vida ficou vazia. Sabe que ele como
quebra-noz a partiu, sabe-o.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Volta a repuxar o pensamento,
volta a apertar os olhos, volta que não volta. Deita a mão à porta. Tem medo.
Medo e raiva. Não sabe como nem porquê. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A raiva, a ira, perdem-no.
Arrepende-se., mas o orgulho é uma das suas tenazes, a outra, a outra tenaz <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>é a
loucura. Um a loucura de sabores doces e acres vestida de arlequim humano. Leonardo
pára. Não vai fugir. Não vai desistir. Não vai, desta vez, não. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-Filho…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A voz. Fica tenso. As memórias
rebentam. Luta, consigo, com o tempo, com a raiva, com as palavras, com o medo
e as lágrimas. Tudo em segundos. Tudo no tempo em que a noz da sua vida rebola por
entre os braços de um pai.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>foi <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>assim<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>que Leonardo quebra-dançou <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a este
<i>pas-de-deux</i> de amor.!<o:p></o:p></div>
<div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-63803591528997478572019-11-07T17:14:00.000+00:002019-11-07T17:18:58.333+00:00.
.Os Erros do Ensino<br />
<b> É erro querer teorizar o que é da prática</b><br />
Numa sala de aula em que professores e alunos constituem uma pequena comunidade de ensino-aprendizagem, é erro cabal, querer debitar e aplicar a teoria seja comportamental ou pedagógica quando as vivencias, melhor dito, os casos saltam para a vida nas suas múltiplas facetas sociais, em que o aluno é o produto de um caleidoscópio denominado por sociedade, em que muitos dos progenitores, pese a idade dos seus filhos, ainda estão a aprender o seu papel de pais dada a enormidade de mudanças e teorias subjacentes. É um erro de palmatória que conduz à desumanização. É um erro procurar aplicar teorias a situações resultantes de disfuncionalidades familiares sejam elas económicas. Afetivas ou inclusive sociais. A sala de aula deve ser o lugar de encontro e não de desfasamento. O professor tem formação científica pedagógica e não psicológica. Quando se constrói uma casa não basta ter o design do arquiteto, são necessários os cálculos do engenheiro civil, caso contrário, a casa alui nos seus alicerces. Assim é o ensino.
É um erro burocratizar o papel dos docentes
A velha máxima” A César o que é de César” e “ao Professor o que é do Professor” remete-nos para o seu papel de pedagogo e não de burocrata. Fazem-no estiolar o tempo, enfraquecer a vontade, cansar o espírito e engolir a revolta em nome de uma pseudo carreira vital à subsistência do docente. É erro diabólico estiolar horas e horas que somadas se tornam semanas e meses com papelada, reuniões redondas de soluções quadradas com a pretensão ilusória ou conveniente de gizar a formação do futuro. O futuro não será feito de bonecos de papel, será, antes esborratado em gente incompleta de espírito se o modelo se mantiver.<br />
<b>É erro minimizar o conhecimento dos professores</b><br />
Assiste-se nos dias de hoje a uma contestação implícita dos progenitores, quanto ao modo em como o docente veicula os conhecimentos e aplica as pedagogias. Numa sociedade carente em cultura geral que se extravasa em especificidade não deixa de ser um espanto, o modo em como alguns pais ( alguns, diga-se em boa verdade)pretendem corrigir, minimizar os conhecimentos dos docentes apoiando-se sempre que lhes falta a sapiência nos conteúdos contestados, no apoio intrínseco dos explicadores, alegando incompetência e mau desempenho profissional. Naturalmente que atitudes deste jaez leva<br />
<b>É um erro o Ministério da" Educação desvalorizar os docentes e os seus problemas.</b><br />
“Perdemos os professores, mas ganhamos o país" (Maria de Lurdes Rodrigues), quando há onze anos a então Ministra da Educação proferiu esta célebre frase em resultado das greves e manifestações ocorridas, visualizava-se já uma guerra mais do que institucional, se tornaria de vontades. O Ministério ganhou os pais, ou melhor, a conveniência ou conivência de alguns pais, porque ainda existem pais que almejam o melhor para os seus filhos, que confiam nos professores enquanto formadores de gerações. Há pais que partilham as suas angústias na condução do crescimento e aprendizagem dos seus educandos; há pais que confiam abertamente no bom senso e capacidade de quem ensina; há pais que são preciosos colaboradores do ensino, que começa em casa sob a orientação dos progenitores e expande-se na escola sob a capa de ensino aprendizagem veiculada pelos professores. A vida possui vários currículos. É no currículo oculto que permanece o “Eu” de cada aluno, o lugar onde se encontram os ensinamentos que não foram planeados ou prescritos, é, pois, a dimensão implícita de todo o processo educacional o qual transvaza das simples paredes da instituição ou ambiente escolar .De acordo com Perrenoud (1995) os ensinamentos transmitidos de maneira subliminar, ou seja, aqueles que não foram prescritos nem planeados segundo o currículo prescrito, mas que acontecem por meio de práticas e condutas influenciadas pela identidade dos agentes envolvidos no processo também fazem parte do currículo dito oculto.
