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07 maio, 2016

Um Direito de Escolha...

Um Direito de Escolha….

 Bom... Vejamos: durante quase 39 anos leccionei, obviamente que na Escola Pública. Tive, como superiores hierárquicos não sei quantos ministros correlativamente não sei quantas alterações programáticas, um novo acordo ortográfico, acréscimo de disciplinas, redução de tempos lectivos a certas disciplinas, entre elas a que sempre leccionei, aumento da carga horária para os docentes, diminuição de conteúdos programáticos, aumento de floreados, diminuição da substantivação e valorização da adjectivação. Perdoem-me, porém é assim que defino o ensino nestes últimos vinte anos. Melhorou substancialmente na sua matriz após o 25 de 74 para recair numa confrangedora crise a antever a nacional com que vivemos. No entanto, devo salientar que a par destas alterações de acordo com o sobe e desce das respectivas facções políticas, a Escola Pública portuguesa, e é bom que se diga, sempre viveu carenciada. Coube aos professores desde o 1º ciclo ao secundário fazerem flores, muitas vezes, com as sementes já secas. Quantas vezes paguei do meu bolso as fotocópias, comprei livros (sim comprei porque nem sempre as editoras são beneméritas ai ponto de nos ofereceram exemplares necessários a consulta), quantas vezes, nas manhãs de Inverno, devo dizer, que vivo numa cidade mais próxima da Europa, (logo devíamos ter outras influencias, mas tal não acontece) dei aulas sem aquecimento porque o estre acabara e não havia verba; quantas vezes (sendo eu alérgica ao giz) e como sou da velhíssima guarda, aquela "chata" que escrevia muito no quadro, fiquei com as mãos feridas, quantas vezes os alunos mais carenciados não tinham os livros de exercícios necessários, nem por vezes os manuais, se acaso não eram beneficiários do 1º escalão, quantas vezes e sobretudo nestes últimos seis anos vi adolescentes cheios de fome à segunda-feira, limpando literalmente os pratos porque o fim-de-semana foi como se sabe. Quando as novas tecnologias invadiram as escolas, coisa boa, houve uma melhoria a qual rapidamente caiu no marasmo.As verbas destinadas à prossecução desses objectivos, perderam-se algures entre o Terreiro do Paço e a Cinco de Outubro num trânsito caótico e apressado de desejos mais ainda de que de vontades. Pois, digo e afirmo, o ensino público sempre foi mais carenciado do que o próprio país. Coube a gerações e gerações de professores a tarefa grata ou ingrata, de acordo com o ponto de vista, fazer flores. A sociedade habituou-se a isso, os governantes habituaram-se a exigir isso, e nós, tolos, sempre abanamos com as mãos (o resto não, ainda não chegamos lá) porque ensinar era uma paixão, um dever, um Desidério.
 Como sou sexagenária, ainda frequentei o dito colégio por alguns anitos. Naturalmente que meu pai, homem impulsivo e contestatário pagava religiosamente as mensalidades ( as quais não eram tão baixas assim), e sendo um cidadão do “contra” nunca lhe passou pela cabeça exigir um subsídio, pese o facto de sermos elementos de uma classe média, desprovida de muitos "gadgets", o que hoje não acontece aos optam pelo Privado. Tem este, toda a viabilidade em lugares onde o público não chega. Faz parte da Constituição Portuguesa o direito ao ensino (Capítulo IV, art.º 73º,1.º, e 74º,1,3,alínea a) a g) e o 75º. 1.º , 2º. Seria bom, que os governantes vertessem preto no branco os articulados mencionados, pois que muito disparate seria evitado, penso eu. Em resumo, o dinheiro, o nosso dinheiro de contribuintes deverá sempre ser útil nas Res Publica, porque assim o determina o conceito de Estado, e não ser aplicado em segundas vias, isto é em Res Privada Sejamos intelectualmente honestos e deixemo-nos de hipocrisias, apenas porque é de bom-tom... Ou como se ousa dizer... " Um direito de escolha".