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05 dezembro, 2013

Um conto de Natal?

Um conto de natal? 


Passava, inertes os dedos, pela barba grisalha de muitos anos já paridos na miséria da vida. Gretados e secos esticavam-se os lábios na secura de uma boca vazia. Ralos e engordurados pingavam os cabelos numa cabeça já moribunda de querer. Retorcido de tormenta, quebrado de sentir e amassado de sofrimento, o corpo arrastava-se pendurado numas pernas roídas de vagueio. Os pés grandes e escuros, quase labregos de caminhar, trauteavam ainda os passeios na busca mirabolante do amanhã. Um homem de 2013. Um homem português. Um homem roto de anseios cujo olhar parecia vazio como se fora cego de futuro.

O ar da noite, de um inverno gélido, triste e esfomeado, lava-lhe o rosto. As narinas abriam-se num respirar exangue de ritmo. Longe, muito longe chegara-lhe um leve cheiro a Natal. Seria? Talvez! Bah que importava!

Mais uma promessa, mais uma mentira, mais um litania, mais e mais de muito menos. Recolheu o nariz no rosto. Afiou o rosto na garganta, retorceu ainda mais o corpo, emaranhou-se nas pernas trôpegas de linfa e cambaleando desandou em direção ao mundo.

Natal, dizem é quando um homem quer, será?

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3 comentários:

Mar Arável disse...

Um dia seremos de novo crianças
e o natal será o que nós quisermos

Teresa Durães disse...

Nos tempos em que vivemos, infelizmente o que descreveste é a realidade tão pesada.

Unknown disse...

Sim,sim,concordo que natal é quando uma pessoa quiser. É sempre bom trocar miminhos e presentes,mesmo que não seja na epoca do natal. Muitos beijinhos e um lindo mês de dezembro para ti,fica com deus e bom fim-de-semana!!