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17 junho, 2009

Pauta de sílabas

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Pauta de sílabas

Sou o vento das palavras, o método do pensamento, a riqueza da frase qualificada. Sou tudo isso na ordem simples e complexa do escrever, dizer, ou apenas construir, sempre que o sentir explode no bico redondo de um lápis ou de uma caneta. É a minha pauta, ou antes a consciência das letras. A minha pauta não é um pentagrama, não possui clave de sol, nem de fá. É uma simples linha branca que se tinge de maiúsculas ou minúsculas, qual fileira de bonecos de papel. Sou ainda e sempre ,a alma do pensamento. Cosem-me em mil regras morfológicas, sintácticas, semânticas e sei lá que mais. Sou despida, avaliada, pesada, medida, catalogada e arrumada As sílabas que assobiam, trincam, cantam ou suspiram fazem o meu tecto. As sílabas são os braços e as pernas do meu mundo. Juntas formam as palavras. As palavras derivadas, aglutinadas e justapostas tal como as vidas que vão definindo. As palavras que riem esticando as letras. Umas ficam longas, outras curtas, e outras rebentam. Explodem em rictus de dor, e aí há lágrimas, esgares e sofreres que se transformam em palavras-sombra, as que perseguem o caminho da vida. Há ainda as palavras-carrossel. “Mais uma volta, mais uma”, e as palavras riem em cima, em baixo, sob a música do gargalhar feliz. São as que alegram a vida. Há também as palavras-insípidas, aquelas que nascem, crescem e morrem sem deixarem recordações porque são soturnas e cinzentas. Palavras-vento são as que varrem os instantes e fogem correndo. Depois há ainda as palavras-vaidosas., as tais, as que são ditas com um rolar redondo de língua reproduzindo o tortumelo interior, são palavras escolhidas, quais canteiros formais de um jardim gizado em quadriculas de faz-de-conta. Em contraponto escondem-se as palavras-ascetas, aquelas despidas, fortes, mas puras .Às palavras ,vestimo-las todas ,desde as bonitas às cruéis, porque o mundo é porta escancarada de sentires complexos. As palavras-sábias, essas, coitadas, deitaram-se na letargia dos tempos e quando surgem apenas pontilham pequenos chapéus de pensamento.

Harpeja o vento sob o arco dolente , no ar, no redondo do mundo elástico e breve, o cordão de sílabas desenha-se.

A palavra nasceu. Chamaram-lhe arte.




Adagio in G Minor.mp3 - Albinoni

4 comentários:

magda disse...

Excelente foto montagem. O título também.

Mas, no meu acompanhamento deste blog aparece um texto que aqui não está. Avaria do google? Espero que não.

Boa noite. :)

tiaselma.com disse...

Mateso, suas palavras têm o colorido que os pianistas imprimem às músicas com suas mãos e seus pedais. Ora soam soturnas, ora vibrantes. Jamais imperceptíveis. Juntas, alimentam-nos o espírito, como se ouvíssemos uma orquestra regida com extrema maestria e sensibilidade.

Beijocas de fã.

Anônimo disse...

Arte nossa. Se bem cuidada somos capazes de transformar.

D.

addiragram disse...

Parabéns querida amiga!A palavra consigo está em boas mãos!