É precisamente neste currículo, que o papel do professor é fundamental, perante os pressupostos em sala de aula implícitos e episódicos, resultantes do contexto aliado à dinâmica em que a aula se desenrola, uma vez que é detentor da capacidade e habilidade em permeio com a sensibilidade em saber utilizar um acontecimento ou questão em evidência naquele momento, que surge em consonância com temas importantes para formação do indivíduo. Fica clara, então, a ligação estreita entre o currículo real e o currículo oculto. Segundo Perrenoud (2005) a abordagem a partir do currículo real, ou seja, a partir da operacionalização do currículo prescrito, e da experiência de vida, tem impactos diretos no papel do professor, uma vez que, para ele, “se ensinamos o ‘que somos’, segundo uma fórmula que convém tanto à educação quanto à sociedade, o primeiro recurso da escola seria o grau de cidadania dos professores”. É assim, mister do professor utilizar, em meio pedagógico de sala de aula, situações e saberes que emergem de experiências de interação social e de significação ultrapassando o que foi estabelecido.<br />
É fatual, é consensual, que no seu dia a dia para além da obrigatoriedade da aplicação de um currículo real e formal, o professor aplica igualmente o oculto. Não o fará com a premência que os problemas sociais do quotidiano dos alunos necessitam, porém a extensão dos conteúdos programáticos que cada disciplina possui, não permitem muitas divagações nem sequer o quebrar de ritmo sob a pena do docente ser tido como um incompetente dado nem sequer a matéria toda ter lecionado. Por outro lado, se a matéria é toda lecionada há algo de errado com o docente porque não exercitou os conteúdos devidamente, porque não contextualizou ou humanizou outras situações dos seus alunos. Agradar a Gregos e a Troianos jamais teve ecos na História!<br />
Se estamos doentes vamos ao médico de família. Todavia, se a maleita carece de outra especificidade que não a de clínica geral somos encaminhados para o especialista. Porque então numa sociedade em mutação em que as doenças são do foro social e psíquico, os casos não são encaminhados, analisados e tratados pelos psicólogos escolares? Porquê cabe ao docente o papel de pedagogo e psicólogo? Talvez por isso a guerra tenha sido aberta e se tenham perdido os professores e ganho os pais, talvez…<br />
Depois, o professor é também um Ser Humano que necessita de subsistir, de ter condições necessárias ao seu bom desempenho dado possuir uma tarefa de muita responsabilidade. Não é a luta entre a vida e a morte, é “somente” o desenvolvimento equilibrado do ser humano. Hoje, pelo país fora presenciam-se aberrações, tais como a de professores tornados gastrópodes, especificamente caracóis, porque andam permanentemente de casa às costas, deixando para trás ora mulher, ora marido e filhos. É o sistema, diz-se. O único e exclusivo culpado desta situação é o Ministério da Educação mais o seu complexo e incongruente método programático de colocações.. Já se pensou, já pensou a sociedade, que amanhã teremos alguns milhares de jovens, filhos dos tais caracóis sapientes, jovens disfuncionais fruto de problemas emocionais e económicos cuja raiz reside nas ausências consecutivas de um ou outro progenitor. Uma espécie da abandono camuflado ano após ano, até que crescem e ei-los na ribalta da revolta constituindo, eventualmente constituir uma ala problemática da sociedade? É bem verdade, que o concidadão apenas sente o que vê, um apanágio muito nosso, porém há que pensar, repensar e cuidar.<br />
Depois chegamos aos vencimentos. Um professor como toda a classe média portuguesa é mal pago. Somos um país economicamente em dicotomia. Somos quase, quase, quase uma colónia democrática e europeia da América do Sul. Alguém, na sua vida, dá continuamente o seu melhor sem nada em troca? Duvido. Madres Teresa só houve uma, Gente boa, altruísta mas não despegada, há muita, e entre eles estão os Professores.<br />
