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Alguém que ama a vida e odeia as injustiças

21 fevereiro, 2014

Mundo Melhor


Foto: :). .


Do outro lado da Europa ainda troavam os canhões, os corpos dos jovens frutificavam as terras como se fossem adubo lançado às sementeiras. A Europa, o mundo colhiam-se sobre si. Os olhares rotos de dor humedeciam, os rostos fechados onde os sorrisos borboletavam sem poisar. Era o mundo dos idos de 39-45.
Na plataforma, a criança, dez reis de gente, pegando na mala já vazia de presente mas cheia de futuro, pergunta numa vozinha meia engasgada.- “Senhor passa aqui o comboio para a Terra da Verdade?
O homem olha para baixo e num quase sorriso, num quase esgar, responde:- Claro, meu filho, a terra da verdade é do outro lado, junto ao pôr do sol, mesmo na rua em que a lua nasce.-
-E qual é o comboio? Posso esperar?
- Claro, meu rapaz. Senta-te no banco. O comboio está atrasado.
O rapazinho responde contente:- Obrigado, Senhor
- Mas, meu rapaz, não sei se deixam as crianças viajar sozinhas. O comboio é muito grande e tu ainda te podes perder.
-Não. Senhor, não pense nisso. Sou pequeno mas ando há muito tempo á procura da Terra da Verdade. E ainda não a encontrei. Fica sempre do outro lado. Quando estou quase a alcançar, a Terra da Verdade desaparece, perde-se.,
-Ah, meu filho. É uma terra de poucos homens, muito poucos.
- Eu sei. Por isso é que quero lá chegar para crescer, para ser diferente. Já é tempo de mudar.
-Vais ter que esperar, meu rapaz. Mudar é muito difícil.
-Eu espero. Um dia vou poder abrir a minha mala e enchê-la de futuro. Sabes? Roubaram-nos, roubaram tanto que a minha mala ficou vazia de presente ,e eu agora só posso esperar pelo comboio para a outra terra. Percebes?
-Sim percebo mas eu sou velho, já não subo ao comboio. Só o vejo passar apitando.Passa meio cheio, meio vazio. Ultimamente passa tão vazio...
-Eu sei. Olha, adeus, meu velho. Eu vou esperar. A minha mala vai-se encher.
 Adeus.
O velho, apertou o capote, levou os dedos ao boné e rapidamente desceu-a até aos olhos vidrados e opacos. Também ele estava vazio de esperança. O filho caíra na terra mãe. Não havia sonho, havia amargura na alma.
Hoje, o século dobrou. Não morrem de balas, hoje morre-se de não atos. O homem, já não a criança, continua à espera na estação pelo comboio para a Terra da Verdade.
Irá parar?

Um comentário:

Mar Arável disse...

Excelente texto
pela ternura e pelo conteúdo

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