Quem sou eu

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Alguém que ama a vida e odeia as injustiças

25 setembro, 2016

. .Não sei…
Não sei…
Se é a vida, se é o tempo, que me traz assim…
Inquieta no desassossego das horas,
Asfixiada na brevidade dos passos,
Perdida nos sentidos do corpo,
Não sei…
Se é a vida, se o tempo que me dói assim…
Se é a borrasca dos desenganos, se dos prantos possuídos
Se das mágoas acantonadas, se dos sulcos cravados
Na estatuária ainda quente de um corpo nu de utopias,
Não sei…
Se é o vento enrolado que me varre assim,
Que me crespa a alma, que me vidra os olhos, que me saliva o hálito
Escarrando-se em ululos sibilantes de riso,
Perverso andante!
Não sei…
Se é o que de mim vem, vai ou foi,
Se sou apenas eu, somente eu, que não sei
Respirar, tragar, mastigar e amassar
O espirito levedado dos anos,
Não sei…
Se vivo na esquina das horas,
Essas que são sombreadas de dias quentes
Ou se respiro nas outras
Nas sombrias de minutos ocultos.
Não sei…Sei sim que vivo aqui, deste lado
Onde a imaginação voa e a verdade vai nascer… um dia!

17 setembro, 2016

A Velha Senhora

. A Velha Senhora está depressiva, convenhamos. A obsessiva agressividade que vem espalhando nos dias do calendário é revelador de que algo de muito profundo mexeu nos alicerces não psíquicos, mas antes valorativos, desta Velha Senhora. Comecemos pelo princípio. E como dizem os livros sagrados, da velha Senhora: no princípio era o Verbo, e o Verbo estava na Europa, e o Verbo era a Europa. Sem chauvinismos, xenofobismos, racismos e todos os ismos do politicamente correto, analise-se friamente o princípio. Na verdade, a Europa, a tal Velha Senhora, cuja matriz genética se perde entre as fronteiras asiáticas e as águas do Atlântico, os gelos dos fiordes do Norte e o doce mediterrâneo a sul, comporta uma tal mistura que a torna única em relação aos outros. Possui o porte frio do Norte, o derriço do Sul, a contenção insurreta do Atlântico e a lassidão belicosa dos Urais. Goste-se ou não, é uma Senhora! Gerou na sua matriz conceptual as mais belas noções de liberdade, de democracia, igualdade e de fraternidade. Vestiu-se de cultura, e como toda a mulher soube coquetear-se em arte. Tornou-se fabulosa, sem dúvida. Mas, como lá diz o velho ditado” não há bela sem senão “, na sua avidez de bem parecer, relegou o seu absolutismo iluminado pelo estado corrente e axípeto da União Europeia, arvorando-se em representar a razão e a racionalidade, o progresso e a modernização capeado de um crescimento económico estável conducentes ao correto desenvolvimento dos povos que a integram. A velha Senhora, tal como todos os seus descendentes, quis acreditar na identidade coletiva europeia, despida, finalmente, dos atávicos nacionalismos tão impeditivos, por vezes, da competição com outras organizações exteriores. Mas, se refletirmos, o modelo europeu não é senão a prática de um absolutismo iluminado, procurando aproximar-se do conceito democrático, digo aproximar, pois que o défice democrático é paradigmático numa União Europeia que se ousa afirmar pragmática e esclarecida como se na realidade, a resolução dos desafios que enfrenta tivesse, por parte dos familiares da Velha Senhora, o aprofundamento, o alargamento e a afirmação necessários à resolução eficaz dos problemas inerentes à sua construção. Um pragmatismo que deverá sempre levar à sua preservação e jamais à sua destruição. A Velha Senhora está tolhida pelas ondas sucessivas de atentados, onde vidas perecem ao sabor de ideologias hipertérmicas socio-religiosas, fazendo da Velha Senhora, o palco do seu Éden esquizoide. Na verdade, ser Europeu nos dias que correm é quase como ser agente desprevenido de uma roleta russa. Só que a arma cospe em múltiplos canos causando a mortandade entre os mais inocentes dos inocentes. E a Velha Senhora? Sentada na depauperada poltrona do tempo, vai-se estiolando entre os jogos de poder que a seduzem nos minguar dos anos, tornando-se num mero conceito cultural. Revela um mutismo cauteloso próprio de quem pensa convictamente, sem que, todavia, se decida a agir endogenamente. Mas a Velha Senhora na ausência do método, utiliza sempre o charme das palavras que, aqueloutros que a ouvem, vão retendo. Atacar os abusos é o refúgio natural de quem não quer, não sabe ou não deseja envolver-se profundamente nos princípios. Deixando de lado os problemas económicos da União, da dicotomia entre o Norte e o Sul, da utilização dos MREG´s numa dança única poder, utilizando a fria esgrima da luta, pensemos antes no interrelacionamento entre a religião e a sociedade, em como pessoas de crenças diferentes podem conviver umas com as outras num ambiente de concórdia. Não é nada de novo, nada profético, é somente herança histórica dada pelo Iluminismo, onde era manifesto que o ódio entre pessoas de crenças diferentes devia ser banido. Os séculos decorrem e Homem cresceu intelectualmente, sem que, todavia, os direitos humanos crescessem na proporção da tolerância, da liberdade de crença e de consciência. De modo generalista, parece que na Velha Senhora este tema está mais ou menos cinzelado na pedra rutilar dos Direitos Fundamentais, uma vez que a clara separação entre estado e religião é factual entre a maioria dos estados europeus e, quando não acontece na totalidade, surge, então parcialmente. Evidentemente, que nas sociedades islâmicas a liberdade religiosa também existe, contudo não serão os irchabs e xadors janelas de outros direitos culturais, antagónicos das liberdades humanas e totalmente afastadas dos valores religiosos? A valoração dos panos, do cobrir, não é religiosamente consensual dadas as várias interpretações do AL Corão. O fundamentalismo islâmico, reveste-se pois, de símbolos, os quais tona políticos. Não vale a pena descontextualizar o sentido dos acontecimentos mundiais, chamar-lhe guerra religiosa, terrorismo ou afim. É isto, somente, uma luta desconexa e podre sobre direitos, que vão desde os mais triviais, aos económicos, sociais, e, cuja cereja no topo do bolo, dá pelo nome de religião., que afinal não é, mais do que a luta pelo poder de direitos, ditos humanos com capa de desumanos. É óbvio, que as cabeças inteligentes, sorriem, abanam-se e melifluamente desviam o olhar para assuntos, menos humanos e mais substanciais. Há um todo de poder que gira em volta da mais ínfima posição neste xadrez mundial que é a humanidade. Uns são os cavalos, outros, as torres, a maioria os peões e somente há um rei e uma rainha. Quem serão? Talvez a Velha Senhora e o seu oposto. Assim, a Velha Senhora, “não jaz morta e arrefece” como diria o poeta, mas senta-se hirta e falaciosa na cupidez remanescente do poder, permitindo que o tabuleiro do seu jogo se torne num um caleidoscópio a preto e branco de movimento pendular., obliterando que a diversidade e a pluralidade ideológica e religiosa é a sua simbiose, mas…sempre vinculada a valores comuns.