Outros erros, muitos erros tem a sociedade debitado nas costas de quem ensina e forma. De erro em erro vai-se engrossando a revolta, o desencanto, a intermitência. Valorizar e fazer cada vez mais e melhor necessita de estabilidade e aceitação. A sociedade transmuta-se quotidianamente em rotações, quiçá translações vertiginosas, no entanto, há arquétipos da natureza que são imutáveis, há idiossincrasias conceituais que continuam intemporais.<br />
Naturalmente e como em todas as profissões existem os medíocres, os médios, os bons e muitos bons. Porque não, também entre os professores? Claro que é assim, claro que a sociedade é assim, claro que os alunos são assim, claro que os pais também assim o são. É o carrossel da vida. Porquê, então imputar os malefícios a uma classe? Porquê degradá-la e agredi-la? É isto a sociedade portuguesa, é isto um Estado de Direito? É isto a plenitude dos direitos cívicos? É isto numa palavra a Democracia porque tanto se almejou? Algo vai muito mal neste retangulo à beira-mar plantado, algo de muito confuso, de muito inexplicável. Termino simplesmente com um velho provérbio nacional: “Quem não sabe o que quer, perde o que tem”<br />
Chaves, 7 de Novembro 2019.<br />
Maria Teresa Soares
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXmNVcsuT6twzfo1oF7_nLA1cI01xRUcy4IIEeDLuX7LKqZaCpGk5W3SRgBIF5ArnoyYlEbGsqmWvIx5nOTGcdc9LdW6bjoayETStUDUg0hZIokI_PC4aQs5goGxxLnVv2tNbzVgW2bieg/s1600/51909e8117d5632d46a25bed11d3f647.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="391" data-original-width="470" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXmNVcsuT6twzfo1oF7_nLA1cI01xRUcy4IIEeDLuX7LKqZaCpGk5W3SRgBIF5ArnoyYlEbGsqmWvIx5nOTGcdc9LdW6bjoayETStUDUg0hZIokI_PC4aQs5goGxxLnVv2tNbzVgW2bieg/s320/51909e8117d5632d46a25bed11d3f647.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Carta a um jovem político</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A Politica ou a Politeia
motivou-a dado seu lado social, humano, jurídico ou económico ou simplesmente
pela apetência intrínseca à mudança. Tantas premissas num só conceito. Daí
nasce ou nasceu a sua complexidade. Mas paremos com as divagações e sejamos
assertivos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Creio que todo o jovem quando a
abraça sente aquele frémito de ser capaz de alguma forma em mudar o mundo. Seja
o pequeno mundo à sua volta (a Pólis), seja a multiplicidade de Pólis que
interligadas constituem a nossa globalidade. Pois bem, acredito que o sente,
acredito que o tentará fazer, acredito que a sua força será, não um produto
tóxico tão comum nas lides financeiras, mas sim uma mais-valia ricardiana em
que o “resíduo”sobejará.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A minha visão política é a de
quem viveu já o suficiente para ser um pouco cética sobre o uso das palavras,
que de um modo geral jamais acompanharam as ações. Aliás, creio que um dos
grandes problemas da política ou dos políticos portugueses é a dessincronização
entre o que é pensado, quiçá legislado e o executado. Delibera-se, promete-se
originando um hiato entre a resolução e a sua consecução. Talvez aqui se inicie
o conceito de não política, mãe e pai de tanta abstenção. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O conceito político pressupõe <i style="mso-bidi-font-style: normal;">à priori</i> boas intenções dado ser umas
atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos. Ora, assim sendo,
porque razão debitamos tantos pós-conceitos sobre o que de errado se fez, que
em boa verdade já foi julgado (as eleições têm a sedução única de cativar ou
desmotivar o amante, neste caso o povo.), mas dizia eu, o eterno cliché verbal
sobre os erros passados é desnecessário. A memória dos povos é irrevogável,
pese muitas vezes parecer adormecida, porém quando chega a altura,
estremece-se, acorda-se e uiva-se. Nós sabemos porque vivenciamos as
disfuncionalidades e os erros dos quadriénios legislativos. Estamos cientes.
