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Alguém que ama a vida e odeia as injustiças

04 abril, 2009

Pontos de Bordado






Pontos de bordado.

Ainda não vai para muito tempo, lá fiz mais uns anitos. Desta vez alinhei-os bem direitinhos, iguais entre si, sendo primos também são compadres. Cinquenta e cinco! Tantos ou tão poucos. Tantos, quando os juntamos, poucos, quando os separamos.

Então diga-se lá, qual é a diferença entre ter cinco e cinquenta e cinco?

Simples, senão vejamos:

Ter cinco -cinco, nestas coisas a soma só atrapalha, é sinónimo de se estar bem na vida, isto é, relativamente acomodado, ter os filhos criados, não necessariamente educados, isso é outra história, ter umas rugas aqui e além, que esboroam a máscara, mas que se apregoa ser lindo, pois que são apanágio de experiência. Ter uns quantos remendos de alma, mais uns alinhavos de coração. Nada como os bordados tradicionais para nos fazerem sorrir. O rechelieu, o crivo e até o ponto grilhão vão preenchendo o rosto, mais o corpo, já para não falar do espírito. Ah, Santo Deus! Invocar o Santo Nome, por estas alturas, também já deixou de ser pecado., mas dizia eu, todos estes lavores de bom-tom emolduram a foto a preto e branco, e vai-se lá saber porque é que está um pouco desfocada e não só, ao tentarmos a fotocópia, esta, não coincide nos ângulos com o original que expandiu. Vejam como digo, expandiu. É mais suave. Defeito da tecnologia… A cabeça, ora essa está fresca que nem uma alface, apenas de vez em quando há umas fugazitas de memória e ciranda-se sem se saber o que se procura. Mas nada que um sorriso não recupere. E os cabelos? Ah! Têm aquele tom de trovoada bem carregadinha, um cinzentão destituído de luz. Que me perdoem, mas o cinzento é triste. E o branco? Tresanda mesmo a passado. Cá por mim gosto muito da tinta. Um engano será, mas não é a vida uma comédia de enganos? Comecemos então pela massa capilar a enganar a comédia do tempo que o resto virá a seu tempo…

Mas ter cinco-cinco também é melhor do que ter só cinco. Pelo menos sabemos escolher, temos vontade definida, saboreamos um pouco de tudo, e o os olhos estão cheios de muito. Tanto, que temos muita necessidade de olhos adjacentes, sim não se espantem. É simples, com a idade a quantidade de percepções visuais torna-se proporcional aos anos, e um par de olhos é insuficiente para albergar tudo. Tão simples quanto isto. O que pensaram? Calculo, coisas peregrinas, mentiras vãs. Nós ceguetas? Que disparate!

Continuando nos angélicos cinco, um mimo, uma doçura. Agora cinco-cinco é um derriço, um cabaz de paladares dos mais esquisitos, ora salgaditos, ora docitos e, algumas vezes agridoces, outras até ligeiramente insonsos. Uma vida rica de sabores é uma esplêndida sobremesa de saberes. Não concordam?

Vá lá, um pouco de complacência. Não sorriam assim, é verdade o que vos digo, as mulheres de cinco-cinco são uma espécie de “vieille- cuisine” ao tom dos bons e velhos preceitos, mas suficientemente flambéé au poivre du temps

E neste casa que casa de cincos sorrio de frente, de lado, por trás, não que não sou capaz. O pescoço já não permite muitas voltas. Não, que disparate são lá as artroses, eu tenho lá desses bichos. Nada disso, somente uma questão de perfil. Nestas coisas há que escolher sempre o melhor ângulo. Noblesse oblige!

Perdi um pouco o fio ao ponto, coisa normal se pensarmos que a arte de bordar a vida é extenuante, requer uma técnica sucessiva. Qual? Perguntam? Simples, meus queridos, a Idade!

Para muitas a idade é um sofrer, um corre- corre ao espelho, às agulhas, às tesouras e aos pontos, diga-se suturas. Recauchutagem. Uma espécie de remendo fino e artístico que descansa o ego e valoriza o amor-próprio. Muito bem. Os bordados finos sempre foram uma excepção. A comum dos mortais usa o algodãozinho com um simples pé ponto de flor ou as mais bourgeoises um ponto de sombra ou até um cheio, bem cheiinho com requinte de muitos anos.

