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Alguém que ama a vida e odeia as injustiças

30 abril, 2009

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Les Petits Chevaux de Tarquinia



Sous la chaleur écrasante d'un petit village d'Italie, au bout d'une route, au pied d'une montagne au bord de la mer, deux couples passent des vacances comme chaque été. Gina et Ludi, Jacques et Sarah et leur enfant , ainsi que d'autres personnes qui gravitent en électrons libres : Diana une amie ; la bonne indisciplinée et son douanier ; Jean aussi, l'homme au bateau que nul ne connaît. Ils se baignent, discutent, mangent le sempiternel menu infâme de l'hôtel, sirotent d'innombrables bitter camparis, transpirent, se déchirent, se trouvent parfois, s'ennuient beaucoup, portés par la routine de leur indolence quotidienne. Dans la montagne, au-dessus du village, un jeune homme a sauté sur une mine. Ses parents sont venus récupérer les morceaux dans une caisse à savon. Ils veillent là-haut, le temps de faire un deuil qu'ils ne parviennent pas à accepter. L'épicier du village leur tient compagnie avec des histoires vraies et rêvées qui lui permettent de tenir debout.

Un roman figé dans une torpeur accablante de chaleur où l'oisiveté est la seule occupation. On s'ennuie ensemble, on partage ses solitudes, on affronte en palabres vides des amours larvées qui s'étouffent, se cherchent pour les uns dans l'adultère, pour d'autres dans la liberté d'un voyage à Tarquinia. Le désir d'amour est au centre de l'œuvre, de chaque vie surtout féminine, si différente et si commune. La représentation qu'elles ont de l'amour, des relations amoureuses. La torpeur est source de dépouillement. Elle ramène chacun aux fondements de son être, aux assises de son existence : le désir, le manque, l'amour, la reconnaissance de son existence, le sentiment d'exister. Elle est déréliction. Que faire de soi et de la liberté ? Qu'être sans l'amour de l'autre ? L'amour absolu étant impossible, il n'empêche que le désir d'amour ne connaît pas de vacances. Il est une source de conflit latent et peut mal vieillir. Seul l'amour maternel échappe aux questionnements et redonne sa place à l'amour de l'homme.

Ces histoires bercent comme un chant, une litanie où ne subsistent que des mots récurrents qui tendent à dégager une atmosphère lourde et pesante. Marguerite Duras déploie ce style si particulier qui cultive l'ellipse, l'ambiguïté et l'intuition. Les événements et les décors sont dorénavant réduits au minimum et le dialogue, direct ou indirect, devient un élément fondamental. Les hésitations, les reprises nombreuses, les répétitions permettent d'insérer des zones de silence qui se rapprochent de la vérité de personnages incomplets, incertains. Ce niveau d'abstraction et la large ouverture de l'écriture au dialogue, y compris ses absences, ont facilement permis le passage des oeuvres au théâtre et au cinéma. "Marguerite Duras accepte crânement la tragédie de son sujet sans jamais s'en laisser accabler. Ce livre est un roman de ressources. Il éclate de richesse et, dans cet éclatement même, se contient. Les personnages y sont précipités dans une cruauté qui ne dément pas et qui, pourtant, les laisse entièrement libres de leurs choix. Comme de leur exigence. Ce parti pris peut déplaire à certains. A moi il apporte la joie précieuse d'une lecture om les mots vont toujours plus loin que le masque de leur sens extérieur, où le sous-entendu, où le suggéré sont à ce point cursifs que l'apparence est d'autant plus ombreuse et d'autant plus prodigue de mystère qu'elle se veut plus linéaire."

Raymon Guérin in Humeurs.


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25 abril, 2009




CANTAR A LIBERDADE

«Trova do Vento que Passa»

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre


Trova do vento que passa - Adriano Correia de Oliveira


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18 abril, 2009

GAIVOTA






Gaivota

No corpo seco a camisa de quadrados adeja em balão. As calças voejam quais velas ao vento. O casaco castanho abre-se de par em par lembrando as portadas de uma janela. Os parcos cabelos cinzentos esvoaçam em desalinho. O rosto fino de traços gastos perscruta o penhasco. Pisa a terra húmida sulcada de veios salgados.

E o mar ruge a sua canção de memórias. O olhar esquadrinha aqueloutro verde que se enrola e ulula em lamento Sente a alma expandir-se. O desassossego surdo do seu sentir transborda. A espuma ligeira espraia-se na praia deserta. Está só. Ele e as gaivotas que desfloram as ondas e depois vêm dançar sobre a sua cabeça grasnando a vitória da vida.