Criticar foi próprio da uma geração da qual faço parte e não da vossa. A
síndrome de “ se não foste tu, foi o teu pai há um ano” não tem lugar nesta
sociedade em mutação e mutante. O ontem foi arquétipo de idiossincrasias que o
futuro não comporta.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Por outro lado convenhamos que o
povo já não é o que era, ainda que inculto, embora já alfabetizado, descrê
facilmente qual herança de um passado ainda não tão longínquo, cuja roda da
história ainda teima em manter atavismos, irresoluções e ceticismos. De má
memória o analfabetismo facilitador da ditadura para a atual iliteracia
potenciadora de má democracia. Ouvir não é o mesmo que compreender, ouvir não
significa aplicar, (há que compreender primeiro sem ser embalado) porém as
legislaturas genericamente falando, têm embalado não o povo, mas a si próprias.
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Anda a politica, andam os
políticos, andam os fazedores de política questionando-se sobre a razão de
tamanha abstenção que grassa nas democracias ocidentais. Fazem-se estudos,
preconizam-se inquéritos, delineiam-se conceitos que se procuram inscrevem em
grelhas para posteriormente sofrerem a diatribe da estatística. Pobres humanos!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quão simples é a resposta: O
povo, nós, tu e eles, está farto de promessas, de ideologias, de
incongruências, de injustiças. Quando os políticos e os fazedores da política
se convencerem disso, então o processo de votação será revertido, porque as
ações serão o espelho dos conceitos. Até lá, a estagnação será óbvia. A
saturação tal como a sabemos no liquido torna-o não bebível. Do mesmo modo a
saturação de boas intenções perdidas, de tanto e tanto por fazer é impeditiva
da votação. Atenção que legislar ou radiodifundir promessas é a antítese da sua
execução. O povo não come promessas. São por demais incompletas para saciarem a
fome de vida.<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Pertenço a uma geração de ideais.
Aquela geração que ainda acreditou </span>no poder da solidariedade, na verdade
e na justiça. Uma geração cuja safra de homens foi notável em várias áreas,
mormente na politica: Olof Palme, Bruno Craxi, Willy Brandt, J.F. Kennedy, João
Goulart, Fidel Castro, João XXIII, Mário Soares, António Arnaut, Sá Carneiro,
Álvaro Cunhal e tantos outros que se “ libertaram da lei da morte” como disse o
nosso poeta maior. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O Estado de Providencia ou Estado
Social ao jeito socialista tem por objetivo o bem-estar do seu povo. É factual.