Deixando os pontos no regaço com a agulha e as respectivas linhas, passemos então à escolha do tecido. O tecido quer-se lavável, muito. O tempo necessita de algo durável, de cor neutra para que a vida lhe vá dando as tonalidades em pinceladas de amor, desejo, riso, choro, carinho, revolta, humor e escolha. Depois de bem misturadas, surge um tom único pouco usual, diferente, mas sem dúvida alguma, único e belo. A ternura.

Nesta andança de primos compadres, os meus cinco instalaram-se numa bonomia própria de quem está confortável. E eu, pobre de mim tenho que lhes sorrir, acenar, dizer que sim, não vão os maganos dar-lhe na veneta, e resolverem arrumar as botas, e aí lá vou eu. Não, nesta vida temos que ser sorridentes, agradecidos, complacentes e felizes. A suprema arte. Ser Feliz!

Assim, e porque a comédia da vida bate à porta de mansinho, atirando os meus primos cinco para a ribalta, onde mestres da representação vão uma vez mais desempenhar o seu papel único de um ano, num palco maior de sentidos e tremendo de memórias. A peça tão simplesmente dá pelo nome de Mulher!

Três pancadas. Silêncio. O espectáculo começou…



I did it my way - Frank Sinatra
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10 comentários:

tiaselma.com disse...

Minha Mateso querida!!! 5 ponto 5!!!
Dizem que a partir daí tudo cai, só a gengiva sobe! Rs rs rs!!!
Mas tu estás na fina flor, sábia, senhora escritora, mãe zelosa, esposa amantíssima!
É fácil vermos o colar de miçangas ao pescoço, mas o fio que o construiu, tecido pelo tempo, invisível a olho nu, é o que verdadeiramente conta!

Felicidades, amiga!

MS disse...

... fizeste-me sorrir, lacrimejar, teus pontos & bordados seguir lentamente, lentamente, com um olhar de ternura imensa!

E depois esta melodia 'eterna' de Sinatra, hino de quem fez um percurso solitário à custa do seu próprio eu - 'my way'! E chega chega onde tem que chegar, entre o acaso e o destino, sorrindo, limpando uma ou duas lágrimas que teimosamente espreitam no olhar silencioso, mas doce!

Não há idade! Há um coração que permanece sempre igual, sempre sonhador, uma inteligência que se acresce, uma sensibilidade que se exterioriza menos nos gestos, mais no olhar!

Um beijo muito afectuoso de parabéns! Que a vida te guarde por muito tempo por aqui...

... já tinha saudades de te ler!

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

Parabéns, Mateso! Um abraço daqui!

tambem estou quase lá , só faltam 4:-)

Gabriela Rocha Martins disse...

tchiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, miúda!
adorei ,adorei ,adorei!
um espanto de texto .há muito ,palavra ,que não me consolava tanto com um texto teu .este extravasou as medidas .saber.se lá porquê? :))))))


.
um beijão

Laura Ferreira disse...

Fantástico bordado de palavras...

PortoCroft disse...

Ergo o meu cálice de Porto, com votos de um feliz aniversário. :)

Gasolina disse...

Parabéns pelos teus cinco, pelo teu Azul (agora esverdeando-se de esperança maior, experiência melhor).

Mas tu és mulher de baile inteiro. Tudinho até ao fim.
E até no regresso de sapatos na mão luz o sorriso de brincar...

Um beijo Querida.
Mesmo muito.

~pi disse...

belo como dizes

aqui

cinquenta e cinco

( como belo é dizer-a-ser

your waY YYYYYYYYYYYYYYY ! :)


parabéns, muitos parabéns mateso!!


abraço beijo



~

as velas ardem ate ao fim disse...

E começou divinamente!

bjo

Paula Raposo disse...

E não é por ir fazer os tais cinco-cinco no dia 27 que acho este post lindíssimo! É porque é mesmo. É mesmo assim. Um sorriso e a vida nos sorrirá, também. Muitos beijos.