Aspira a humidade marítima. Afila o pensamento e cruza os braços sobre o peito. A memória varre-o acutilante. Dói o recordar, soluça o tempo. Uma gaivota plana de asas abertas Segue-a com o olhar. Entreabre os lábios ao movimento posterior do pescoço. Um reflexo. O vento açoita-o. Aperta o casaco contra si e caminha.

A gaivota imita-o. Desce e poisa na areia molhada. De costas para as ondas. Não a seu lado., mas atrás. Ligeira e breve meneia-se debicando o ar. Os passos do homem são as suas pegadas. Traços triangulares na areia embebida de sal e espuma.

O vento sopra rude no rosto do homem. Fustiga-lhe os olhos que lacrimejantes enrolam o sal do dia. Na gaivota, o vento, penteia-lhe o branco das penas.

E o mar escancarado rebola-se em fúria. Ondas verdes, crispadas entrechocam-se e rebentam estrondosas no areal frio. O eco irado do mundo. A consciência aquosa do Ser. O deslizar por entre os altos e baixos da vida e o eclodir final das tensões. Tão simplesmente, ali em toda a geografia líquida. Vogar por entre as águas num ribombar de emoções, rebentar em ondas fortes e possantes ali mesmo na praia deserta. Recolher de novo e recomeçar. De mansinho, serenamente e, engrossando, engrossando até que a explosão vem de novo vomitar o areal. Assim sempre, imutável e perene.

O mar.

A gaivota olha o Homem. Minúsculos botões negros inquisitivos. A consciência do momento. Não lhe responde. À liberdade não se responde, segue-se.

De repente param. Perscrutam-se, avaliando-se. Medem-se.

Ela ladeia o pescoço enrolando a cabeça, o bico movimenta-se como se murmurasse o chamamento, e ei-la a esvoaçar. Plana em linha recta no areal. Grasna o seu cantarolar vivo. Assim repetidas vezes, até que o homem larga o seu mutismo, deslaça os braços e, compondo os óculos que teimam em descair-lhe, grita:

-Julgas que é fácil seguir o vento, julgas? Julgas que não queria ser pássaro e partir? Julgas? Julgas que não sei que a raiva me consome? Julgas que não cuspo o silêncio? Tudo é fácil para ti. Tudo. Não tens lutas, não tens que sobreviver. Não tens! Ah como agonio em cada manhã, quando tenho que olhar a gente, quando tenho que compor a figura e disfarçar-me de Homem. Eu sou um lobo, um solitário, preso na alcateia do mundo. Desprezo-a e amo-a. Pertenço-lhe e ela pertence-me. Ah! Rasgo-me em cada noite ao ouvir os uivos vazios dos lobos meus irmãos, quando lhes saboreio a hipocrisia dos actos e sorrio ao embuste .Ah, o orgulho impede-me de rasgar a mentira. E pactuo. E de novo em cada madrugada a raiva irrompe qual nascente, cresce num novelo duro de arame que me segura e dilacera. A chaga do sentir. Não suporto a contradição. Sou Lobo. Sou solitário. A alma não me transmuta. O corpo é a minha caverna. O meu sentir é a minha essência, a minha razão é o crivo dos meus dias. Latejam-me as têmporas, dói-me o pensamento e salgam-se-me os sentidos. Deixa-me, deixa-me. Sabes? Não tenho asas, não tenho ousadia, não te esqueças que sou lobo. A minha alcateia espera-me!

E a gaivota num grasnar ensurdecedor planou para o mar desflorando onda que a tomou.



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Love On The Rocks - Neil Diamond.
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15 abril, 2009

Handel

Lembrando o 250º aniversário da sua morte


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13 abril, 2009


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UM DIA

Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.

O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais.

Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.

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Sophia de Mello Breyner Andresen.
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08 abril, 2009

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".Quem tem algo por que viver é capaz de suportar qualquer "como".

(Nietzsche)

.Uma Feliz Páscoa
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04 abril, 2009

Pontos de Bordado






Pontos de bordado.

Ainda não vai para muito tempo, lá fiz mais uns anitos. Desta vez alinhei-os bem direitinhos, iguais entre si, sendo primos também são compadres. Cinquenta e cinco! Tantos ou tão poucos. Tantos, quando os juntamos, poucos, quando os separamos.

Então diga-se lá, qual é a diferença entre ter cinco e cinquenta e cinco?