Em boa verdade se diga, que existiu um desenvolvimento incomensurável a nível
social nestes últimos quarenta anos. Passamos de uma sociedade puramente rural
(no sábio dizer de António Barreto) para uma sociedade tecnológica. O salto foi
tanto e tão grande que na maioria das vezes dispensou a velha e sólida
estrutura dos andaimes e decidiu movimentar-se numa espécie de parkour insano,
originando quedas perigosas e deslizes pecaminosos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Recuando um pouco, verificou-se
que o compromisso entre as classes trabalhadoras e os detentores do capital
cedo se cansaram mesmo tendo<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ainda na
memória a multiplicidade de lutas sociais violentas e crises económicas graves
que foram<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>conducentes a um compromisso
no qual os trabalhadores deixaram cair muitas das suas reivindicações e os
proprietários aceitaram uma maior tributação no que respeita aos lucros de curto
prazo. Esta dupla renúncia facultou a gestão do Estado e simultaneamente
conferiu-lhe autonomia no que respeitava os interesses divergentes das partes,
passando a tutelar a concertação social. Deste modo transformou os recursos
financeiros provenientes da tributação do capital privado e dos rendimentos
salariais em “capital social”, que por outras palavras se diziam ser as
politicas públicas e sociais.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ora são ou deviam ser essas
mesmíssimas políticas públicas ou sociais que provavelmente seriam a matriz de
desenvolvimento de um país, do nosso país. Porém e, tristemente consta-se que
tal não sucede, uma vez que o desvio dos dinheiros públicos é a vergonha da
politica nacional.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Abstenho-me de epítetos
partidários. Recuso-os, porque acima de tudo o bem comum gizado em ideais
democráticos não comportava ideologias. Essas vieram depois, muito depois, uma
espécie de moda, que por ser tão volátil tem que mudar sazonalmente, neste caso
quadrienalmente, mas enfim, é consensual nas grelhas da política.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Escolher esta ou aquela roupagem
política é usual, tal como o é optar por este ou aquele estilo de vida de
acordo com as vivências resultantes da inserção socioeconómica cultural a que
somos sujeitos por inerência, opção ou desvario. Depois chega o politicamente
correto. Este cavalheiro ou senhora, quiçá transexual, lésbica ou gay
vinculou-se quase como regra sem que todavia se saiba o porquê. Uma moda ou uma
falácia? O tempo o dirá. Se moda, passará, se falácia, a lógica repô-la-á. É
nesta camuflagem que se vão gizando os costumes, os valores e a sociedade toma
a forma de retorta sem conteúdo. Não, não dou pessimista, somente analítica.
Aprendi que tomar a “nuvem por Juno” é muito perigoso, muito mesmo. Porque
vivemos num mundo de teia comunicacional, talvez essa mesma teia se tenha
extrapolado nos seus contornos e perturbado, quiçá as ideias, as nossas ideias.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A rapidez das ideias é comparada
à mudança de opinião dos políticos. Mais rápida do que a mudança de fraldas que
o nosso Eça preconizava, até porque hoje já são descartáveis. Verificamos como
hoje se diz branco, para depois se afirmar preto e quando ambas se diluem
sorri-se no cinzento. Jamais pensei que a oratória se tornasse paleta de cores,
mas o que sei eu?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Desejo-lhe firmemente as melhores
vitórias, as mais imparciais decisões, a mais frutuosa carreira política, no
entanto tenha sempre presente de que “ as promessas só comprometem aqueles que
as recebem (Charles de Gaulle) e porque o politico serve ou deve servir o povo
é apenas a verdade que compromete o povo à política e com a política.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Chaves, 4 de Setembro de 2019</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Maria Teresa Soares</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKZAO_PZbmogw-IZWoo343nSE3I5ristNpXHBCVC_q4yWGavtq4OnEApwHWLMHDEE85hZeTfJ5uqiGgdFFsH7QcGKIiSg2oWmvtiRFiGdCc19CgB7cjsWWT5COSXYsQlQgrwOKXs43Kqv6/s1600/hand-3035665_960_720.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="475" data-original-width="960" height="197" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKZAO_PZbmogw-IZWoo343nSE3I5ristNpXHBCVC_q4yWGavtq4OnEApwHWLMHDEE85hZeTfJ5uqiGgdFFsH7QcGKIiSg2oWmvtiRFiGdCc19CgB7cjsWWT5COSXYsQlQgrwOKXs43Kqv6/s400/hand-3035665_960_720.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Maria nome em concha de batismo. Maria da gente e do mundo. Um ser da vida. Um corpo, um rosto, um olhar, um dar, um sorrir, um esgar, eis Maria -mulher e mulher-Maria.<br />