Simples, senão vejamos:

Ter cinco -cinco, nestas coisas a soma só atrapalha, é sinónimo de se estar bem na vida, isto é, relativamente acomodado, ter os filhos criados, não necessariamente educados, isso é outra história, ter umas rugas aqui e além, que esboroam a máscara, mas que se apregoa ser lindo, pois que são apanágio de experiência. Ter uns quantos remendos de alma, mais uns alinhavos de coração. Nada como os bordados tradicionais para nos fazerem sorrir. O rechelieu, o crivo e até o ponto grilhão vão preenchendo o rosto, mais o corpo, já para não falar do espírito. Ah, Santo Deus! Invocar o Santo Nome, por estas alturas, também já deixou de ser pecado., mas dizia eu, todos estes lavores de bom-tom emolduram a foto a preto e branco, e vai-se lá saber porque é que está um pouco desfocada e não só, ao tentarmos a fotocópia, esta, não coincide nos ângulos com o original que expandiu. Vejam como digo, expandiu. É mais suave. Defeito da tecnologia… A cabeça, ora essa está fresca que nem uma alface, apenas de vez em quando há umas fugazitas de memória e ciranda-se sem se saber o que se procura. Mas nada que um sorriso não recupere. E os cabelos? Ah! Têm aquele tom de trovoada bem carregadinha, um cinzentão destituído de luz. Que me perdoem, mas o cinzento é triste. E o branco? Tresanda mesmo a passado. Cá por mim gosto muito da tinta. Um engano será, mas não é a vida uma comédia de enganos? Comecemos então pela massa capilar a enganar a comédia do tempo que o resto virá a seu tempo…

Mas ter cinco-cinco também é melhor do que ter só cinco. Pelo menos sabemos escolher, temos vontade definida, saboreamos um pouco de tudo, e o os olhos estão cheios de muito. Tanto, que temos muita necessidade de olhos adjacentes, sim não se espantem. É simples, com a idade a quantidade de percepções visuais torna-se proporcional aos anos, e um par de olhos é insuficiente para albergar tudo. Tão simples quanto isto. O que pensaram? Calculo, coisas peregrinas, mentiras vãs. Nós ceguetas? Que disparate!

Continuando nos angélicos cinco, um mimo, uma doçura. Agora cinco-cinco é um derriço, um cabaz de paladares dos mais esquisitos, ora salgaditos, ora docitos e, algumas vezes agridoces, outras até ligeiramente insonsos. Uma vida rica de sabores é uma esplêndida sobremesa de saberes. Não concordam?

Vá lá, um pouco de complacência. Não sorriam assim, é verdade o que vos digo, as mulheres de cinco-cinco são uma espécie de “vieille- cuisine” ao tom dos bons e velhos preceitos, mas suficientemente flambéé au poivre du temps

E neste casa que casa de cincos sorrio de frente, de lado, por trás, não que não sou capaz. O pescoço já não permite muitas voltas. Não, que disparate são lá as artroses, eu tenho lá desses bichos. Nada disso, somente uma questão de perfil. Nestas coisas há que escolher sempre o melhor ângulo. Noblesse oblige!

Perdi um pouco o fio ao ponto, coisa normal se pensarmos que a arte de bordar a vida é extenuante, requer uma técnica sucessiva. Qual? Perguntam? Simples, meus queridos, a Idade!

Para muitas a idade é um sofrer, um corre- corre ao espelho, às agulhas, às tesouras e aos pontos, diga-se suturas. Recauchutagem. Uma espécie de remendo fino e artístico que descansa o ego e valoriza o amor-próprio. Muito bem. Os bordados finos sempre foram uma excepção. A comum dos mortais usa o algodãozinho com um simples pé ponto de flor ou as mais bourgeoises um ponto de sombra ou até um cheio, bem cheiinho com requinte de muitos anos.

Deixando os pontos no regaço com a agulha e as respectivas linhas, passemos então à escolha do tecido. O tecido quer-se lavável, muito. O tempo necessita de algo durável, de cor neutra para que a vida lhe vá dando as tonalidades em pinceladas de amor, desejo, riso, choro, carinho, revolta, humor e escolha. Depois de bem misturadas, surge um tom único pouco usual, diferente, mas sem dúvida alguma, único e belo. A ternura.

Nesta andança de primos compadres, os meus cinco instalaram-se numa bonomia própria de quem está confortável. E eu, pobre de mim tenho que lhes sorrir, acenar, dizer que sim, não vão os maganos dar-lhe na veneta, e resolverem arrumar as botas, e aí lá vou eu. Não, nesta vida temos que ser sorridentes, agradecidos, complacentes e felizes. A suprema arte. Ser Feliz!

Assim, e porque a comédia da vida bate à porta de mansinho, atirando os meus primos cinco para a ribalta, onde mestres da representação vão uma vez mais desempenhar o seu papel único de um ano, num palco maior de sentidos e tremendo de memórias. A peça tão simplesmente dá pelo nome de Mulher!

Três pancadas. Silêncio. O espectáculo começou…



I did it my way - Frank Sinatra
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