Maria-mulher de riso e de alma branca, de olhar atento, de olhar encovado, de afago dolente, de afago macio, de abraço apertado, de abraço sentido. Maria que corre nos dias, que chora nas horas e que sorri ao tempo, Maria-mãe; Maria-gente que passa e perpassa nos nós da vida. que ampara amor feito gente na carne ventrada de si, que aspira a gota rolada na face, que tudo dá sem nada ter no amanhã. Maria mulher da casa, do pão, do amor e da dor e do riso.<br />
Maria- mulher dançada na alma das palavras, quebrada nos atos da vida, condenada na sua condição de Ser comprada, vendida, usada, magoada, regozijada, mimada e venerada.<br />
Mulher-maria de corpo macio, ancas felinas, pernas rodadas, seios firmes, lábios túrgidos, vermelhos, prenhes de desejo, de olhos húmidos clementes, ardentes, de mãos ávidas, abertas e cativas, de suspiros cálidos e sussurrantes, Mulher.<br />
Maria mulher e Mulher maria que corre, que abre, que fecha, que acorda e ri, que dorme e chora, que ama e odeia. Mulher que se dobra, que cai e se ergue no caminho das horas, mulher que no ventre tem a esperança do amanhã; mulher da luta, da paz, do porvir, do passado, mulher da noite e do dia, do sol e da lua, mulher do esquecimento e da memória, de lágrimas sangradas , escondidas e de gargalhadas prenhes de amanhã; mulher de mãos gastas, de dedos crivados, de mente rica , de palavras doces, de saberes próprios, de visão única e sentir singular, de mil sonhos sonhados e outros tantos desfeitos<br />
Maria de todos os nomes sem concha de batismo, apenas a sua condição de MULHER.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Maria Teresa Soares</div>
<div style="text-align: justify;">
7-03-19
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<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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.<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-left: -14.2pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">O que é ser mãe?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: -14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Talvez
o mundo, talvez a vida, talvez a carne, talvez o amor de um o olhar, de um rir,
de um choro, de um estar e um não estar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: -14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Mãe
é ter horas sentidas pingadas de lágrimas, ou povoadas de gargalhares vibrantes
e cristalinos, de murmúrios vividos, de ais e ahahs. Mãe é o verbo corrido no
ventre de um substantivo concluído em adjectivos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: -14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Mãe
é mulher que se dobrada na dor. Mãe é estar depois de parir; Mãe é afagar
quando o riso se apaga ou o soluço brota; Mãe é o gesto doce dos dias; Mãe é
dizer Não quando o coração sussurra, Sim; Mãe é, talvez, a mais sublime obra do
mundo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A alma de uma mãe perde-se no
horizonte em cada pôr do sol para logo renascer em cada madrugada plena de luz,
amor e sombra.; Mãe é haste vibrátil tornada tronco milenar nos ciclos da vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: -14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Mãe
ampara, enxuga lágrimas, endireita ideias, constrói esperanças, dá asas. Depois,
muito depois já no tempo dos dias, quando sozinha poisa a cabeça, e olha no infinito
sente que a lágrima se solta, mas sorri. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: -14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Mãe
é gente que sente assim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: -14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Mãe
sou eu faz hoje trinta e quatro anos. Um ciclo de que se renovou. Mãe e avó.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: -14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ao meu filho, meu amor maior um beijo doce do
tamanho do meu amor e á minha neta um sol de amor. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: -14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Chaves,
18 de novembro de 2018<o:p></o:p></span></div>
<div class="blogger-post-footer">permitir feed do blog</div>Matesohttp://www.blogger.com/profile/07639013834686491057noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7799859532556884050.post-9140486817528612082018-09-29T19:27:00.000+01:002018-09-29T19:27:00.626+01:00.
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbq6cE9hmkzIVbqsH_Wkk80ws8NUcfS0wLgnM-wPck8ZAdkZL0OsdJvzxiVTr1swy3ag3ByIBwcnc-ZC8sHgIYF4E6sFRLDWQQ9aDBz-sx97dLotTkrm_DBUNEMbU0JJT2MhuYTp0BWo9w/s1600/images+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="168" data-original-width="300" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbq6cE9hmkzIVbqsH_Wkk80ws8NUcfS0wLgnM-wPck8ZAdkZL0OsdJvzxiVTr1swy3ag3ByIBwcnc-ZC8sHgIYF4E6sFRLDWQQ9aDBz-sx97dLotTkrm_DBUNEMbU0JJT2MhuYTp0BWo9w/s640/images+%25281%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Quando chega a Quarta-feira de cinzas…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Naquela tarde de outono de vento quente e céu pesado, Rosina
cruzou os braços no regaço, soltou um suspiro e vagueou o espírito pelos montes
da sua idade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Não era nova a Rosina. Na tez riscavam-se as linhas dos anos,
nos olhos, as teias das imagens cruzavam-se nos cantos, mais abaixo nos lábios
serpenteavam os socalcos dos beijos dados e por dar e na figura sentada a
ligeireza de outros dias era roubada pelo caruncho das dobradiças tornando-a
mais lenta no erguer. Rosina não era nova, mas, ainda não era de todo, velha.
Espreitava entre as duas, recalcitrante em largar a primeira, no entanto, ainda
mais reticente em abraçar a segunda. Não era tola a Rosina. Não era, não
senhor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Naquela tarde estava sentada na varanda., olhava para além,
para o vazio, para aquele espaço povoado da sua gente, da que respirara e rira
com ela<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e que andava algures, ou já
partira. O tempo é mesmo o maior carnaval da vida, pensava. Se o tempo dos
foliões são três dias, três tempos são também o nosso caminho. Nascer-crescer,
amadurecer-viver, envelhecer-morrer. Três tempos, três tempos com risos,
alegrias, vitórias, esperanças, tristezas e esperas. Três tempos de vida. Rosina
estreita os olhos como se quisesse espevitar as imagens dos seus tempos.
Depois, lentamente, recosta-se no granito da parede, estende as mãos sobre as
pernas e sorri.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Fora numa manhã de sol quente e zumbido de abelhas, mesmo por
detrás do ribeiro que ela e o seu Abel perderam o tino. Coisas de gente jovem.
Não havia malicia, só gosto e gozo, claro está. Depois, o ribeiro em baixo
cantava tão cristalino, que seria um desperdício não aproveitar aquele embalar.
O tempo de viver começou aí. Viveu depressa, porém, viveu muito e bem. Era o
segundo dia no tempo dos foliões. Um dia dourado que a fez mulher, mãe e dona
da sua vida. Mais tarde, quando sentado à mesa, ela e ele, já com os foliõezinhos
gerados no segundo tempo, escutavam as palavras que o novo tempo trazia,
olhavam-se, e perplexos procuravam entender. Já não era coisa de novos, já era
tempo de um maduro, muito maduro. O tempo quase a roçar o terceiro dia dos
foliões.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E no terceiro dia dos
foliões, a mesa ficou vazia, a casa silenciosa. Os seus pequenos grandes deixaram
de morar ali, o seu Abel fantasiou-se de velho, e ela, a Rosina diva da sua alegoria
também humedeceu. Agora era o terceiro dia, do tempo do descanso, dos céus cinzentos,
dos silêncios redondos e das palavras breves. Tempo, em que o tempo se faz
tempo de vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ao longe, muito ao longe há um bramido no cinzento da tarde.
Uma espécie de trompeta a encerrar o tempo de festa. Rosina abre a porta.
Entra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Não foi por querer, não foi por gosto, foi um sem querer que
a fez pisar o umbral do envelhecer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Rosina dos dias quentes, do zumbido das abelhas, do marulhar
das águas, do riso e das lágrimas, do tempo de mulher, dos dias de mãe e das
tardes da vida. Rosina de quarta-feira de cinzas. <o:p></o:p></span></div>
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